Reparação escrita por Luhni


Capítulo 17
Diário


Notas iniciais do capítulo

Então gente, voltei!! ^^ E tenho uma surpresa, porque mesmo atrasada, (como sempre, né? u.u) dessa vez eu consegui adiantar mais um capítulo, então semana que vem haverá outro capítulo já que estou apenas revisando ;D
Estou em uma parte da fic que eu, particularmente, adoro, então estou super motivada a escrever mais e espero aproveitar as férias para adiantar ainda mais as coisas, mas vamos ver como vai ser o resto de julho.
Muito obrigada e a todas que mandaram review, todos foram respondidos com muito carinho, vocês são demais!!
E sem mais delongas,
Boa leitura!

P.S: Leiam as notas finais!! ^^



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– Durante vinte e quatro horas você vai ficar presa ao meu mundo. Vamos ver o quanto você aguenta, Sakura – ouviu a voz de Sasuke, mas não conseguia enxergar nada a sua volta, tudo estava escuro e ela começava a ficar angustiada sem poder ver nenhuma claridade.

Começou a andar de forma hesitante por não saber o que tinha a sua frente, mas ao notar um pequeno raio de sol adiante, passou a correr desesperada a fim de fugir daquele lugar frio e sem vida que estava. Correu até suas pernas doerem e quanto mais se aproximava mais tinha a certeza de que havia mais alguém a sua frente e logo a paisagem ao seu redor mudou também. Em um piscar de olhos estava em um dos campos de batalha e sua irmã estava prestes a ser acertada por várias kunais.

Gritou chamando por ela querendo a alcançar, queria salvá-la, mas parecia inútil e quanto mais corria, mais parecia se distanciar de Sayumi que nesse momento já caia desfalecida. Fechou os olhos com força e ao abri-los se encontrava em frente a irmã que sorria para si, levantou a mão para tocá-la, mas antes que concluísse o movimento kunais foram lançadas de todas as direções e acertaram Sayumi.

– Sayumi-nee!! - gritou, sentindo a garganta arranhar e arregalou os olhos ao ver o estado da irmã.

Em todos os lugares perfurados por kunais uma mancha carmesim começava a se formar. Sangue saia de sua boca e nariz ao mesmo tempo em que sorria para si e os olhos outrora brilhantes iam se tornando opacos e sem vida. Ao vê-la tombar se prontificou a segurá-la e sentiu o sangue empapar as roupas da irmã, gritou mais uma vez, abraçou-a com força, pois já sabia que não tinha como salvá-la e lágrimas e sangue se misturaram. Sentia seu corpo tremer e seu estômago revirava em ânsia, havia tanto sangue, mas não queria se separar dela.

Respirou fundo tentando se controlar, mas em determinado momento sentiu sua irmã afundar aos seus pés, parecia estar sendo tragada pelo próprio sangue. Agarrou-a com força e gritou enquanto tentava a afastar do líquido e como em um piscar de olhos a cena se repetiu. Incontáveis vezes. Ela via Sayumi de longe sendo atacada e não podia fazer nada e em seguida ela estava na sua frente com o corpo banhado em sangue.

E como se não fosse o suficiente em determinado momento os papeis se inverteram, agora era Sakura quem recebia as kunais no lugar de Sayumi e gritava a cada disparo, sua sensibilidade parecia estar mais aflorada. Uma, duas, três... milhares de vezes a dor a perfurava, rastros vermelhos se espalhavam pela pele translúcida, seu próprio sangue manchava suas mãos agora. Arfava com dificuldade e com dor, Sayumi estava ao alcance de suas mãos, porém antes que conseguisse alcançá-la, mesmo que tivesse recebido todos os golpes, diversas vezes, a figura de Sayumi sorria de forma dolorosa para si e sangue a cobria antes de deixá-la só mais uma vez.

Abraçou mais uma vez o corpo frio da irmã e continuou chorando a espera que tudo acontecesse de novo. Quantas vezes aquilo havia se repetido? Não aguentava mais tanta dor. Olhou para o horizonte e percebeu que uma superfície refletora mostrava sua imagem e de Sayumi e arregalou os olhos com o que viu. Ergueu as mãos, nervosa, e observou que estava banhada em sangue, suas vestes, seu cabelo, suas mãos, todo o corpo coberto de vermelho e aquilo a enojou.

Gritou em dor enquanto tentava tirar aquilo de si. Ela não queria ver. Ela não queria sentir. Foi como se todo o seu autocontrole a abandonasse ali, sua mente não podia mais suportar aquilo. Sua irmã... sua irmã estava morta... de novo e de novo e ela se sujava cada vez mais. Cada vez mais saia mais sangue e parecia não acabar nunca. Esfregou os braços com violência, precisava tirar aquilo, precisava se limpar, não... não, de novo não... sentiu alguma coisa reter seus movimentos, mas não havia nada ali e ela começou a se desesperar por ver que o sangue continuava em si. Não conseguia mais se controlar.

Debateu-se, gritou, mas continuava se sentindo presa por algo que não via. Seu coração estava descompassado, suor escorria por seu rosto em agonia e tremia como se estivesse convulsionando. Nunca havia sentido um pavor, um medo tão grande e não conseguia fazer nada. Sentia-se despedaçar várias e várias vezes enquanto a cena da morte da irmã se repetia e mais sangue era impregnado em si.

Em um determinado momento ela pareceu perder as forças e um pequeno murmúrio se fez presente. Piscou várias vezes para enxergar quem falava, mas era algo inútil. Entretanto ela percebeu que o ambiente ao seu redor havia mudado de novo e lhe remetia a algum lugar, mas não teve tempo de pensar, pois finalmente sua mente esgotada lhe daria um descanso. Sua força toda fora drenada, a última coisa que vislumbrou foram dois orbes negros a encarando.

–*-

Sentiu algo gelado tocar seu rosto e desnorteada com o que havia acontecido forçou-se a abrir os olhos. Não reconheceu de imediato a figura ao seu lado, mas aqueles olhos... foi como se um raio lhe acertasse e todas as imagens de sua irmã morta voltassem a tona, encolheu-se e agarrou as cobertas, fechando os olhos com força e tremendo por ter seu algoz ali. Seu estômago se revirava e tinha certeza que se tivesse comido algo colocaria tudo para fora naquele momento.

– Está tudo bem, Sakura. Sou eu. – a voz tentou ser o mais gentil possível e demorou um pouco até ela reconhecer quem era.

– Itachi... – disse com um fiapo de voz, como um gato assustado ao abrir os olhos lentamente.

– Sim – e viu-o sorrir, mas seu olhar parecia preocupado – Você está bem? Sente algo?

Espasmos musculares, sua cabeça parecia explodir, tudo doía e sentia-se incapaz de se mover no momento, era o que sentia, porém ao invés de responder isso, perguntou baixinho:

– O que aconteceu?

Itachi suspirou sem saber ao certo o que responder, Sakura parecia tão assustada, como uma criança que foi castigada e teme outra punição, ela evitava lhe olhar e falava tão baixo, apenas observando o próprio quarto, como se estivesse vendo-o pela primeira vez na vida. Mas a verdade era que nem ele poderia dizer o que aconteceu ao certo.

Havia encontrado a mãe em sua casa e ela parecia angustiada ao falar sobre o irmão, então ele pediu que ficasse com Hana enquanto iria fazer uma visita a Sasuke. Porém no meio do caminho percebeu que alguma coisa havia acontecido devido aos olhares que recebeu de outros Uchiha’s e, antes que pudesse questionar a alguém o motivo, viu um Naruto furioso correr em direção à casa do seu irmão. Seguiu o loiro com um mau pressentimento e pode ouvir os gritos de angústia vindos de dentro da residência.

A cena ficou pior ao ver Sasuke segurando os braços ensanguentados de Sakura que se debatia embaixo dele com os olhos opacos enquanto gritava e chorava histericamente. Naruto, no minuto seguinte, afastou o Uchiha mais novo da rosada que caminhava para a inconsciência e Itachi soube que seu irmão devia ter a prendido em um genjutsu muito forte para ela se encontrar daquela forma. Aproximou-se da menina, colocando-a em seus braços enquanto ouvia o Uzumaki esbravejar com Sasuke, desferindo socos que eram prontamente retribuídos pelo Uchiha. Aquele dois idiotas não entendiam que aquele não era o momento para brigarem entre si, apesar de querer ele mesmo dar uma coça no irmão pelo o que fizera.

Massageou a têmpora ao recordar o acontecido, narrou brevemente tudo a Sakura, ela parecia surpresa e imediatamente olhou para os braços enfaixados, notando seus ferimentos pela primeira vez. Ela havia feito isso em si por causa do tsukuyomi de Sasuke. Itachi franziu o cenho e disse:

– Eu não sei ao certo o que aconteceu entre vocês, mas você deve tê-lo deixado furioso para que o genjutsu fosse tão forte a ponto de causar marcas físicas – mas Sakura não o respondeu ainda perdida em pensamentos, Itachi suspirou.

– Quanto tempo estou desacordada? – e mais uma vez apertou a coberta, levando-a para perto como um escudo.

– Três dias – respondeu e a menina arregalou os olhos para si, sem acreditar no que ouvia, pensava que fossem horas no máximo e mesmo com três dias descansando ainda sentia seu corpo exaurido.

O silêncio predominou no quarto e Sakura não sabia o que fazer, o que dizer ou como agir agora. Ela nunca imaginou que Sasuke pudesse fazer algo assim com ela, sempre brigaram, mas mesmo com os desentendimentos ele nunca chegara a lhe agredir daquela forma, com exceção do corte de cabelo, porém ela nunca chegou a sentir... medo dele, como sentia agora. Abraçou-se e se encolheu na cama, ele era um monstro de verdade. Como se adivinhasse os pensamentos da garota, Itachi resolveu se manifestar mais uma vez.

– O Sasuke impediu que você se machucasse seriamente e...

– Itachi-kun – interrompeu o mais velho, encarando as suas mãos – Sei que ele é seu irmão, mas foi ele que fez isso comigo, não diga que ele me ajudou – murmurou ressentida e o Uchiha suspirou antes de se levantar, realmente não tinha direito de se intrometer, pois seu irmão havia passado dos limites.

– Naruto está aí fora para vê-la, acho melhor deixar vocês conversarem um pouco – disse e ao se despedir a menina o chamou mais uma vez.

– Obrigada por me ajudar mais uma vez – e sorriu fracamente para o moreno que arqueou a sobrancelha.

– Tudo bem, mas... “mais uma vez”?

– Sim, você sempre me ajuda com o Sasuke, na outra vez eu também fiquei desacordada e...

– Espere Sakura, algo assim já aconteceu antes? – cortou a garota que o observou confusa e o ouviu bufar ao confirmar – Desculpe, mas essa é a primeira vez que soube desse... tipo de desentendimento com Sasuke – disse e Sakura ficou surpresa – Vou ter que conversar seriamente com ele... – falou para si antes de sair do quarto.

Entretanto, Sakura não mais prestava atenção, apenas tentava entender o que Itachi lhe disse. Ele estava mentindo para, de alguma forma, amenizar o que o irmão mais novo fizera? Porque ela se lembrava de Sasuke lhe dizendo que fora Itachi quem a ajudara no dia em que surtara por causa do sangue e teve seus cabelos cortados. No entanto o primogênito parecia realmente surpreso com o que dissera, então a questão era, por que Sasuke mentiu? Estava claro que ele próprio devia ter a ajudado.

“Sasuke impediu que você se machucasse seriamente” as palavras de Itachi vieram a sua mente e mais uma vez observou os braços, Sasuke devia ter lhe contido para que evitasse arrancar a pele ainda mais. Mas porque ele a ajudou? Balançou a cabeça para afugentar determinados pensamentos, não... ele não era alguém bonzinho e o fato dele ter lhe machucado tantas vezes provava isso, ele era o responsável por estar naquele estado, não iria se apiedar dele... um ato de caridade não mudava o monstro que era.

– Sakura-chan, está me ouvindo? – Naruto berrou ao seu lado e despertou ao ver o amigo lhe encarando atentamente.

– Desculpe Naruto... – murmurou envergonhada e o loiro suspirou.

– Estava te chamando a um tempão, mas você parecia em outro planeta – resmungou e Sakura sorriu fracamente.

– Acho que ainda estou cansada – disse como desculpa, mas não era uma mentira, ainda sentia seu corpo pesado.

– Ah, entendo. Você me deu um baita susto, Sakura-chan, mas acho melhor descansar agora e não se preocupe porque eu já dei uma lição no teme e ele não vai ousar tocar em você de novo – afirmou e foi então que Sakura reparou que o lábio do Uzumaki estava machucado, bem como o supercílio.

Perguntou-se o que havia acontecido entre os dois, mas preferiu ficar calada e sorrir pelas palavras do amigo, sentia-se um pouco melhor por saber que ele estava do seu lado.

– Obrigada Naruto – e fechou os olhos a fim de dormir um pouco mais, porém ficou curiosa com algo – Espere! – pediu ao amigo que já se encaminhava para a saída – Como soube o que estava acontecendo? Quero dizer, Itachi ainda estava a caminho quando encontrou com você aqui no clã...

– Vieram me contar – disse simplesmente esfregando uma mão no cabelo um pouco nervoso e, antes que Sakura indagasse mais, o loiro continuou – Depois conversamos melhor, Sakura-chan, durma um pouco – despediu-se ao sair do quarto e a rosada suspirou por não conseguir mais explicações.

Saiu do quarto mais aliviado por ver que a amiga parecia melhor, mas logo o semblante se fechou ao encontrar com o Uchiha escorado em frente ao quarto.

– Caso queira saber ela acabou de acordar – disse simplesmente ao passar por ele, até que se lembrou de algo e parou de andar, olhando-o por cima do ombro – Eu vou ficar de olho em você Sasuke, então não tente nada com ela.

– Humf... – resmungou Sasuke, indo em direção ao seu quarto, não estava com vontade de ouvir as reclamações de Itachi e nem os sermões de Naruto.

Deitou-se na cama respirando fundo como se um peso tivesse sido tirado de si. Fechou os olhos, mas tornou a abri-los em seguida, irritado. Por que não conseguia parar de ver aquela imagem? Toda vez que fechava os olhos via Sakura gritando desesperada enquanto rasgava o próprio braço com as unhas. Ele não esperava que o tsukuyomi fosse tão forte a esse ponto, ou talvez fosse a fobia a sangue que Sakura tinha que tivesse impulsionado tal ato. E ele nem podia alegar que desconhecia totalmente o trauma dela, já desconfiava disso quando cortara o cabelo dela pela forma como ela reagiu por causa de um simples arranhão.

Ele fizera de propósito, mostrou o medo dela pois queria machucá-la, queria que ela sentisse o que sentiu ao ver Sayumi morrer na sua frente sem poder fazer nada, queria vê-la sofrer, mas, então porque quando a viu se machucar seu peito se comprimiu e a ajudou? Ele a retirou do genjutsu quase que imediatamente, apenas minutos haviam passado para si, mas sabia que ela devia ter vivido o inferno e estava tão concentrado em segurá-la que não viu quando seu irmão e Naruto chegaram, afastando-a de si, muito menos percebeu o ataque do Uzumaki.

Ela dormiu por três dias e por três dias teve que ouvir Itachi e Naruto reclamar para si sobre o que fizera a Sakura. Naruto estava furioso e várias vezes teve que ser contido por Itachi, não que ele ligasse, ainda se sentia irritado o suficiente para voltar a esmurrar o loiro por causa do olho roxo que ganhara, como se não bastasse o nariz quebrado por Sakura. Talvez fosse por isso que ele estivesse aliviado ao saber que ela tinha acordado, assim poderia ter um pouco de paz, finalmente.

–*-

Depois daquilo Sakura se recuperava aos poucos, os meses passaram e as coisas haviam mudado. Mais fechada, quase não falava a menos que Sasuke a perguntasse algo, não olhava nos olhos do moreno, sempre encarando o chão ou desviava o olhar para outra direção, não fazia mais as refeições com ele ou ficava sozinha na presença dele. Quando ele acordava o café estava pronto, mas comia sozinho, saia para realizar alguma missão e quando voltava a casa estava limpa e a comida na mesa novamente, mas a rosada não se encontrava ali. Ela não o recebia na volta, não o questionava, não saia para lugar nenhum a não ser que fosse ao seu lado e sempre pedindo permissão e somente para comprar comida. Nem quando saiam Sakura saia do seu lado ou olhava para o lado.

Lembrava-se que da última vez eles encontraram com o tal Idate no mercado, o Morino se aproximou da rosada, mas esta apenas se grudou em Sasuke como se pedisse proteção, na verdade ela apenas estava com medo de lhe irritar. Idate percebeu a diferença na garota e quando a abordou, ela nem ao menos lhe encarou, temerosa do marido lhe castigar. Aquilo foi uma surpresa tanto para Idate quanto para Sasuke, mas este apenas afastou o Morino e levou a esposa para casa que logo se recolheu para o quarto. Do outro lado da porta, Sasuke ouvira a garota chorar, assim como em todas as noites.

– Sakura! – chamou a rosada que logo apareceu no vão da porta com a cabeça abaixada. Fechou os punhos e voltou a se dirigir a ela – Vou sair em missão – disse a espera que ela lhe questionasse quando voltava ou que faria. Nada. – Ficarei três dias fora – e ele próprio se questionou o porquê de estar dando satisfação a ela quando ela nem parecia se importar.

A rosada meneou a cabeça para indicar que ouvia e continuou parada na soleira da porta até que ele a dispensasse ou continuasse a falar. Sasuke trincou os dentes e andou até a menina que recuou um passo, amedrontada, ele notou. Cerrou os punhos com força.

– Olhe para mim enquanto estiver falando – mandou, sem entender o motivo daquela ordem tão idiota. Mas Sakura o obedeceu e ele pode ver os olhos esmeraldinos, outrora tão brilhantes, completamente opacos e sem vida.

– Mais alguma coisa Sasuke? – a voz dela saiu fria, como se não sentisse nada e apenas seu corpo estivesse presente naquela conversa. Ele hesitou por um momento ao encará-la, sem saber ao certo o que dizer em seguida.

– Cuide da casa enquanto estiver fora – disse a primeira coisa que lhe veio a mente. – E não receba estranhos – lembrou-se de alertá-la e a menina aquiesceu antes de virar-se para se retirar e entrar no quarto que pertencia a ela.

Não houve nenhuma despedida ou entrega de obento como da última vez. Ela agia como se não se importasse mais, ele havia conseguido o que queria, havia a quebrado, ela agora era a mais perfeita esposa submissa, fazia tudo conforme ele ordenava sem a menor queixa. Mas, se esse era o seu objetivo, porque estava tão irritado por vê-la se comportar daquela forma?

–*-

Suspirou aliviada ao ouvir a porta se fechar. Finalmente um pouco de paz. A cada instante que cruzava com Sasuke naquela casa, sentia todos os seus músculos se tencionarem, temendo que fizesse qualquer movimento errado e ele decidisse lhe punir mais uma vez. Ela não queria passar por aquilo nunca mais na sua vida e sabia que Sasuke estava disposto a tudo para atormentá-la. Era a primeira vez que não via uma saída, não via uma solução, não tinha nada para se amparar. Era como se ela voltasse à época que perdeu Sayumi, não sentia mais vontade de fazer nada e só não ficava trancada no quarto o dia todo porque sabia que isso pioraria o humor do Uchiha.

Nem agora quando se via sozinha ela tentava contrapor as regras do Uchiha, havia perdido as esperanças de alcançar o seu sonho. Depois de tantas pessoas lhe dizerem para desistir e ela ignorar, finalmente uma pessoa conseguiu. Sentia-se mais perdida do que nunca, sem saber o que fazer a partir de agora, não pensava mais na promessa que fez a irmã, na verdade, uma parte sua amaldiçoava o momento em que fez tal promessa. Se não tivesse prometido nada, não estaria nessa situação, mas agora era tarde e no momento ela só pedia para que o tempo parasse e Sasuke demorasse a voltar, pois mesmo que tivesse que passar o resto da sua vida trancafiada ali, ainda era melhor do que presenciar aquele tormento.

Um dia havia se passado desde que Sasuke saíra em missão e Sakura permanecia em casa, entediada, afinal já havia limpado todo o lugar e não tinha muito o que fazer. Todos os seus dias, desde a briga com Sasuke, eram assim. Suspirou deitada na varanda da casa quando ouviu a campainha tocar. Estranhou, mas levantou-se lentamente indo em direção à porta e se surpreendeu ao ver Ino se lançar em seus braços, desesperada.

– Graças a Kami você está bem! – exclamou a loira, apertando-a contra si para em seguida a afastar e segurar em seus ombros – Você está bem, não está? Aquele Uchiha desgraçado fez alguma coisa? Vamos, testuda, desembucha de uma vez!

– Ino, calma, por favor – pediu a rosada se encolhendo levemente e Ino estreitou os olhos.

– O que ele fez? Me diga que eu mesmo me encarrego de matá-lo e...

– Ino, não diga isso! – arregalou os olhos diante das ideias que a loira proferia na entrada de casa, se alguém escutasse e contasse a Sasuke... tremeu ante a ideia – Entre, conversamos aqui dentro. – e deu espaço para a Yamanaka que passou por si marchando furiosa.

Foram precisos incontáveis minutos para acalmar a loira, conseguir contar o que havia lhe acontecido e mais alguns minutos para conseguir terminar já que a Yamanaka sempre a interrompia para soltar alguma blasfêmia a Sasuke. Ela havia saído em uma missão um pouco longa com o seu time e quando voltou Naruto lhe contou por alto que algo acontecera com Sakura, ela nem deixou ele terminar e saiu correndo para ver a amiga, precisava ver se ela estava bem.

– Eu vou matá-lo! Onde ele está? – indagou ao se levantar do sofá e começar a andar pela casa e Sakura logo se pôs a segui-la.

– Ino, eu...

– Ele gosta de fazer joguinhos psicológicos, não é? Pois eu vou mostrar o que é ter a mente torturada de verdade por um Yamanaka! – vociferou subindo as escadas, indo em direção ao quarto de Sasuke – Vou entrar na mente dele e vou fazê-lo implorar pela vida e...

– Ino, não! – Sakura a segurou com força e a loira se virou para ela pronta para brigar quando viu a rosada com os olhos marejados – Não faça isso! Não faça nada!

– Sakura...

– Por favor, você não sabe do que ele é capaz eu não quero que ele te machuque, eu não quero que ele me machuque de novo – disse tremendo enquanto ainda segurava o braço da amiga. – Então, por favor... por favor – não conseguia mais controlar as lágrimas – ...não faça nada.

– Sakura... tudo bem, se é isso que você quer... – Ino disse ao abraçar a rosada – Tudo bem, tudo bem – repetia para tentar acalmá-la.

Ino não sabia o que fazer, nem o que dizer, o que ela tanto temia havia acontecido, Sasuke havia feito Sakura, um lindo botão de cerejeira, murchar. Sua amiga parecia tão desolada e perdida quanto na época em que Sayumi se foi, depois de todo o esforço para que ela se recuperasse, ali estava a mesma Sakura deprimida e abatida que pensou nunca mais ver. E o pior é que ela nem sabia o que fazer dessa vez, pois se Sasuke quisesse poderia quebrá-la quantas vezes quisesse.

Passou o dia todo com Sakura, mesmo depois dela ter dito que estava melhor. Ignorou as reclamações da rosada sobre Sasuke poder aparecer a qualquer momento e ficou ali. Fez comida para as duas, assistiram a um filme e a todo o momento Ino falava alguma bobagem para distrai-la e Sakura agradeceu imensamente a companhia e o cuidado da loira, pois assim ela não se sentia tão sozinha e desamparada.

– Ino... – chamou em determinado momento a rosada.

– O que foi testuda? Quer alguma coisa? – indagou e Sakura se encolheu um pouco sem graça.

– Será que você poderia se desculpar por mim com o Idate? – pediu e a Yamanaka arregalou os olhos surpresa.

– Idate?

– Ele me avisou que algo assim aconteceria e da última vez que o vi nem pude falar com ele por causa do Sasuke, então... – enrolou uma mecha no dedo.

– Não se preocupe, do jeito que ele é nem deve estar com raiva – Ino disse com um sorriso a tranquilizando. – Lembra daquela vez que vocês discutiram por horas?

– É claro que lembro eu estava furiosa com ele por me chamar de fraca – Sakura disse bufando com a lembrança e Ino riu.

– E mesmo assim ele ria como se achasse tudo muito engraçado e te enfurecendo ainda mais – gargalhou com a lembrança e Sakura riu baixinho também – Agora sim parece a minha testuda – Ino disse ao ver o sorriso da amiga.

– Obrigada Ino...

–*-

Após a visita da amiga, um dia se passou e Sakura estava um pouco mais tranquila, Ino era realmente uma ótima amiga e havia prometido voltar para vê-la já que o Uchiha não estava e ela se recusava a sair. Ela olhou ao redor da casa se sentindo uma completa estranha e não gostava de ficar ali sozinha, mas ela não tinha forças para enfrentar a fúria do marido mais uma vez. Toda vez que fechava os olhos ela podia se lembrar dos pesadelos controlados por Sasuke. Se abraçou como se estivesse se protegendo, queria parar de temê-lo, queria voltar a ser a mesma de antes, mas... não conseguia. Não mais. Saiu dos seus devaneios ao ouvir um som na porta. Outra pessoa a visitava e não pode evitar não ficar surpresa ao ver quem era.

– Oka-san? – arregalou os olhos ao ver sua mãe lhe encarando – O que está fazendo aqui? – fazia tempo desde a última vez que vira a mãe, mais precisamente desde quando ela veio saber sobre a sua noite de núpcias com Mikoto.

– Esqueceu a boa educação que lhe dei? – indagou Mebuki cruzando os braços e observando a filha que desviou o olhar e deu espaço para a matriarca entrar.

Mebuki analisou a casa silenciosamente enquanto via a filha entrar na cozinha e trazer um pequeno bule com chá. Nenhuma das duas ousou trocar uma palavra durante aquele momento. Sakura não sabia o que dizer, ver a mãe ali lhe fazia rememorar as imagens de Sayumi morta e as palavras de Sasuke sobre tê-la matado, palavras que a própria mãe havia proferido para si, e naquele momento ela não poderia surtar, duvidava que sua mãe viria ao seu resgate como Naruto e Itachi.

Enquanto isso Mebuki apenas tomava calmamente o chá, observando as reações da filha, parecia mais magra e estava, claramente, mais abatida que o normal, as olheiras eram uma prova disso, e as mãos dela estavam fortemente pressionadas e tremiam em cima do colo. Suspirou deixando o chá na mesa e encarando a filha.

– Preciso que vá em casa e veja algumas coisas – disse, chamando a atenção de Sakura que a encarou interrogativa.

– O quê? – e Mebuki respirou fundo para não perder a paciência.

– Estou fazendo uma faxina e tem algumas caixas empilhadas que quero me livrar, mas como tem coisas suas seu pai pediu para que você fosse ver se vai querer algo ou se posso jogá-las fora – e cruzou os braços, aguardando a resposta da filha.

– Er... bom, pode jogar fora, eu acho – falou timidamente e Mebuki revirou os olhos.

– Não, você vem comigo, assim não terei que ouvir Kizashi reclamar que não ouvi a sua opinião – ordenou.

– Mas, oka-san, Sasuke...

– Sasuke está em missão, além do mais é um pedido meu, sua mãe e sogra dele, não vejo porque ele recusaria uma visita a nós – explicou pacientemente e Sakura suspirou sem poder recusar – Ótimo, então troque essa yukata e vamos de uma vez, não quero mais perder tempo – informou ao se levantar.

Sem alternativa Sakura resolveu acatar a ordem da mãe e ir com ela para sua casa no clã Haruno. Durante o percurso nenhuma das duas emitia uma única palavra e a rosada se sentia desconfortável, afinal, mesmo que brigassem quando mais novas, nunca esse sentimento de repúdio havia surgido entre ela e a mãe. Suspirou, as coisas realmente haviam mudado desde a morte da Sayumi e nem o fato de ter se casado por obrigação fez sua mãe repensar ou, pelo menos, tratá-la de forma mais branda, seriam duas completas estranhas até a morte, cheias de ressentimentos, pensou e não pode evitar suspirar mais uma vez.

– Sakura quer parar de fazer isso? É falta de educação! - Mebuki a repreendeu e Sakura reprimiu a vontade de revirar os olhos, pelo menos para brigar consigo sua mãe continuava sendo a mesma.

Depois disso não demoraram a já estar em frente à casa que foi o lar da rosada. Uma grande nostalgia a abateu ao entrar no lugar, fazia somente alguns meses que estava com Sasuke vivendo no clã Uchiha, mas parecia uma vida para ela, então estar ali acabava lhe trazendo recordações boas e ruins.

Seguiu a mãe escada acima e foi em direção ao seu antigo quarto. Caixas e mais caixas estavam empilhadas por todo lado, quase a impedindo de ver a decoração simples do seu quarto. O clã Haruno tinha uma regra, na qual quando uma Haruno se casa ela deve deixar a sua vida antiga e, consequentemente, suas coisas para trás para poder iniciar uma nova com o marido, por isso não se surpreendia de ver a confusão que seu quarto se tornara, mas estranhou o fato de sua mãe ter a chamado até ali para ver se queria algo antigo, afinal isso não seria uma quebra na tradição?

– Vamos, eu não tenho o dia todo. – Mebuki disse ao pegar uma caixa e colocar nos braços de Sakura a tirando dos seus devaneios – Comece vendo essa e depois as outras. Se quiser algo, pegue – e andou em direção a saída.

– A senhora não vai ficar aqui para fiscalizar? – indagou à mãe que parou na soleira da porta.

– Não – disse com a voz condoída e Sakura franziu o cenho, sem entender o tom de voz da mãe – Por mim jogava tudo fora, então é melhor que só você faça isso – e saiu do cômodo às pressas.

Sakura apenas lamentou ao constatar, mais ou vez, o descaso da mãe para consigo. Queria que as coisas fossem diferentes, mas por mais que tivesse se esforçado para ser a filha que ela queria nesses dois últimos anos, nada funcionou. E agora não tinha mais forças para lutar, nem por si, nem por ninguém, sua mãe podia espancá-la até a morte que não conseguiria sentir mais dor do que sentia, não tinha como ficar mais despedaçada. Havia chegado ao fundo do poço.

Suspirou e começou a ver as coisas que estavam na caixa em suas mãos, não queria se deprimir ainda mais, não adiantaria. Um longo e tortuoso processo se iniciou com isso. Ver suas coisas a remetia a um passado não tão longínquo, mas que parecia desaparecer de sua mente cada vez mais rápido. Shurikens, kunais, livros sobre ninjutsu, genjutsu e conduta ninja, e qualquer outra coisa relacionada a treinamento ninja foram postos em uma caixa e em seguida desceu a procura da mãe, encontrando-a na cozinha preparando algo. Por um momento pensou em indagar se podia ajudá-la, mas temendo ser repudiada preferiu mudar a pergunta:

– Onde posso deixar isso? – e indicou a caixa. Mebuki apenas a olhou por cima do ombro a avaliando e questionou:

– Vai querer levar?

– Não, quero jogar fora – Sakura respondeu impassível e Mebuki voltou a perscrutá-la com o olhar antes de indicar um canto, afirmando que se livraria disso mais tarde.

Sakura fez como a mãe ordenara e voltou lá para cima. Duas horas se passaram enquanto fazia o mesmo percurso de por suas tralhas em uma caixa e levar até a cozinha. Sua mãe nada dizia apenas a via empilhar tudo em um canto. Em um determinado momento Sakura achou algo que a fez parar com a arrumação.

Olhava o pequeno caderno gasto em suas mãos como se visse um fantasma. O que isso fazia nas coisas dela? Olhou para a porta quando um pensamento lhe cruzou a mente, mas sua mãe nunca colocaria o diário de Sayumi para ser jogado fora, não é? Será que na época ela própria havia deixado o pequeno caderno entre os seus pertences?

Teve vontade de se livrar do objeto ou simplesmente não vê-lo, mas como sempre acontecia, desde criança, ela passou a folhear as páginas meio amareladas pelo decurso do tempo. Uma parte movida pela curiosidade e a outra porque ler aquele pequeno diário era uma forma de relembrar sua tão preciosa irmã.

"Sasuke-sama é tão gentil comigo. Hoje ele pediu para andarmos de mãos dadas por todo o clã Haruno. Eu sentia as minhas pernas tremerem e meu rosto estava tão quente, mas me senti bem. Ele sempre faz eu me sentir como se fosse uma princesa".

– Só com você irmã, porque na verdade ele é um monstro – resmungou ao ler um trecho do diário e não pode evitar ficar um pouco chateada com isso.

Sasuke mesmo que fosse meio frio, era gentil, tentava ajudá-la em seus treinamentos e se preocupava com ela quando mais nova, como ele mesmo lhe disse em um dos seus delírios, mas parecia que cada gota de amor que ele sentia se transformara em ódio para consigo e o resto do mundo. E não pôde evitar o aperto que sentiu e se repreendeu por ainda sentir compaixão por ele, mesmo depois de tudo que ele lhe fez, ao mesmo tempo em que se condoía por ele a tratar tão mal. Voltou a ler outra parte do diário.

"Sasuke-sama se feriu em uma missão hoje, quando soube fiquei desesperada e pedi a Sakura-chan para ir comigo vê-lo. Ao chegarmos lá quase não consegui entrar na sala, estava com tanto medo de perdê-lo..."

– Vaso ruim não quebra Sayumi-nee – reclamou como se a irmã estivesse ali consigo, mas lembrava-se desse dia. Ela também ficara aflita por Sasuke. Muito. Mudou de página para evitar aqueles pensamentos e algo chamou sua atenção.

"Hoje foi um dia tão especial. Mal consigo escrever de tão eufórica que estou, Sakura-chan não para de perguntar o que houve, mas acho que consegui despistá-la. Hoje o Sasuke-sama... ele... ele me beijou! Foi tão estranho e... tão bom! Sei que não devíamos ter feito isso antes do casamento, mas... não pude evitar, meu coração batia tão forte que pensei que fosse sair pela boca ou desmaiar na frente dele..."

Arregalou os olhos com o que leu e verificou a data, Sayumi tinha dezessete anos na época quando deu seu primeiro beijo. Sentiu seu rosto corar e preferiu não ler mais sobre aquele momento, era como se estivesse invadindo a privacidade da irmã, mesmo que não sentisse o mesmo ao estar lendo o resto do diário. Porém, se sentiu de certa forma reconfortada ao saber que a irmã também havia ficado nervosa com o beijo, talvez o culpado fosse Sasuke e... balançou a cabeça, não era para recordar que Sasuke lhe beijara! Bufou irritada, não queria pensar nele, não queria vê-lo nunca mais! Assim pelo menos se livraria de um problema.

Mudou de página, procurando por qualquer outra coisa que não envolvesse o Uchiha e achou algo interessante.

“Sakura-chan brigou com o otou-san e a oka-san outra vez. Ela não entende que eles estão preocupados com ela e essa ideia de se tornar uma kunoichi. E por não entender ela simplesmente foge para treinar, deixando todos loucos com o sumiço dela, tive que pedir para Sasuke ir atrás dela de novo.”

Sorriu melancólica, sua irmã era uma boba por se preocupar com ela e muito exagerada. Mas logo o seu sorriso morreu ao ler mais algumas anotações:

“A oka-san está furiosa com a Sakura-chan, ela não apareceu nas aulas de novo, dizendo que iria treinar para desafiar o otou-san. Mas sei que o motivo da oka-san ir até a janela a todo o momento é para ver se a minha irmã está voltando e se está bem. Queria que a Sakura-chan parasse de preocupar a todos.”

“O otou-san vive sorrindo e brincando com a Sakura-chan. Ele a adora tanto. Me pergunto se é porque eles se parecem... eu quase nunca tenho a atenção do otou-san.”

“Esses treinos continuam e de vez em quando ela e otou-san discutem, assim como a oka-san, espero que quando eu me casar com o Sasuke-sama não tenha que me preocupar mais com essas coisas.”

Não pode evitar que uma lágrima escorresse e nem as outras que vieram em seguida. Apertou o caderno nas mãos com força. Era assim que sua irmã se sentia com relação a si? Então Sasuke estava certo? As datas das três anotações eram diferentes e em todas Sakura era apenas uma criança, mas mesmo assim... ela somente dava preocupação para a irmã e, pelo o que leu, Sayumi pensava que detinha todas as atenções dos pais. Ela seria um fardo até na vida da mais velha? Poderia ser apenas pirraça de irmã, mas...

– Baka... você sempre foi perfeita, o otou-san e a oka-san sempre tiveram orgulho de você, sempre... você sempre teve as atenções deles... me desculpe... me desculpe... – murmurava.

Pensou em parar de ler, não queria mais se magoar e descobrir que sua irmã também a considerava um problema seria demais. Não queria se decepcionar, mas tinha vontade de entender os sentimentos de Sayumi, ver como ela via as coisas e as pessoas. Ela sempre lia o diário da irmã por causa disso, mas quase nunca conseguia ler algo importante já que ela sempre a pegava no flagra, por isso não conseguiu parar e quando viu estava no início do diário, lendo uma das primeiras coisas que Sayumi escreveu, que na época deveria ter uns sete anos.

“Eu ganhei esse diário da mamãe para colocar o que eu quisesse aqui. Ela disse que era algo pessoal, mas acho que a Sakura-chan não sabe o que é privacidade, porque ela sempre tenta ler o que eu escrevo, mesmo que ainda não saiba ler direito, eu só não sei por que ela tem que fazer isso em voz alta e na frente de todos. Que vergonha!”

– Desculpa... – murmurou com um pequeno sorriso, secando o rosto.

Percebeu que o diário de Sayumi fazia muita referência, principalmente, a ela e a Sasuke e não pode evitar pensar mais uma vez nas palavras do Uchiha.

“Mesmo assim Sayumi sempre pensou em você, tanto que se esquecia de cuidar dela própria.”

Porque ela fazia isso? Não era normal alguém se abdicar tanto por outra, era? Seguiu com a leitura e encontrou algo que nem se lembrava.

“Hoje eu fiz algo horrível. A Sakura-chan queria brincar, mas eu tinha dever para fazer, ela ficou me perturbando tanto que briguei com ela e a empurrei, mas como ela só tem cinco anos, acho que fiz com muita força e ela caiu, e acabou batendo a cabeça na mesa da sala. Quando ela se levantou eu só pude ver o sangue escorrendo pelo rosto dela e chorei assustada, chamando a atenção dos nossos pais que logo vieram até nós. Eu pensei que fosse ficar de castigo, mas a Sakura-chan disse que ela havia caído sozinha. E aquilo só me fez chorar mais. Porque ela havia me protegido? Ela nem ficou com raiva de mim. E eu é quem devia protegê-la e não machucá-la...”

O relato era enorme e Sakura percebeu que a irmã chorava enquanto escrevia por causa das manchas das lágrimas. Ela era mesmo uma boba por se culpar por aquilo, foi um acidente e ela nem se lembrava mais. Voltou a folhear o caderno e viu seu nome ser escrito várias vezes.

“A Sakura-chan é tão forte! Tão corajosa! Sinto orgulho de ser a irmã mais velha dela.”

“Ela é tão querida por todos da vila e tão determinada, eu queria ser assim.”

“Adoro ver os olhos dela brilhando quando vem me contar sobre algo que aconteceu com ela, até o Sasuke-sama se orgulha. Sei disso porque vi o modo como ele a olhou durante a luta contra o otou-san... queria que ele olhasse para mim assim também.”

“A Sakura-chan está treinando de novo. Eu temo que ela se machuque, por isso fico de olho nela ou peço para o Sasuke-sama, mas confesso que gosto de saber que ela não desiste, apesar das dificuldades, em perseguir o sonho dela. Enquanto ela sorrir e não desistir, sei que ela ficará bem e eu também.”

Havia várias declarações sobre ela, mas ela não conseguia mais ler por causa das lágrimas. Fechou com força o diário.

Sua irmã não a odiava então... ficou aliviada e surpresa por saber que ela lhe admirava tanto, não esperava por isso. Sempre se achou tão inferior a irmã, todos sempre as compararam e saber que Sayumi queria ser como ela... ela nem sabia o que sentia. Não sabia o que fazer. Ela já não era mais essa Sakura que Sayumi tanto admirava, mas ela queria voltar a ser. Sayumi havia lhe lembrado de coisas sobre si mesma que pensou haver perdido. Ela sempre foi uma garota alegre, determinada e sorridente e não essa casca que se dobra ante as dificuldades. Ela vivia dizendo que poderiam lhe quebrar em duas, mas ela não desistiria do seu sonho e de seguir em frente.

Como era patética ao ver no que tinha se transformado. Havia se perdido durante o caminho, ficou cega a tudo que estava ao seu redor e tentou ser alguém que não era. Sayumi disse que enquanto ela sorrisse tudo ficaria bem, mas há quanto tempo ela não era feliz? Ela tentou ser como a irmã, pelos pais, pelos Uchiha’s, tentou ser uma boa esposa para Sasuke e se tornou uma sombra do que era, mas nunca poderia ser feliz daquele jeito, essa não era ela, mas Sayumi. Ela dizia que não havia desistido do seu sonho, mas durante esses meses ela havia se esquecido do que queria por pensar que o melhor era aceitar a sua realidade.

Sempre soube que seria difícil se tornar uma kunoichi, ou ser reconhecida por seu clã e as outras pessoas, mas mesmo com as dificuldades ela continuava feliz por pelo menos ter uma chance de mudar o seu destino. Diferente de como ela se sentia agora. Tão miserável e com medo que preferia se esconder em uma figura que não era ela. Não se deixaria mais abater. Continuaria de cabeça erguida. Continuaria a dar o seu melhor de alguma forma, o importante era não desistir, ela tinha que voltar a ser ela mesma, apesar de não saber como ainda, pois ainda sentia medo. Mesmo assim, ela não queria continuar daquele jeito, como nos dias de luto quando perdeu a irmã. Abraçou o diário com carinho, pois havia acabado de receber novas forças para continuar.

– Obrigada, Sayumi-nee – disse para si e em seguida saiu correndo para fora da casa. Precisava ver Tsunade e pedir desculpas por abandonar o tratamento.

Ficou tão atordoada com tudo que nem se preocupou em avisar a mãe que apenas viu uma cabeleira rosada passar correndo pelo jardim, uma visão nostálgica, sem dúvida, e não pode evitar balançar a cabeça com um pequeno sorriso enfeitando o rosto.

– Mebuki, o que essas caixas estão fazendo aqui? – Kizashi disse ao irromper na cozinha, parecia extremamente chateado – Eu já não disse que nenhuma das coisas da Sakura serão jogadas fora?

– Hai, hai, pare de ser um chato repetindo isso. – falou enquanto lavava alguma louça.

– Então o que isso está fazendo aqui? – voltou a questionar a esposa que suspirou exasperada.

– Não se preocupe, querido, porque não para de reclamar e me ajuda com o almoço? – indagou ao marido que estranhou o comportamento da esposa, mas suspirou concordando.

–*-

Dois dias se passaram até que Sasuke retornasse para a vila. Estava cansado e tudo o que queria era dormir um pouco, mas sentiu que seu sono seria adiado ao ver Itachi lhe esperar na entrada do clã. Só esperava que Sakura não houvesse aprontado nada. Franziu o cenho, não, ela estava muito mudada e mal saia de casa, ele só não conseguia aceitar muito bem isso.

– O que quer Itachi? – indagou passando pelo irmão que suspirou.

– Sei que deve estar cansado e que voltou agora de uma missão, mas preciso que faça um favor para mim – disse acompanhando o mais novo que apenas o olhou de esguelha para que continuasse – Vai haver um jantar na casa dos Hyuuga e nosso pai pediu que eu fosse com ele como herdeiro do chefe do clã.

– Itachi... – tentou interromper o primogênito. Ele não gostava de ir a jantares políticos.

– Por favor, irmão, Hana está na fase final da gravidez e não pode sair de casa e não quero deixá-la sozinha – explicou e Sasuke bagunçou o cabelo, concordando. Não tinha como negar isso ao mais velho.

– Quando vai ser isso?

– Daqui a uma hora mais ou menos – disse dando de ombros e viu quando o mais novo parou abruptamente no meio da rua.

– Porra! – exclamou ao ver que nem poderia descansar ao chegar em casa e viu o irmão sorrindo de forma inocente – Sakura...

– A oka-san já avisou sua esposa – e Sasuke franziu o cenho ao ouvir a alcunha dada a rosada, ainda não se acostumara com isso mesmo com meses de casado.

– E o que você faria se eu não tivesse chegado hoje da missão? – e Itachi apenas colocou a mão no seu ombro.

– Eu sabia que podia contar com você – e Sasuke revirou os olhos, encerrando a conversa.

Ao chegar em casa suspirou ainda sentindo os músculos doloridos e tratou de procurar a rosada, mas como sempre ela não estava a vista. Foi em direção as escadas, mas parou no primeiro degrau ao ver quem descia a sua frente. Seus olhos percorreram desde os sapatos altos que usava até o vestido ocidental longo, da cor verde, que delineava a cintura fina e deixava os ombros e parte do busto a mostra. Observou o rosto corado com a análise minuciosa, mas não se importou e continuou a observar os cabelos rosados escovados e soltos de forma simples, assim como a maquiagem suave. Sakura estava totalmente diferente e... algo mais que ele não sabia nomear.

– S-Sasuke... – ela disse surpresa, olhando para baixo. Ela havia prometido voltar a ser a mesma de antes, mas ainda era difícil encarar Sasuke, ainda mais com ele a examinando daquela forma. Será que havia feito algo errado? – Eu não sabia que havia chegado, Mikoto-san...

– Já fui informado. – e continuou a observando com o cenho franzido, não acreditando no que via.

– Nós... não iremos? Decidi me arrumar logo para não chegarmos tarde, mas se quiser posso mudar de roupa – falou um pouco hesitante.

Ela sabia que não era comum as esposas dos grandes representantes dos clãs usarem vestidos ocidentais, mas ela não queria que houvesse a mínima possibilidade de Sasuke trazer a imagem de Sayumi de volta, confundindo-a mais uma vez. Então, optou por não usar o quimono tradicional, mas sim algo que combinaria mais com ela.

– Não, eu vou me arrumar. Fique aqui – disse ao passar por ela e ele notou como ela se encolheu. Sakura estava com medo dele ainda, mas ela também parecia diferente de alguma forma.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam?
Sobre o genjutsu em que o Sasuke colocou a Sakura, foi uma forma dela ver o que ele viu naquele dia (Ele viu a Sayumi morrer de longe, sem poder alcançá-la, e depois a perdeu em seus braços, o resto foi um plus para piorar as coisas T.T)
Muita gente gosta da Sakura forte e decidida, mas nesse capítulo vocês viram um outro lado da Sakura, porque, infelizmente, ninguém é de ferro o tempo todo e o limite da Sakura chegou com a tortura que Sasuke fez. Eu não havia mostrado como a Sakura conseguiu superar a morte da Sayumi porque isso de fato nunca aconteceu, ela apenas seguiu em frente, meio perdida, tentando encontrar uma forma de agradar a todos e se perdendo no caminho, afinal, desde a morte da irmã, Sakura não se sente completamente bem ou feliz, e quando ela poderia começar a se recuperar houve o casamento com Sasuke, por isso foi importante essa queda que ela teve e o fato dela ter lido as palavras da irmã no diário. Assim, ela viu o que precisava recuperar para que tudo ficasse bem: ela precisava se encontrar de novo. E é isso que vai ser mostrado mais adiante.
Além disso, esse capítulo mostrou um pouco do Sasuke e como ele vai passar a agir com a Sakura. Sempre tive essa ideia que a partir do momento em que você deixa de tratar uma pessoa da mesma forma que ela está acostumada isso faz com que as pessoas tentem entender o motivo ou até a correr atrás do prejuízo, com homens é a mais pura verdade. Dá um gelo ou ignora eles quando eles estão acostumados com carinho, para ver o que acontece kkkk. E o Sasuke está assim, ele perdeu o que tinha com a Sakura, o desafio, as amostras de carinho e a preocupação, por isso ele acaba dando satisfação em busca de conseguir uma reação, ele passa a prestar mais atenção nas ações da esposa, a espera de que ela volte a ser o que era e se frustrando ao mesmo tempo porque o plano inicial dele era justamente vê-la sofrer.

Então, depois de tudo isso, se você conseguiu chegar até aqui por favor me ajude, eu quero fazer uma espécie de enquete XD Uma leitora me perguntou se eu tinha uma página no face para saber sobre as postagens da fic, novidades e afins e eu disse que não tinha, mas fiquei com essa ideia matutando na minha cabeça, então gostaria de saber, o que acham? Eu faço uma página? Seria algo para todas as minhas fics atuais e os projetos que pretendo lançar, se tiver gente para curtir a página eu não vejo problemas em criar já que assim é até uma forma de eu entrar em contato com vocês sem ser pelo Nyah!, o que me dizem? ^^ Por favor me respondam isso e qualquer coisa já divulgo a página no próximo capítulo, ok?


Estou com um novo projeto de fic, é uma comédia, algo totalmente diferente do que estou acostumada, mas estava com essa ideia fixa na cabeça e tive que escrever XD Se quiserem conferir e se divertir um pouco, aqui vai o link, ok?
http://fanfiction.com.br/historia/632314/Tropecos/

Bom, é isso!
Beijos e até a próxima