Uma Flor para Akemichi

O dia dos namorados estava se aproximando. Normalmente, para mim, ele não passava de um dia atribulado em que eu seria cercado – várias vezes, muito mais que o normal – e lotado de chocolates por garotas que eu sequer conhecia. Eu até gosto de todo esse assédio e atenção, porém, sei lá, isso já era algo tão normal no meu dia a dia...

Ah, mas nesse ano, em particular, essa data passou a ter um outro significado para mim. Eu nunca fiquei tão pensativo a respeito de algo como tenho estado, nos últimos dias. Afinal, agora, tenho um motivo mais que especial para minhas expectativas em relação ao dia dos namorados: Akemichi.

Akemichi é uma garota que conheci no fim do ano passado. Longos cabelos negros e belos olhos verdes. Ela se mudou para Kaijou por meio de transferência escolar. Apesar de ser uma novata em nossa escola, ela não demonstrava insegurança, nem em seu primeiro dia. Logo que pus meus olhos nela, já vi que tinha algo de diferente; ela não era como a maioria das garotas.

Não demorou para eu notar sua presença em nossos treinos; ela comparecia assiduamente e nos observava com a atenção de quem não estava apenas “olhando garotos”, mas sim assistindo à partida. O interesse dela pelo basquete chamou ainda mais minha atenção. A única garota que eu já vira se interessar mais pelo jogo do que pelos jogadores numa partida de basquete foi a Momoichi. Fiquei tentado a conhecer melhor essa garota misteriosa.

Aproximar-me dela foi um pouco – muito – mais difícil do que eu esperava, mesmo com toda a minha lábia e simpatia. Mas, no fim, tanto insisti que consegui! E devo confessar que foi uma das coisas que mais valeu a pena, em toda a minha vida. Quanto mais eu a conhecia, mais eu me encantava.

Ela realmente gostava de basquete assim como a Momoichi, mas seu temperamento era bem diferente do dela. Akemichi era espontânea, vivaz e me tratava como se eu fosse um amigo de muitos e muitos anos. Falava o que queria, abertamente, sem medo. Estava longe de ser mais uma dessas minhas fãs puxa-saco; pelo contrário, sentia-se livre para me dar uns puxões de orelha quando achava necessário, mas era muito carinhosa também.

De início pensei que seria apenas uma linda amizade, porém, um dia, a vi conversando com outro garoto, animadamente. Tive a certeza de ter sentido um clima de flerte no ar. E então conheci o que era “ciúme”. Pois é, certo tempo depois, me peguei assim...apaixonado. Kasamatsu-senpai foi o primeiro a perceber, até mesmo antes de mim. Aliás, foi graças às provocações e piadinhas dele quanto ao assunto que eu acabei caindo na real com relação aos meus sentimentos.

Mas o grande problema era: “Como me declarar?!”

Eu não sou tímido, não é isso. Mas...bom, nunca tive que me declarar??? As garotas costumavam se declarar pra mim e não o contrário. Além do mais, como eu já disse, Akemichi não é como a maioria das mulheres.

Fiquei enrolando durante um tempo, pensando, até que decidi que o Dia dos Namorados, seria a data perfeita para me declarar. Nossa, cara, seria muito romântico! Agora, falta pensar em um jeito pra chegar nela. E sim, eu estou nessa conversa toda sobre o Dia dos Namorados, mas ainda falta uma semana até lá.

Tentei pedir ajuda ao senpai, mas rá....ele só caiu em gargalhada, chorando de tanto rir. À quem mais eu poderia recorrer?......AH! Momoichi! Como eu não pensei nisso antes?!

Em alguns minutos, eu já estava no centro de treinamento de Touo.

– Momoichi! – acenei, sorrindo ao rever minha velha amiga.

– Kise-kun! – sorriu, retribuindo o meu aceno e me fazendo um sinal para que esperasse. Apitou o jogo e dispensou o time para uma pausa de 15 minutos – Kise-kun! Mas que surpresa! Ao que devo a honra da sua visita aqui? – veio saltitante e me deu um abraço.

– Preciso da sua ajuda, Momoichi! – segurei nas mãos dela e fiz o olhar mais pidão que consegui.

– O que aconteceu, Kise-kun!? – me olhou já preocupada, com dó. Bingo! Tinha funcionado!

Expliquei a situação para minha amiga, que logo entendeu tudo. Momoichi era realmente rápida no gatilho.

– Ora, Kise! Isso é fácil! Flores! Toda mulher gosta de flores!

– Bem...ela não é como as outras garotas, Momoichi...

– ....hã? Do que ela gosta então? – levantou a sobrancelha, colocando uma mão na cintura, curiosa.

– Er......basquete?

– Uhm..... – colocou a outra mão no queixo, pensativa por alguns segundos, para logo mais bater uma mão fechada na palma da outra – Já sei!

– ...???

– Semana que vem, bem no Dia dos Namorados, vai ter um campeonato regional. Coisa simples. Mas será em comemoração ao festival das flores...

– Ah, sei qual é. Mas o que isso tem a ver?

– Calma, Kise-kun! Deixa eu terminar, né!?

– Ops...gomen ne...

– Enfim, o troféu do campeonato...

– Hum...

– Ele é lindo. Foi feito em homenagem ao festival então.... – fez um sinal com os dedos, como se a resposta daquilo fosse algo lógico.

– ....e?

– Nossa, Kise! Festival das Flores!!! O Troféu vai ser inspirado em uma flor! Se ela é uma mulher e gosta de basquete...duvido resistir à uma flor...troféu de um campeonato de basquete!!!

– Ahhh!!!! Entendi!!! Você é um gênio Momoichi!!!

– Haha! Modéstia à parte...eu sei!

– Mas como vou entrar nessa competição? Kaijou viajou para um campeonato em outro país. Só não fui por causa da minha saúde, como você já sabe....o treinador disse que era melhor me poupar de jogos muito exaustivos.

– Hum...é, temos que formar um time. Infelizmente não podemos contar com o baka do Aomine. E Akashi e Murasakibara estão viajando, pra esse mesmo campeonato internacional. Por que não chamamos o Tetsu-kun?!

– Boa ideia, Momoichi! Com certeza o Kurokochi não me negaria ajuda. Mas ainda assim, seríamos só dois. Precisamos de cinco!

– Se chamarmos o Tetsu-kun...com certeza aquele estouradinho, amigo dele, não vai querer ficar de fora.

– Ah....o Kagamichi....

– O próprio. E daí com o Midorin e o Takao, já dão cinco! – abriu um sorriso de vitória.

– Hã?! Midorimachi? Infelizmente, não acho que ele vá querer nos ajudar nisso, Momoichi....

– Cuide de chamar o Tetsu-kun que do Midorin cuido eu! E dou um jeito de arrastar o Takao junto.

– Mas como...?

– Takao faz tudo o que o Midorin manda. Fácil.

– Mas...

– Vou passar na casa do Midorin assim que acabar o treino aqui. E de lá vou tratar de nos inscrever no campeonato regional. Eu serei a técnica, claro!

– Ahm...tudo bem. Conto com você, Momoichi! Arigatou!

Saindo de lá fui conversar com Kurokochi, que logo se prontificou a ajudar. E como Momoichi havia previsto, Kagamichi disse que não ousássemos deixa-lo de fora, afinal estava farto das férias de Seirin.

Mais tarde, quase ao anoitecer, Momoichi me ligou pra avisar a data e a hora dos treinos. Não entendi o porquê de treinar, afinal, era só um campeonato regional, algo bem fácil; mas nem quis questionar...conhecia Momoi o bastante pra saber que não escaparia dessa.

– Ohayou, Kise-kun! – Sastuki acenou, Midorimachi e Takao já estavam lá.

– Ohayou, minna... – olhei meio desacreditado para Midorimachi. Afinal, que raios a Momoichi fez pra convencê-lo? Ele nunca que se prestaria a participar de um campeonato de baixo nível só pra me ajudar com a minha garota...

– Ah! Olha só! Tetsu-kun chegou! – e lá se foi Momoichi correndo pra adular Kurokochi.

– Ahm... – olhei para Midorimachi, que estava com a cara mais fechada que o de costume – Midorimachi...

– O que é? – respondeu seco.

– O que é que a Momoichi fez pra...

– Não é da sua conta. – franziu o semblante, incomodado.

O treino correu bem. Momoichi sempre foi uma excelente técnica e soube equilibrar o time. Fazia tempo que eu não jogava com Kurokochi e Midorimachi. Foi divertido reviver um pouco os velhos tempos.

Embora eu não fosse me esforçar muito nesse campeonato, Momoichi quis avaliar meus limites, a fim de não excedê-los e também para fortalecer minha perna. Por mais que as partidas fossem fáceis, elas eram demoradas, como toda partida de basquete o é; o que poderia me levar à estafa. Ainda mais nesse campeonato regional, onde todas as partidas seriam feitas uma atrás da outra. E nós estávamos apenas com 5 jogadores, sem nenhum reserva.

A semana passou voando e quando dei por mim, já estávamos no dia do jogo. Eu estava um pouco nervoso. Besteira, eu sei; mas ganhar aquele campeonato significava muito pra mim.

As partidas correram bem. Estávamos ganhando sem muito esforço, embora tivessem alguns jogadores até bons. O problema é que minha perna começou a “reclamar”. Sentei no banco suando frio, já arfando um pouco.

– Kise-kun... – ouvi a voz de Momoichi, que colocou a mão no meu ombro, me dando uma garrafa de água gelada – ...adivinha quem está te assistindo, desde o começo dos jogos, hoje de manhã?

Ao ouvir essas palavras, minha visão voltou ao foco e imediatamente vasculhei a arquibancada inteira em busca daqueles olhos verdes. E os encontrei. Temerosos, preocupados. Mas assim que notou meu olhar no dela, ela sorriu, disfarçando qualquer traço de angústia.

– VAIII KISE!!!! VOCÊ CONSEGUE!!! – a voz doce soou, firme, me devolvendo todas as forças de que eu precisava.

Joguei a partida toda apenas com um pouco de incômodo. Talvez o treinamento de Momoichi tivesse surtido efeito...mas o que eu mais sentia...era a presença “dela”. Em movimentos rápidos e precisos, segurava os passes como se cada bola lançada fosse uma chance a mais de chegar à ela. Venceria aquele campeonato por Akemichi.

– Mas esse Kise tá fominha, hein! Tá encestando todas. – ouvi Kagamichi reclamando em algum canto, quando enterrei a última cesta do jogo.

Ganhamos por 181 a 25. E o campeonato era nosso! Momoichi comemorou a vitória como se tivéssemos vencido um campeonato mundial. E, de fato, me senti da mesma forma. Recebemos o prêmio e também o troféu, que realmente era lindo, tal qual Momoichi havia dito. Era feito de cristal e tinha um belo lírio esculpido por dentro da primorosa pedra. O time também comemorava, com exceção do Midorimachi.

– Satsuki...não vá se esquecer do que prometeu!

– Ahhh...claro, Midorin! – sorriu.

– Momoi-chan...o que você prometeu ao Midorima-kun? – Kurokochi também não escondeu a curiosidade.

– Ahhh, prometi sessões de treino intensivo por um ano! Hahahaha!

– Sim, sim.... “treino intensivo”.... – Takao caçoou, cutucando Midorimachi com o cotovelo.

– É treino sim! E daí?!

– Vou fingir que acredito que se deu ao trabalho de tudo isso por causa de sessões de treino, Shin-chan! E...AIIII! Minha cabeça! Por que me bateu!?

– Pra você aprender a parar de falar asneira!

– HAHAHAHAAHAHA – todos riam, alegres com a vitória. Foi quando a vi se aproximar.

– Kise... – sorriu – Você jogou tão bem! Suas jogadas estavam incríveis! Parabéns!

– Akemichi... – sorri de volta – E você, como sempre, não perde a oportunidade de assistir um jogo, hein?

– Todo o jogo que você joga, né, Kise-kun! – Momoichi chegou por trás, bagunçando meus cabelos e fazendo Akemichi enrubescer com aquele comentário – Estaremos lá fora. Fiquem à vontade, viu? – saiu, dando uma piscadinha.

– Ah...Kise-kun. Eu... – Akemichi realmente havia ficado balançada com o comentário da Momoichi. Ciúmes não era. Nós sempre conversávamos muito e ela sabia que Momoichi era apenas uma velha amiga. Seria só um constrangimento? Ou eu teria realmente esperanças...?

– ..... – sem pensar duas vezes, estendi o troféu para ela.

– Nossa, Kise-kun! Que lindo! – exclamou, maravilhada.

– É pra você. – sorri.

– Hã?!

– Uma flor para Akemichi! Quer namorar comigo?

Ela enrubesceu tal qual uma rosa e seus olhos brilhavam límpidos como o orvalho nos campos verdes. Ela pulou, enlaçando seus braços em meu pescoço, num abraço forte. E eu soube que havia ganhado a minha flor. O mais precioso troféu: seu coração.

Feliz Dia dos Namorados!