Depois que Jack e Soluço saíram em direção ao Terror do Caribe como Andersen havia ordenado, Mirana, Rapunzel e Alice continuaram a tentar atenuar o estado de Merida, visto que a ruiva estava quase morrendo de hipotermia. A esta altura, o Destemido já se encontrava seguindo o Terror do Caribe por entre as águas do mar, afastando-se cada vez mais de Tortuga.

– Acha que eles vão ficar bem? – Rapunzel questionou enquanto esfregava suas mãos nos braços de Merida, buscando aquecer a Princesa de Highland com o atrito causado. – Os meninos. – Especificou ao notar que as outras não haviam entendido o que dissera. – Será que eles vão ficar bem? – Perguntou mais uma vez.

– Claro que vão. – Alice respondeu enquanto pegava de Andersen mais um cobertor para enrolar Merida, que parecia estar melhorando lentamente, visto que a coloração azul estava diminuindo e ela estava tremendo cada vez menos. – Eles sabem se cuidar. – Tentou tranquilizar a morena, que ainda assim não parecia mais calma.

– Mas o navio em que eles estão é cheio de piratas. – A Princesa de Corona retrucou preocupada, levantando um pouco a cabeça para fitar a embarcação que o Destemido estava seguindo e que se encontrava a uma distância mediana do navio da marinha real.

– Não vamos nos preocupar com isso agora. – A voz de Mirana, segura e gentil, se fez ouvir, chamando a atenção das outras duas para a Rainha de Wonderland, que cuidava de Merida como podia, claramente preocupada com a ruiva. – O Príncipe Andersen não os mandaria numa missão suicida, de modo que acredito que tudo correrá bem. – Explicou seu ponto de vista. – O que nós temos que fazer agora é ajudar a Merida. – Soltou um suspiro cansado, sua cabeça latejava de dor desde que deixara o navio de velas vermelhas.

Subitamente, a albina deixou-se cair de joelhos no chão e colocou uma das mãos na cabeça, mantendo a outra em Merida. Fechou os olhos com força, sua cabeça doía bastante, de modo que lhe custava se concentrar em algo.

– Mirana, tudo bem? – Rapunzel imediatamente se levantou de seu lugar e correu ao auxílio da amiga, deixando Alice com Merida fitando as duas de modo preocupado. – O que aconteceu? – A morena questionou aflita.

– Nada, só uma dor de cabeça, eu estou bem. – A Rainha de Wonderland assegurou, abrindo o melhor sorriso que conseguia exibir naquele momento.

Na realidade, sua cabeça se encontrava completamente embaralhada, entre memórias que ela conseguia visualizar bem e aquelas que seu subconsciente estava se forçando a lembrar, o que estava causando aquela dor de cabeça. A albina pressionou os dedos contra a testa com um pouco mais de força, mantendo o gesto delicado, e finalmente se levantou mais uma vez.

– Se não se importam, acho melhor eu descansar um pouco. – Mirana disse ainda com uma de suas mãos em sua cabeça como se para aplacar a dor que sentia e as outras duas assentiram enquanto voltavam a cuidar de Merida, que agora olhava a Rainha de Wonderland com preocupação, querendo ajudar, mas sem condições de se levantar da montanha de cobertores onde se encontrava, principalmente por seu estado não ser dos melhores.

Mirana então seguiu para a cabine que Andersen previamente lhe indicara, deitando-se na cama que havia ali e deixando-se descansar um pouco ali, ainda com os dedos finos e longos pressionando o ponto de origem de sua dor de cabeça.

– Conheço aquelas duas de algum lugar. – A albina murmurou para si mesma, incomodada, fitando o teto da cabine com o cenho franzido enquanto seus dedos delicados lhe massageavam a testa. – Mas de onde? – Perguntou-se.

Não conseguia encontrar uma resposta e sua insistência em vasculhar sua mente em busca de uma em nada contribuía para melhorar seu estado.

– Céus, preciso me lembrar. – Murmurou para si mesma, afinal, de algum modo, sentia que aquilo era importante, não importante para a busca de Anna, mas importante para si mesma, algo que finalmente poderia lhe dar paz de espírito.

Em primeiro lugar, por que aquela morena mudara subitamente de ideia?

– Qual é o seu nome? – Ela olhava diretamente para a Rainha de Wonderland ao perguntar.

– Por que quer saber? – Foi o que Mirana lhe respondeu, nervosa por estar diante de uma pessoa armada e com habilidades sobrenaturais enquanto que ela não tinha mais com o que se defender.

– Não sou o que se chama de pessoa paciente, então responda de uma vez. – A morena sibilou, semicerrando os olhos.

Mirana engoliu em seco.

– Mirana. – Ela finalmente lhe deu uma resposta, mas foi tão vaga que a outra revirou os olhos e bufou impaciente.

– Seu nome completo. – Especificou.

– Mirana Isabelle White Wonderland. – A garota de cabelos brancos declarou sob olhares preocupados dos demais, que se perguntavam o motivo do súbito interesse da capitã do Vingança dos Sete Mares na Rainha de Wonderland.

Então, o mais estranho aconteceu. A morena simplesmente saíra dali e convencera a loira a deixar que eles escapassem, além de também salvar a vida de Merida, visto que a segunda capitã do Vingança dos Sete Mares claramente não faria nada daquilo por vontade própria.

Se Mirana tinha certeza de que conhecia as Capitãs do navio de velas vermelhas, elas também deveriam saber quem ela era, ou pelo menos, a morena parecia saber.

– Obrigada. – Mirana agradeceu, olhando diretamente nos olhos azuis tão familiares, mas sem conseguir reconhece-la.

– Vão embora antes que eu mude de ideia. – Foi o que a morena respondeu, desviando o olhar para um ponto qualquer no convés.

Talvez houvesse mais ali do que apenas duas pessoas que abraçaram a pirataria por puro interesse em tesouros e desordem. Talvez houvesse mais motivos por trás das duas pessoas mais temidas do caribe além de pura crueldade para com a vida humana.

Talvez...

Talvez o sequestro de Anna não fosse simplesmente por puro capricho. Devia haver algo mais por trás disso, afinal elas não haviam pedido nenhum resgate em troca da princesa ou algo parecido e aquelas duas não pareciam do tipo que fazia algo sem um bom propósito, sem uma razão pré-definida. Que razão seria essa? Mirana não sabia dizer.

Tudo o que ela sabia era que talvez, apenas talvez, suas dores de cabeça iriam continuar até que se lembrasse de onde conhecia aqueles dois pares de olhos tão azuis.