InFamous: A Tirania de Rowe escrita por Thuler Teaholic


Capítulo 13
Queda


Notas iniciais do capítulo

Surpresos em me ver tão cedo? Eu estou
Olha, estou sentindo falta de uns comentários, minhas flores de maio, e talvez uma recomendação caia bem.
Sei lá, só dizendo
Agora, sem mais delongas...



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Lee entrou em seu quarto esfregando os olhos, a cabeça leve do álcool e confusa por aquela coisa que Emerick colocou. Bateu a porta atrás de si e trancou-a, dando duas voltas na chave para ter certeza que não seria incomodado.

Despiu a jaqueta e deixou que caísse no chão, ela sabia chegar ao guarda-roupa sozinha. Entretanto, uma pontada de culpa o atingiu.

– Olha só pra ela. – Lançou um olhar sensível para a jaqueta. – Caída ali, toda triste, a mercê dos ácaros.

– Qualé! – Repreendeu-se. – Ela é de couro, sabe se virar.

Cambaleou até o banheiro, indo tirar uma água do joelho para hibernar sem problemas, como um urso.

– Mas ursos não usam toda água para manterem-se hidratados durante a hibernação? – Imaginou um urso bebendo o próprio mijo e achou a cena engraçada, e gargalhou com gosto. Não conseguia parar, a garganta já estava doendo, os olhos ardiam e as entranhas ameaçavam explodir, mas ele não conseguia parar.

Apoiou-se na pia para recuperar o ar. – Caralho... – Comentou com lágrimas nos olhos, abrindo a torneira e jogando água no rosto, observando um redemoinho se formando no ralo. Redemoinhos eram irados, eram como mini buracos-negros.

Foi acometido por uma ideia, fazer uma arma que disparasse pias, e quando as pias atingissem algo, iam quebrar e formar um buraco negro, destruindo tudo no caminho. Uma arma de pias seria o bastante para destruir os Infames de uma vez por todas, e duas o bastante para dominar o universo! Uma pia grande o bastante poderia engolir o universo, e o poder seria detido por aqueles capazes de criar as maiores pias e produzi-las em massa. Gerando um equilíbrio, o perfeito deterrence.

Lee acabara de revolucionar a guerra.

E essa revolução o deixou com uma fome dos infernos, uns amendoins cairiam bem.

Não! Os amendoins teriam de esperar, Lee precisava criar uma máquina que disparasse pias o mais rápido possível para vencer essa guerra desumana e sem-rosto que destruiria as vidas de milhões.

– Caralho. – Disse pela segunda vez. – Eu to muito louco, né? – Olhou para o espelho e não viu ali o cara bonito que sempre estava lá, pronto pra concordar com ele. Em vez disso, um sujeito com olhos encovados e mãos trêmulas o encarava, as órbitas estavam esbugalhadas e injetadas atrás dos óculos tortos, a língua branca retorcia-se pelos lábios em uma cegueira de verme, o cabelo longo estava escondido sob um gorro escuro e apertado, uma barba rala crescia em seu rosto magro e prematuramente envelhecido.

Acometido por uma sobriedade súbita, seu corpo rejeitou o álcool e a droga em seu estômago, fazendo com que vomitasse na pia.

Abriu a torneira e sorveu avidamente, tomado por uma sede que nunca sentira antes, mas a água queimou em seu estômago, fazendo com que Lee voltasse a regurgitar.

Voltou a se olhar no espelho e arrancou o gorro maltrapilho, sentindo os cabelos longos e sebosos coçarem terrivelmente em contato com o ar. Coçou até sentir o couro abrir, o que foi muito pior.

“Estou errado.” Pensou ao ver a massa nojenta de cabelo que antes exibia com orgulho, as unhas quebradas e sujas que lixava de forma afetada, o óculos sujo e torto que lhe ressaltava uma seriedade que nunca existiu, os olhos baços e perdidos que já foram tão dolorosamente juvenis, os dedos retorcidos e inquietos que eram tão calmos, até sua língua estava errada.

“Já chega, isso tem que acabar, nunca mais me drogo” – Nunca mais bebo! – Concluiu em voz alta.

– Então somos dois.

Lee olhou no espelho com olhos desfocados e viu que não estava sozinho, um homem estava de pé no meio do quarto, olhando para ele e sorrindo pelo espelho. As mãos balançavam ao lado do corpo e a cabeça pendia levemente para o lado. Não reconheceu o rosto, mas reconheceu a voz.

– Reginald? – Cerrou os olhos e estudou o reflexo, a pele acobreada e a aparência jovem foram um pouco chocantes, ele esperava um cara alto, pálido, sem um olho e com uma cicatriz nos lábios.

– Lembra de mim? Estou tocado. – Ele pousou a mão sobre o coração de forma dramática.

– Como você entrou? – Dirigiu um olhar para a janela que batia e viu que um sol tímido já se infiltrava por ali. – Pela janela?

– Não. – Respondeu divertido, desatando a rir. – Não, porra! – Respirou fundo e acalmou os ânimos. – Não, foi pela porta mesmo, estava aberta e eu estava passando e vi você aqui trancando seu guarda-roupa e ouvi algo sobre uma guerra baseada em pias. – Coçou o queixo. – Pensei em dar uma passadinha e ver como você está. – Olhou para ele com um olhar reprovador. – Mal, pelo visto.

Lee passou a mão pela barba. – Mas se você é o Reginald, onde está aquela fantasia ridícula?

– Ah, eu dei um fim nela, não era minha. – Riu como se lembrasse de algo engraçado. – Um grupinho de insurgentes usava aquelas fantasias, ai eu... – Parou para gargalhar. – Eu matei um deles e roubei a roupa e... – Apoiou as mãos nos joelhos. – Quando a gente se encontrou no topo daquele prédio mês passado, eu estava seguindo um deles.

Lee se apoiou na moldura da porta do banheiro - Bem, se esse é o caso, porque você me ameaçou? – Ainda tinha uns sonhos bem estranhos em relação ao homem pássaro.

– Bem, eu já ia fazer aquilo de qualquer forma, você só teve o azar de esbarrar comigo vestido daquele jeito.

– Ok. – Lee pegou sua jaqueta. – Sabia que você fodeu com a minha cabeça, né?

– Sabia.

– E então?

– Então o que? – Reginald piscou. – Cara, eu to bêbado pra cacete, perdi a linha do raciocínio.

Lee suspirou. – Tá bem, ok, esquece isso. – Pendurou a jaqueta no beliche. – Tem algo pra me dizer?

– Ah sim, duas coisas. – Disse como se recordasse o que o trouxera ali. – Você tem nove minutos.

– Para?

– Outra. - Reginald ignorou e prosseguiu. - Seu companheiro de quarto, sabe?

– Lemitz? – Lee nutria certo desafeto pelo condutor de poeira. – O que tem com aquele idiota?

Reggie passou o dedo pela garganta.

– O que? Morto?

– Sim, bem morto. – Assentiu.

Não ficou exatamente chocado, mas sim curioso. –Como? Foi o Forrest?

– Essa é a segunda coisa.

– Mas a coisa antes não foi a segunda coisa?

– Talvez, bem que poderia ter sido o Forrest, ele estava puto da cara com aquele copo. – Reggie imitou a expressão do barman.

– Verdade, e aquele soco que ele deu no cara. – Lee sorriu. - Ho-hoho, feliz natal, filho da puta! – Ambos riram como velhos amigos. – Você estava lá?

– Sim, eu estou em todo lugar. – Respondeu casualmente.

Aquilo esfriou um pouco o clima amigável.

– Ah... Ok... – O condutor de fumaça falou com constrangimento. – Mas então...

– Então? – Reggie ainda sorria.

– Quem matou ele? – Reginald estava bem perdido.

– Sim! Era isso. – Apontou o dedo para Lee como se ele tivesse dito algo genial. – Essa é a segunda coisa. – Limpou a garganta. – O cara que matou o Lemitz é o seu novo companheiro de quarto.

Lee não entendeu a princípio, depois de um tempo a ficha caiu. – Meu novo companheiro de quarto é um maníaco homicida?

– Maníaco, não. Homicida, sim.

– Ah, muito melhor! – Vestiu a jaqueta. – Vou nessa!

– Não! – O outro cortou. – Você vai ficar, essa é a terceira coisa.

– Mas você disse que eram duas, porra! – Exclamou.

– Tá cara. – Abanou a mão para afastar esse detalhe. – O nome dele é Hunter...

– E você acha que eu ligo pra isso? Eu vou embora!

– Não mesmo. – Balançou a cabeça teimosamente. – Você fica.

Olhou irritado para Reginald, ele era uns centímetros mais baixo e não tinha uma aparência muito intimidadora, parecia um vândalo, apenas.

– E o que te faz pensar que eu iria compartilhar meu quarto com um sujeito que pode abrir minha garganta enquanto eu durmo – Cruzou os braços.

– Ele é um cara legal. – Respondeu na defensiva.

– Ah, um assassino bem legal, imagino.

Reginald foi até Lee, com uma expressão fria. – Vai me dizer que nunca matou ninguém? – Bateu o pé. – Porra! Isso aqui é uma guerra! Sem falso moralismo! – Lee viu as narinas dilatadas de Reggie e abaixou a crista, fazia tempo que ele não tomava um sermão.

Mais calmo, ele acrescentou. – Ele é importante, você também, e a Yasmine também. – Disse sem bajulação. Lee se arrepiou ao pensar na condutora de tinta, a quem nunca mais havia visto. – A diferença é que ele é um normal.

O condutor de fumaça franziu o cenho. – Então, por que ele seria importante?

– Justamente por isso, ele é um normal que consegue matar condutores, deixou de ser cordeiro para virar um lobo. – Deu as costas para Lee. – Ele luta essa guerra sozinho, e é muito bom no que faz.

– Certo, entendi. Mas mesmo assim, ele é só um normal, então ele é fraco, não é?

– Muito pelo contrário, irmãozinho, nunca ouviu que o melhor é o que faz o mesmo com menos?

Negou com a cabeça. – Nunquinha. – Pensou um pouco. – Mas entendi o conceito. – Olhou de forma inquiridora para Reggie. – E pra que você precisa dele... Ou de mim, ou da Yasmine?

– Eu preciso apenas dos melhores. – Disse rapidamente. – Preciso deles para... – Interrompeu-se, como se a sobriedade súbita fizesse-o pesar as palavras. Correu para o banheiro e vomitou lá. – Desculpe. Essa era a primeira coisa. – Limpou a garganta. – Onde estávamos?

“Ele sabia que tinha mais nove minutos de embriaguez?” Lee abriu a boca, mas fechou logo em seguida, elaborando um pouco mais. – Você estava dizendo que precisava da gente para algo. O que, isso é o que eu quero saber.

– O mesmo de antes, Leander, colaboração. – Olhou para Lee através do espelho. A voz voltou a ser o que era antes, lenta e com as palavras devidamente medidas e pesadas. – Serei franco com você, o mundo está um caos e ninguém consegue se virar sozinho por aí por muito tempo. – Dirigiu-lhe um olhar sério. – Quero que seja meu aliado. – Lee ia objetar, mas foi cortado por Reggie. - Já respondendo sua próxima pergunta, eu preciso da sua ajuda para vencer essa guerra.

– Sim, isso eu já imaginava. – Ele resmungou para reflexo. – Mas a questão aqui é: Para qual lado?

Reggie suspirou, claramente decepcionado. – E faz diferença?

– É claro que faz! – Respondeu exasperado. – Não vou virar a casaca para os Infames!

– Mas eles são tão diferentes de vocês, Lee? – Reggie manteve o tom controlado. – Ambos os lados só querem uma coisa: Supremacia. Mas, diferente dos Infames, os Rebeldes jogam um pano sobre isso, afirmando que querem destronar Rowe.

– E é isso que nós queremos! – Retrucou, ainda alterado.

– Eu não duvido de você, e acredito que todos os Rebeldes afirmariam isso, que seu único objetivo é acabar com o Rowe. Não é esse o ponto. – Fez uma pausa breve. – O ponto, Lee, é o que aconteceria se o Rowe fosse liquidado? Você sequer pensou nisso?

Lee não havia pensado nisso, e o silêncio deixou isso claro.

– Quando os Infames caírem, os Rebeldes assumirão o poder e a história vai se repetir. – Aproximou-se alguns passos de Lee. – Ou você morre herói, ou vive o bastante para ver você mesmo virar o vilão. Então, quanto tempo vai levar até que vocês sejam os caras maus? – Não deu tempo para que Lee refletisse. – Isso é normal, corre em nossas veias e é o que todo condutor procura, anseia e, quando acha, se vicia. – Seu olhar ficou grave. – O poder, Lee, ele corrompe.

Aquelas palavras vibraram no condutor de fumaça. Reggie respirou fundo e saiu do banheiro, limpando o rosto com as costas da mão.

– E qual é, exatamente, seu plano? – Decidiu fazer o jogo dele, só porque sabia que ele já estava fazendo jogo com Lee há muito tempo.

– Ainda bem que perguntou. – Reggie fez um anel com o anelar e o polegar, estalando as unhas compridas uma na outra. – Eu pretendo acabar com esse joguinho de poder. Bem, mal, essa merda toda precisa acabar.

– Como?

– Matando Delsin Rowe.

Lee riu. – Ora, então esse teatro todo foi a fim de que?

Reginald uniu as mãos às costas e caminhou até a janela, olhando para a manhã lá fora. – Fico feliz por ver que você está prestando atenção. – Riu de forma contida. – Mas esta é só uma parte. Não é o Rowe quem eu quero matar.

– Ué? Não entendi. – O condutor de fumaça cruzou os braços, esperando uma explicação.

– Se fosse qualquer um lá, bem ou mal intencionado, ele teria que cair. – Dito isso, acrescentou. – O rei deve morrer. – Voltou a olhar para Lee, com um sorriso superior. – Agora, que ficou claro que isso não é uma questão de “bem” ou “mal”, a segunda parte do plano consiste na liberação.

– E o que isso quer dizer?

– Vou responder com outra pergunta. – Lee revirou os olhos. – O que tem ao norte?

– O Canadá?

– Isso, e o que tem ao sul?

– O México?

– Certo de novo. Agora, o que nos impede de ir até esses lugares?

Lee viu onde ele queria chegar. – Você quer destruir a cerca?

Ele assentiu.

– Mas todos que se aproximam da cerca são mortos, torres de tiro e soldados só esperando para crivar um condutor de balas. – Leander imaginou que Reginald diria. “Puta, esqueci! Ok, esquece tudo isso, valeu, falou!” .

– Eu sei, mas precisamos mostrar para o mundo lá fora que nós não somos monstros. Eles nos deixando passar, esse é o meu plano.

– Como?

– Bem, você encontrou a primeira falha no meu plano. Não sei como convencê-los. – Sorriu de forma irônica. – Acho que é porque nós somos monstros, mesmo. – Aproximou-se de Leander o olhou-o nos olhos, era alguns centímetros menor que o condutor de fumaça. – É para isso que eu preciso do Hunter e de você e da Yasmine.

Lee havia ficado impressionado com a eloquência do ex-pássaro. – E por que eu?

– Você é forte, bom com facas, flexível e, o mais importante. – Sorriu. – Não é idiota.

Retribuiu o sorriso e fez a pergunta que sabia que devia deixar por último. – E onde eu entro nessa sua revolução, exatamente?

O sorriso de Reggie lampejou. – Isso fica para depois. – Abriu a porta do quarto e saiu para o corredor, sumindo. – Eu volto... – Jogou algo que Lee pegou no ar, era um colar com duas águias de costas uma para outra em um círculo, com um vão no formato de uma estrela de ponta-cabeça no meio, o vão era cortado por um raio. Era idêntica a aquela que dera para Yasmine. - Parceiro.

Quando os passos de Reginald desapareceram, Lee deixou um longo suspiro escapar, um que ele segurava há bastante tempo, e caiu na cama.

Sentia-se estúpido, havia concordado com Reginald com muita facilidade e não gostava de ser fácil, mas, por outro lado, precisava depositar sua confiança em alguém desde que Hugo partiu.

Ele decidiu arriscar, deixou-se cair.

Logo confirmaria se essa queda fora para bem ou para mal.

Levantou e pegou uma lâmina de barbear em sua gaveta, indo para o banheiro e tirando uma lixa de cima do espelho.

– Mas antes, preciso ficar apresentável para meu novo colega de quarto normal-homicida. – Sorriu. – Ele vai se apaixonar por mim. – Deu risada e começou a se ajeitar, pendurando o colar no pescoço sob a camisa.


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Notas finais do capítulo

Provável que Hugo e Marie apareçam no próximo, e acredito que vai ser um capítulo longo e cheio de ação.
Esperemos
Até a próxima



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