–Hermione.

Eu ouvia. Eu ouvia.

–Hermione, desculpe.

Não adianta nada.

–Hermione, você está bem?

Não. Eu não estava.

–Hermione.

Para quê repetir meu nome tantas vezes?

–Hermione, eles estão em um lugar melhor agora.

Eles não estavam comigo.

–Hermione, o enterro vai acontecer amanhã.

Eu não ligo.

–Hermione, sei que é difícil para você.

Não sabia.

–Hermione.

Já entendi que era comigo.

–Hermione, tenho certeza que todos eles estão sorrindo lá no céu.

Não tinha como ter certeza.

–Hermione, eles não iriam querer te ver assim.

Ninguém sabia nada sobre eles.

–Hermione, olhe para mim.

Já estava cansada daquela voz.

–Hermione, pare!

Pronto. A voz estava calada.

–Hermione, o que você fez?

Nada.

–Hermione, não podia ter feito isso.

Mas eu fiz.

–Hermione, está sendo difícil para mim também.

Não tanto quanto para mim.

–Hermione, Rose e Hugo devem estar muito tristes por causa disso.

Como ousam falar os nomes deles? Talvez essa voz também deva ser calada.

–Hermione, meu amor.

Ela tinha cabelos tão ruivos.

–Hermione, pense no que está fazendo!

Sua gargalhada era tão inocente, tenho certeza que estaria rindo agora que a voz parou.

–Hermione.

Ele gostava tanto de sorrir.

–Hermione.

Tinha uma covinha na bochecha.

–Hermione.

Os dois gostavam de me abraçar.

–Hermione.

Os cabelos dela brilhavam ao Sol.

–Hermione.

Os olhos dele estavam sempre animados.

–Hermione.

Ela era tão inteligente.

–Hermione.

Ele era tão doce.

–Hermione.

Eles eram tão bonitos juntos.

–Hermione.

Eu os amava tanto.

–Hermione, você... Você... Não consigo entender, Mione...

Que chata essa voz.

–Hermione! Não, não! Sou eu, a Gina!

Pronto. Silêncio de novo.

–Hermione, não acredito!

Não acredita em que?

–Hermione, eu te odeio!

Eu também.

–Hermione, já fizemos de tudo para você melhorar!

Tudo o que?

–Hermione, eu não aguento mais!

Eu não me importo.

–Hermione, o Harry!

Sim. O Harry.

–Hermione, o Rony!

Sim. O Rony também.

–Hermione, a Gina!

Sim. A Gina.

–Hermione, você não está bem!

Não, não estava.

–Hermione, para que fez isso?!

Eles falavam muito.

–Hermione, você é um monstro!

Sim. Eu era.

–Hermione, você vai ficar aqui até ficar melhor.

Eu nunca ficaria.

–Hermione, me desculpe.

Para que eles falam tanto isso?

–Mamãe, vamos.

Mamãe. Era assim que eles me chamavam.

–Já vou, Gui.

A voz chata respondeu.

–Hermione, adeus.

Eles me fecharam na sala branca.

Eu não conseguia chorar.

Minha vida.

Eu precisava estar com eles.

A enfermeira entrou. Como sempre.

Ela sorriu. Idiota.

Ela deixou um cartão na minha escrivaninha, e começou a tagarelar.

Eu peguei a varinha dela.

Berrei duas palavras.

O raio verde não a atingiu.

Ela gritou e saiu correndo.

Eu virei a varinha para mim.

Gritei as duas palavras.

E pude ouvir alguém sussurrar “Mamãe”.

Já vou buscar vocês.

Desculpe se me atrasei.

Tenho certeza que eu e vocês vamos ser muito felizes, sem nenhuma voz chata.

Felizes para sempre.