Reparação escrita por Luhni


Capítulo 21
O passado de Mebuki


Notas iniciais do capítulo

Oi genteeee! Quem é vivo sempre aparece, né?
Acho que já me expliquei diversas vezes na página do face, mas para quem não acompanha por lá quero que saibam que eu não abandonei a fic não!!!
O problema é que eu tô trabalhando muito! Eu trabalho de segunda a sábado até a noite e pra quem não sabe eu sou professora, e lidar com criança, apesar de maravilhoso, também é desgastante, então eu estava sem tempo para escrever, o que culminou com o fato de que eu estava de babá de duas primas e estou tendo que dividir o computador com todo mundo aqui em casa T.T (espero que em abril eu consiga mudar isso XD)
Mas mesmo assim, muito obrigada por não desistirem da fic, ficarem no pé, me mandarem mp, reviews.... eu li tudo e amei cada palavra escrita por vocês!! Ainda não consegui responder, mas espero me organizar melhor a partir de agora ^^
Então, como presente de Páscoa espero que gostem do capítulo, ele está suuuper longo (o maior até agora)!!
Beijos e nos vemos nas notas finais ;D
Boa leitura!



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“O quê... aconteceu?” se perguntou com a mente enevoada. Forçou os olhos a abrir, mas parecia que tinha uma pedra encima das pálpebras que a impediam de ver ao seu redor. Tentou mexer o corpo e foi como se tivesse sido atingida por uma descarga elétrica. Respirou fundo, era melhor se focar apenas em ver onde estava. Mas ao conseguir abrir os olhos, fechou-os rapidamente devido à luminosidade do local. Refez o movimento até que seus olhos se acostumassem com a luz e suspirou ao ver que estava no hospital.

            “O que faço aqui?” e como um flash recordou-se do ataque à Konoha e de quando encontrara Kabuto. Ela havia sido envenenada pelo shinobi com quem lutara mais cedo, porém antes que o médico traidor pudesse acabar consigo alguém havia a salvado. Forçou o corpo a se levantar, mas sua cabeça rodou e suas forças a abandonaram. Ela ainda devia estar com veneno na corrente sanguínea. Quanto tempo havia dormido? Virou o rosto em direção a um biombo e observou que não era a única ali naquele quarto.

            Já estava quase adormecendo novamente quando o barulho da porta se abrindo a assustou. Ela não viu quem entrara, entretanto distinguiu muito bem as vozes aflitas de um senhor e uma senhora que falavam com o seu companheiro de quarto.

— Graças a Kami você está bem! Nunca mais faça isso! – a mulher, que Sakura supôs se tratar de uma mãe, dizia em meio aos soluços.

— Se algo tivesse acontecido com você... – o homem, que deveria ser o pai se interrompeu e logo o som abafado de choro pôde ser ouvido.

            Sakura sentiu os orbes marejarem e olhou a sua volta apenas para confirmar o que já sabia... estava sozinha. Como era boba. O que ela esperava? Que os pais estivessem ali com ela? Que Sasuke estivesse presente? Sua mãe nunca seria assim. Seu pai havia se distanciado tanto que imaginava nem reconhecê-la mais como filha. Eles deveriam estar mais ocupados cuidando do clã. E Sasuke... a odiava. Ela nem sabia o motivo de estar pensando nele. De todas as pessoas, ele deveria ser a última que a visitaria ou cuidaria de si, mesmo que tivesse protegido-a durante a luta ou que estivessem ligados, de alguma forma, pelo matrimônio.

            Ouviu os pais do outro lado do biombo falarem com o filho mais uma vez e desejou não estar naquele quarto. Queria se levantar e ir para qualquer lugar, não queria ouvir palavras doces que não eram dirigidas a si, pois sabia que isso somente a machucaria mais. Era a prova do quão infeliz era por não ter ninguém ao seu lado. Era a prova do quão sozinha estava, mesmo que tentasse negar. Porque no final das contas ela era apenas uma garota que queria um pouco de carinho e atenção. E em meio ao choro silencioso acabou adormecendo mais uma vez.

—*-

            Já era tarde da noite quando Tsunade foi verificar a pupila. Ela ouviu de uma enfermeira que Sakura parecia ter despertado por alguns instantes naquele dia e ficou contente com a notícia. Já fazia três dias que ela não acordava e estava com medo do que isso poderia significar. Observou a ex-Haruno dormir enquanto verificava os sinais vitais dela, parecia tão tranquila, como um anjo. Analisou a prancheta para ver como estava sendo administrada a medicação da pupila. Não permitiria que tentassem algo contra Sakura da mesma forma como acontecera com o Uchiha. Suspirou ao pensar no moreno e voltou a observar a aluna antes de massagear as têmporas, para em seguida se voltar para a janela.

— Quanto tempo mais pretende ficar escondido? Sei que está aí. – disse séria e não demorou muito e um vulto entrou no cômodo. – Sabe que não precisa ficar de vigia do lado de fora do quarto, não é mesmo? – indagou com um sorriso zombeteiro.

— Humf... – bufou virando o rosto para o outro lado, encostando-se a parede e Tsunade teve vontade de bater nele.

— Sasuke, porque não faz companhia a sua esposa de forma normal? Sei que ela ficaria feliz em vê-lo – tentou mais uma vez.

Mas o silêncio dele fez Tsunade se irritar ainda mais e falar entredentes:

— Se não vai fazer o que estou dizendo, então pare de ficar escondido nas sombras todas as noites. As enfermeiras ficam assustadas, pensando que é um fantasma ou, pior, um inimigo. – repreendeu-o e Sasuke mordeu a língua com força para não responder a Hokage.

            Tsunade voltou a olhar para Sakura e em seguida voltou-se para o Uchiha, dessa vez mais calma, e disse:

— Ela cuidou de você quando estava doente, não acha que deveria fazer o mesmo?

— Tsunade – disse em tom ríspido, pouco ligando para o fato de não estar sendo educado – Deveria parar de se meter em coisas que não lhe diz respeito. E minha relação com minha esposa não é da sua conta. – finalizou de forma autoritária, fazendo Tsunade bufar.

— Só espero que quando enxergue as coisas direito não seja tarde demais e não a perca para sempre – disse ao se virar para ir embora, mas parou abruptamente e voltou-se mais uma vez para Sasuke – Saiba que Sakura é alguém por quem tenho muito apreço, então mesmo que eu não possa interceder dentro das regras do clã, não deixarei você machucá-la mais.

            Após ouvir essas palavras, Sasuke ficou sozinho no quarto com a rosada. O que aquela velha queria dizer? Bagunçou os cabelos, inconformado com aquela conversa. E consigo mesmo. Ele não deveria estar ali. Não queria estar ali. Observou a rosada dormir por um instante e em seguida pulou para fora da janela. Não devia ter vindo, no final das contas.

—*-

            Nem Tsunade e nem ninguém viu mais a figura de Sasuke pelo hospital nos dias seguintes e a loira sempre contava a até dez para não ir ela mesma tirar satisfação com ele, pois provavelmente ouviria que ele apenas estava fazendo o que fora pedido. Mas agora ela tinha outras coisas com que se preocupar e uma delas era fazer Sakura se reestabelecer para ter conhecimento do que realmente acontecera e se Kabuto planejava mais alguma coisa.

Kabuto.

Ninguém conseguiu descobrir onde estava ou impedir que ele saísse da vila e aquilo a enfurecia só de pensar que o médico havia feito todos de Konoha de idiotas. Ouviu um estalo e se deu conta que acabava de quebrar uma caneta. Suspirou, tinha que aprender a se controlar, já era a terceira essa semana.

— Tsunade-sama – ouviu Shizune entrar segurando a porquinha Tonton – Está ocupada?

— Não Shizune – disse ao esconder a caneta quebrada em uma gaveta da mesa – Algum problema?

— Precisamos que a senhora ajude no hospital, mais uma vez – disse cansada e Tsunade encostou-se a cadeira, massageando as têmporas – Não temos pessoal suficiente para ajudar os feridos.

— Eu sei disso, já estava indo para lá de qualquer jeito, mas acho que não era só isso que você queria me dizer, não é? – arqueou uma sobrancelha descrente.

            Tsunade já estava ciente dos problemas que a falta de médicos ninjas estava causando na vila, então não teria necessidade de Shizune lhe alertar daquilo.

— Bom, tem uma pessoa que quer falar com a senhora – e em seguida a morena pediu que entrassem na sala e Tsunade estava no mínimo surpresa com presença da figura a sua frente.

— O que faz aqui, Mebuki? – indagou a Hokage.

—*-

            Já ia completar uma semana que estava naquele hospital e não via a hora de Tsunade dar alta para si. Ela se sentia entediada e solitária na maior parte do tempo. Mas tinha que reconhecer que a visita de Naruto e de Ino alguns dias atrás havia a alegrado bastante. Eles lhe contaram o que estava acontecendo na vila e como Kabuto estava sendo considerado um nukenin, um ninja renegado. Cerrou os punhos só de lembrar-se do ninja e preferiu desviar os pensamentos e, ao invés disso, recordar-se da visita de Mikoto.

Sua sogra fora muito gentil ao lhe visitar mesmo com o clã estando cheio de problemas, o que incluía o fato de ter uma neta recém-nascida e estar sem um lugar para morar. Sakura ainda achara que Mikoto estava lhe escondendo alguma coisa, era um pressentimento de que algo mais acontecia nos Uchiha’s, mas a mais velha fora inflexível e tratou logo de mudar de assunto ao falar da neta, a pequena Megumi. Realmente ficou feliz de saber que tanto Hana quanto Megumi estavam bem, mas Sakura não conseguia parar de pensar no que lhe aconteceria ao sair do hospital.

Afinal, não era idiota e sabia que o fato de ter lutado deveria ter chamado a atenção de todo o clã, além disso, tinha Sasuke. Ela havia o desrespeitado, de novo, e mesmo que por um momento ele pudesse ter tido compaixão não estava contando com isso uma segunda vez.  Entretanto, ela também não abaixaria a cabeça de forma subserviente. Entrar em confronto com Sasuke não era algo que queria, mas estava sem ideias de como lidar com ele.

Encostou a cabeça no travesseiro, havia ficado um pouco zonza só de pensar nisso, ainda não estava plenamente recuperada. O veneno ainda estava sendo eliminado, por isso não pudera voltar para casa. Aquele shinobi devia ser um mestre em envenenamento, muito melhor do que Kabuto. Fechou os olhos com força, tinha que tentar organizar os pensamentos e resolver um problema de cada de vez. E de tão concentrada que estava não notou quando a porta do quarto foi aberta, mas também quem a visitaria agora?

Ino e Naruto estavam se engajando em missões para recuperar Konoha e Mikoto havia lhe visitado de manhã. A visita poderia ser para o seu companheiro de quarto, mas lembrou-se de que ele já tivera alta e saíra do hospital. Abriu os olhos, curiosa, apenas para se surpreender com a pessoa que estava ali ao seu lado.

— Oka-san?

            Mebuki permaneceu em silêncio enquanto a filha parecia estar assustada com a sua presença. Ignorou aquele comportamento e sentou-se em uma cadeira bem ao lado do leito do hospital. Ela conseguia sentir o olhar penetrante da mais nova em si, ansiando por respostas, mas ela ainda não conseguia falar, então tratou de observar com afinco tudo ao seu redor.

Observou com atenção os móveis simples, a parede branca, a pequena cômoda ao lado da cama até chegar ao aparelho depositado do outro lado que ligava o soro intravenoso no braço fino da filha. Rapidamente passou os olhos pelo rosto desta apenas para notar que Sakura parecia mais magra e abatida e em seguida desviou o olhar para o outro lado.

Sakura não sabia como se sentia naquele momento. Talvez a palavra desconforto ou tensão pudesse se aplicar melhor a tudo. Ela não sabia o que esperar da mãe. Era uma visita? Mas porque Mebuki não falava nada? A progenitora parecia mais interessada em analisar qualquer coisa que não fosse ela. E talvez fosse até melhor do que ver a mais velha lhe criticando o tempo todo.

O destino deveria gostar de brincar consigo, pensou, pois se antes desejara que a mãe a visitasse, agora que ela estava ali ao seu lado só pedia para que aquele clima pesado fosse embora, para que Mebuki fosse embora. Estava claro que nenhuma das duas estava à vontade na presença da outra e aquele silêncio começava a se tornar incômodo. Antigamente, quando era pequena, Sakura recordava-se de como era difícil vê-las em silêncio, sempre estavam conversando ou brigando por alguma coisa, devido ao temperamento explosivo que ambas tinham.

Sorriu com a lembrança. Sua mãe sempre fora muito rígida, mas quando estavam a sós, em um momento de lazer, Mebuki sempre fazia um chá e lia para Sakura. Eram histórias de todos os tipos desde aventuras a romances e até mesmo livros mais didáticos que falavam sobre o passado e a geografia de diversos locais. No início eram mais fáceis e falavam sobre grandes feitos, não como os de seu pai, mas mesmo assim eram agradáveis e Sakura sempre a interrompia para questionar algo ou tentar mudar a história, o que sempre gerava risos por parte da mãe com as ideias bobas dela. Aquele era um dos poucos momentos em que ficava a sós com a matriarca, sem seu pai para brincar ou sua irmã para chamar a atenção de Mebuki.

Balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos. Aquilo não passava de uma recordação, um borrão quase extinto dentro em si, não adiantava continuar pensando naquilo. Voltou-se para a mãe apenas para ver que ela também parecia divagar sobre algo, então suspirou e resolveu acabar com o quer que fosse aquilo, de uma vez.

— O que está fazendo aqui? – e foi o bastante para despertar Mebuki que voltou a encarar alguma coisa de forma aleatória.

— Parece estar melhor... – disse, ignorando a pergunta e Sakura teve que morder a língua para não retrucar. Afinal como ela poderia dizer isso sem nem ao menos lhe olhar direito? Ao invés disso, falou:

— Tsunade-sama cuidou bem de mim – mas não conseguiu disfarçar a amargura na voz e Mebuki crispou os lábios.

— Claro que cuidou – ironizou antes de revirar os olhos e Sakura teve vontade de repetir o gesto da mais velha.

— Por que veio aqui? – indagou mais uma vez e Mebuki voltou a ficar tensa, enquanto encarava o chão e cerrava as mãos em punho.

— Não quer que eu fique? – e Mebuki pensou que talvez esse não tivesse sido uma boa ideia, talvez fosse melhor deixar tudo como estava.

— Não disse isso... – mas internamente uma parte de Sakura desejava que a mãe fosse embora, enquanto que outra parte parecia cada vez mais curiosa com a presença dela ali - ...só quero saber o motivo da senhora estar aqui.

            Mebuki suspirou e passou a mão nos fios loiros como se estivesse ajeitando o coque perfeitamente feito antes de voltar a responder:

— Acho que deve ser normal uma mãe visitar a filha quando esta adoece – disse de forma displicente e Sakura franziu o cenho antes de falar:

— Engraçado, a senhora não me visitou outras vezes.

— Não se fazia necessário – respondeu e voltou a colocar as mãos no colo, tinha que se manter calma. Mas Sakura apenas ficou mais magoada e irritada ao ouvir tais palavras.

— Até pouco tempo atrás eu nem ao menos tinha vontade de sair de casa e a senhora acha que não era necessário? – disse de forma ríspida e Mebuki retrucou:

— Eu nem ao menos sabia como você estava! – não era mentira, pelo menos não totalmente. Mebuki não soubera sobre o estado da filha até Mikoto lhe contar sobre o que aconteceu durante a discussão com Sasuke.

Mas o que ela poderia ter feito? Não tinha poder sobre os Uchiha’s e ela tinha avisado tanto Sakura para que se comportasse...

— Mas poderia ter ido me visitar! – a voz da filha chamou a sua atenção e Mebuki voltou a discutir:

— E no que isso teria ajudado?A minha presença seria milagrosa, por acaso?

— Não, mas um pouco de carinho não iria matar também!

— Cada um tem seus próprios demônios para lidar, Sakura. Não se ache o centro do universo – Mebuki disse irritada.

Não queria ter que falar dessa forma, não era assim que pensara nessa conversa. Mas era a verdade, se fosse visitar Sakura naquele tempo, somente sofreria junto com a filha, era provável até que piorasse tudo. Por isso, foi vê-la apenas quando encontrara um modo de ajudar a caçula. Um modo que pudesse ajudar a ambas.

— Eu mais do que todos sei disso. Nunca me achei o centro de nada, muito menos quando Sayumi morreu.

— Não vim aqui falar dela! – Mebuki exasperou-se, não queria citar o nome da primogênita, era uma ferida que ainda cicatrizava, mas parecia nunca fechar completamente.

— Então, veio para quê? Não me diga que está preocupada comigo porque sei que não é verdade! A senhora nunca ligou para mim! – bradou com os orbes marejados e o corpo tremendo de raiva. Não conseguia mais se conter.

Sakura nunca mais havia desafiado a mãe desde a morte de Sayumi, pois ela pensava que devia sofrer com todo o seu desprezo pelo o que aconteceu. Mas aquilo doía, toda vez que o olhar cortante da mãe era dirigido para si, pensava que devia ter morrido no lugar de Sayumi. E com o passar dos anos a própria mãe se tornou, em parte, responsável pela sombra que havia se tornado, até tudo mudar novamente com o casamento.

Mas agora... agora Sakura não queria voltar a ser amedrontada, não queria mais sofrer calada,mesmo que doesse, mesmo que magoasse a mãe, não conseguia mais guardar aquele sentimento de mágoa dentro de si.Assim como o veneno que era expurgado de seu corpo, ela também queria se livrar daquilo que a corroía ao ver a progenitora. Ela só não esperava aquela reação de Mebuki,que se levantou e desferiu um tapa em seu rosto.

— Nunca mais diga isso! Eu sempre me importei com você da mesma forma que Sayumi! Você é minha filha! – gritou e foi a primeira vez em anos que Sakura viu a mãe com os orbes marejados, porém aquilo não a penalizou.

— Quem está tentando enganar? – disse em um tom mais baixo, para em seguida elevar a voz novamente – A senhora sempre preferiu a Sayumi, sempre quis que eu fosse como ela e sempre me rejeitou por eu ser diferente, por eu ter sonhos diferentes! Eu...

— Eu só não queria que você fosse igual a mim! – Mebuki sobrepôs a voz da filha, interrompendo-a, angustiada por ouvir aquelas palavras – Eu não queria que cometesse os mesmos erros que eu!

            Ofegava de raiva, suas mãos tremiam e lágrimas escorriam pelo seu rosto. Não esperava aquelas palavras. A amargura de Sakura para consigo era tão grande e tão profunda que só fazia ela se sentir cada vez mais culpada e aflita. Será que ainda podia consertar as coisas entre elas?

            A Sakura apenas encarava a mãe, em silêncio, sem conseguir organizar seus pensamentos direito, enquanto a mais velha aos poucos parecia se controlar.

— O... O que quer dizer com isso? – disse de forma hesitante e um pouco confusa, até balançar a cabeça em negação – Nós não somos parecidas e a senhora nunca cometeu um erro.

            Mebuki suspirou e tornou a sentar na cadeira, precisava se acalmar.

— Sakura... você sabe como eu e o seu pai nos conhecemos e ficamos juntos? – indagou encarando a filha que revirou os olhos.

— O que isso tem a ver? – contestou, mas Mebuki tornou a insistir na resposta – Sei, otou-san sempre contava como ele se apaixonou a primeira vista pela garota de longas madeixas loiras e olhos verdes – e olhou para a mãe, esperando que ela se explicasse, e novamente se surpreendeu ao vê-la sorrir minimamente.

— Eu sempre preferi a versão de Kizashi, mas infelizmente essa não é toda a história – disse encarando a filha que continuava sem entender o que a mãe queria dizer.

— Então qual é a história?

—*-

— Tsunade-sama! – ouviu Shizune gritar o seu nome e aquilo foi o suficiente para fazê-la bufar.

Adorava a discípula, mas ultimamente todas as notícias que Shizune traziam apenas se tornavam dor de cabeça para ela. Por que aceitou aquele cargo de Hokage mesmo?

— O que foi agora Shizune? É bom ser importante para fazê-la gritar no meio do hospital! – repreendeu a loira sem paciência e voltou a ler o diagnóstico de alguns pacientes em sua prancheta.

— Temos notícias muito graves, Tsunade-sama – Shizune disse ao se aproximar e a Senju franziu o cenho à espera – Encontramos o Kazekage – e isso foi o bastante para atrair a atenção de Tsunade.

— E onde esse miserável está? Leve-me até ele, temos que descobrir o que ele planejava com esse ataque e... – mas ao ver o olhar abatido de Shizune, parou de falar e desconfiou que não gostaria de ouvir as próximas palavras.

— Encontramos o Kazekage, mas, infelizmente, ele já estava morto na divisa entre o país do Fogo e do Vento. – Tsunade cerrou os punhos com força e antes que pudesse se controlar quebrou a prancheta em sua mão, assustando a discípula com o ato.

— Droga! – gritou, furiosa, sem se importar com o lugar onde estavam – Como uma coisa dessas foi acontecer? Eu mandei trazerem ele com vida!

— T-Tsunade-sama... o hospital... – tentou chamar a atenção da Senju, que respirou fundo para se acalmar.

— Vamos para a minha sala e você me explica no caminho o que aconteceu – decidiu ao se virar para sair do hospital e a morena começou a correr para alcançar a mais velha.

— Tsunade-sama, ainda tem mais uma coisa... – hesitou e ao ver o olhar da loira sobre si, encolheu-se, não queria ter que enfrentar ainda mais a fúria da mestra, mas não tinha jeito.

— Por Kami, diga de uma vez Shizune! – ordenou e a morena suspirou antes de dizer:

— Os shinobis que estão presos, Gaara e Temari, eram os filhos do Kazekage... – a Senju arregalou os olhos, já imaginando o que isso significaria – ...e Suna enviou uma mensagem exigindo a libertação imediata dos dois ou haveria retaliação pela “traição”, como disseram.

            Tsunade massageou as têmporas, sem acreditar no que ouvia, mas em seguida deu meia volta, dirigindo-se para outro lugar, precisava remediar a situação de alguma forma ou Suna declararia guerra contra Konoha antes do final do dia. Shizune, sem entender o que a mestra pretendia, apenas a seguiu.

—*-

— Então? – Sakura indagou à mãe, visivelmente frustrada pela matriarca não lhe responder, mas Mebuki queria escolher bem a forma como iniciaria aquela narrativa.

— Seu pai... Kizashi nasceu em uma família privilegiada do clã, estava destinado a ser o herdeiro dos Haruno’s e ele era exatamente como é agora – disse com um pequeno sorriso – O melhor ninja, o mais popular, o mais carismático, o mais gentil – enumerou as qualidades do marido e Sakura sorriu com a descrição, era difícil ver a mãe tão aberta daquela forma – Ele só tinha um defeito... ele se apaixonou por mim.

            Sakura arregalou os olhos, sem entender aquilo e Mebuki sorriu de forma debochada.

— Dentre tantas garotas, seu pai resolveu gostar da única menina que não o suportava – confessou.

— Como? Por que a senhora não gostava dele? – indagou perplexa com aquilo.

— Nossos mundos eram diferentes, enquanto ele era treinado para ser um imponente shinobi e líder, eu era apenas a filha de um casal de comerciantes do clã, nós tínhamos sonhos e personalidades diferentes, então eu o considerava um... como eu o chamava mesmo? – tentou recordar-se, enquanto tamborilava os dedos no rosto - ...Ah sim! Um riquinho metido a besta! – e sorriu ao ver a cara de espanto da caçula que nem ao menos conseguiu pronunciar algo.

— Não me olhe assim, Sakura – retrucou Mebuki – Eu não conhecia Kizashi e tinha outras coisas para me preocupar naquela época.

— Que coisas? – Sakura não sabia o que mais podia esperar.

— Antes que eu fale, prometa que não vai me interromper até eu terminar de falar – pediu e a rosada apenas aquiesceu, fazendo Mebuki suspirar – “Meus pais eram pequenos comerciantes na época...”

Nós tínhamos uma loja no centro de Konoha e sempre atendíamos as mais variadas pessoas, desde moradores da vila até estrangeiros e shinobis. Não ganhávamos muito, mas nossos produtos eram conhecidos em outras vilas pela qualidade e variedade, então sempre tínhamos muito trabalho e, por causa disso, eu vivia ajudando na loja.”

Flashback on

— Mebuki, eu preciso da sua ajuda aqui! – gritaram de dentro do estoque e a jovem de longas madeixas douradas correu para ver qual o problema.

— O que foi? – indagou e em seguida já estava com quatro sacolas nas mãos.

— Por favor, leve essas encomendas para mim, aqui estão os endereços – o mais velho disse apressado ao ouvir a campainha da loja anunciando um novo cliente. Enquanto Mebuki suspirava, ajeitando as encomendas, mas logo sorriu com a perspectiva de sair de casa.

            As ruas de Konoha não eram tão movimentadas na época, a vila crescia aos poucos e havia muitas construções crescendo e Mebuki ficava sempre admirada em ver como tudo parecia mudar ao seu redor. Secretamente, ela se orgulhava de poder dizer que conhecia cada canto de Konoha, afinal sempre estava perambulando por aí.

— Aqui está sua encomenda, Mika-san! – a Haruno disse a uma linda de mulher de cabelos castanhos e olhar bondoso.

— Obrigada querida! Nossa Mebuki-chan está tão bonita, uma verdadeira flor! – elogiou e a garota corou ao ouvir essas palavras.

— Obrigada.

— Em breve conseguirá fisgar um bom marido, pode apostar, talvez até o Kizashi-kun, o que acha? – disse com um sorriso zombeteiro e piscando, mas aquilo foi o suficiente para Mebuki franzir o cenho.

— Acho que isso não irá acontecer – retrucou e a jovem mulher apenas riu.

— Ora, e por que não? Você é bonita, tem dote, é inteligente, o garoto seria burro de lhe dispensar – disse e a loira apenas revirou os olhos.

— Mika-san, como a senhora disse eu sou inteligente e é por isso que eu não ficaria com alguém como Haruno Kizashi – não era sua intenção soar prepotente, mas ela não suportava aquele garoto metido a besta.

            Todas as jovens na vila só sabiam falar sobre quatro pessoas, os quatro herdeiros dos clãs: Uchiha, Namikaze, Hyuuga e Haruno. Mas como Uchiha Fugaku estava comprometido com Uchiha Mikoto, Hyuuga Hiashi já estava de casamento marcado e Namikaze Minato havia deixado todas as regras de lado para ficar com Uzumaki Kushina, Haruno Kizashi era o único solteiro e, portanto, alvo de todas as garotas que sonhavam em casar com alguém importante de Konoha.

Porém, Mebuki não se enquadrava nesse grupo, e muito menos entendia o que as garotas viam naquele garoto prepotente que adorava se mostrar em todas as ocasiões.

— E com quem você ficaria então, Mebuki-chan? – Mika-san indagou, chamando a atenção da menina que deu de ombros.

— Com alguém que realizasse o meu sonho.

— E qual seria? – a senhora questionou curiosa, fazendo a Haruno sorrir.

— Eu quero sair de Konoha e viver aventuras – respondeu de forma breve para depois se despedir da mulher, e assim evitar mais questionamentos.

            Afinal, sabia que essa resposta sempre despertava muita curiosidade nos outros. E perguntas como, “Que tipo de aventuras?”, “Você não pretende casar?”, “Quer deixar tudo ao seu redor por algo que talvez nem seja o que você imagina?”, sempre surgiam em seguida, apenas para deixar a pobre garota mais confusa e frustrada, afinal sabia muito bem que era algo difícil de ser alcançado.

Ela não era uma kunoichi, não tinha uma posição elevada dentro do clã, ela era apenas uma civil que estava fadada a ver outras pessoas lhe contarem sobre lugares novos, enquanto trabalhava na loja dos pais e ficava a imaginar como seria conhecer algo diferente de Konoha.

            Mas tinha consciência que deixaria tudo e a todos se alguém lhe estendesse a mão para realizar esse sonho. Ele seria um príncipe para si, seria o responsável por mudar a sua vida e ela não conseguia parar de pensar no quanto seria feliz se encontrasse essa pessoa especial. Estava tão distraída que não notou quando algumas crianças correram perto de si, fazendo-a se desequilibrar com as encomendas e cair no chão.

            Ouviu alguns risinhos e logo pôde notar algumas garotas rindo de si. Praguejou baixinho, ignorando os risos, enquanto começava a recolher as suas coisas e verificar se algo havia quebrado. Ela não era a pessoa mais sociável de Konoha, mas não chegava a ser como Kushina, a Pimenta Sangrenta, a qual muitos tinham medo, apenas preferia evitar certas conversas fúteis e pessoas egoístas que se achavam superiores a todos.

— Você está bem? – disse uma voz amável e ao levantar a cabeça para responder, corou ao ver Kizashi perto de si, sorrindo, e com uma mão estendida na sua direção – Você está bem?

            Ela não podia negar que ele era realmente bonito com aqueles cabelos curtos em um rosa pálido e os olhos verdes brilhantes, mas sabia que ele devia estar fazendo isso somente com um propósito, chamar a atenção. Ele sempre fazia isso, gostava dos holofotes virados para si e Mebuki detestava pessoas egoístas e narcisistas como ele. E ao ouvir o burburinho atrás de si, comentando o quanto ele era gentil e o como ela devia ter armado aquilo para atraí-lo, foi o suficiente para irritá-la e recusar o gesto do rapaz. Levantou-se, então, sozinha, ignorando a pergunta feita por ele.

            Kizashi não entendeu o comportamento da menina, mas tinha que admitir que ela chamara a sua atenção tanto pela aparência quanto pelo fato de usar o emblema do seu clã na roupa. E isso o intrigara um pouco, afinal pensava conhecer todos os Haruno’s. Mas ela... céus, nunca esqueceria um rosto como esse!

— Então, você está bem? – indagou mais uma vez, enquanto via Mebuki voltar a recolher as sacolas pelo chão.

— Nada quebrado – disse sem encará-lo. Não entendia o que aquele garoto queria com ela.

— Fico feliz. Quer que eu te ajude? – e já foi pegando uma das sacolas da mão de Mebuki que o impediu, segurando com mais força.

— Não é necessário – disse ao puxar a sacola para si e Kizashi, arqueou uma sobrancelha, sem entender a garota.

— Certo... – falou sem saber o que dizer exatamente e ao vê-la se virar para andar, ele não pensou antes de começar acompanhá-la – ...Então, qual o seu nome? Somos do mesmo clã – disse com um sorriso e Mebuki apenas revirou os olhos.

— Escuta, você não tem mais ninguém para perturbar, não? – foi direta, estava incomodada com os olhares de todos ao seu redor, principalmente daquelas garotas mesquinhas. Não queria arranjar problemas.

            Kizashi arregalou os olhos surpreso pela resposta, ninguém nunca tinha falado assim consigo, ele era o herdeiro dos Haruno’s e todos o tinham na mais alta conta. Além disso, sempre tentava fazer amizade com todos, por isso não entendia o que aquela garota tinha contra si. Será que ele havia a dispensado e não se lembrava disso?

— Isso é impossível! Eu nunca rejeitaria uma garota tão bonita! – disse em voz alta e ao perceber que Mebuki lhe encarava assustada, sentiu o rosto esquentar – Quero dizer... não estou falando de você – e ao proferir aquilo soube que havia escolhido as palavras erradas somente pelo franzir no rosto dela – Não que você não seja, porque você é linda e... – se enrolou nas palavras e por um momento não se reconheceu. Logo ele, que era tão confiante perto dos outros.

— Certo... – disse para encerrar o assunto e voltou a olhar para o outro lado, indicando claramente que não queria a presença do rapaz ao seu lado. Mas se ela queria ser teimosa, Kizashi também seria.

— Então, ainda não me disse o seu nome – voltou a falar e ouviu a menina suspirar e voltar a encará-lo com aqueles olhos verdes que pareciam hipnotizá-lo.

— Você não vai me deixar em paz até que eu responda, não é? – e ao ver a confirmação do Haruno e o sorriso em vitória, revirou os olhos antes de responder – É Mebuki.

— Mebuki-chan...

— Não ouse! Não somos próximos para você me chamar assim! – acusou e Kizashi estendeu as mãos na frente do corpo como se estivesse se defendendo.

— Tudo bem... Mebuki? – tentou e a garota apenas aquiesceu – Eu nunca te vi pelo clã... – comentou fingindo desinteresse e Mebuki deu de ombros.

— Não sou ninguém importante e trabalho o dia todo – e aquilo foi o suficiente para deixar Kizashi mais curioso com a menina. Ela não parecia ser pobre, tão pouco parecia mal cuidada por ter que trabalhar e ficou tentado a fazer mais perguntas a ela, mas a garota o interrompeu – Eu fico por aqui... mas obrigada pela... hum, ajuda – disse um pouco encabulada ao parar em uma bifurcação.

Não queria dar o braço a torcer, mas o rapaz havia sido gentil e sua mãe havia lhe ensinado a ser educada com os outros, então resolveu agradecer, mesmo que a contragosto.

— Ah... tudo bem, eu não fiz nada e... – mas antes que pudesse terminar a menina simplesmente lhe deu as costas e correu, deixando-o a falar sozinho – Mas o quê?

— Falando sozinho Haruno? – ouviu lhe chamarem e ao ver os amigos Fugaku e Minato resolveu não comentar sobre a estranha garota do clã Haruno, pelo menos não enquanto ele não descobrisse mais coisas sobre ela.

—*-

            Como prometido, Kizashi realmente se informou sobre Mebuki e descobriu que ela era filha de comerciantes do clã e, apesar dele não a conhecer, muitas pessoas a conheciam, já que ela sempre fazia algum trabalho para os pais na loja. Ele não gostava de comentar isso, mas passou a seguir a menina durante as entregas para saber mais sobre ela e, quem sabe, conseguir mais uma chance de falar com ela. Sentia-se ridículo por ter que se esconder e ficar espiando-a, mas não conseguia evitar. A cada coisa que descobria sobre ela, ele ficava mais encantado.

            Ela era forte, determinada, gentil e sempre sorria... bom, menos com ele. E isso realmente incomodava Kizashi. Todas as vezes que tentara se aproximar, Mebuki apenas o repelia, demonstrando clara insatisfação por vê-lo. Ele tentara de tudo, trouxera flores, comprara presentes, mas ela sempre recusava e tomava suas atitudes como algo ofensivo, mesmo sem ele entender o porquê. Foi então que resolveu ir até a casa dela e conversar com os pais de Mebuki, que ao descobrirem que o herdeiro dos Haruno’s estava interessado na filha, praticamente ordenaram a menina que o tratasse bem.

            Aquilo só piorou as coisas para Kizashi. Mebuki sentiu-se traída pela própria família, parecia que eles estavam tentando controlá-la, decidir seu futuro e isso era algo que ela não admitia. Por causa disso, toda vez que Kizashi colocava os pés na loja dos pais, Mebuki inventava um pretexto para sair, deixando-o ser paparicado somente pelos mais velhos.

Ela não entendia o motivo dele ter se apaixonado por ela, sim, ela sabia que ele estava apaixonado, ele próprio confessara, mas ela não o queria, tão pouco acreditava nas palavras dele. Ficar com Kizashi não era o seu sonho, pelo contrário, se tornar esposa do herdeiro do clã significaria abrir mão do que realmente importava para si. Além do mais, havia o fato que eles não combinavam, na sua percepção. E ela não conseguiria fazer o papel de esposa perfeita. Estava distraída com seus pensamentos que não notou a aproximação de um rapaz.

— Com licença! – disse pela segunda vez ao chegar perto da garota que deu um pulo pelo susto – Desculpe, não queria te assustar, mas você estava no mundo da lua – sorriu e Mebuki corou de vergonha pelo comportamento, afinal estava trabalhando.

— Sinto muito. O que deseja? – indagou ajeitando o cabelo e tentando não passar mais vergonha.

— Vim do país da Grama e me disseram que, talvez, eu pudesse achar o que procurava aqui nessa loja – disse com um sorriso e Mebuki não pôde deixar de ficar curiosa. Ela sempre gostava de conversar com viajantes de outros lugares.

— E o que você procura? – observou o rapaz, parecia um pouco mais velho que ela, seus cabelos eram loiros, um pouco compridos, na altura dos ombros, e tinha olhos castanhos reluzentes.

— Isso! – e mostrou um desenho para a jovem que arregalou os olhos ao ver uma espada enorme com o cabo no formato de uma cabeça de dragão. O desenho era rico em detalhes e a peça parecia valiosíssima.

— É uma bela espada – falou ainda encarando o desenho.

— Eu sei... é uma antiguidade, foi feita na primeira Grande Guerra Ninja, mas se perdeu com o tempo.

— Você é algum tipo de colecionador? – indagou para o jovem que sorriu para a menina. Ela era realmente muito bela.

— Na verdade sou um caçador de tesouros – disse e Mebuki arregalou os olhos, admirada. Nunca conhecera alguém com essa profissão.

— Caçador de tesouro? Como assim? As pessoas te pagam para você achar coisas? – disparou várias perguntas, sua curiosidade falando mais alto.

— Mebuki pare de perturbar o cliente! – ouviu seu pai dizer ao sair de dentro do estoque.

— Não, ela não está incomodando. Na verdade, é muito bom saber que uma garota tão linda se interessa pelo meu trabalho – falou de forma galante e Mebuki corou, não era acostumada a elogios.

— O que você procura jovem? – o pai de Mebuki indagou, não gostando da audácia do rapaz de flertar com a filha na sua frente.

— Essa espada, senhor – e mostrou o desenho ao mais velho que parou para refletir.

— Hum... eu acho que já vi algo assim...

— Sério? O senhor a tem? Poderia me vender? Eu pago quanto for preciso! – disse eufórico. Estava atrás disso fazia meses.

— Calma, rapaz! Eu disse que “acho” que já vi algo assim... não tenho certeza. Vou precisar procurar e isso pode levar um tempo.

— Não tem problema! Eu espero o quanto for preciso!

— Essa espada é tão importante assim? – Mebuki voltou a indagar ao observar a felicidade do possível cliente.

— Sim, como disse, ela é uma antiguidade. Ela foi forjada por um grande artista das lâminas, seu cabo foi feito a mão e cada detalhe foi pensado de forma a dar leveza e ao mesmo tempo imponência à arma. É algo que não se vê nos dias de hoje e....

— Tudo bem, já entendemos, é muito importante – o mais velho disse, cortando o forasteiro. Não queria que a filha ficasse conversando por muito mais tempo com ele.

— Otou-san! – repreendeu Mebuki, envergonhada pelo comportamento do pai, mas o rapaz não pareceu ligar.

— Eu realmente me empolgo ao falar dessas coisas, tanto quanto iniciar uma nova viagem – justificou-se e Mebuki novamente se voltou para ele, encantada, ao ouvir a palavra “viagem”, iria comentar algo mais, porém o pai se intrometeu novamente.

— Sei. Eu irei procurar aqui na loja e quando tiver uma notícia eu aviso ao senhor...

— Ishigai Takashi – completou para o senhor e em seguida se despediu dos dois Haruno’s, dando uma piscada para Mebuki que abaixou o rosto sem graça.

— Mebuki – chamou a atenção da filha ao ver que o forasteiro havia ido embora – Não quero você conversando com esse garoto, entendeu?

— Por que? – questionou confusa – Ele parece ser... interessante – e voltou seu olhar para a porta por onde Takashi saiu.

— Você está sendo cortejada por Kizashi, não coloque tudo a perder! – repreendeu a menor que franziu o cenho ao ouvir o nome de Kizashi.

— Eu não estou sendo cortejada por Kizashi – frisou para o pai e em seguida continuou – e, mesmo que estivesse, não significa nada... eu não gosto dele – murmurou a última parte.

— Mebuki, o menino Kizashi está interessado em você, sabe o futuro maravilhoso que a aguarda, se casar com ele? Para todos nós?

— Não me importo! Eu não quero esse futuro, eu quero...

— O que você quer, não importa! – bradou o pai, cortando a filha – Você fará o que eu achar melhor para você, então é melhor acabar com essa história de aventuras... você não é mais uma criança, Mebuki!

            Ela não acreditava no que estava ouvindo. Como seu próprio pai poderia fazer isso com ela? Ela não queria casar com Kizashi, mas ninguém estava levando em consideração sua opinião. Se Kizashi a quisesse, seu pai a daria em uma bandeja de prata. Ela sabia que era difícil conseguir realizar o seu sonho, mas imaginou que ao menos poderia tentar ou encontrar alguém para dividir as mesmas pretensões. Seus pais nunca haviam se preocupado com coisas como dote ou em conseguir um casamento para ela, como outros pais, mas pelo visto estava errada.

            Sentiu os olhos arderem e teve vontade de gritar, mas ao invés disso deu meia volta e saiu correndo para fora da loja, sob os protestos do pai. Sempre pensou que fosse o suficiente para os pais, que bastava ela ajudar na loja, ser uma boa filha, mas pelo visto a única coisa que devia fazer era casar com alguém de posses. Correu até não aguentar mais e parar na Floresta da Morte, um local de treinamento shinobi, mas ela conhecia o terreno o suficiente para saber até onde poderia ir sem correr riscos. Caiu de joelhos no chão, chorando desesperadamente. O que ela faria agora?

Ouviu um barulho e levantou-se apressada, limpando as lágrimas, antes de encarar quem quer que fosse.

— Q-Quem está aí? – indagou com a voz falha.

— Sou eu, desculpe... – e viu Takashi sair do meio das árvores – Vi você correndo e chorando e fiquei preocupado. Aconteceu alguma coisa?

— N-Não... – disse virando o rosto para o outro lado e ouviu os passos do rapaz mais próximos de si.

— Por que será que eu não acredito? – pode ouvir o tom de deboche – Eu lhe ofendi de alguma forma? Não quis ser indecoroso, eu...

— Não... não foi você, não se preocupe – disse e sentiu Takashi segurar em seu braço.

— Mas me preocupo... não gosto de ver uma garota tão bonita chorar – e Mebuki apenas o encarou desconcertada. – Se não quiser me dizer o motivo de estar chorando, pelo menos converse comigo.

— Conversar o quê? Somos estranhos, não temos a mínima intimidade – retrucou, puxando o braço e saindo do agarre do loiro.

— Eu sei, mas pelo menos assim você se distrai e eu ganho uma amiga – falou com um sorriso.

— Você só quer alguém para te mostrar a vila, não é? – falou com uma certeza que impressionou Takashi, deixando-o corado por ela ter acertado – Tudo bem – sorriu ao ver o jeito do loiro.

            Decidiu que depois pensaria no que fazer. Na verdade, ela já tinha algo em mente. Trataria de afastar Kizashi de si, seria tão horrenda que ele desistiria de cortejá-la e ela poderia ser livre para fazer o que quisesse.

—*-      

            Mas o plano não funcionou. Kizashi não desistiu de conquistar Mebuki. A cada gesto para repeli-lo, Kizashi se aproximava mais e Mebuki sempre recuava, indo para mais perto de Takashi. De alguma forma uma amizade nasceu entre os dois. Eles tinham muito em comum, o mesmo desejo por desbravar terras novas, o mesmo espírito livre, além disso, Takashi era um bom ouvinte e Mebuki, passada duas semanas, descobriu-se apaixonada por ele. Porém, aquilo só complicava ainda mais as coisas, além de ter que lidar com Kizashi, tinha que manter seus sentimentos escondidos, pois Takashi em breve iria embora.

— O que foi? Está quieto hoje – disse para o loiro que estava deitado no seu colo em uma parte da Floresta da Morte, sempre marcavam de se encontrar ali para conversar.

— Mebuki... – se levantou devagar para encará-la – ...Tenho algo para lhe contar.

— O quê?

— Eu... vou embora de Konoha – e aquilo fez o coração da moça falhar uma batida.

— Mas... meu pai ainda não conseguiu achar a espada lendária – falou um pouco aflita.

— Esse é o problema, ele não a tem, pelo menos não completa – disse retirando da mochila o cabo de uma espada e mostrando a menina – Parece que ele só conseguiu essa parte, vou ter que procurar o resto em outro lugar.

— ...Entendo... boa sorte na sua caçada – e forçou um sorriso. Ele iria embora e ela não poderia fazer nada, já sabia disso, porém não deixava de doer.

— Mas... eu queria... eu quero que você venha comigo!

— O quê? – surpreendeu-se com o pedido dele.

— Eu sei que você deseja sair daqui, eu posso realizar o seu sonho, podemos ficar juntos! – e segurou a mão da garota que o olhava atônita – O que me diz?

            Mebuki sentia o mundo girar ao seu redor. Aquilo era tudo o que ela queria ouvir, o homem que amava estava realizando o seu sonho, mas porque se sentia tão temerosa com aquilo? Ela sempre disse que largaria tudo se tivesse a oportunidade. Talvez estivesse apenas surpresa, não imaginava que isso pudesse acontecer, ou, talvez, fosse porque não sabia se ele sentia a mesma coisa que ela. E Takashi ao ver o receio no rosto da menina, soube qual era o problema e tratou de convencê-la.

— Mebuki, perdão, mas eu não posso mais esconder isso. Eu me apaixonei por você e... agora que não posso mais ficar, eu fiquei pensando e sei que posso fazer você feliz, posso realizar o seu sonho, então me dê uma chance. Sei que não sou um herdeiro, mas... – interrompeu-se ao sentir os dedos da menina sobre os lábios.

— Eu... eu também me sinto assim... – disse com a voz embargada – É claro que eu vou! – falou sorrindo e Takashi sem agüentar mais tomou os lábios de Mebuki para si, dando-lhe o seu primeiro beijo.

            Mebuki sentia seu coração galopar dentro de si, estava feliz e toda a incerteza que tinha foi embora, rendendo-se a Takashi que parecia cada vez mais faminto pela jovem. Deitou-a na relva e se aproximou, colocando o seu peso na menina, que se assustou de início, até ele a beijar novamente e se entregar mais uma vez as carícias dele.

— Ta-Takashi... – murmurou ao sentir ele lhe apertar e beijar seu pescoço - ...Já chega... – mas o rapaz não parecia lhe ouvir, perdido nas próprias sensações e ela começou a se desesperar, tudo estava indo rápido demais, então tratou de afastá-lo de si – Chega! – bradou e o rapaz acordou do transe um pouco insatisfeito pela recusa.

— Qual o problema Mebuki? Você parecia gostar! – retrucou ríspido e Mebuki franziu o cenho, não gostando da forma como ele falara consigo.

— Aqui não é lugar para isso, além do mais não temos um compromisso!

— Compromisso? Mebuki, você vai fugir comigo! Quer compromisso maior? – disse sem conter a raiva que sentia, mas ao ver a menina se encolher puxou os cabelos com força para se acalmar, não podia botar tudo a perder – Desculpe, acho que fui rápido demais – falou a contragosto.

— Acho melhor eu ir para casa – e fez menção de se levantar, mas Takashi segurou seu braço.

— Ainda vamos ficar juntos? – indagou preocupado, não podia ter cometido um erro desses. E Mebuki, mesmo confusa, aquiesceu e Takashi, sem notar o comportamento dela a trouxe para perto, roubando mais um beijo seu – Estarei a esperando hoje a noite, aqui, e então ficaremos juntos Mebuki!

—*-

            Mebuki andava pela aldeia sozinha, havia se despedido de Takashi, e estava um pouco desorientada. Quando ele falou sobre fugir, esperava ter mais tempo para organizar tudo, porém Takashi queria ir embora naquele mesmo dia e Mebuki não sabia o que fazer primeiro. Estava tão distraída que acabou esbarrando em alguém e cairia no chão se não a segurassem.

— Cuidado! – ouviu lhe dizerem e ela já sabia exatamente quem era, se acostumara a ouvir a voz dele todos os dias desde que se conheceram – Você está no mundo da lua hoje, Mebuki, pensando em mim? – disse com um sorriso de orelha a orelha e, mesmo não querendo, acabou corando com a proximidade.

— Não seja ridículo, Kizashi! – esbravejou ao se afastar dele.

— Estou brincando, mas confesso que seria um sonho ouvir você dizer que pensou em mim – brincou e Mebuki revirou os olhos e sorriu minimamente, ele não desistia nunca.

— Não passará de um sonho, Haruno – alfinetou convencida e virou-se para ir embora, porém ele a seguiu.

— Sonhos podem se tornar realidade, sabia?

— Sabia... o meu vai acontecer hoje a noite – murmurou para si, mas Kizashi a ouviu.

— O que disse? – e Mebuki apenas desconversou, deixando-o inquieto – Você está estranha hoje – disse, chamando a atenção da garota.

— Estranha como? – indagou e Kizashi deu de ombros.

— Geralmente você é mais feroz comigo e não deixa nem eu te acompanhar, mas até agora você nem me expulsou do seu lado – falou, olhando-a de esguelha e Mebuki se surpreendeu com isso também.

            Sempre o ofendia e o mandava ir embora, era grosseira com ele para que desistisse dela, mas como não o veria mais, não tinha necessidade de ser assim. Além do mais, achava que sentiria falta, um pouco, das armações dele para ficarem juntos, do seu senso de humor e sua gentileza. Kizashi era o rapaz mais gentil que conhecera, até mais do que Takashi, pensara ao recordar a forma como ele ficou ao negar se deitar com ele.

— Agora ‘tô preocupado, está fazendo essas caretas por quê? – Kizashi não era bobo, sabia que ela lhe escondia algo e sabia que tinha a ver com o forasteiro com quem Mebuki vivia andando.

            Kizashi viu a forma como ela olhava para o estranho. E por mais que doesse admitir, percebia que Mebuki estava apaixonada pelo outro. Sentia raiva e ciúmes só de imaginar os dois juntos. Queria que ela fosse feliz, claro, mas queria ser ele o motivo da sua felicidade. Por causa disso, enquanto pudesse lutar pelo amor dela, não desistiria. Além do mais, sabia que se batesse no estrangeiro perderia mais pontos com Mebuki, então era melhor ele apenas observar e continuar a se aproximar do seu jeito. E ficar de olho no seu adversário, claro.

— Não é nada de mais, apenas estava pensando no rumo que a minha vida pode tomar – respondeu ao Haruno que achou ainda mais estranho o fato dela lhe dar uma satisfação e não responder como normalmente faria.

— Está reconsiderando o fato de ficarmos juntos? – indagou com o cenho franzido e Mebuki sorriu minimamente.

— Você não gostaria disso? – falou em tom de brincadeira, mas Kizashi continuava desconfiado.

— Não disse isso, apenas queria saber o que te fez mudar de ideia.

— Eu não mudei de ideia... mas no momento não consigo não pensar em como seria se... – tentou falar, porém foi cortada por Kizashi que ficou na sua frente, segurando a sua mão.

— Eu sei que não sou quem você quer Mebuki, mas eu gosto mesmo de você. – disse sério, encarando a loira que não esperava uma declaração, porém se ele pudesse a fazer mudar de ideia, aquele era o momento – E, se você me desse uma chance, eu poderia provar o meu amor por você. Eu te faria feliz todos os dias e não deixaria que nada de ruim te acontecesse. Comigo os dias seriam de alegria e eu sempre estaria do seu lado, faria tudo que estivesse ao meu alcance para que seus sonhos se realizassem, então me dê uma chance – pediu, apertando as mãos da menina que o olhava embasbacada.

            Ele falava sério, podia perceber apenas no olhar dele a apreensão, o nervosismo e o amor que sentia e Mebuki ficou sem saber o que responder. Pensava que ela era apenas um prêmio para Kizashi e que logo se esqueceria dela, ou que fosse uma paixão boba, mas naquele momento percebeu que se enganara. E ela não podia evitar comparar a declaração de Kizashi com a de Takashi e em como o sentimento do Haruno parecia mais intenso.

— Eu... eu... – balbuciava coisas desconexas, sem saber o que falar. Havia prometido para Takashi que iria com ele, amava-o, então porque não conseguia repelir Kizashi agora? – Eu preciso ir! – disse assustada e correu para longe do rapaz que apenas a observou.

— Mebuki, será que eu consegui alcançar o seu coração? – indagou a si mesmo e prometeu ficar de olho nela, tinha um mau pressentimento com o que estava acontecendo.

—*-

            A noite caiu e Mebuki, mesmo sem ter certeza do que faria, decidiu se encontrar com Takashi. Ela estava confusa, tudo estava acontecendo rápido demais e, por mais que não quisesse admitir, ouvir a declaração de Kizashi, que estava tão sério, havia mexido com ela. Então, queria conversar com Takashi, ele a entenderia, lhe daria mais tempo para resolver as coisas antes de saírem de Konoha. Pois isso era a única certeza de Mebuki, não ficaria em Konoha, iria viver seu sonho sem arrependimentos por abandonar os pais ou Kizashi.

            Ao chegar ao lugar marcado, Mebuki ficou a esperar Takashi, nervosa, ansiosa, ela nem sabia ao certo o que sentia. Porém, ao vê-lo se aproximar com um sorriso no rosto, sentiu seu coração bater mais forte, ela realmente se apaixonara por ele e todas as suas angústias ficaram esquecidas quando ele a beijou.

— Estava com medo que desse para trás – confessou a ela baixinho ao se separarem e Mebuki desviou o olhar – Mebuki? Onde estão suas coisas?

— Takashi, eu... preciso que me dê mais uns dias – disse insegura e ele se afastou.

— Como assim? Estava tudo certo, não? – questionou com a voz um pouco alterada. Odiava quando seus planos não iam de acordo com o que planejara.

— E está, mas eu preciso de mais tempo... quero me despedir dos meus pais, dos meus amigos...

— Do Haruno, você quer dizer? – falou de forma ríspida e ela arregalou os olhos.

— Não tem nada a ver! Eu já disse que não sinto nada por ele! – mentiu.

— Então porque ele foi falar com você hoje?

— Você estava me espionando? – rebateu, ignorando a pergunta dele e Takashi se enfureceu.

— Eu fui ver como você estava e vi vocês dois conversando muito próximos e você parecia encantada com ele. Vai negar Mebuki?

— Ele apenas me pegou desprevenida! E ele sempre vem falar comigo!

— E isso te deixou perturbada? Você por acaso quer ficar com ele e não comigo? – indagou, agarrando os braços de Mebuki com força. Estava fora de si e aquilo estava a assustando.

— Eu não disse isso! Eu quero você! – gritou desesperada – Apenas quero que entenda que...

— Não! Se você me ama, prove! – disse de forma ríspida e antes que Mebuki pudesse falar algo, ele a empurrou com força contra uma árvore, prendendo-a contra o seu corpo.

Mebuki ficou zonza com a pancada e quando deu por si, Takashi a beijava com violência, apalpando seus seios com força. Debateu-se para se livrar dele, mas de nada adiantava, então o mordeu e ele se afastou de si, porém os braços ainda a seguravam.

— Merda! Cansei de ser bonzinho com você Mebuki, se não ficar comigo por bem, vai ser por mal – disse limpando o sangue dos lábios e Mebuki assustada o empurrou a fim de tentar correr, mas ele logo a capturou de novo – Não adianta, não vai fugir de mim, chega de dar uma de difícil, garota! – gritou a derrubando no chão.

— Me solta! Por que está fazendo isso, Takashi? – tentava tirá-lo de cima de si. Ele estava descontrolado e ela nervosa demais para conseguir pensar em algo útil que a ajudasse a sair dali.

— Por quê? Porque desde que eu te conheci eu fiquei louco para transar com você. – riu de forma debochada, deixando a garota aturdida – Mas percebi que teria que ir devagar, só que já estava me dando nos nervos ter que fingir a todo tempo, tive até que inventar essa história de viagem, e quando eu finalmente iria conseguir o que queria, você dá pra trás por causa do Haruno! – explicou antes de rasgar uma parte do quimono que usava e Mebuki gritou.

— Você me enganou todo esse tempo? – vociferou, arranhando a face de Takashi que com raiva desferiu um tapa contra ela e a fez gemer de dor.

— Você realmente achou que eu queria ficar com você? Ou que iria te levar para longe daqui? Você realmente é muito boba! – riu de forma cruel – Você só seria um estorvo para mim, além do mais você é bonita, mas existem melhores – disse e Mebuki não conseguiu mais segurar as lágrimas.

            Sentiu ele rasgar mais o seu quimono e foi como se tivesse ouvido o seu coração se quebrar também. Tudo havia sido fingimento. Ele nunca se importara com ela, apenas se aproximou com o intuito de levá-la para cama. Ele a iludira, e ela fora boba a ponto de contar seus sonhos e se deixou envolver por palavras vazias, por um sonho que nunca se tornaria realidade. Ela que sempre quis sair de Konoha, viver aventuras, sem nunca temer nada. Ela que sempre disse que abandonaria a todos sem se importar em deixar tudo o que conhecia para trás e, por causa disso, ele usara seu sonho contra ela da forma mais vil que podia: roubando seu coração.

            Tentou mais uma vez se afastar dele, ao sentir aqueles lábios imundos no seu seio, não queria que ele a tocasse. Não previra que isso pudesse acontecer, devia ter ouvido seu pai, se tivesse feito como ele queria, não estaria nessa situação. Queria que Kizashi estivesse ali, ele nunca seria como Takashi. Chorou de raiva, chorou de medo, chorou de tristeza e de dor, gritava por ajuda, mas Takashi dizia ser em vão, afinal ninguém a escutaria no meio da Floresta da Morte, e ela temia que ele estivesse certo, mesmo assim não desistiu.

            Seu quimono estava em frangalhos e ele agora segurava seus braços para que ela não o ferisse mais, porém, antes que Takashi pudesse se saciar sentiu ser puxado para trás com brutalidade e uma dor se apoderou do seu rosto, deixando-o desnorteado.

— Maldito! – vociferaram e Mebuki se encolheu ao reconhecer aquela voz – Eu pensei que você a amasse! – bradou com força e ela se assustou ao vê-lo tão furioso, nunca havia visto Kizashi daquela forma.

— Por favor, Haruno! – disse Takashi ao se levantar, segurando o rosto machucado – Nós somos iguais, sempre ficamos com quem queremos, se quiser eu posso dividi-la com você, desde que eu seja o primeiro, é claro.

            Mebuki se encolheu sem nunca cessar as lágrimas, mas ela conseguiu ver muito bem a forma como Kizashi ficou tenso ao ouvir aquelas palavras, como os dentes trincavam e os punhos tremiam de raiva. Era uma fúria tão grande que ele sentia, chegando a não raciocinar. E em um piscar de olhos, Kizashi já estava em cima de Takashi, espancando-o e urrando de raiva. Mebuki apenas ficou tão atordoada que nem sabia o que fazer, porém não podia permitir que Kizashi respondesse por um crime, então gritou seu nome, pedindo que parasse desesperadamente.

            E ele o fez, deixando o forasteiro desacordado em uma poça de sangue e em seguida se voltou para Mebuki que tentava se cobrir, envergonhada. Ele tentou não olhá-la para evitar que ela se constrangesse mais, mas ao ver a pele branca dela cheia de marcas e o rastro de lágrimas, teve que respirar fundo para não dar meia volta e terminar o que estava fazendo.

 

    Flashback off

— Depois disso eu caí em uma profunda depressão... – falou com a voz embargada, envergonhada de contar essa história a filha - ...seu pai... seu pai cuidou de mim com todo o amor e carinho e foi graças a ele que eu me recuperei.

            Sakura olhava a mãe sem conseguir pronunciar uma palavra, era muita coisa para ser absorvida, a tentativa de estupro, a personalidade da mãe e o que ela passou, tudo rodava na mente de Sakura de forma frenética.

— Com o tempo eu me vi apaixonada por Kizashi e quando ele me pediu em casamento, eu aceitei aliviada por ver que eu ainda tinha uma chance de ser feliz com ele, mesmo depois de tudo que o fiz passar por causa de uma irresponsabilidade minha – explicou Mebuki – E eu jurei que seria a melhor esposa que ele poderia desejar e o honraria sempre.

“É claro que no início foi difícil, ter que abandonar meus sonhos não foi fácil, mas eu vi que eu tinha um novo sonho, eu queria uma formar uma família com Kizashi. E quando Sayumi nasceu foi como se Kami tivesse ouvido as minhas preces e o meu mundo triplicou de tamanho. Minha felicidade só foi maior quando você nasceu Sakura.” Disse com um sorriso triste, enquanto as lágrimas vertiam pelo rosto.

            Sakura virou o rosto, não estava acostumada a ver mãe daquele jeito, porém Mebuki se aproximou e fez a filha lhe encarar mais uma vez.

— Mas conforme o tempo passava, eu via em você a mesma menina que eu era, e eu temi por isso – disse acariciando o rosto da rosada – Eu tinha que fazer algo para que mesma desventura não acontecesse com você, então fui mais rígida. Pensei que dessa forma estaria te protegendo...

— Pensou errado – murmurou, afastando o rosto do contato com a mãe.

— Sakura... você ouviu o que eu acabei de lhe contar? – indagou confusa pela filha não lhe compreender depois de tudo.

— Ouvi, ouvi muito bem! – retrucou, encarando a mais com os orbes marejados – Ouvi que a senhora sempre soube pelo o que passei e mesmo assim não fez nada para me ajudar!

— Tudo o que eu fiz foi para te ajudar, Sakura! – bradou de volta com a teimosia da filha.

— Como? A senhora me obrigou a me casar com Sasuke! Quis que eu desistisse dos meus sonhos, mesmo a senhora também tendo um sonho parecido com o meu! – gritou sem se conter.

— Eu fui atrás do meu sonho e você viu o que aconteceu! Eu quase fui estuprada, se não fosse o seu pai... – hesitou, passando a mão no rosto – Se ele não me amasse talvez eu estivesse arruinada, não consegue entender isso? – estava nervosa e não conseguia se conter – Há sonhos que não valem a pena serem realizados, às vezes as conseqüências são maiores do que pensamos...

— Como a senhora pode saber? Podia ter me dado um voto de confiança e...

— E eu dei! Deixei você treinar, mas quando Sayumi morreu eu fiquei perdida! Estava com raiva e amargurada, com você, mas principalmente comigo. – voltou a falar, ainda tinha uma parte da história que faltava – Eu pensei que tivesse falhado em te proteger, em proteger a sua irmã, e que tudo fosse culpa minha por não ter sido forte o suficiente para tirar a ideia de ser uma kunoichi da sua cabeça!

“Eu não sabia mais o que fazer depois disso! Tudo havia mudado e eu era atormentada todos os dias por fantasmas, foi quando Mikoto apareceu com a ideia de casar você com Sasuke. No início eu relutei, mas depois vi isso como uma tábua de salvação, talvez Sasuke pudesse lhe ajudar e você a ele, como aconteceu comigo e Kizashi, mas o principal motivo era que dessa forma você não poderia mais se tornar uma ninja e não correria mais riscos.”

            Sakura apertou os lençóis da cama com força, sua mente rodava. Ainda estava fraca por causa do veneno, mas não conseguia parar, queria terminar essa conversa de uma vez por todas.

— A senhora não tinha esse direito – disse entredentes e Mebuki levantou-se ofendida.

— Eu sou sua mãe. Eu sei o que é melhor para você!

— Não, não sabe! A senhora tinha um sonho e o viu ruir, mas isso significa que a senhora poderia destruir o meu! – bradou, os orbes furiosos e tristes.

— Entenda de uma vez Sakura! – gritou de volta – Eu não queria que você cometes...

— Eu NÃO sou a senhora! – sobrepôs a voz da matriarca que ficou paralisada e sem saber o que dizer – A senhora não tinha esse direito! Quem disse que tudo se repetiria se eu seguisse o meu sonho? A senhora não é a dona do destino!

— E o que você queria que eu fizesse? Ficasse de braços cruzados, enquanto você corria para o perigo?

— Talvez! Talvez, assim eu aprendesse, ou pelo menos a senhora deveria ter me dado o benefício da dúvida! Mas eu tinha que poder escolher! – ofegava devido ao esforço, seus pulmões clamavam por ar, mas ela não conseguia parar de gritar, não se importava se estava em um hospital – A senhora fez a mesma coisa que o seu pai. Sabia como eu me sentiria, sabia que, como a senhora insiste em dizer, somos parecidas, então a senhora poderia ao menos imaginar que eu não aceitaria e tentaria fazer tudo da minha forma!

— Sakura...

— Eu fiquei perdida também depois da morte de Sayumi, pensava que a culpa era minha, pensava que a senhora me odiasse ainda mais por causa disso e tentava lhe agradar de todas as formas possíveis, até casei com Sasuke, mas o que a senhora pensou que fosse me ajudar, apenas tornou tudo pior. – abrandou a voz, mas sem conseguir controlar as lágrimas – Sasuke não é o meu pai, ele não me cobre de amor, ele precisa de amor, mas eu não sei se consigo dar isso para ele quando estou tão quebrada e me sinto tão só.

“A senhora foi a responsável por me deixar no fundo do poço, eu sempre me senti excluída, sempre pensei que a senhora preferia a Sayumi por ser a filha perfeita, mas o meu único erro foi ter nascido e ser parecida com a senhora! Eu sei que o que a senhora passou não foi fácil, mas não era justo comigo! Não fui quem tentou estuprá-la, não fui eu quem a impediu de sair de Konoha, mas foi a senhora quem me destruiu e me fez desistir de quem eu era até pouco tempo atrás.”

            Mebuki ouvia tudo calada, Sakura arquejava com força, tentando se recuperar e em determinado momento sentiu as vistas escurecerem e foi amparada pela mãe.

— Não me toque! – disse ao se afastar e Mebuki sabia que merecia cada palavra dita pela filha, mesmo que sofresse com isso.

— Eu fiz o que eu achava certo, Sakura... – tentou mais uma vez se aproximar, porém foi rechaçada novamente - ...eu te amo, minha filha, mas eu estava cega, entenda, por favor! Agora, eu vejo que estava errada. E quando soube que você foi envenenada eu quis lhe contar tudo, eu... precisava tentar consertar as coisas.

— A senhora teve anos para isso... – disse sem encarar a matriarca, o que mais temia estava acontecendo, era por isso que nunca tentara se reaproximar. Sakura não a perdoaria ao ouvir a verdade, apenas acabaria com a pequena linha que as ligava – Vá embora...

— Sakura...

— Vá embora! – bradou com força e sentiu a cabeça rodar. Não queria ouvir mais nada.

— Eu vou... – disse, desistindo de conversar no momento, sua filha não estava bem - ...mas quero que saiba que seu pai não tem nada a ver com isso. Ele, infelizmente, me ama demais e eu praticamente o obriguei a acatar os meus pedidos, então não o culpe...

— Por favor... apenas vá... – falou em um murmúrio, enquanto se encolhia na cama e Mebuki aquiesceu com o coração na mão.

            Ao se ver sozinha, Sakura desatou a chorar, sem saber ao certo o que sentia ou o que pensava. E Mebuki do outro lado da porta fazia a mesma coisa, mas logo foi amparada por braços fortes, surpreendendo-a.

— Kizashi...

— Você não precisava ter vindo aqui sozinha... eu estou do seu lado – disse a abraçando e a mulher tornou a chorar, sendo reconfortada pelo marido.

— Ela nunca vai me perdoar... e ela tem razão em não fazer isso...

— Você não é a única culpada, mas vamos dar tempo ao tempo... Sakura sempre foi bondosa e saberá nos perdoar, mas primeiro você tem que perdoar a si mesma, Mebuki. A culpa por aquele dia não foi sua – falou baixinho à esposa que o abraçou forte.

            No fundo, Kizashi sabia que Mebuki se sentia culpada por tudo o que acontecia desde a adolescência. Carregou um fardo muito grande, tendo que se tornar uma esposa dedicada, digna de um líder, abdicando da sua antiga vida e dos seus antigos sonhos. Além disso, tinha o medo, não queria ver alguém que amava passar pelo o mesmo que ela. Kizashi entendia e achava que também tinha sua parcela de culpa, por não ajudar a esposa, por não saber lidar com as filhas, por não ter conseguido manter a sua promessa a ela de fazê-la feliz. Mas agora sua esposa confessara tudo e esperava que sua alma estivesse mais leve e pronta para iniciar uma nova vida, pronta para deixar os medos e as angústias de ter perdido Sayumi para trás e olhar para frente e poder cuidar de Sakura.

—*-

            Dois dias se passaram desde a visita da mãe e Sakura praticamente obrigou Shizune a lhe dar alta. Não conseguia mais ficar ali sem fazer nada, pois isso deixava sua mente vagar pela conversa que tivera com a mãe e no momento preferia não se lembrar de nada que a fizesse sofrer. Afinal, ainda estava muito confusa. Mas agora estava livre, ou pelo menos poderia sair do hospital e ir para casa, no fundo sabia que Shizune a ajudara apenas porque soube da discussão da mãe pelas enfermeiras que ouviram determinadas partes. Suspirou, balançando a cabeça e caminhou em direção a saída, mas não pôde deixar de ficar surpresa ao ver aquela figura parada no portão do hospital.

— O que faz aqui? – indagou sem saber ao certo o que esperar dele.

— Me disseram que você teria alta hoje – disse simplesmente e Sakura arqueou uma sobrancelha como se dissesse “e daí?”. Sasuke revirou os olhos antes de voltar a falar – Vim lhe buscar.

            Sakura realmente não esperava por isso, olhou de um lado para o outro para se certificar que ele estava a respondendo e não falando com outra pessoa. E Sasuke apenas bufou irritado com o comportamento dela.

— Feche a boca e vamos logo – mandou antes de se virar, sentiu o rosto esquentar, afinal não era como se ele fosse incapaz de um gesto de gentileza. Ele queria apenas se certificar que ela fosse para casa e não o enganaria de novo.

            Sakura ao notar que ele falava sério, fez como foi mandado e correu para alcançá-lo, mas sentiu uma vertigem e teria ido ao chão se Sasuke não tivesse lhe segurado. Corou ao encará-lo e agradeceu timidamente, afastando-se. Ela não podia dizer exatamente o quê, mas ele estava diferente e não sabia se isso era algo bom, desde a visita da mãe não sabia mais o que esperar e tinha medo de que Sasuke só estivesse a enganando, para a fazer sofrer depois.

            Andavam lado a lado, cada um perdido nos próprios pensamentos, quando ouviram alguém gritar seus nomes de maneira muito familiar.

— Sakura-chan! Teme! – e em seguida um Naruto eufórico sem se importar com mais nada correu para abraçar Sakura com força – Sakura-chan! Fico feliz que esteja bem!

— N-Naruto! – disse quase sem ar e Sasuke tratou de afastá-lo antes que ela perdesse os sentidos – Como está? – indagou ao recuperar o ar.

— Muito trabalho, mas vamos conseguir dar um jeito em tudo, Sakura-chan! – sorriu para a amiga e percebeu que ela ainda parecia um pouco abatida.

— O que quer dobe? – Sasuke indagou para o loiro que logo assumiu uma face mais séria.

— A Tsunade-oba-chan quer ver os dois na torre – informou e os dois Uchiha’s apenas aquiesceram indo em direção ao gabinete da Hokage, junto com Naruto, curiosos com o que ela teria para falar com eles logo agora, apesar de Sakura ter uma noção.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Esse capítulo foi muito tenso de escrever para mim... havia muita mágoa entre a Sakura e a mãe e durante a conversa eu percebi que era difícil manter um diálogo entre elas, mas ao mesmo tempo eu adorei isso, pois significa que eu consegui fazer a personalidade das personagens bem fortes (acho, né? me digam vocês se concordam ou não XD). E eu tive que colocar um flashback do passado da Mebuki para vocês a entenderem melhor (fora que eu quis mostrar um pouco da juventude de outros personagens, nem que fosse breve... alguém ficou curioso com a história de outros personagens? *cof cof Minato e Kushina cof cof* XD Bom, mas isso é mais pra frente.) Como vocês viram, fiz a Sakura falar tudo o que sentia e quebrar todas as justificativas da mãe pelo o que ela fez, mas também tentei que vocês vissem o lado dela... como eu disse a Mebuki não é ruim, ela somente passou por algo traumatizante também e quis proteger a filha de uma forma meio torpe... mesmo assim acho que somente isso não seria o suficiente para Sakura a perdoar, então ainda teremos umas cenas de Mebuki com Sakura, ainda há coisas para conversarem até que tudo se resolva. E como a parte tensa ficou para a Sakura e a conversa da Mebuki, coloquei poucas cenas, mas importantes entre o Sasuke e a esposa... vocês podem achar que foram insignificantes, mas eu não posso fazê-lo mudar do nada, as coisas são graduais na fic e acho que vocês já perceberam. No próximo capítulo veremos o que a Tsunade pretende e teremos uma dinâmica SasuSaku, além da aparição do Idate, yeyy!!
Espero não demorar a postar, mas é melhor ficarem cientes que talvez somente no final do mês de abril teremos algo, ok?


P.S: Por algum motivo o site está deixando alguns parágrafos com um recuo de margem maior e eu não sei o porquê, mas fiquem cientes que é algo do site... vou tentar verificar o que é ;D
Beijos e até a próxima ;D