PSP

Quando entrei no campo de batalha, fui logo cercado pela “boss”, que mantinha um olhar fulminante na minha direção, escondi meu PSP antes que ela chegasse com aquele olhar pentakill e me matasse de vez. Por sorte – ou não – chegou o bug do sistema: Ambre chegou com o seu “lag” e foi falar com a boss que tinha os olhos no meu lindo bebê – que estava escondido, ou seja, ela deve ter algum tipo hack para ver coisas invisíveis.

– Está me escutando, Armin?!

– Não está vendo que estou ocupado? – Respondi meu irmão, que mantinha um olhar sniper ao Kentin, que por sua vez, mantinha outro olhar sniper com a Docete.

Ignorei o segundo chamado dele e entrei na arena, onde um dos monstros me aguardava e me atacava, com palavras como “por que estão atrasados?”. Fui para a minha classe que era a última da terceira fileira e olhei novamente para o meu PSP.

Ele tinha um arranhão.

– Que merda é essa? – Reclamei e me levantei assustado. – Alguém arranhou o meu PSP. Vou dar dez segundos para o culpado falar, se não eu vou subir de level usando o EXP que eu ganhar matando o desgraçado!

– O que aconteceu, Armin? – O monstro se aproximou fragilmente, deve ser um daqueles que é manso, mas se eu ataco ele fica furioso e reage. Por hora estou mais preocupado com o culpado do que encarar um monstro.

– Olhe só, um arranhão na tela. Quem fez isso?! – Murmurei, olhei aleatoriamente para todos os players que estavam na arena. Todos tinham um olhar preocupado, com certeza por causa do meu PSP!

– Pare de bobagem irmão. – Alexy chegou perto de mim e pegou o PSP das minhas mãos e o analisou. – Quase nem dá para ver esse arranhão, está ficando paranoico.

– Foi você, Alexy! Ontem à noite, quando fui comer com aqueles NPC’s você arranhou e não me contou. Está me chamando de paranoico porque você é o culpado!

– Eu nem toco nisso daí e você sabe bem disso. Está colocando a culpa em mim porque eu sei que ontem de noite você dormiu com essa coisa aí e deve ter deixado cair. – Alexy retrucou. – Agora se sente antes que o professor Faraize chegue.

– Se não foi você, aposto que foi a Docete! – Apontei para a culpada, que parecia ter se assustado com isso. – Olhe só, até a reação é de uma evidente culpada!

– Me poupe de seus assuntos Armin! – Ela respondeu. – Você não me deixa jogar faz mais de uma semana. Nem tem como eu ter pegado.

– Pegou escondido, porque eu sei agora que você é do modo PVP, me mata aos poucos, começou pelo meu bebê, e a seguir vai ser o que? Vai ir lá à minha casa e matar o computador, que é meu legítimo pai? A minha TV, minha legítima mãe?

– Pare de falar dos eletrônicos como se fossem de família. É estranho. – Murmurou baixinho. – Além disso, eu não vou matar ninguém, a não ser você se continuar com esse papo estranho. E antes que diga algo, não fui eu que arranhei esse teu PSP!

– Eu sei que foi você! É falsa, aposto que se você fosse clériga me daria buff, mas na hora de compartilhar EXP pegaria tudo para você, não é mesmo? Eu te conheço, Docete.

– Só eu que não estou entendendo nada? – O bug do sistema perguntou, e riu com suas outras duas amigas que eram legítimas noobs. – Bem, ao menos está mais interessante que a aula.

– Ah, como eu não havia pensando em você antes, bug? Obviamente você fica com inveja de mim, só por conta do seu lag você agora acha que sou hack, mas eu não sou. – Apontei para o bug, que se assustou. – A culpa não é minha se você é um bug, e nem se você tem lag, agora faça o favor de pedir desculpar a mim e ao meu bebê pelo arranhão.

– Eu não entendi nada mesmo. – Ela riu. – Alguém sabe explicar?

– Eu entendi algumas coisas, eu saberia explicar se eu não tivesse perdido o meu bloco de notas... – O cara que tinha um pequeno bug falou, ele teve uma pasta do game apago de sua memória, e agora não sabe mais onde guarda suas coisas... Quem sabe ele se esqueceu de que é o culpado?!

– Lysandre, não é? Tente se lembrar de tudo que ocorreu ontem... Alguma vez você olhou para o meu PSP? Respirou o mesmo ar que ele? Você teve contato com ele?! Lembre-se bug, ou se não vou ter que reinstalar você e inspecionar todos seus elementos até achar a sua memória de ontem!

E então, foi aí que fui expulso daquela arena, e tive que mudar de server até encontrar a sala especial da boss. Entrei lá, e a boss me aguardava sentada, seu olhar fulminante novamente foi visto pelos meus próprios olhos. Era de dar medo, caso alguém de level mais baixo e que tivesse menos EXP e mana tivesse entrado ali.

– Senhor Armin, foi relatado a mim que o senhor estava causando problemas, falando algumas coisas estranhas relacionadas a videogame e – mais precisamente – ao seu joguinho portátil.

– Bem, nada do que eu falei era estranho, precisamente. Eles que são noobs e não sabem diferenciar bem as coisas, mas eu não quero perder o meu tempo nessa sala e muito menos nesse server. Pode me dizer o quanto essa luta vai durar? É por tempo?

– Vou manda-lo para casa. Retire-se, por favor.

– Meu level... Não é qualificado?

– Eu disse retire-se. Vá para casa.

E então, mesmo que de mau-humor e sem achar o culpado, eu fui expulso daquele server, por sorte não do game inteiro. Cheguei em casa e meu NPC que é chamado “mãe” estava me esperando.

– Expulso da aula de novo?

– É. Meu PSP foi arranhado e queria descobrir o culpado. – Ela me olhou séria e eu tive que abaixar meus olhos, aquela NPC tinha um poder imenso sobre mim. – Peço perdão.

– Quem arranhou seu PSP foi você mesmo. Ontem você tirou a película dele e se esqueceu de colocar uma nova, e então dormiu com ele e deixou cair no chão no meio da noite. Caso não acredite, eu gravei.

– Gravou? Não precisava tanto...

– Bem, se está satisfeito, pode ir para o seu quarto.

– Certo.

Cheguei no meu menu principal e aguardei o carregamento do novo server de outro game, chamado “Home”, quando entrei nele, vi outra coisa, dessa vez em um nível completamente diferente.

– QUEM FOI QUE MATOU MEU PAI?! QUEM?! NPC VENHA CÁ, MEU COMPUTADOR NÃO QUER LIGAR! CHAME O DONO DESSE SISTEMA QUE EU VOU RELATAR ESSES BUGS DIÁRIOS!