Wish You Were Here escrita por LiKaHua


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

"E eu sinto sua falta na atmosfera da Terra
Eu queria que você estivesse aqui"
-Wish You Were Here - Delta Goodrem



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Wish You Were Here

Eu tenho batido, batido, batido no pensamento da sua porta/ Mas você não está, não está, não está mais aqui/ Eu toco, toco, toco todos os seus telefones na minha cabeça/ Mas eu não consigo completar a ligação, a conexão está perdida/ Eu quero, quero te contar as notícias de hoje/ Mas você não acreditaria, você riria de mim/ Tem um fantasma parado ao pé da minha cama/ E é você, é você, é você, era você...

Completara dois anos que Deyv partira, mas não havia um só lugar que Alissa olhasse e não o visse. Ela queria contar a ele que entrou na faculdade e imaginava-o chamando-a de Nerd e implicando por ela não ter mais tempo para sair com ele. Havia tantas coisas que ela queria que ele soubesse. Há dois anos ela não o via mais, imaginava se ele estava mesmo “em paz”, difícil dizer. Chorar tornara-se algo raro, mas naquele dia parecia ser impossível reprimir as lágrimas... Era o dia em que ele partira.

Se fechasse os olhos, Alissa ainda conseguia visualizar os últimos minutos dele na terra, o tiro deferido pelo homem que o gerara, porque ela sabia que pai era algo que Allan nunca seria. As sensações eram tão fortes que ela precisou respirar fundo antes de sair do quarto. A música embalava seus ouvidos, parecia ter sido escrita por ela, parecia ter sido escrita para ele e ela imaginou se mais alguém no mundo se sentia como ela, se aquela cantora australiana sabia o que ela estava sentindo para escrever algo que caía tão bem com aquele momento duro que ela estava vivendo de novo.

Era você que me disseram que estava em perigo/ Eu não consegui respirar do outro lado do mundo/ E não havia nada que eu pudesse fazer pra te ajudar/ E é verdade que hoje seria seu aniversário/ Teria sido seu vigésimo sétimo ano/ E eu sinto sua falta na atmosfera da Terra/ Eu queria que você estivesse aqui.

Olhando no relógio ela percebeu que era hora de ir, respirou fundo outra vez e saiu lutando para controlar-se. As roupas mudaram pouco da escola para a faculdade: Jeans, blusas pretas, coturnos, casacos com capuz. Nada que não fosse a mesma Alissa de sempre, mas um pouco mais madura, ainda que não muito mais autoconfiante. Despediu-se dos pais e da irmã e saiu. Enquanto caminhava pelo mesmo trajeto que já fizera com Deyv tantas vezes quando ele a levava em casa, Alissa notava como era difícil suportar a dor da saudade que, com o tempo, havia dado sinais que abrandara. Quase podia ver a si mesma subindo aquela mesma ladeira com ele ao seu lado, implicando com o livro favorito dela ou abraçando-a para diminuir o frio. Encolhendo-se dentro do casaco ela cruzou os braços diante do corpo e apressou o passo tentando livrar-se daquela angústia crescente. Chegando no ponto do ônibus percebeu que estava muito adiantada, chegaria à faculdade com uma hora de antecedência, mas não se importava, ela não tinha lá nenhuma lembrança com Deyv e como não podia vê-lo queria aplacar a lembrança ainda vívida dele da sua volta. O ônibus apareceu às seis horas em ponto. Alisa mostrou ao cobrador a carteira de estudante enquanto lhe oferecia um passe. Colocou o capuz e tomou um assento no fim do ônibus olhando as ruas pela janela enquanto ele se movia.

Eu volto, volto, volto e em cada memória você está lá/ Mas o relógio tique-taca em cada minuto que dividimos/ De joelhos, implorando pra que não seja verdade/ Mas era você, era você, era você, era você...

Alissa observava ruas e praças e as lembranças choviam em sua mente, quantas vezes ela e Deyv passaram por aqui ou por ali conversando sobre os mais diversos assuntos, implicando um com o outro, consolando-se mutuamente, sonhando com um futuro promissor que ele nunca chegaria a ter. As lágrimas desciam pelo rosto dela, imaginava se Deyv apareceria para reclamar com ela, se poderia vê-lo mais uma vez. Mas ele não apareceu. Era fim de semestre, não havia muito o que fazer, ela entregaria seu relatório e iria embora, quanto antes pudesse se esconder em seu quarto e chorar o quanto quisesse melhor. Para seu azar, quando chegou à faculdade topou com Leandro, seu professor de literatura, um dos que Alissa mais gostava:

- Ei, Alissa... Tudo bem? Está sentindo alguma coisa?

O tom preocupado na voz dele quase fez a garota desabar em lágrimas, o nó em sua garganta apertou o máximo possível causando uma dor alucinante nela.

- Não professor... Tudo bem.

- Tem certeza? Olha, eu vou para sala daqui a meia hora para recolher os relatórios e dar a ata para que assinem, se quiser conversar...

- Obrigada. Eu te vejo daqui a pouco.

Alissa queria conversar. Ela gostava de Leandro e não havia nenhum professor que lhe deixasse mais a vontade, mas como conversaria com ele sobre Deyv? Ele não o havia conhecido, e só quem o havia conhecido era capaz de sentir a dimensão de sua falta. Quase correndo até sua sala pelos corredores ainda vazios, Alissa sentiu todo o seu corpo gelar, as lágrimas embaçavam sua visão e ela mal conseguia caminhar pelo tremor em suas pernas. Queria gritar o nome de Deyv e implorar que ele aparecesse, queria que alguém viesse e arrancasse aquela dor dela. Entrou rapidamente e fechou a porta da sala, largando a pasta na cadeira e entregando-se as lágrimas, não importava se alguém visse, ela não queria mais saber o que iam pensar, ela precisava soltar aquilo, precisava liberar metade daquele vazio, daquela angústia. A música repetia-se inúmeras vezes em seus ouvidos, ela lembrava-se dele, aquele tinha sido o dia quando, dois anos atrás, Deyv havia deixado de existir.

Em vez de apenas nos meus sonhos e minha imaginação/ Me confundindo completamente em outra dimensão/ Você pode ver a beleza de um novo começo em algum lugar?/ Porque eu sinto que não vou superar com o tempo

Não, ela não conseguira superar com o tempo. Bastava ver uma foto dele, uma rua por onde caminharam juntos, uma estrela brilhando mais forte no céu e lá estava ele. Alissa era fadada a acreditar na magia, sabia e sentia que Deyv a estava protegendo sempre que voltava para casa por vielas escuras onde tantos já haviam sido assaltados, até mesmo mortos. Ela chegava em casa em segurança, porque nunca caminhava sozinha. A porta abriu, mas ela não ouviu, quando percebeu que não estava sozinha, Leandro já estava com os braços fortes segurando-a com cuidado e ajudando-a a levantar:

- Ei... Shh... Tudo bem...

Alissa sentiu quando os braços do professor envolveram-na com proteção, o peitoral forte e trabalhado dele, os bíceps e tríceps torneados deram a ela a impressão de que era Deyv que estava ali, envolvendo sua dor naquele abraço, tentando arrancá-la dela. Fechando os olhos, a garota gritou. Leandro apertou-a com carinho e mordeu o lábio tentando ignorar as próprias lágrimas. Alissa era uma de suas alunas mais esforçadas, eles tinham um vínculo especial, para ele a garota era como uma irmã.

- O que aconteceu? Porque você está desse jeito, Alissa?

A voz dele soou suave quando ela se acalmou um pouco mais e ele conseguiu fazer com que ela se sentasse e tomasse um pouco de água. As palavras vieram como uma cachoeira pela boca de Alissa, ela deu voz a toda dor que estava sentindo naquele momento, enquanto Leandro a ouvia com atenção e conseguia captar todas aquelas sensações.

- Alissa... – Ele segurou a mãozinha gelada da garota. – Eu sei exatamente como se sente porque eu já passei por isso. Olha, é algo que vai te acompanhar para sempre, mas que você precisa aprender a conviver. Eu tenho certeza que aonde quer que o Deyv esteja nesse momento ele não vai gostar de te ver assim, porque ele amava você tanto quanto você a ele e isso não morre, Alissa, a amizade de vocês não vai morrer nunca. Está com você e vai ficar para sempre.

Ele passou um dedo pelo rosto dela enxugando uma lágrima insistente. Alissa conseguiu sorrir para ele e ficou agradecida quando ele aceitou seu relatório e permitiu que ela fosse embora antes que os outros alunos chegassem e a vissem naquele estado. Abraçando-o carinhosamente, Alissa saiu da sala e decidiu voltar caminhando para casa, por mais que fosse uma hora e meia de caminhada ela não se importou. Sentia-se mais calma depois de falar com Leandro, queria caminhar e com sorte até chegar em casa estaria calma e com o rosto seco.

Passou por diversas das ruas e praças onde os dois se encontravam, demorou-se em alguns pontos e novas lágrimas vieram, mas Leandro estava certo, a amizade dos dois viveria para sempre, o amor que ela devotava a Deyv era real e nem mesmo a morte poderia tirar isso dela. Só quando passou pela rua completamente escura, Alissa se deu conta de que a lua brilhava no céu, era sexta feira 13 e a lua estava cheia, ela imaginou inúmeras piadas que Deyv provavelmente usaria naquele momento e um sorriso iluminou seu rosto quando ela fixou seu olhar na lua majestosa no céu enquanto estava ali parada em meio à rua deserta. Alissa sorriu para Deyv como se aquele fosse um sinal de que ele estava ali, olhando por ela...

A música em seus ouvidos recomeçou, ela pegou o celular e colocou o volume no máximo, pediu a Deyv um sinal, que ele lhe mostrasse se estava mesmo ali, que ela não estava sozinha.

Era você que me disseram que estava em perigo/ Eu não consegui respirar do outro lado do mundo/ E não havia nada que eu pudesse fazer pra te ajudar/ E é verdade que hoje seria seu aniversário/ Teria sido seu vigésimo sétimo ano/ E eu sinto sua falta na atmosfera da Terra/ Eu queria que você estivesse aqui.

Enquanto passava por um poste, a apenas algumas ruas de casa, a luz do poste tremulou e apagou e nesse momento Alissa entendeu, ela nunca estivera sozinha, enquanto amasse Deyv e enquanto o mantivesse vivo dentro de seu coração, ele nunca a deixaria. Sorrindo para a lua ela agradeceu a ele, por mais uma vez lhe levar em segurança para casa, pois mesmo quando a lua estava escondida no céu, mesmo quando não havia estrelas brilhantes e destacadas, mesmo quando a tempestade torrencial caía, ela podia senti-lo na brisa suave que parecia abraça-la, nas gotas de chuva que desafiavam o guarda-chuva e tocavam seu rosto, nas músicas pesadas que eles adoravam ouvir, ou mesmo nas que ele não conhecia, mas que ela imaginava que iria adorar, ela sabia que Deyv sempre dava um jeito de tocá-la, de lembrar-lhe que não importava quanto tempo passasse, ele sempre estaria ali, protegendo-a e guiando-a em meio à escuridão como sempre fizera, porque como disse uma vez Emily Brontë imortalizado em seu romance Whuthering Heights, O Amor Nunca Morre.


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Notas finais do capítulo

No dia 16 de Abril de 2014 completaram dois anos da partida de David, mas o vazio dentro do meu peito só aumentou durante todo esse tempo. E só então eu percebi que, quando você ama alguém com todo o seu coração por mais que se esconda bem profundamente, a dor nunca vai embora.



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