Sol e Lua escrita por Aislyn


Capítulo 5
Espelho




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Não se sabia de onde Kannogi Akiko retirou forças para levantar-se da cama e ter ido até ali daquela forma, estava agitada demais, só não conseguia chorar por suas lágrimas terem secado há muitos anos. Ela se desvencilhou dos braços do marido e foi até Byakuya, surpreendendo-o com um tapa no rosto. Ele não baixou a cabeça, continuou com a fronte erguida e esperou para que Aiko se virasse. Ela estava com medo de encarar a mãe, então, voltou-se para frente vagarosamente. A mulher arregalou os olhos, sentiu o seu corpo gelar quando olhou para Aiko. Parecia estar diante de um espelho, acreditaria em tal hipótese se por um acaso estivesse alguns anos mais jovem. A sua fúria passou no mesmo instante em que fitou os olhos de Aiko, reconheceria aquele olhar em qualquer lugar e também o prendedor que estava nos cabelos da jovem. Sem forças, ela desabou nos pés da shinigami que não conseguiu segurá-la a tempo. Aiko colocou-se de joelhos diante da mãe e com dúvidas, a encarou...

– Minha filha... Minha princesinha...

– Okaa-sama, a senhora é tão bonita! Eu... Eu me lembro de tê-la visto algumas vezes em meus sonhos de criança, me chamava de princesinha, então, cantava uma música de ninar. É uma pena que tenham sido poucas vezes, mas, acho que ainda recordo da música.

Não tema, a noite já vai chegar – Akiko tinha uma bela voz, apesar de estar emocionada, era encantador poder ouvi-la. – Em seu manto, tão nobre dama irá acalentar...

Minha doce princesa que não para de chorar – Aiko tinha a voz tão linda quanto à da mãe para cantar, sua voz aos poucos ia falhando por causa do choro. – La, La, La... Não acorde princesinha. Durma, boa noite já chegou.

Ela já está dormindo, tranqüila, em paz, sorrindo!

Akiko completou a música e abraçou a filha com toda a sua força, até mesmo o perfume de jasmim dela era parecido com o que ela sempre usou. Nunca imaginou que viveria o suficiente para reencontrá-la, arrependia-se de um dia ter rogado aos deuses para que a levassem, não queria viver sem a sua princesinha amada. Aiko ajudou sua mãe a levantar-se, não sentia vontade de sair daquele abraço, entretanto, Akiko assentiu para ela e se aproximou de Byakuya.

– Peço mil perdões pela minha insensatez, Kuchiki Byakuya – ela abaixou a cabeça. – Não sabe quantos anos de sofrimento a ausência de minha filha me causou. Eu quis morrer, esperava todos os dias pela morte tão incerta. Por favor, perdoe esta mulher ingrata.

– Não há o que perdoar, Akiko-sama – falou com sinceridade. – Este momento foi delicado demais, todas as reações eram esperadas. Eu fico honrado por ter-lhes proporcionado esta felicidade. Saiba que a Casa Kuchiki aprecia demais a Casa Kannogi e tudo o que eu puder fazer, tenham a certeza de que eu farei. Agora, preciso voltar para o Rokubantai, tenho muito trabalho para o dia de hoje.

– Byakuya, temos uma dívida eterna com você, por favor, aceite a nossa gratidão por hora – agradeceu Masanori. – Se um dia qualquer um de nós puder ajudá-lo, não hesite em nos procurar.

O taichou reverenciou e deu as costas, saindo pela porta da frente. Aiko foi abraçada pelos pais e ela retribuiu com a mesma força, era muito fácil amá-los, parecia que nunca havia se distanciado deles.

– Okaa-sama, otou-sama... Eu preciso falar com ele, é muito urgente.

– Vá até ele, minha doce Aiko – falou a mãe com ternura. – Teremos um jantar especial esta noite, acabei de decidir. Vou esperá-la para que possamos nos preparar juntas!

– Posso convidá-lo? – Indagou a shinigami sem jeito.

– Claro que pode, eu deveria ter feito o convite! – Respondeu Akiko.

Aiko assentiu com alegria e saiu correndo pela porta, passou como um furacão pelos criados que encontrava no caminho. Seus pais riram daquilo, mais uma vez a felicidade estava de volta àquela casa. Temia não alcançar Byakuya, por sorte, o encontrou muito próximo do portão de saída.

– Kuchiki-sama! – Ele virou-se surpreso, parando de caminhar. Aiko estava ofegante, tentava tomar fôlego antes de falar com ele. – Eu não sei o que dizer para você... Isto parece até uma história que se conta para as crianças dormirem, de príncipes e princesas!

– Sua família faz parte da família real, você é uma princesa – ele explicou sem muitos detalhes. – Logo você vai entender...

– Sei que vou... Mas agora, eu gostaria de convidá-lo para o jantar que meus pais farão esta noite. Não sei bem como funcionam estas coisas da nobreza, mas acho que você não pode recusar.

– Poder, eu posso... Mas, não vou.

Ela sabia que seria inútil prendê-lo ali até a noite, então sorriu e o acompanhou com os olhos até a saída. Quando voltou pelo mesmo caminho, notou que os empregados agora se ajoelhavam diante dela, podia ouvir sussurros como “Hime-Sama... ela voltou!”. Não admitiria aquele tipo de tratamento, era uma Shinigami do Gotei Juusan e título algum mudaria o seu jeito de ser. Ela chegou perto do primeiro empregado que viu ajoelhado e o ajudou a levantar-se, em seguida, falou com convicção.

– Não quero que nenhum de vocês se ajoelhe diante de mim! Sou uma oficial do Yonbantai, minha função é servir, assim como a de vocês. Somos iguais, então, não desejo nada mais e nada menos do que gentileza e cortesia... E não por ser uma shinigami ou uma princesa, confesso que ainda vou me acostumar com a idéia, mas sim por ser um ser vivo, assim como vocês.

– Mas, Hime-sama – uma jovem empregada que não ousava olhá-la nos olhos falou em nome de todos. – Se não fizermos isto, poderemos sofrer punições muito severas.

– Eu vou conversar com meus pais, agora, voltem a fazer o que estavam fazendo, por favor... Hoje é o dia mais feliz da minha vida, quero que todos saibam!

Aiko pegou um lírio branco dos muitos que um jardineiro colocava em um cesto e saiu caminhando tranqüilamente de volta a casa enquanto sentia o perfume da flor. Assim que entrou pela porta principal, viu mais empregados se prostrando perante ela, odiaria ter que ver aquela cena mais uma vez. Seu pai a esperava com uma expressão alegre, parecia ter rejuvenescido em alguns minutos.

– Aiko-chan – ele fez sinal para que ela se aproximasse. – Sua mãe foi à casa de banhos e pediu para que você fosse vê-la. Creio que ela esteja querendo recuperar os cuidados com a beleza... Eu jamais perdi a esperança, ao contrário de Akiko, sempre quis continuar firme e forte para poder recebê-la novamente e nunca vou me arrepender.

– Otou-sama – Aiko segurou a mão do pai com força. – Obrigada por nunca ter desistido de mim... Vou ver a okaa-sama logo, precisamos conversar muito. Antes, eu só queria ter com o senhor por alguns minutos.

– Estou ouvindo, minha filha.

– Não quero que os empregados me tratem como um ser intocável – ela foi direta. – Eu sou uma shinigami, sirvo a alguém, assim como eles. Onegai, otou-sama! Peça que me tratem como uma pessoa normal.

– Aiko-chan, os empregados vieram de famílias que passaram a vida toda servindo, faz parte da cultura deles e não há nada que possamos fazer para mudá-los. Alguns vão sentir como se estivessem quebrando uma tradição, entende? Eu também não gosto deste tipo de tratamento, já disse que eles não precisam nos tratar como deuses, mas não adianta, querida. Você vai entender como funciona... Servir também é uma arte.

– Não sei se posso me acostumar – Aiko olhou para baixo tristonha. – Vou me esforçar... Agora preciso ir, uma folga é algo tão raro, por mais que tenha sido o Kuchiki-taichou quem a conseguiu, amanhã devo voltar para o Yonbantai.

– Mais tarde conversaremos sobre isto, querida. Esta é Kamiya Junko, será a sua serva.

– Não preciso de serva, otou-sama, com todo o respeito.

Junko era uma bela mulher, de longos cabelos negros, presos no alto da cabeça, olhos azuis, gentis como o seu sorriso. Ela vestia um kimono amarelo e branco, nas mãos trazia uma caixa de madeira nobre polida.

– Hime-sama, queira me acompanhar até a casa de banhos.

Aiko meneou a cabeça e sibilou fortemente, seria vencida pelo cansaço. O trajeto que ambas faziam não parecia ter mais fim, passavam por longos corredores, quartos, salas, uma biblioteca e salão de jogos. A shinigami tinha quase a certeza de que precisaria de um mapa. Nunca se imaginou em uma casa mais bonita que a de Byakuya, estava deslumbrada com toda aquela beleza e riqueza, principalmente quando entrou na casa de banhos. Havia uma banheira gigante, repleta de pétalas de flores, com velas flutuantes de cores diversas. Nas paredes, belos trabalhos, gravuras de árvores, montanhas, tudo o que inspirava a paz. Cinco servas estavam na volta de Akiko, esta acabava de se despir e entrar na banheira de água quente. Ela olhou para Aiko e estampou um sorriso no rosto, seu contentamento em vê-la ali era infinito. Junko a ajudou a retirar o shihakushou e se ofereceu para segurar a zanpakutou.

– Deixe-a perto de mim, por favor, Junko-chan – pediu Aiko assim que entrou na banheira.

– Minha princesinha... Você é tão perfeita! Como eu queria ter visto você desabrochar com o passar dos anos até se tornar esta bela mulher – elogiou Akiko encantada. – Eu não quero deixá-la sair de perto de mim nunca mais... Aqui é o seu lugar, junto ao seu pai e eu.

– Okaa-sama, eu não pretendo sair da vida de vocês... Estarei aqui sempre que precisarem de mim, não vou me distanciar. Mas, preciso que a senhora saiba que não vou deixar meu dever como shinigami de lado. É uma promessa que fiz a mim mesma, e acredito que a honra esteja acima de qualquer coisa.

– Querida, enquanto você foi lá fora, conversei com seu pai rapidamente... Nós não seríamos egoístas a ponto de não deixá-la fazer as suas escolhas. Você é uma mulher feita e irá trilhar pelos caminhos que quiser. É claro que vamos apoiá-la e como bons pais, seremos sinceros e rígidos com você sempre que fizer uma escolha errada. Nossa família é grande, em breve você conhecerá as nossas tradições e os demais membros da família.

– Terei todo o tempo do mundo para este aprendizado – falou Aiko, estava começando a se empolgar. – Okaa-sama...

– Sim? – Akiko percebeu que a filha ficou corada e se preocupou com ela. – Algo errado?

– Não... É que, eu não sei me portar em um jantar tão elegante – confessou sem olhar para a mãe. – E... O Kuchiki-sama estará aqui...

– Entendi – sussurrou Akiko. – Até a noite, prometo que você conseguirá se portar como uma verdadeira dama. Na sua próxima folga, vou ensinar tudo o que sei para você, minha adorada Aiko.

– Eu sou infinitamente grata a ele, okaa-sama...

Aiko calou-se quando uma serva despejou xampu em seu cabelo e começou a massageá-lo delicadamente; outra passou um líquido perfumado em sua pele enquanto a massageava também. Por outro lado, não seria tão difícil acostumar-se àquilo. Sentia-se nas nuvens, parecia que toda tensão de sua vida estava indo embora através das mãos suaves das duas mulheres.

– Eu soube através de seu pai que Kuchiki Byakuya salvou a sua vida, mas não os detalhes.

Aiko viu que a mãe estava lhe dando a oportunidade de contar um pouco de sua vida para ela, então, aproveitou a chance, para depois fazer o mesmo. Akiko ficou imensamente triste quando soube em que condições o taichou encontrou a sua filha, agora sabia que devia muito mais a ele do que imaginava. O progresso de Aiko na academia a orgulhava, assim como as suas ações como oficial do Yonbantai para com todos. Sua filha exalava bondade, talvez se tivesse sido criada de acordo com as tradições, seria uma jovem fútil e despreocupada com os outros ao seu redor. Estava satisfeita, agradeceria em seu altar mais tarde e rezaria e homenagem àqueles que cuidaram de Aiko antes de suas vidas terem se findado tão covardemente, sabia que eram pessoas de valor.
Após uma hora de banho, mãe e filha foram para um cômodo enorme, lá, dez servas esperavam com suas ferramentas em mãos. Cinco estavam encarregadas de cuidar de Aiko, desde o traje que vestiria àquela noite, até o cabelo e a maquiagem. Ao fim, Aiko não acreditou no que via diante do grande espelho de moldura dourada, parecia realmente uma princesa. Foi vestida com um kimono de diversas camadas sobrepostas, de seda pura e trabalhada, em tons rosa e branco, um obi dourado brocado na cintura e um laço bem feito atrás. Sua mãe usava um kimono parecido com o dela, mais sóbrio, de seda rosa e amarela, e um obi idêntico na cintura. O cabelo de Akiko passava da cintura, era castanho como o da filha e recuperou o seu brilho após o tratamento na casa de banho. Duas servas tiveram trabalho para elaborar um belo penteado no alto da cabeça dela, ao término, finalizaram com dois prendedores dourados. Aiko pediu um coque no alto da cabeça e que fosse preso com o seu prendedor habitual. A maquiagem nas duas foi bem suave, Akiko não gostava de exageros e queria que a filha fosse discreta como ela, então, pediu apenas um traço bonito nos olhos com delineador, um blush claro e batom cor de rosa. Ela achava que um bom perfume era o toque final que uma mulher precisava, então, pediu que uma névoa de seu perfume de jasmin fosse borrifada no ar para que ambas passassem por entre ela. Por fim, elas calçaram o tabi de um branco imaculado e uma sandália confortável.
Cinco horas se passaram desde que as duas entraram na biblioteca, lá, Akiko iniciou as aulas básicas de etiqueta, não havia como Aiko esquecer-se daquilo. Sua mãe era uma excelente mestra, não cansava de abraçá-la e beijá-la enquanto progredia nas aulas práticas de como se portar em uma mesa, andar, sentar e reverenciar. Kamiya Junko anunciou a sua entrada e fez uma reverencia assim que teve permissão de Akiko para falar.

– Kuchiki Byakuya-sama acaba de chegar...

– Perfeito – disse Akiko. – Meu esposo está com ele?

– Sim, senhora – respondeu Junko.

– Dentro de cinco minutos vamos descer.

A jovem empregada saiu pela porta. Aiko sentiu que seu coração saltaria pela boca, não tinha mais certeza se queria vê-lo no jantar. Akiko percebeu a rigidez da filha quando pegou em sua mão e meneou a cabeça sorrindo.

– Filha? Não é educado deixarmos dois homens tão distintos à nossa espera, vamos?

– Okaa-sama... Eu...

– Não fique com tanto receio. Você já não conhece o seu convidado?

– Menos do que eu gostaria – entregou Aiko. – Ele não é o tipo de homem que conversa mais do que o necessário com outros shinigamis, ainda mais os que estão abaixo dele.

– Pois aqui nesta casa, você está no mesmo patamar que ele, Aiko-chan – Akiko pegou de cima da mesa uma caixa de jóias e assim que encontrou o que procurava, pôs nas orelhas de Aiko um par de brincos de ouro com o detalhe de duas rosas pendentes e uma pulseira do mesmo material em seu pulso direito. – Ele é o chefe de uma casa, você, uma princesa. Eu confesso que nunca me atentei a detalhes sobre como funciona o Gotei Juusan, mas sei que o seu título fará a diferença a partir de hoje quando vir este homem.

– A senhora definitivamente não o conhece, okaa-sama! – Insistiu. – Bem, deseje-me sorte...

– Você não precisa, querida. Confie em si mesma e quando se perder, toque no seu brinco direito e comece a me imitar, se quiser mesmo impressioná-lo... De qualquer forma, eu gostaria muito que você tentasse agir normalmente e que continuasse sendo você mesma acima de tudo!

– A senhora tem razão, okaa-sama!

Aiko e Akiko desceram as escadas que davam para a sala lentamente, Byakuya e Masanori estavam sentandos diante de uma mesinha de chá quando as duas senhoras da casa foram anunciadas. Ambos levataram-se imediatamente e assim que elas se aproximaram, fizeram uma reverência elegante e eles retribuíram. Masanori estudou a filha por todos os ângulos, era a princesa mais linda que ele já viu em sua vida e não pensava isto por ser sua filha. Gentilmente, ele a beijou na testa e então, entregou o braço para a esposa, queria que ela o acompanhasse até a cozinha.

– Akiko e eu vamos verificar como está indo o jantar, gostamos de acompanhar tudo de perto – explicou ele sorridente. – Byakuya, por favor, cuide de minha filha enquanto isto.

– À vontade, Kannogi-dono.

Assim que o casal deu as costas, Aiko suspirou de alívio, tudo o que mais queria era se livrar daqueles trajes e vestir o seu shihakushou confortável. Byakuya não parava de fitá-la, começava a incomodá-la. Ela não tinha a menor idéia do que fazer enquanto os pais não voltavam, ainda não tinha autonomia para qualquer coisa.

– É certo que está pretendendo deixar o seu cargo e vir morar aqui, estou errado? – Ele puxou o assunto com seriedade. – Por se tratar de uma casa nobre, é possível que seus pais intercedam por isto e as regras serão burladas facilmente.

– Jamais! Meus pais já estão cientes disto – Aiko não quis se estender. – Vou conseguir dar atenção ao meu trabalho e a eles também, nem que para isto eu tenha que me transformar em mil...

Duas empregadas trouxeram uma bandeja com chá e Aiko apontou a mesinha para que deixassem tudo ali. Byakuya acomodou-se em uma almofada e Aiko fez o mesmo, chegando a suar para tentar ajoelhar-se de maneira adequada e manter a postura com aquele kimono carregado. Ela pegou a xícara exatamente da forma que sua mãe ensinou e bebericou o chá rapidamente. Byakuya parecia estar diante de outra pessoa, lembrava que ela sempre teve uma boa educação, mas era mais visível que havia se dedicado a aprender coisas novas.

– Akiko-sama parece a mulher que conheci quando jovem, uma das damas mais belas e distintas que existe – ele não sabia bem aonde chegar. – Vocês duas se parecem... Muito.

– Posso então acreditar que por tabela, você está dizendo que sou bela também – gracejou Aiko deixando-o sem falas. – Mas, falando sério, minha mãe parece que foi pintada pelo pincel da divina beleza, estou longe de ser igual a ela. Sabe, Kuchiki-taichou, eu quero muito aprender tudo o que ela tem para ensinar.

– Aqui dentro eu não sou seu superior, Kanoggi Aiko – explicou ele após sorver um gole de chá. – Você aprenderá isto com a Akiko-sama.

– É estranho ouvi-lo me chamar por este nome... Agora, eu fico pensando, vou ter que me acostumar... Se de repente alguém me chamar por Kannogi e eu estiver distraída, talvez nem atenda.

– Este é um bom nome, acredite. Todas as portas serão abertas para você por intermédio deste... Não é normal uma princesa com a sua idade não ter um marido, então, imagino que logo vão tentar arrumar-lhe um homem digno de seu nome. Suponho que se você tivesse crescido aqui, já teria um noivo desde criança.

Byakuya entendia muito bem como funcionava uma casa como a de Aiko, tudo girava em torno da continuidade da linhagem e para isto, os casamentos eram arrumados. Agora estava nas mãos de Aiko num futuro próximo honrar o nome da família e garantir herdeiros. Ela não gostou nem um pouco daquele assunto, não havia pensando em nada que pudesse lembrar a palavra casamento, pela primeira vez o nome Kannogi começava a pesar em suas costas, cedo demais. Ela bateu com a xícara na mesa assim que ele terminou de falar e o fulminou com o olhar.

– Casamento não é para shinigamis como eu! Nem pense em tocar neste assunto novamente, Kuchiki-sama, senão...

– O que vai fazer? – Ele desafiou erguendo a sobrancelha. – É inevitável um assunto como este quando houver reuniões de família... Felizmente, eu não recordo de nobre algum que seja tão jovem quanto você.

– Kuchiki-sama – ela o fitou, e ignorou o desafio. Estava com uma expressão de deboche no rosto. – Quando um chefe de família resolve escolher um noivo para a sua filha, há algum jeito da outra parte negar?

– É raro acontecer – ele pareceu à vontade ao explicar tudo aquilo para ela. – Uma recusa normalmente é vista como um grande insulto... A casa que recusa pode ser mal vista perante as outras, é como se fosse uma quebra de tradição.

– Entendi – o olhar dela brilhou. – E quando um nobre resolve optar pela vida de shinigami, ele continua com as obrigações para com a sua casa?

– Sim – Byakuya terminou de beber o seu chá, não estava entendendo onde ela queria chegar. – Em memória aos seus antepassados se este não tiver mais parente algum vivo... Como no meu caso, fui preparado pelo meu avô para ser o 28º líder Kuchiki.

– Perfeito! – Um jovem recolheu a louça, por instantes, Aiko esqueceu as boas maneiras e se debruçou na mesinha. – É tão chato ficar o tempo todo com esta postura. Acho que tenho alguns minutos antes dos meus pais aparecerem...

– Como eu já disse, é tudo uma questão de costume.

– Kuchiki-sama – ela o olhou novamente com a mesma expressão anterior, aquilo o preocupou. – Por que de repente resolveu conversar tanto comigo? Será que é o meu novo nome?

– Não me ofenda! – Ele não escondeu a fúria. – Estou fora de serviço, junto a uma família que admiro...

– Já nos encontramos algumas vezes enquanto você estava fora de serviço – rebateu Aiko, não deixaria de vingar-se de toda a estupidez dele há alguns dias. – Tudo bem, não precisa explicar! A verdade é uma só. Roupas caras, jóias, boas maneiras... Um título. Está tudo mais do que claro.

– Você me julga muito mal, Aiko.

– Kuchiki-sama... Devo lembrá-lo de algo? – Zombou, estava magoada demais por Byakuya estar tratando-a tão bem naquela ocasião, sendo que quando mais precisou de uma boa conversa com ele, não obteve. – Vamos! Eu quero me acostumar bem...

– Não seja infantil, estas atitudes não combinam com uma mulher.

– Baka – disse em tom maroto.

Akiko e Masanori entraram no recinto a ponto de ouvir a filha chamando Byakuya de idiota, a mãe conteve o riso, enquanto o pai preocupou-se. Aiko imediatamente se levantou, estava corada.

– Vamos até a sala de jantar? – Chamou Masanori. – Está tudo pronto...

– Sim! – Aiko sorriu e colocou a mão na mesa para tomar impulso, quando viu que Byakuya já em pé ofereceu a mão para ela. Ela olhou para a mãe que assentiu discretamente e então, aceitou a mão dele. – Arigatou, Kuchiki-sama.

– Hum – ele assentiu, a ajudou para que pudesse se levantar e continuou segurando em sua mão sem perceber.

– Venha...

Aiko o puxou e ele largou a mão dela quando voltou a si. Todos caminharam em silêncio até a luxuosa sala em que o jantar já estava disposto sobre a mesa. Parecia um banquete para várias pessoas, uma diversidade de comidas, tudo com muita cor e formas. Aiko estava com os olhos arregalados, não saberia nem por onde começar. Seus pais colocaram-se lado a lado, então só restou mais uma vez ter de sentar ao lado de Byakuya. Ao longo do jantar, ela tentava imitar discretamente o que a mãe fazia quando tinha que pegar algo diferente, mas no fim, saiu-se muito bem. De certa forma, jantar num refeitório do Yonbantai era muito parecido com aquilo, ela pensava ter exagerado um pouco nas expectativas. Os assuntos abordados na mesa giraram em torno dela, adorou contar tudo o que fazia como shinigami. Assim que terminou de comer, Aiko agradeceu.

– Gotisousama deshita! A companhia de vocês não tem preço, otou-ama, okaa-sama... Kuchiki-sama.

– É a primeira vez em anos que eu aprecio um jantar desta forma – confessou Akiko um pouco triste. – Obrigada por ter voltado a iluminar a nossa casa... Sempre que você estiver conosco, teremos eventos agradáveis como este em família.

– Sua mãe tem razão, querida. Agora se vocês dois não se importarem, Akiko e eu gostaríamos de nos retirar... Ela teve um dia muito agitado, me preocupo muito com a sua saúde.

– Otou-sama, não se preocupe... Antes de eu ir embora, irei fazer alguns exames, isto é, se a okaa-sama não se importar. Quero me certificar de que ela está bem – falou Aiko gentilmente.

– Pode me acordar se eu estiver dormindo – consentiu a mãe com uma expressão alegre, apesar do cansaço. – Esta noite você dorme aqui... Junko irá acomodá-la no quarto que sempre pertenceu a você, mandamos arrumá-lo mais cedo.

– Não tenho como recusar um convite destes! Então, podem deixar que eu acompanharei o Kuchiki-sama até a saída daqui a pouco mais – ela olhou para Byakuya de canto. – Durma bem, otou-sama... Okaa-sama, logo nos veremos.

Seus pais se despediram com um abraço e rumaram até os aposentos correspondentes, Aiko achava estranho um casal não dormir no mesmo quarto, contudo, deveria ser algum costume da casa. Ela ficou completamente sem assunto, Byakuya estava de braços cruzados, parecia estar em outro mundo. Aiko não queria dar o braço a torcer, mas devia desculpas para ele.

– Kuchiki-sama, eu peço desculpas pelas coisas que falei antes... Fui infantil. O senhor é um bom amigo para os meus pais, obrigada.

– Não gosto quando me chama de senhor desta forma tão rude, é para provocar? – Inquiriu ele sem olhá-la.

– Foi sem querer...

– Bem, agradeço o convite para o jantar, estava tudo muito agradável – falou ele de forma polida. – Logo retribuirei a gentileza e os receberei em minha casa.

– Isto quer dizer que você está indo embora? – Ela perguntou demonstrando uma tristeza momentânea.

– Tenho algumas funções acumuladas no Rokubantai, vou tentar adiantar o máximo, pois amanhã será um dia cheio – ele explicou, desta vez, a olhou nos olhos.

– Hai... Eu o acompanharei até o portão.

Byakuya fez sinal de positivo com a cabeça, desta vez não teve tempo de oferecer-se para ajudar a jovem shinigami, ela impulsionou o corpo e se colocou em pé. Ambos caminharam lentamente, fazia uma noite muito agradável, a brisa tocava gentilmente em seus rostos e alastrava o perfume das flores do jardim. O firmamento estava tomado por estrelas e a lua nova despontava em seu meio, magnânima. O taichou havia subido alguns pontos no conceito de Aiko, finalmente pensava em ter achado uma forma de coexistir com ele, já que aqueles encontros poderiam se tornar ainda menos raros. Ela se despediu dele com uma mesura e ele retribuiu, não com toda a inclinação que Aiko usou. Os guardas abriram o portão para ele passar, quando fecharam, a shinigami sentiu um aperto no peito, estranhamente, tudo o que mais queria era poder ficar na companhia dele até o dia amanhecer.
Aiko levou uma hora para fazer todos os exames que queria em sua mãe, constatou que ela estava com anemia e então, solicitou à empregada de confiança que passasse a seguir com rigidez o tratamento que ela especificou em uma receita. Assim que se despediu de Akiko, a jovem foi para o seu quarto, acompanhada de Kamiya Junko. A serva arrumou a grande cama em que a princesa dormiria e diferentemente do alojamento que tinha no Yonbantai, aquilo parecia o paraíso. Ela recordava a cama de Byakuya, agora dormiria no mesmo conforto que ele, era irônico demais. Tudo ao seu redor tinha muito requinte, as luminárias eram de ouro, as molduras dos espelhos, os puxadores dos móveis. Não imaginou como aquilo tudo foi organizado tão rapidamente, ao abrir um armário embutido, ficou deslumbrada com os kimonos e vestidos que estavam lá. Peças coloridas, de seda trabalhada à mão. Em uma cômoda, encontrou um baú de tamanho médio, ao abri-lo, ficou espantada. Nunca vira tantas jóias, algumas nem saberia como usar. O estranho era que cada detalhe demonstrava o amor de seus pais, parecia que tudo fora pensado por eles, inclusive vários perfumes e essências no grande banheiro, algumas de jasmim.
Ao amanhecer, a oficial do Yonbantai acordou bem disposta, dormiu como uma criança em meio àquele conforto. Como seu pai acordava cedo, ela tomou café com ele e em seguida, foi obrigada a despedir-se, logo o seu expediente começaria. Aiko notou a tristeza no olhar de Masanori, então, o abraçou. Parecia que o conhecia intimamente há muito tempo e como pensou, realmente era fácil amá-lo.

– Otou-sama, sempre que der eu voltarei aqui! Às vezes posso sair para jantar também, isto é, se vocês não se importarem em me receber tão tarde... Na minha folga, é certo que virei para cá aproveitar tudo o que puder ao lado de vocês.

– Sua presença nunca nos incomodará! Você não precisa nos avisar, basta aparecer que os portões serão abertos imediatamente. Agora vá, minha filha... Não quero que se descuide por minha causa, seu trabalho é admirável demais. Tenho orgulho em ter você como filha, Aiko-chan.

– Arigatou, otou-sama! Por favor, deixe um beijo para minha mãe... Até logo.


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