Já era noite quando finalmente o Destemido atracou na Cidade dos Piratas, Tortuga. A ordem de Andersen, todos começaram a desembarcar e se espalhar pelo local em busca de informações sobre o navio de velas vermelhas, restando ali apenas Mirana, Alice, Rapunzel e Merida, que ficaram em companhia de Jack e Soluço, encarregados por Andersen de cuidar da segurança das quatro, por mais que todos já tivessem plena consciência de que elas sabiam se defender.

– Então esta é Tortuga? – Rapunzel, incomodada, quebrou o silêncio desconfortável instalado entre os seis que só era cortado pelo barulho estridente e desordenado vindo da Cidade dos Piratas.

– Sim. – Soluço concordou com um gesto curto da cabeça, passando o olhar atentamente pela cidade. – É o lugar onde ancoram a maioria dos navios pirata. – Explicou descontraidamente. – Talvez aqui possamos conseguir alguma pista do paradeiro do Vingança dos Sete Mares e, consequentemente, da Princesa Anna. – Finalizou.

– Então por que estamos aqui? – Merida questionou contrariada, afinal não gostara nada da ideia de ser deixada no navio sob proteção. Não era uma princesa indefesa. – Não devíamos ajudar nas buscas? – Sugeriu, querendo se juntar aos outros tripulantes do navio a procurar sua amiga e, internamente, querendo conhecer a famosa Cidade dos Piratas.

– Andersen pediu para ficarmos aqui. – Jack explicou entediado, brincando distraidamente com o cabo da espada embainhada na cintura.

– E vocês vão obedecer? – Alice alfinetou com um sorriso zombeteiro, trocando um olhar cúmplice com Mirana, o que fez a Rainha de Wonderland soltar um riso baixo que abafou com a mão.

Soluço e Jack se entreolharam. Realmente não viam motivos para a atitude superprotetora de Andersen para com as garotas, principalmente porque ficou bem provado que elas sabiam se defender. Além do fato de que, se elas fossem procurar, eles estariam com elas, estariam seguras. Não era como se tivessem algo a perder contanto que voltassem antes de o Príncipe de Weselton desse por sua ausência.

Os dois assentiram com sorrisos cúmplices e os seis deixaram o navio em direção às ruas de Tortuga. Perguntar às pessoas espalhadas pelas ruas não tinham muito resultado, uma vez que a maioria estava bêbada e dizia palavras sem sentido algum enquanto os outros não sabiam responder ou respondiam apenas a custo de uma briga que nenhum deles estava disposto a ter.

– Espera, eu conheço aquele cara. – Jack apontou para um rapaz loiro de olhos castanhos que reconhecera ter visto no Vingança dos Sete Mares no dia em que a Princesa Anna fora sequestrada.

Aproximou-se sorrateiramente com os outros em seu encalço, semicerrando os olhos na direção do loiro, tendo então a certeza de que o conhecia. Porém, antes que pudesse avançar para ele, Soluço o segurou.

– Não faça nada. – O castanho pediu sem tirar os olhos do pirata integrante da tripulação do navio mais temido do Caribe. – Vamos apenas segui-lo e ele vai acabar nos levando até o navio. – Disse.

Contrariado, Jack assentiu. Mirana, Alice, Rapunzel e Merida também não fizeram objeção, embora se mostrassem bastante ansiosas quanto ao plano do castanho.

Como ordenado por Soluço, os seis continuaram a seguir o loiro pelas ruas de Tortuga sem que ele tivesse consciência. O pirata constantemente parava para trocar algumas poucas palavras com algumas pessoas espalhadas pela cidade até encontrar um homem baixo, já de meia-idade, gordo e de cabelos acinzentados, bem como a barba mal feita. Passara um tempo relativamente grande conversando com o tal homem, porém nenhum dos seis conseguiu ouvir qualquer fração da conversa. Assim que acabaram, o loiro e o homem apertaram as mãos, como se selassem um acordo e o rapaz não tardou em se distanciar dali, ainda sem ter consciência de que era seguido.

– Acha que ele irá retornar ao navio agora? – Mirana sussurrou enquanto andava a passos inaudíveis pelas sombras em perseguição ao pirata loiro que parecia ser sua melhor chance de encontrar sua amiga.

– Tomara que sim. – Soluço respondeu em um tom tão ou mais baixo do que o usado por ela, mantendo seu olhar centrado no rapaz alvo de sua perseguição.

Os demais assentiram e continuaram a seguir o loiro, que vez ou outra olhava para trás ao ouvir algum ruído provocado acidentalmente por parte deles, mas ainda sem parecer desconfiar.

Por fim, sem qualquer aviso prévio em suas ações, o pirata parou de andar em uma parte mais deserta e silenciosa da cidade e se virou na direção onde Soluço, Jack, Merida, Mirana, Alice e Rapunzel se escondiam nas sombras, olhando diretamente para onde eles estavam.

– Não precisam se esconder. Sei que estão me seguindo há tempos. – Ele declarou com um sorriso brincalhão, cruzando os braços e se encostando à parede de uma construção qualquer da cidade.

Contrariados e surpresos, os seis saíram das sombras, permitindo que o loiro os visse, mas ele não teve qualquer reação além de passar o olhar por todos, examinando-os. Por fim, ele bufou entediado.

– O que querem? – Foi tudo o que ele perguntou, não dando a mínima importância por estar em menor número e muito menos por todos os outros estarem armados.

– Você é um tripulante do Vingança dos Sete Mares. – Jack disse e a frase acabou saindo mais como uma afirmação do que como uma pergunta. O loiro assentiu sem dar importância ao fato. – Vocês sequestraram a Princesa Anna de Arendelle. – Foi tudo o que o albino disse, embora estivesse naquela missão por mais do que aquele motivo, como, por exemplo, vingar-se da loira que o havia derrotado em batalha.

– E? – Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu maroto, de bom humor.

– Viemos resgatá-la. – Soluço respondeu inseguro. Aquilo estava sendo estranho demais, fácil demais e o modo como o loiro agia era suspeito demais.

Para a surpresa de todos, o pirata riu divertido, limpando uma lágrima que escorrera por seu olho, sem se dar ao trabalho de abafar o riso ou reprimi-lo.

– Claro. – Assim que parou de rir, concordou com ironia, passando mais uma vez o olhar pelas seis pessoas que olhavam para ele. – Se acham que vão conseguir, vão em frente. – Gesticulou para a parte aberta do local onde estavam, onde, finalmente, Jack, Mirana, Soluço, Alice, Rapunzel e Merida puderam ver o navio de velas vermelhas ancorado.

Todos retiraram as espadas até então embainhadas e apontaram para o loiro, mas ele apenas levantou os braços como se estivesse se rendendo e sorriu divertido, arqueando uma sobrancelha de modo desafiador.

– Não vou impedi-los. – Ele afirmou e, por mais que todos buscassem encontrar qualquer resquício duvidoso ali, o loiro não parecia estar mentindo. – Vão em frente, se quiserem. – Deu de ombros e abaixou os braços.

Entreolhando-se, mas ainda sem guardar novamente as espadas e, no caso de Merida, a pistola, todos começaram a avançar em direção ao navio, por mais que também mantivessem um olhar atento no lugar onde o loiro estava.

– Mas eu não faria isso se fosse vocês! – O loiro disse em tom relativamente alto, uma vez que já estavam distantes, chamando mais uma vez a atenção dos seis para si. – Se querem viver mais um pouco, sugiro que deem meia volta! – Ele advertiu, em nenhum momento tirando o sorriso dos lábios. – Mas como eu disse, não irei impedi-los de irem até lá, não irei impedi-los de se matarem! – Piscou e saiu andando em direção à cidade, desaparecendo por entre as pessoas espalhadas por ali.

Mirana, Alice, Rapunzel, Jack, Soluço e Merida se entreolharam com preocupação. Todos ali sabiam da reputação do navio de velas vermelhas, bem como da tripulação e, mais ainda, das capitãs. Porém, Anna estava em perigo e eles precisavam ajuda-la.

Foi com isso em mente que mais uma vez começaram a se aproximar do navio onde se encontrava a Princesa de Arendelle.