Jack continuara de pé no convés, pensativo sobre o que Jennete lhe dissera, sobre a bronca que levara de Soluço e também sobre o comportamento ainda suspeito de Jackeline Halloween, a capitã do navio na qual estava a bordo. Ela inspirava uma desconfiança impossível de ignorar, mas talvez fosse apenas a mente paranoica do albino dizendo-o para não confiar em piratas, principalmente pelo fato de ainda ter contas a tratar a com um.

Balançou a cabeça bruscamente para se livrar desses pensamentos, afinal tinha mais o que fazer além de ficar ali parado como um idiota olhando para o tempo. Seus olhos seguiram imediatamente para Jacky, que se encontrava no timão, coordenando a direção do navio. Sem se conter, seguiu para onde ela estava.

– Para onde está nos levando? – Perguntou ao se aproximar o suficiente, seguindo o olhar dela diretamente para o oceano, que parecia se estender infinito à sua frente, sem limites como o céu parecia ser.

– Para onde sei que elas irão. – Jackeline lhe respondeu com indiferença, parecendo não dar a mínima importância para a presença dele ao lado dela, o que só serviu para irritá-lo. Detestava se sentir ignorado, sentir-se invisível.

– E onde seria? – Jack arqueou uma sobrancelha, duvidoso para com a resposta vaga que ela lhe dera. Certamente, não era o suficiente para abrandar a desconfiança que ele nutria pela garota ao seu lado.

Ela nada lhe disse, apenas sorriu com escárnio. Jackeline manteve os olhos azuis no mar, distraindo-se facilmente com ele. Jack se perguntava no que ela estaria pensando e, mais ainda, como ela esperava encontrar o navio de velas vermelhas sem aparentar ter qualquer pista de seu paradeiro. Isto levava a várias outras perguntas, como por exemplo a razão de ela os estar ajudando. Claro, de início, ela dissera que tinha certos problemas com as capitãs do Vingança dos Sete Mares e aquilo não podia ser contestado de imediato, afinal intrigas entre piratas não era realmente algo incomum, mas, ainda assim, o que levaria uma pirata a ajudar a guarda real de um reino em prol de algo que poderia obter por conta própria?

– Então, qual é a sua história com Elsa e a irmã dela? – Jack cruzou os braços e semicerrou os olhos, deixando claro que não aceitaria uma resposta qualquer.

– Então você sabe o nome delas, ou, pelo menos, de uma delas. – Jackeline soltou um riso baixo e revirou os olhos, o que pareceu irritar o albino ao seu lado, causando ainda mais divertimento a ela. – Eu as conheci há muito tempo. – Começou a falar, deixando Jack intrigado com o fato de poder saber mais do passado daquelas três capitãs. – Antes de nós três sermos piratas, para falar a verdade. – Prosseguiu. – Mas um pequeno incidente acabou nos separando e, desde então, procuro por elas para um pequeno ajuste de contas. É só. – Disse por fim, fazendo com que o rapaz ao seu lado suspirasse frustrado.

Jack ainda não depositava nenhuma confiança em Jacky, por mais que ela parecesse estar falando a verdade. Não sabia o porquê de não conseguir confiar na outra, mas sabia bem que, às vezes, era melhor seguir sua intuição, de modo que decidiu ficar de olho nela, de modo que ela não conseguisse enganá-lo.

– Você ainda não nos disse para onde estamos indo. – Ele disse em meio a um grunhido irritado, de mau-humor, afinal aquela conversa em nada estava contribuindo para deixa-lo um pouco menos desconfiado e incomodado.

– E também não pretendo. – Jacky respondeu agora olhando para ele, encarando-o com aqueles olhos azuis que pareciam esconder todos os segredos que eram possíveis serem sonhados. – Apenas espere, assim como seu amigo faz, e verá que te levarei exatamente para onde você quer ir. – Sorriu ao ver um pouco de confusão no rosto dele. Virou o rosto mais uma vez, agora fitando uma das garotas que passava pelo convés. – Malévola! – Chamou-a e a morena de olhos verdes olhou para ela. – Assuma o timão. – Ordenou e saiu dali, não tardando em ser substituída pela outra.

Jack a assistiu se distanciar de sua posição inicial e ir até a proa do navio. Jennete se aproximou dela e as duas pareceram trocar algumas poucas palavras antes que a mais nova entre as duas irmãs voltasse às atividades que realizava anteriormente. Assistiu também quando uma espécie de papagaio, de penas azuis e amarelas e bico preto, apareceu e pousou no ombro da garota. Ela retirou da perna do animal o que parecia ser um pequeno papel antes que a ave voasse para longe dali, desaparecendo no horizonte. Ela desenrolou o pequeno papel e leu-o antes de deixar que caísse do navio, desmanchando-se nas ondas do mar que brilhava com a luz do sol que refletia nele.

Jack não fazia ideia do que poderia estar escrito no papel que o papagaio trouxera, mas nada de bom podia vir do sorriso que apareceu nos lábios de Jacky ao ler as palavras desconhecidas pelo albino que estavam escritas ali. Sabia apenas que aquele mísero papel alternara o curso que estavam seguindo, pois rapidamente Jackeline retornou ao timão, substituindo Malévola e mudando a direção do navio de uma forma um tanto brusca que fez algumas das pessoas a bordo caírem no chão pelo ato sem aviso prévio. Jack fora uma dessas pessoas e ela estendeu a mão para ele, no intuito de ajuda-lo a se levantar do chão de madeira.

Jack sentia que não podia confiar nela, mas aceitou a ajuda de bom grado. Não tinha provas concretas de que a capitã do Terror do Caribe planejava algum tipo de conspiração, mas isso não o impediria de manter-se alerta sobre ela.

– Vai me dizer agora para onde estamos indo? – Ele tentou mais uma vez, embora internamente já esperasse que ela fosse se esquivar da resposta dando-o um conjunto de palavras completamente inútil.

– Diga-me, você sabe lidar com canibais? – Ela abriu um sorriso um tanto maldoso e, internamente, Jack tremeu.

Não era a resposta que ele esperava, mas a pista que ele precisava. Havia apenas uma ilha conhecida no Caribe por ser habitada por canibais. Ele já ouvira histórias sobre ela, principalmente sobre a estadia de Elizabeth Swann, Will Turner e Jack Sparrow ali. Sabia que aquilo significava que as capitãs do Vingança dos Sete Mares estariam ali, mas então uma pergunta surgiu em sua mente:

O que as piratas mais temidas em todo o Caribe iriam fazer numa ilha cheia de canibais?