O primo escrita por Miss Fictions


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeei! Faz um tempinho que não posto nada hahah Mas ainda continuo com um leve bloqueio, aos poucos vou vencendo ele... Essa história me veio do nada, comecei a escrever no sábado e terminei ela hoje. Espero que gostem! Não esperem por algo extraordinário, é realmente só um romance de ensino médio :3 Boa leitura!



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Dizem que o Ensino Médio é um grande sofrimento do inicio ao fim, mas essa não é a impressão que estou tendo. Quero dizer, as provas são infernais, claro, mas todo o resto é legal. Pelo menos na minha escola. Todos são amigáveis, os festivais são divertidos, o prédio mesmo tem vários pontos legais pra sentar com seus amigos e conversar... Estou gostando muito mais do que esperava.

Eu tinha uma ideia de que não seria ruim, já que Mikasa está um ano a frente de mim e disse que não é lá muito diferente do ginásio, mas ela não é a pessoa mais empolgada do mundo para se confiar com opiniões desse tipo. Armin está gostando também; ele já se envolveu com o conselho estudantil e com vários grupos de estudo.

O problema é, eu vejo todos ao meu redor tendo relacionamentos e casais se formando do nada, como o Connie e a Sasha por exemplo (quando isso aconteceu?), e eu pareço ser o único nada interessado nessas coisas. Ok, o Armin não está interessado também, mas ele se identifica como assexuado e eu não acho que eu esteja nesse extremo. Eu apenas, sei lá, não estou no clima ainda. Jean diz que eu sou o único com 15 anos de idade em negação desse jeito, mas eu ignoro. Terei minha vez um dia.

“É sábado, vamos pro fliperama gente?” Pergunto, enquanto caminhamos de volta da escola.

“Não posso, vou buscar meu primo no aeroporto com meus pais...” Mikasa murmura, mexendo em seu celular.

“Oh, ele vai chegar hoje? Achei que ele viria amanhã...” Armin pergunta, curioso.

“Sim, meus pais concordaram que ele deveria chegar o mais cedo possível.” Ela guarda o celular na bolsa, suspirando.

“Estou ansioso pra conhecê-lo. Você não ‘tá, Eren?”

“Uh, sim.” Minto. Na verdade eu imaginava que ele seria um cara gigante e durão, quase como uma versão masculina da Mikasa, e os dois iam falar de esporte o dia todo.

“Por favor sejam legais com ele na segunda. Ele ‘tá passando por umas coisas tensas no momento, e acho que ele precisa de amigos.” Ela pede, um tanto preocupada.

“Claro!” Armin prontamente promete. “Nós faremos ele se sentir em casa rapidinho.”

“Obrigada, gente.”

Mikasa logo vira na esquina de sua rua e nos despedimos. Armin caminha comigo pelo resto do caminho, já que ele é meu vizinho, e nós apenas conversamos sobre qualquer coisa nada importante durante a caminhada.

~*~

Confesso que eu me esqueço totalmente sobre o primo da Mikasa durante o final de semana. Papai tinha o dia livre, então mamãe e eu cozinhamos um almoço especial e passamos o dia juntos. Meus pais são legais, um pouco super-protetores às vezes mas ainda tranquilos. De toda forma, só me lembro do novato quando ele já está em minha frente, nós sendo apresentados um ao outro por Mikasa no corredor da escola.

“Eren, esse é meu primo Levi.”

Eu fico sem palavras, ele não era nada como eu esperava. Bom, estava na cara seu parentesco com Mikasa, os dois tendo cabelo escuro, pele pálida e expressões indiferentes, mas ele era uns 10cm menor que eu e parecia um punk. Acho que nunca havia visto alguém com piercing no lábio e aquele tanto de delineador nos olhos. Será que todos de Tókio eram desse jeito?

“Ei.” Ele me cumprimenta, desconfortável com a forma que o encaro.

“Ei.” Aceno com a cabeça, tentando parecer legal.

Ficamos nos olhando por alguns segundos até que se torna constrangedor.

“Okay, Levi, deixa eu te mostrar onde são as salas do terceiro ano...” Mikasa pega seu braço, o puxando consigo. “Até depois, Eren.”

Talvez ele fosse legal. Teria tentado conversar com ele no almoço naquele dia, mas Hanji estava em sua sala e resolveu persegui-lo até nossa mesa, falando insanamente o tempo todo. Ele até olhou para mim parecendo desesperado, já que eu era o único nada envolvido na conversa como ele, e nós compartilhamos uma risadinha discreta. É, ele era legal.

No dia seguinte nos encontramos no banheiro e finalmente conversamos melhor.

“Por favor, me diga que a Hanji não anda com vocês.” Ele me pergunta, ajeitando seu cabelo no espelho.

“Uh, só às vezes.” Fecho a porta atrás de mim, sem jeito.

“Ela não cala a boca, nem na sala.” Ele suspira, agora limpando um pequeno borrão em seu delineador. “Você tem que me salvar.”

“Claro.” Respondo sem pensar. Minha mente, na verdade, estava no fato de que eu queria mijar, mas não na frente dele.

“Bom.” Ele se vira para mim, me encarando dos pés a cabeça. “Por que você não me mostra a escola, então?”

“Claro.” Respondo novamente, caminhando até uma das pias como se tudo que eu queria fazer no banheiro era lavar minhas mãos. Teria que me segurar até mais tarde.

Depois de secar minhas mãos, saímos do banheiro e escapamos de fininho de Mikasa e Armin, conversando com Hanji perto da cantina, e seguimos para as escadarias. Não havia muito que mostrar a ele, entretanto. Ele já conhecia a biblioteca, o clube de musica (o único que eu fazia parte) e o clube de artes; exceto a cobertura. Então decido levá-lo até lá, e a primeira coisa que ele faz é andar até a beirada para olhar pra baixo.

“Nada mal.” Ele se vira para mim. “Aqui é seu lugar secreto?”

“Não muito, um monte de outros estudantes vem aqui... mas gosto de ficar aqui quando estou com muito na cabeça.”

“Então é o lugar perfeito para mim.” Ele senta no chão, descansando as costas na parede. “Quer se juntar a mim?”

Acabo por me sentar ao seu lado e compartilhamos um silêncio calmo, apenas sentindo o vento em nossos rostos. Até que ele começa a se mexer para pegar algo em seu bolso.

“Quer um?” Ele me oferece um cigarro, me deixando um tanto surpreso.

“Uh, não, obrigado.” Nego, nervoso.

“Nunca fumou?” Ele pega um do maço e o acende.

“Não.” Decido ser honesto.

“Espero que continue assim.” Ele sorri com o canto do lábio.

A fumaça me incomoda um pouco, mas finjo que não e o observo fumar. O cigarro entre seus dedos finos, seus lábios sugando aquela coisa venenosa... Ele fazia como alguém que fuma há muito tempo, não como um adolescente tentando parecer legal.

“Quem te ensinou a fumar?” Pergunto, e ele se vira para encontrar seus olhos misteriosos com os meus.

“Alguém especial. Por quê?”

“Você me ensinaria?”

“Achei que tinha dito para continuar não fumando.”

“Eu sei, e eu não ‘tô interessado em começar a fumar, de qualquer forma. Só quero que me ensine.”

Ele me encara por alguns segundos, pensativo, até que ri de leve.

“Okay, então.”

Ele me entrega seu cigarro aceso e me ensina como segurá-lo entre meus dedos, como puxar a fumaça e como expirá-la. Começo a tossir loucamente na primeira vez e ele parece se divertir comigo, mas o pensamento que toma minha mente é de como estávamos tendo um beijo indireto com aquela brincadeira.

Após eu desistir e ele voltar a fumar tranquilamente, decido quebrar o gelo e tentar conhecê-lo melhor.

“Então, o pai da Mikasa é irmão da sua mãe?”

“Uhum.” Ele solta a fumaça entre seus lábios.

“O que fez ela te mandar de Tókio pra cá? Ela trabalha o dia todo ou coisa do tipo?”

“Não exatamente. Foi na verdade um problema na escola...”

“Notas ruins?”

“Eu estava transando com um professor.”

Juro que seria o silêncio mais constrangedor do mundo se o sinal não tivesse tocado naquele segundo, fazendo ele jogar o resto de seu cigarro no chão e se levantar. Ele oferece sua mão para me ajudar a ficar de pé, e eu levo alguns segundos para aceitar.

“Voltar pra sala?” Ele diz, caminhando até as escadas.

Apenas o sigo, sem dizer mais nada.

~*~

Levi não é daquelas pessoas que falam muito em grupo, assim como a Mikasa. Mas consegui conversar com ele algumas vezes na cobertura da escola, longe de todos. Nunca mencionando novamente aquela coisa com o professor, claro, mesmo estando bastante curioso. Conversávamos sobre outras coisas, como seriados, filmes e música, e estávamos nos dando muito bem.

Um dia Mikasa nos chama para assistir um filme em sua casa, já que o Levi estava dormindo no porão, que era bastante espaçoso e tinha uma TV legal. Eu não estava lá muito confortável em invadir seu espaço dessa forma, mas como ele estava concordando com a ideia, todos vamos até lá. E por todos eu digo Armin, Jean, Hanji, Petra e eu. Sem contar os primos.

Ele não deixa ninguém sentar em seu sofá-cama, fazendo todos sentarem sobre o carpete no chão. Vou ajudar Mikasa com a pipoca e os refrigerantes e, quando volto, não encontro um lugar para sentar, mas Levi me deixa sentar no sofá ao seu lado. Sinto-me um tanto importante, ignorando o fato de que Mikasa tinha uma poltrona só pra ela.

Já que era minha primeira vez lá desde que Levi chegou, mal presto atenção no filme e fico observando o porão, agora decorado por ele e muito diferente da última vez que desci até ele. Agora tinham pôsteres nas paredes, suas coisas em caixas em um canto e todos seus DVDs empilhados ao lado da TV.

Antes que eu me dê conta o filme acaba, e todos vão embora já que tínhamos aula cedo no dia seguinte. Fico um pouco mais para ajudar a limpar, e acabo ficando um momento sozinho com Levi.

“Vi você olhando meus DVDs.” Ele diz, assim que Mikasa sobe para a cozinha.

“Ah, sim.” Passo uma mão em meu cabelo. “Você também assiste seriados americanos.”

“Sim. Eu ‘tava viciado em Lost, mas agora viciei em The Walking Dead. Breaking Bad é legal também.”

“Vai ter uma nova temporada de The Walking Dead na semana que vem, né?” Olho em volta, o evitando. “Poderíamos assistir juntos. Sempre assisto sozinho já que o Armin só gosta de dramas e a Mikasa—“

“A Mikasa só assiste o canal de esportes.” Ele revira os olhos, divertindo-se. “Claro. Podemos assistir aqui, se quiser. Esse porão é bem aconchegante... e tem uma entrada especial!”

“É, isso é legal.”

“Muito legal, posso convidar gente pra vir aqui e meus tios nunca saberão.” Ele ri. “Brincadeira.”

Não consigo pensar em nada para responder, distraído com seu sorriso malicioso. Para piorar, ele pisca secretamente para mim quando Mikasa volta, me fazendo engolir seco. Já que já estava mais que na hora de ir embora, me despeço dos dois e caminho até a porta do porão, vendo rapidamente que Levi acena para mim.

~*~

Tentamos inserir Levi em todas nossas atividades para fazer com que ele se sinta em casa mais rapidamente, e isso incluía levá-lo para o fliperama depois da escola. Mikasa e eu estávamos viciados no jogo de matar zumbis; nós tínhamos a maior pontuação daquela máquina. Após jogar uma rodada com ela, Levi pede para jogar a próxima comigo, e nossa. Ele ganha pontos de bônus acertando todos os zumbis na cabeça, e, se não fosse pelos meus erros, teríamos pegado o primeiro lugar. Mikasa e ele jogando juntos iam quebrar aquilo.

Jean me desafia no Pump it depois e eu não era muito bom naquilo, mas ainda ganhava dele. Antes de começar, olho em volta para conferir se Levi me assistia e ele estava lá, atento. Isso me deixou ainda mais empolgado para dar meu melhor. Por sorte eu consegui, seria muito vergonhoso perder na frente dele.

“Porra, Jaeger!” Jean grita, bravo, e eu apenas rio. “Vou praticar!”

“Boa sorte na próxima.” Dou de ombros, saindo do jogo.

Levi estava ainda me observando, ao lado de Mikasa, e ela estava distraída conversando com Sasha sem dar a mínima atenção a ele. Caminho até ele e ele apenas sorri maliciosamente para mim.

“Você é bom naquilo.” Ele elogia.

“Anos de pratica.” Coro, rindo.

“Você tem que me ensinar alguns movimentos...” Ele morde o lábio inferior, piscando. Mas o que diabos? “Brincadeira.”

Ele era bom em tornar tudo pervertido, como já estava reparando. Mas era engraçado. Exceto pelo fato de que eu sempre me lembrava daquela coisa com o professor... Eu estava curioso ainda, mas não poderia perguntar. Seria muito esquisito.

“Ei, quer fugir daqui e ir assistir algo comigo no porão?” Ele pergunta, me surpreendendo.

“Claro.” Eu não sabia dizer não para ele. Não que eu quisesse.

Nós avisamos Mikasa que estamos indo, pegamos nossas mochilas do chão e caminhamos até lá. Levi pega um show do Artic Monkeys que ele tem em DVD e deixa tocando.

“Ei, e aquela Annie?” Ele pergunta, sentando no sofá-cama ao meu lado.

“O que quer dizer?”

“Sinto uma tensão entre ela e a Mikasa.”

“Ah.” Concordo. “Não diga para a Mikasa que eu te contei.”

“Hmm, então realmente tem alguma coisa aí?” Ele põe suas pernas pra cima, interessado. “Conte-me tudo, Jaeger.”

“Elas eram rivais no clube de arco e flecha no ginásio, mas algo aconteceu no ano passado que deixou tudo diferente.”

“E o que foi? Você sabe?”

“A Mikasa não me contou a historia toda, mas ouvi gente comentando aqui e ali e descobri que a Annie ficou bêbada em uma festa que o clube fez e a beijou.”

“Oh...” Levi ri, empolgado. “Sabia que tinham mais gays na família.”

Quase me engasgo com suas palavras, mas mantenho a conversa. “Diga isso pra Mikasa. Desde então ela tem evitado a Annie de todas as formas possíveis.”

“Ela precisa de um empurrão. Acho que devíamos bolar um plano...”

“Não sei se quero que a Mikasa quebre meu pescoço.” Mexer com a Mikasa não era pra mim, eu gosto da minha vida. “Mas boa sorte com isso.”

Depois disso começamos a contar casos sobre os professores que tínhamos em comum, ele me conta como a escola era em Tókio – a mesma coisa, devo dizer – e logo Mikasa chega com alguns doces que ganhou no fliperama. Conversamos mais um pouco enquanto comemos e eu decido ir pra casa.

~*~

Levi falta na escola algumas semanas depois, e eu fico bastante preocupado já que havia falado com ele na mesma manhã e tudo parecia bem. Mikasa não me explica porque ele faltou, mas eu sabia que ela sabia e apenas não queria me contar. Será que era algo sério?

Mando uma mensagem de texto para ele e ele apenas me responde de noite, quando eu já estava em casa depois da escola.

“Desculpe por sumir. Meu tio encontrou meus cigarros e eu meio que estou ferrado.”

“Sério? Como ele encontrou?”

“Na minha mochila. Isso que me deixa mais irritado, ele não pode simplesmente mexer nas minhas coisas desse jeito.”

“Mas o que ele fez?”

“Além de ligar pra minha mãe e gritar comigo, ele me levou ao médico para me arrumar um tratamento para parar de fumar. De qualquer forma, vem cá depois de meia-noite, quero te ver.”

Fico bastante confuso com o convite repentino, mas já que a casa dos Ackerman não era longe, decido caminhar até lá para vê-lo.

Era minha primeira vez caminhando sozinho tão tarde da noite e sem meus pais saberem. Mas seria apenas uma visita rápida.

“Ei, você ‘tá bem?” Pergunto assim que ele abre a porta do porão para mim.

“De castigo, sem poder sair de casa e em tratamento para parar de fumar, mas bem.” Ele suspira, mostrando o adesivo de nicotina em seu braço. “Entra aí.”

“Você pode receber visitas?”

“É uma da madrugada, Eren, ninguém vai saber.”

Passo pela porta um tanto hesitante e ouço-o trancá-la logo depois.

“A sua mãe não mandou você voltar pra Tókio?”

“Nah. Fumar não é tão ruim quanto transar com alguém com o dobro da sua idade.” Ele diz de forma tão indiferente que quase parece como se não fosse nada de mais. “Senta aí.”

Levo alguns segundos para processar aquele pedaço de informação, sentando em seu sofá-cama já pronto para dormir. Ele caminha e senta do outro lado, parecendo relaxado.

“Quer assistir algo?”

“Ele que era a pessoa especial que te ensinou a fumar?” Ele não esperava minha pergunta, então noto que ele fica um pouco desconfortável antes de responder.

“Sim.” Ele diz com um suspiro. “Mas ele era um mentiroso, então já superei.”

“O que aconteceu?”

“Ele disse que eu era o único e que ele me amava, mas na verdade ele teve casos com vários outros estudantes nas escolas que ele trabalhou. Eles todos pareciam comigo, como se ele sempre procurasse esse tipo, sabe? Foi muito bizarro quando descobri. Mas ele ‘tá preso agora.”

“E-Ele... te estuprou?” Eu já estava chocado, não pensando direito antes de fazer as perguntas.

“Não. Mas ele foi acusado, em alguns outros casos. Eu estava apaixonado por ele.”

“Mas você tinha dezesseis anos, né?”

“A idade não me impedia de sentir o que eu sentia. Ele só mentiu pra mim, isso que nos arruinou.”

Mesmo que eu forçasse, nunca entenderia aquilo. Pra mim, sempre seria algo nojento e errado.

“Vamos lá, não faça essa cara. Me conte sua história trágica de amor, aposto que tem uma.”

“Eu nem beijei alguém ainda.” Solto, ainda muito chocado para pensar.

“Oh, isso com certeza é trágico.”

Ficamos em silêncio por um momento, eu com minha confusão e ele apenas sentado calmamente ao meu lado.

“Ah, acho que entendi, é esse o motivo de você não ter tentado nada comigo ainda?”

Dou um pulo em surpresa e me viro para ele, com olhos arregalados. Ele apenas me encara de volta com seu tradicional sorriso malicioso.

“Se está preocupado com isso, acredite, meu primeiro beijo não foi nada glorioso. Foi apenas desajeitado e com gosto de uísque.”

“Foi com aquele professor?”

“Sim.”

De certa forma, a expressão que ele faz me mostra que ele não é nada do que aparenta ser. Achava que ele era maduro e super seguro de si mesmo, mas tudo que vejo é um cara de dezessete anos com um pouco de trauma e uma máscara para fingir que ele estava aguentando bem tudo.

E eu penso que não seria ruim se eu o beijasse agora.

Lentamente me inclino em sua direção, e ele se inclina até mim também. Nossos lábios se tocam suavemente a principio, especialmente porque eu estava super nervoso, mas relaxo um pouco quando ele põe a mão em meu rosto e me puxa para um beijo de verdade. Claro que eu ainda estava tremendo e fui completamente desajeitado, mas era bom. Seu piercing no lábio é sexy. E acho que foi o suficiente para fazê-lo querer me beijar de novo, e eu penso que seria uma boa ideia colocar minha mão em sua cintura para mantê-lo perto. Seu corpo se arqueia um pouco em minha direção, e isso era tão quente que eu o pressiono contra mim e ele coloca os braços ao redor de meu pescoço e eu começo a me sentir estranho e decido parar.

“Acho que eu deveria ir.” Murmuro, me distanciando.

Ele observa enquanto eu subitamente me levanto, suspirando fundo.

“Okay.” Ele diz, se levantando também.

Ele me acompanha até a porta, nos despedimos sem jeito e eu vou correndo para casa.

~*~

Meu comportamento na noite anterior não foi nada legal. Não deveria ter ido embora daquela forma só porque fiquei com medo de ficar excitado demais... O que será que ele estaria pensando agora? Que eu não gostei? Sai de lá como alguém fugindo da forca, isso não está certo.

Após escrever e reescrever um milhão de vezes, o envio uma mensagem no celular pedindo que ele me encontre antes das aulas no playground infantil no caminho da escola. Não tinha certeza se ele poderia, já que ele estava de castigo, mas fico surpreso quando ele me responde que estaria lá.

Ele chega alguns minutos atrasado e senta no balanço ao lado do meu.

“Ei.”

“Ei.”

Ficamos em silêncio por um tempinho.

“Desculpe por ontem.” Murmuro, sem jeito.

“Desculpar pelo que?” Ele me encara, confuso. ”Por me beijar?”

“Não!” Quase grito. “Digo, desculpe pelo jeito que fui embora.”

“Oh.” Ele fica um tanto aliviado. “Não se preocupe, sei que você estava tendo dificuldades em se segurar ai embaixo.”

Coro tanto que minhas bochechas ardem, e ele acha isso tão divertido que ele puxa meu balanço para perto do seu para me dar um selinho.

“Calma, bebê.” Ele provoca.

“Sou maior que você.” Rio, tentando controlar minha vergonha.

“Mas age como um bebê.”

Viro-me para encará-lo, mordendo meu lábio inferior, e ele apenas me lança seu olhar provocativo. Sem dizer nada, coloco minha mão em sua nuca e o puxo para um beijo.

“Nada mal.” Ele suspira entre nossos lábios entreabertos. “Mostre-me seus movimentos, Jaeger.”

Ficamos nos beijamos por um tempo, até nos darmos conta de que estamos quase atrasados para a escola e temos que sair correndo pela rua. De mãos dadas.

~*~

A cobertura da escola se torna nosso local secreto para dar uns amassos. Sempre que alguém aparecia, Levi encarava a pessoa tão raivosamente que ela ia embora, e isso vinha funcionando de forma bastante eficaz. Ele até menciona como ele fez uma boa troca, cigarros por beijos, e isso me deixa feliz. Mesmo que eu fosse sem graça e inexperiente.

Mikasa, Armin e o resto de nossos amigos continuam sem saber sobre nós, ao menos por enquanto. Apesar de que eu queria que Mikasa nunca soubesse. Eles continuavam achando que o Levi e eu apenas vínhamos para a cobertura para escutar música e conversar como os pirralhos rebeldes que éramos.

Escapar de casa no meio da noite não era uma tarefa fácil. Meus pais levavam horas pra dormir, e minha única opção era sair pela porta da frente se eu não quisesse quebrar um braço fugindo pela janela de meu quarto no segundo andar. Mas eu não podia recusar quando Levi me chama a uma da madrugada para ver outro episódio de The Walking Dead, especialmente porque eu sabia que o menos que faríamos era assistir. Trocamos mensagens no celular por um tempo, até que vejo que é seguro sair e o digo que estou indo.

Chego lá em menos de 10 minutos.

“Ei.”

“Ei.”

Trocamos um selinho, Levi fecha a porta, eu tiro meu casaco pesado e nós abrimos seu sofá-cama para sentarmos mais confortavelmente. A TV já estava ligada, então Levi apenas coloca para tocar o episódio que ele havia baixado mais cedo e começamos a assistir.

Foi muito intenso para interrompermos para dar uns amassos. Assistimos o episódio totalmente focados, quase sem piscar, até que ele termina.

“O que acabou de acontecer?” Ele murmura, perplexo.

“Uau.” Não encontro palavras. The Walking Dead não era o melhor seriado para assistir com a pessoa que você está saindo, se você está esperando outras coisas.

Compartilhamos um momento de silêncio, relembrando em nossas cabeças o que aconteceu no episódio.

“Okay.” Levi senta direito, suspirando. “Você pode ficar um pouco mais?”

“Acho que sim.” Olho meu relógio de pulso, marcando duas e meia.

“Quer dar uns amassos, então?”

Soava uma boa ideia. Eu estava com medo de fazermos muito barulho nos beijando, mas me lembro que estamos em um porão e tento relaxar. Nos beijamos, Levi morde minha orelha, eu mordo seu pescoço, ele crava suas unhas em minha nuca, eu o puxo para meu colo, ele coloca suas pernas ao redor de meu corpo e as coisas começam a ficar quentes demais. Imagino que deveríamos parar naquele ponto, mas não consigo pronunciar as palavras quando Levi subitamente tira sua camiseta.

“Muita coisa muito rápido?” Ele pergunta, notando a forma que eu o observo.

Apenas balanço minha cabeça negativamente, corando, e tiro minha própria camiseta. Ele passa a ponta de seu dedo pelo meu tórax sensualmente, quase me dando um ataque cardíaco.

“Gosto de seu corpo.” Ele suspira suavemente.

“E eu gosto do seu.” Agarro sua cintura, o puxando contra mim, e seu corpo se arqueia de leve. Ai céus.

“Bom saber que o sentimento é recíproco.” Ele sorri convencido, mas logo o interrompo puxando-o para um beijo intenso.

Sua língua. As coisas que ele fazia com ela me deixavam louco, querendo comê-lo inteiro. E quando ele sugava meu lábio inferior... Me fazia morder seu pescoço forte em vingança, e ele gemia quase alto demais com isso.

Estava já muito bom do jeito que estava, mas não o suficiente para ele. De repente ele me empurra contra o encosto do sofá, se ajoelhando e mexendo em seu cinto. Socorro. Ele começa a abaixar suas calças e eu fico em ar. Pêlos pubianos. Descendo. Nossa.

Ele tira tudo e joga para o lado. Era a primeira vez que eu via alguém nu.

“Você vai tirar tudo também?”

E eu o faço. Sem jeito e tremendo, mas o faço. E quando estamos ambos gloriosamente nus, tornamos a nos beijar. Deitados. Virilha contra virilha. Ou quase isso, já que ele é um pouco menor que eu.

E isso era imensamente bom.

“Ei, Eren...” Ele pausa em um momento. “Só pra avisar, não vou transar com você hoje, ok?”

Trocamos olhares por alguns segundos.

“Apenas achei que poderíamos ficar mais confortáveis.” Ele explica, tentando resolver minha confusão.

“Tudo bem.” Forço-me a dizer, limpando a garganta. “Acho que não estou pronto ainda, de qualquer forma.”

“Bom.” Ele suspira, um tanto aliviado.

Não éramos nada além de adolescentes sem jeito apesar de tudo; um deles apenas estava se forçando demais.

Continuamos nos beijando, até que noto que Levi se arrepia de frio e puxo o edredom para nos cobrir. Elese acomoda perto de mim, o mantenho confortável em meus braços e dormimos.

~*~

Acordo lá pelas seis da manhã, com o sol começando a aparecer pela pequena janela no topo da parede. Pensando que seria melhor que eu fosse embora antes que nos encontrassem, acordo Levi gentilmente.

“O que foi, Eren?” Ele murmura, sombrio.

“Eu tenho que ir, daqui a pouco todos vão acordar. Desculpa te acordar, só achei que não seria legal ir embora sem dizer nada.”

“Okay.” Ele pisca preguiçosamente.

“Te vejo na escola?”

“Claro.”

Trocamos um selinho, eu me visto, caminho até a porta e vou embora.

~*~

Sei que disse que eu queria que a Mikasa nunca descobrisse sobre nós, mas o problema é que ela é a única pessoa que tenho para conversar sobre esses assuntos. Armin não é uma opção, Jean nunca me levaria a sério e eu não era assim tão intimo dos outros pra falar sobre isso. Eu poderia falar com a Hanji, alguém mais velho e inteligente, mas eu tenho medo de sua reação. Ela provavelmente começaria a nos perseguir e tirar fotos de nós nos beijando e não. Então era a Mikasa ou ninguém. E acho que eu continuaria com o último por enquanto.

E então acontece a festa de aniversário da Hanji. Acho que seus pais são tão loucos quanto ela, já que eles a deixaram sozinha em casa para escalar uma montanha e fazer uma pesquisa, e a Hanji é, sinceramente, uma daquelas pessoas que requer vigilância 24h por dia ou elas explodem o mundo. Coitado do Moblit, o parceiro de laboratório dela. Petra conseguia controlar a Hanji melhor, pelo menos. E já que ela ia ajudar na festa, imaginei que sairia tudo bem.

Apenas imaginei.

Pelo menos teria karaokê. Era divertido assistir as pessoas ficando bêbadas e cantando.

Chego lá com meus amigos um pouco depois do começo e a casa já estava lotada. Hanji provavelmente chamou a escola toda, e eu rezava que isso não terminasse em confusão.

“Olá meus queridos kouhais!” Ela nos cumprimenta na porta, empolgada. “E o Levi.”

“Por favor me prometa que eu não sairei daqui em um carro de policia.” Levi murmura, indiferente, mas era óbvio que ele estava aterrorizado por dentro.

“Foi infernal convencer o meu pai a deixá-lo vir...” Mikasa suspira.

“Não se preocupe, está tudo bem...” Hanji nos puxa para entrar. “Vão pegar alguns drinques com a Petra, logo os brownies dela vão ficar prontos.”

Ela nos deixa para ir cumprimentar outras pessoas que chegam, e nosso grupo começa a se desintegrar. Sasha e Connie vão para o sofá, Jean vê o Marco e corre até ele, Mikasa vai para a cozinha para evitar Annie e eu e Levi somos deixados sozinhos.

“Eu devia ter feito como o Armin e ficado em casa estudando.” Levi suspira. “Eu sinto cheiro de problema, e eu não posso ter mais problemas.”

“Calma. Vamos ficar um pouco, se vermos que as coisas estão saindo do controle podemos ir embora e voltar pro seu porão.”

“Hm, nada mal, gosto dessa ideia.” Ele sorri.

“Vamos pegar uns drinques.”

A cozinha estava uma tremenda confusão. Petra estava gritando tentando terminar seus brownies, Hanji estava tentando ajudar mas eu não confiaria a ela a minha comida, Mikasa se oferece para vigiar o fogão e todos os outros estavam apenas lotando o lugar sem ajudar em nada.

Sigo até os drinques, que na verdade era um ponche, pego um para mim e um para o Levi e saímos de lá.

“E agora?” Paramos na sala de estar.

“Vamos sentar e assistir as pessoas cantando. Depois podemos cantar alguma música.”

Achamos um lugar vazio no sofá (Levi na verdade encara alguém até que a pessoa fugisse) e sentamos lado a lado, confortáveis. Sasha, Connie, Jean e Marco jogavam um jogo de tabuleiro na mesa de centro, e Berthold e Reiner cantavam horrivelmente no karaokê.

“Primeira formada dos brownies da Hanji—Quero dizer, da Petra!” Hanji aparece de repente, carregando uma bandeja. “Experimentem!”

Eles pareciam bons, e brownies recém saídos do forno eram a melhor coisa do mundo. Então Levi e eu pegamos um, e vejo que Jean e Sasha pegam também. Estavam muito bons, fofinhos e quentinhos.

Antes que eu pudesse pegar outro, Hanji desaparece da sala e volta para a cozinha, e, alguns minutos depois, Petra aparece carregando outra bandeja.

“Okay gente, espero que estejam bons.” Ela nos oferece mais brownies.

“Eles estão. A Hanji já trouxe alguns pra gente.” Digo, pegando outro.

“O que? Como?” Ela franze a testa. “Essa é a primeira fornada...”

Ignoro a confusão delas e compartilho meu segundo com Levi, que não queria comer outro inteiro.

E logo as coisas começam a ficar muito estranhas. Começo a me sentir quente e leve, e todas as minhas emoções começam a radiar de dentro de mim. Tudo parecia um filme e eu era a estrela, e tudo às vezes parecia em câmera lenta e o Levi estava tão sedutor que eu quase o puxo para um beijo ali mesmo, no meio de todos. Mas, ao invés disso, vejo o karaokê livre e o puxo para lá.

Levi tromba sem querer na mesa de centro quando vai se levantar e nós soltamos gargalhadas como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Pegamos os microfones e selecionamos uma música aleatoriamente, sem nem sabermos a letra, então começamos a inventar enquanto cantamos. Não fazia ideia do que as pessoas em volta estavam pensando da gente, elas apenas não existiam. Só eu e o Levi estávamos ali.

E assim tomamos conta do karaokê, cantando todas as músicas, e o Levi estava tão envolvido que começa a atuar segundo as letras – todo em cima de mim. Acho que não nos beijamos, entretanto, mas isso nem era necessário para nos deixar mais óbvios. Eu apenas perdi meu senso de tudo.

Até que Reiner e Bert nos expulsam de lá porque eles queriam cantar, e nós começamos a rir como hienas e saímos correndo para fora por seja lá qual motivo.

O quintal estava parcialmente iluminado, e o céu estava terrivelmente bonito nessa noite. Escuro, cheio de estrelas... Provavelmente o mesmo de sempre, mas eu sentia que ele estava impressionante.

“Me sinto tão leve...” Levi se joga na grama. “Deita aqui comigo.”

Faço como ele pediu, não processando o que estou fazendo, e olhar para o céu apenas deixa meu estado pior.

“Olhe para todas essas estrelas gigantes de merda...” Ele levanta um braço, tentando alcançá-las.

“É tão gigante. O universo.” Murmuro. “Somos tão pequenos.”

“E insignificantes. Somos tão inúteis.”

“Crescer, se reproduzir e morrer. Isso que temos que fazer.”

“Sim. E eu sou completamente gay, então que se foda. Não vou me reproduzir.”

Ficamos em silêncio, admirando a escuridão do céu.

“Você acha que temos um propósito? Alguma coisa que temos que fazer, sem serem essas?” Pergunto.

“Não sei. Talvez. Acho que é algo que apenas você pode decidir.” Ele rola para o lado, me olhando. “Queria que seu propósito nesse momento fosse me beijar.”

E eu o faço, ignorando o fato de que estávamos deitados na grama no quintal de Hanji e qualquer pessoa poderia nos ver. Eu apenas o beijo, e ele me beija de volta, e isso parece tão certo que eu realmente acredito que meu propósito era beijá-lo para o resto de minha vida.

E eu não me lembro do que acontece depois. Quando volto a mim estou na sala de estar, deitado no sofá com Levi dormindo profundamente sobre meu corpo. E está de manhã.

“Finalmente acordou.” Ouço a voz da Mikasa, e ela logo aparece na sala. “Você ‘tá bem?”

“Sim, eu acho.” Tento me sentar, mantendo Levi confortável sobre mim. “O que aconteceu?”

“A Hanji aconteceu.” Ela suspira, sentando no sofá do outro lado. “Ela deu brownies com maconha pra vocês.”

“O quê?” De certa forma tudo fazia mais sentido agora. Os risos descontrolados, cantar loucamente e dar uns pegas na grama.

“Estou tão brava com ela. Como ela poderia dar isso a vocês, sabendo que o Levi já está encrencado?”

“Sim...” Franzo as sobrancelhas.

“Foi trabalhoso trazer vocês dois pra dentro.”

“Você quem nos trouxe?” Arfo, surpreso.

“Sim. Vocês estavam dormindo na grama dos fundos, por sorte não ficaram resfriados.”

Será que a Mikasa viu algo? Estávamos completamente melosos um com o outro desde que comemos os brownies, e agora o Levi estava dormindo em meu colo. Ela estava agindo naturalmente, então eu não sabia se deveria agir naturalmente também ou explicar algo. Antes que eu decida, entretanto, Levi acorda.

“Que inferno, onde estou?” Ele puxa minha camiseta. “Eren...”

“Estamos na casa da Hanji ainda. A Mikasa ‘tá aqui.”

Ele se vira lentamente e encontra Mikasa o encarando intensamente.

“Oi prima.” Ele a cumprimenta preguiçosamente.

“Melhor você tomar um banho frio e fingir estar normal; se não papai vai te matar.”

Levi se senta, se espreguiçando como um gato.

“Estou bem.” Ele boceja. “O que houve?”

Mikasa o informa do ocorrido também, o que o deixa desesperado e querendo matar a Hanji.

“Onde ela está?” Ele diz, raivoso.

“Petra está dando uma lição nela, não se preocupe.” Mikasa revira os olhos. “Temos que ir. Disse ao papai que isso se tornou uma festa de pijama, já que levar você pra casa naquele estado não era uma opção. Você quase se colou ao Eren...”

Nós coramos com isso, mas mantemos a naturalidade. E, alguns minutos depois, vamos embora.

Armin vem a minha casa naquela tarde e me pergunta sobre a festa. Apenas o digo que foi muito louca e vamos jogar vídeo-game. Não estava pronto para contar a ele que comi um brownie de maconha.

~*~

Vou à casa de Levi uma noite – em segredo, como sempre – para assistir um filme, e o casal nele vai a um encontro muito fofo em um momento e isso me faz querer ter um encontro com o Levi também. Então logo que o filme termina sugiro irmos até o centropara comer em um restaurante e ir ao cinema.

“Isso é tão clichê.” Ele diz, colocando seus braços em torno de mim.

“Então o que quer fazer?”

“Não sei. Algo mais original.”

E então me lembro de nós olhando as estrelas sob o efeito da maconha e como foi bom beijá-lo naquela situação – não sobre a maconha, eu quero dizer sobre as estrelas. E então me lembro que tem uma janela no sótão da minha casa que dava pra ver o céu.

“Meu sótão é legal. Você devia passar uma noite lá quando meus pais não tiverem em casa.”

“Esse é o tipo de encontro que eu gosto.” Ele sorri e me beija.

Duas semanas depois descubro que meu pai teria plantão no hospital durante todo o fim de semana, e convenço a mamãe de que ela poderia ir visitar a vovó e me deixar sozinho. Tendo a oportunidade perfeita, ligo para o Levi e ajeito o sótão para nós. O que significava colocar um colchão velho perto da janela, trocar as roupas de cama dele por limpas, pegar algumas coisas para comer, alguns CDs e esperar até meia-noite.

Levi escapa de casa e chega bem na hora combinada, segurando uma garrafa de vinho e duas taças.

“É uma ocasião especial.” Ele diz, sorrindo.

“Onde pegou isso?”

“Meu tio tem um monte no porão; ele nem vai notar que peguei uma.”

O levo até o sótão, e sua expressão mostra que ele gostou do que preparei.

“Você é tão romântico, Eren.” Ele provoca.

Tiramos nossos tênis e sentamos no colchão. Deixo a janela aberta para que o vento frio da rua entre e faça com que fiquemos bem perto. E o céu estava lindo, sem nenhuma nuvem e apenas estrelas.

Levi abre o vinho, dizendo que nos aqueceria, e eu começo a beber lentamente, nada acostumado com o gosto. Ele bebe como se fosse suco de uva, o que me deixa envergonhado. E depois de duas taças começamos a nos beijar. E tirar as roupas. E logo estávamos nus e nos tocando, um pouco bêbados e sob as estrelas.

“Você é lindo.” O digo.

“Você também.” Ele cochicha de volta.

E então ele desce sua mão para tocar minha ereção, me fazendo arrepiar. E eu faço o mesmo. Movemos nossas mãos em um ritmo parecido, enquanto nos beijávamos e roçávamos nossos corpos um contra o outro. Era incrível.

Levi goza em minha mão antes de mim, e eu tenho que esperar que ele se recupere um pouco antes que ele me termine. Limpamos nossas mãos em um lençol (teria que me lembrar de lavá-lo depois), nos beijamos mais um pouco, eu olho em seus olhos e vejo estrelas e dormimos.

Acordo na manhã seguinte e encontro um bilhete ao meu lado. “Você estava dormindo como uma pedra, seu maldito. Queria te beijar e te dizer bom dia, mas nem um apocalipse poderia te acordar. De qualquer forma, preciso ir pra casa antes que nos encontrem. Me liga quando acordar. – Seu Levi.”

E então eu ligo e acabo o acordando, já que ele chegou em casa e voltou a dormir. E nós mal conversamos, apenas fazemos barulhos esquisitos e dizemos como já estamos com saudades um do outro.

~*~

E então ficamos tão bregas. Eu realmente não esperava isso do Levi, mas começamos a agir tão fofinhos lentamente e isso logo se torna uma coisa muito constrangedora se alguém nos visse sozinhos. Ronronando, fazendo cócegas, dando risadinhas, ficando abraçados... Ninguém acreditaria se eu contasse sobre esse outro lado dele.

O problema é que estava ficando difícil nos manter longe um do outro. Queríamos ficar de mãos dadas, sentar perto, mas não podíamos na frente dos outros. E estava muito difícil manter a postura. Ao menos no caminho de casa caminhávamos um pouco atrás de Mikasa e Armin, então enquanto os dois estavam distraídos conversando, ficávamos de mãos dadas.

Bom, ainda tínhamos uma garrafa de vinho para terminar. Levi a escondeu em seu armário até a próxima oportunidade, e assim decidimos acabá-la em seu porão enquanto assistíamos a um filme em uma noite. Mas ainda tinha muito vinho, não tínhamos bebido nem metade da garrafa. Começamos bebendo lentamente uma taça, depois seguimos para a segunda e terceira, e ele parecia nunca acabar.

Quando enfim terminamos, minha cabeça estava rodando. O filme já havia acabado, então decidimos dar uns amassos, até nos darmos conta que estávamos muito bêbados e acabamos dormindo.

O que não foi a decisão mais inteligente do mundo.

Volto aos meus sentidos quando escuto o Sr. Ackerman nos chamando. Levi estava nos meus braços, o que era muito constrangedor, então eu o acordo e nos sentamos corretamente.

“O que isso significa?” Ele pergunta, segurando a garrafa de vinho vazia em sua mão.

Levi continua com sua expressão de choque, sem saber o que dizer.

“Eren, vou ligar para seus pais.” O Sr. Ackerman diz, caminhando até as escadas. “Quero que os dois subam.”

Levi começa a resmungar enquanto se ajeita, e nós dois seguimos seu tio para cima. Mikasa estava lá na sala de estar, aparentemente já sabendo de tudo.

“Você ama entrar em confusão, não ama?” Ela pergunta a Levi, suspirando.

“Cala a boca.” Ele murmura, irritado.

“Bom, pare de arrastar o Eren com você.”

“Ei!” Interrompo, irritado com sua sugestão. “Não é como se fosse tudo culpa do Levi.”

“Você não se metia em confusão antes.” Mikasa diz. “O Levi é sinônimo de confusão desde que nasceu.”

“Ah vai se foder, Srta. Perfeita.” Levi quase grita.

“Crianças.” O Sr. Ackerman volta para a sala. “Seu pai veio te buscar, Eren. Ele está do lado de fora.”

Suspirando, saio da casa para encontrar meu pai. Por sorte ele não me xinga e apenas diz que eu não deveria beber por ser menor de idade e que eu não deveria sair de casa sem avisar. E, naquela tarde mesmo, estamos assistindo filme com pipoca na sala como se nada tivesse acontecido.

O Levi fica de castigo de novo, entretanto. E o Sr. Ackerman tranca a porta do porão e fica com a chave para que o Levi não saísse e nem eu entrasse. Isso era horrível, já que o porão era nosso lugar para se encontrar a sós e sem ninguém saber, mas daríamos um jeito.

~*~

Mas não damos umjeito. Levi estava proibido de sair, e a Mikasa estava encarregada de observá-lo o tempo todo. Pelo menos ainda tínhamos a cobertura da escola, mas agora a Mikasa vinha sempre antes do sinal tocar para evitar que matássemos aula. Então tínhamos que ter cuidado para não sermos pegos por ela.

Levi estava cansado disso, mas não havia muito o que pudéssemos fazer exceto nos comportar e esperar.

E uma oportunidade aparece no acampamento. Ficaríamos três dias perto do lago fazendo algumas atividades e dormindo em barracas. Infelizmente fomos separados por séries, então nenhuma das minhas atividades batia com as de Levi. Minha dupla na barraca era o Armin, e a do Levi era o Moblit. Eu tinha certeza de que podia convencer o Armin a trocar de lugar com o Levi durante a noite, assim ao menos poderíamos dormir juntos. Fazia tanto tempo que tínhamos um momento a sós.

“Armin, por favor por favor por favor, o Moblit é legal, e—“

“’Tá, tudo bem.” Armin finalmente aceita, cruzando os braços. “Só espero que isso não nos dê problemas.”

“Que problemas isso poderia nos dar? Só estou pedindo pra você trocar de lugar com o Levi. Não é como se eu estivesse planejando algo pra dormir com alguma garota...”

“Você está certo. Mas tenha cuidado de qualquer forma; evitem ficar conversando até tarde ou ouvindo música alto...”

“Não somos estúpidos, Armin; não se preocupe.”

Depois do sinal nos mandando voltar para as barracas, Armin e Levi cuidadosamente trocam de lugar, e eu aguardo que ele chegue em segurança.

“Acho que funcionou.” Levi aparece após alguns minutos, fechando o zíper da entrada.

“Sim, funcionou.” Sorrio feito bobo.

Claro, depois de um dia cheio de tarefas chatas como coletar lixo e analisar plantas, tudo o que eu queria era beijá-lo e que passássemos a noite inteira abraçados. Abaixo a intensidade do lampião e nos deitamos, beijando o tanto que podíamos após todos aqueles dias distantes.

“Senti sua falta. Você estava tão quente coletando aquelas latas do rio...” Levi suspira.

“Eu estava realmente quente, ‘tava suando feito louco.” Rio. Era bom saber que eu não era o único o observando de longe. “Você não estava nada mal plantando aqueles vegetais também.”

“Você gosta de seus homens cobertos em lama?”

“Só você, porque gosto de você de qualquer jeito.”

“Bom.” Ele sorri. “Devíamos pedir uma atividade unindo o primeiro e o terceiro ano, é muito ruim ficar longe de você...”

“Seria problemático, na verdade, porque seria muito irresistível ficar perto sem poder nos tocar.”

“É verdade.”

Rimos de leve e continuamos a nos beijar. Tenho um flashback de quando me preocupei sobre nossos barulhos nos beijando serem muito altos, mas ignoro esse pensamento. Tinham vários barulhos do lado de fora, e as barracas estavam a uma certa distância uma da outra. Estava tudo bem.

Mas estávamos famintos um pelo outro. Levi coloca suas pernas ao redor de minha cintura, eu deixo algumas marcas em sua pele debaixo de sua camiseta, ele geme em meu ouvido... eu estava quase ficando duro, me segurando o melhor que podia. E eu sabia que ele estava se segurando também.

Até que ouvimos alguns passos se aproximando de nossa barraca.

“Alguém está vindo?” Levi cochicha, se sentando.

Esperamos um pouco, até que os passos desaparecem. Levi relaxa e se deita novamente, então o puxo para um beijo, passando minha mão por trás de sua coxa e puxando sua perna para cima de mim. E então eu nos giro, fazendo com que ele fique sobre mim. Continuamos nos beijando, roçando nossos corpos um contra o outro, e agora eu tinha certeza que não conseguiria me segurar muito mais.

Exceto pelo fato de que repentinamente uma luz forte começa a iluminar nossa barraca pelo lado de fora. Levi pula para o lado, ajeitando seu cabelo e suas roupas enquanto murmura o quão fodido ele estava e o quão encrencado ele ia ficar e essas coisas. Minha mente não processa nada até que escuto alguém chamando meu nome e o de Armin do lado de fora, logo antes de abrir o zíper de nossa barraca.

“Levi, do terceiro ano, e Eren, do primeiro.” O monitor do acampamento diz. “Vou ter que pedir que ambos venham falar com o diretor.”

Apenas nos ajeitamos para ficarmos mais apresentáveis antes de sair da barraca. Alguns outros estudantes haviam acordado; vejo Jean me olhando confuso e Armin escondendo o rosto atrás das mãos. Logo depois, Levi puxa a manga de minha camiseta, apontando para a barraca.

“Esquecemos de desligar o lampião. Eles viram nossas sombras.” Ele cochicha, quase surtando.

“Merda.” É tudo que consigo dizer.

Caminhamos sem jeito até a barraca do diretor, que estava de pé e já sabendo de tudo que estava acontecendo. O monitor apenas nos deixa para conversar com ele, mandando todos os outros voltarem a dormir.

“Okay...” O diretor começa, e eu sinto que ele se sente tão desconfortável quanto nós.

“Por favor não conte aos meus tios. Por favor.” Levi implora. Olho para ele e o encontro quase chorando. Era estranho vê-lo assim tão desesperado.

“Esse é o procedimento nessas situações, Levi. Preciso ligar para seus responsáveis e mandar vocês pra casa.”

“Não pode ser. Não nesse caso.”

“Porque foram tão descuidados se não queriam que ninguém descobrisse?” O diretor pergunta, nos entreolhando.

“Apenas achamos que daria certo.” Murmuro, sem nem saber o que dizer.

“Mantemos meninos e meninas em barracas separadas para evitar esse tipo de situação. Achamos que deduziriam que não podem fazer essas coisas aqui mesmo que sejam do mesmo gênero.”

“Apenas nos dê qualquer punição, qualquer uma. Exceto contar a nossos responsáveis.” Levi pede de novo, e o diretor suspira alto.

“Levi, sabemos pelo o que você passou, sua mãe nos contou quando o transferiu para cá. Isso, na verdade, poderia tornar sua situação pior, se descobríssemos que você está induzindo o Eren—“

“Não!” Interrompo antes que ele sugira o que ele ia sugerir. O que deu nas pessoas para sempre acusá-lo dessa forma? “O Levi e eu estamos sérios um com o outro.”

“Okay.” Ele suspira de novo. “Okay, vou pensar sobre a situação de vocês quando voltarmos à escola. Até lá, não quero vê-los perto um do outro durante o resto desse acampamento. Fui claro?”

“Sim, senhor.”

Então, ambos somos guiados de volta a nossas respectivas barracas. Armin já estava de volta na nossa quando eu chego.

“Estamos ferrados.” É tudo que o digo, ainda bastante embasbacado.

“Posso imaginar.” Ele suspira. “Mas o que diabos, Eren? Desde quando isso tem acontecido?”

Eu não estava no humor para conversar cobre isso, então apenas dou a Armin uma explicação qualquer e tento dormir, me perguntando o quão realmente ferrados estávamos.

~*~

Os outros dias do acampamento são torturantes. Levi estava com medo de até olhar na minha direção, e toda vez que nossos olhares se encontravam ele se virava rapidamente e fingia estar fazendo alguma coisa. Era horrível.

E ninguém mencionou o ocorrido para mim. Nem a Mikasa, que eu esperei que fizesse mil perguntas, e nem o Jean, que eu achei que fosse fazer alguma piada. Eles estavam todos desconfortáveis, o que me deixava ainda mais desconfortável com tudo. Será que eles achavam que nós estávamos transando? Se nos descobriram por nossas sombras provavelmente poderiam deduzir que estávamos. E isso deixava tudo ainda mais desconfortável.

Quando o inferno enfim acaba e voltamos para a escola, sou surpreendido pelo carro de minha mãe parado em frente ao portão da escola. E o carro do Sr. Ackerman do outro lado da rua. A escola os contou. Antes de entrar no carro de minha mãe, vejo Mikasa e Levi caminhando até o Sr. Ackerman, que olha Levi desapontadamente e o manda entrar. Merda.

Em casa, mamãe diz que o papai virá almoçar em casa, então ela pede que eu espere em meu quarto. Depois de cerca de uma hora ele chega, e ambos me chamam para conversar na cozinha.

“Okay.” Papai senta na outra beirada da mesa. “Ficamos um pouco surpresos.”

“Bastante.” Mamãe corrige.

“A escola ligou?” Pergunto, incrédulo.

“Sim. Eles ligaram e perguntaram o que queríamos que eles fizessem. Concordamos que seria melhor que você continuasse lá e terminasse suas atividades, e depois conversaríamos em casa.” Papai explica.

“E os Ackerman?”

“Não temos certeza de sua decisão, já que não falamos com eles diretamente.”

“Hm. Levi ficou lá até o final do acampamento também, então acho que eles fizeram o mesmo.” Dou de ombros.

Um silêncio constrangedor segue, comigo apenas me remexendo em minha cadeira e meus pais me olhando.

“Não quer nos contar nada, Eren?” Mamãe quebra o silêncio.

“Eu—Eu não sei. O que eles te disseram?”

“Bom...” Papai limpa a garganta antes de continuar. “Eles disseram que vocês dois trocaram de parceiros de barraca para ficar na mesma e estavam fazendo coisas que não deveriam...”

“Não estávamos transando.” Esclareço, nervoso. “Estávamos completamente vestidos quando nos encontraram.”

“Okay.” Papai respira fundo, visivelmente desconfortável. “Mas ainda assim estavam fazendo coisas que não deveriam.”

“Foi uma decisão estúpida, tá? Achamos que nunca descobririam.”

“Claro que acharam.”

“Preciso me desculpar com o Levi, foi minha ideia.”

Noto que meus pais ficam um tanto surpresos.

“Foi sua ideia?”

“Uh...” Hesito. “Sim...”

“Achamos que o Levi estava o influenciando.” Mamãe diz.

“Porque todos acham isso? Só porque ele veio de Tókio e ele é mais velho que eu?”

“São bons motivos.”

“É, eles estão errados. Levi se parece muito comigo, e é por isso que nos damos tão bem. E é por isso que isso começou, em primeiro lugar...”

“Isso o que, Eren?” Papai pergunta.

Queria dizer a eles que estávamos namorando, mas eu não tinha certeza disso já que nunca conversei com Levi a respeito. De qualquer forma, sabia que estávamos sérios um com o outro, e nós agíamos como um casal. Acho que era apenas uma questão de conversar e contar aos outros sobre nós.

“Estamos meio que quase namorando.” Decido dizer a eles.

Eles trocam olhares, se acostumando com a novidade.

“Nós só queremos que seja feliz, Eren.” Mamãe diz. “Mas temo que os Ackerman não sejam tão abertos quanto nós.”

“Vocês com certeza terão problemas com eles.”

E eu queria morrer com isso.

~*~

Levi não pode usar seu celular, seus piercings e fazer qualquer coisa além de estudar. Sua mãe e seu tio concordam que eles deveriam tomar providências mais sérias para fazer com que ele andasse na linha e parasse de ser tão rebelde. Mikasa o vigiaria para que ele se comportasse na escola e em todos os outros lugares.

Eu só descubro isso porque Mikasa me liga e me conta o que aconteceu. Ela diz que Levi se trancou no porão se sentindo miserável, e ela tentou amenizar as coisas com sua família, mas de nada adiantou. Pelo menos ela estava ao nosso lado, o que me surpreendeu.

E então ela deixaria que continuássemos nos vendo na cobertura da escola. E quanto eu enfim o vejo na segunda, sem todos os seus piercings e delineador, o abraço tão forte que temo quebrá-lo.

“Inferno, esse é o inferno.” Ele põe seus braços em torno de meu pescoço e esconde o rosto em meu ombro. “Sério, se não fosse pela Mikasa, eu mal te veria—“

“O que a fez nos ajudar?”

“Ela já sabia sobre nós, desde o dia do brownie batizado. Ela foi nos procurar e nos viu dando uns pegas na grama, não dormindo. Isso foi depois, e aí que ela nos trouxe pra dentro.” Ele explica, suspirando. “Ela acha que você está fazendo bem pra mim.”

“Isso é novidade. Achava que ela apenas acreditava que você vivia me colocando em confusão.”

“Okay, ela continua achando isso.” Ele ri. “Mas estou dizendo sobre tudo que aconteceu antes. Ter um relacionamento normal com alguém da minha idade, não ficar chorando apaixonado por um criminoso.”

Mikasa estava sempre um passo a minha frente. Enquanto eu estava ainda tentando entender as coisas, ela já havia pensado em todos os prós e contras relacionados a ele.

“Eu realmente gosto de você, Levi.” O digo.

“Eu também gosto muito de você, Eren.” Ele sorri de leve. “Eu só queria que eles entendessem que eu não quero fazer nada de mal com você, ou te forçar a nada porque estou traumatizado e quero arruinar a vida de alguém como a minha está arruinada. Eu só gosto de você. E por acaso nossos sentimentos são recíprocos.”

“Meus pais entendem, logo sua família entenderá também.”

“Espero que sim.”

Beijamos-nos lentamente, aproveitando que podíamos.

“Estava acostumado com meu piercing, agora acho estranho beijar sem ele.” Levi interrompe, rindo. “Você acredita que minha mãe disse para meu tio jogar todos meus piercings fora? Eles foram caros!”

“Uh, isso foi cruel. Mas não se preocupe, continuo gostando de te beijar.”

Daríamos um jeito, de uma forma ou de outra.

~*~

O castigo rígido de Levi dura cerca de um mês. Ele não podia ir a lugar nenhum, nem com Mikasa, e tudo que ele podia fazer é ficar em casa estudando ou escutando música. Sem celular, sem televisão, sem internet. Ele vinha me ver na cobertura quase tendo um troço de raiva todos os dias, ele realmente não conseguia mais aguentar.

Mas ele continua forte e resiste até o final. E lentamente seu tio volta a deixá-lo fazer as coisas novamente. Quando ele finalmente consegue seu celular de volta, trocamos mensagens durante todo o dia até a hora de dormir. E quando ele finalmente pode sair – apenas com Mikasa – ele se agarra a mim como um coala durante todo o passeio.

Meus amigos estavam bem conosco. Jean começou a fazer brincadeiras, o que era finalmente normal, e a Hanji nos perseguia como eu esperava que ela fizesse. E a Mikasa sempre mandava a gente parar quando nossos beijos ficavam muito intensos.

Mas ela sempre nos ajudava quando queríamos um tempo a sós. Levi quase arruinou tudo ao brincar que ele a pagaria em Annies um dia e ela ficou furiosa, mas por sorte ela decidiu esquecer o assunto.

Meus pais também estavam bem conosco. Eles nos pegam aos beijos na varanda de casa um dia e apenas cumprimentaram o Levi educadamente antes de nos deixar a sós novamente. Eles eram legais. Assim, eles não convidaram o Levi pra entrar e começaram a chamá-lo de segundo filho, mas eles estavam nos aceitando e isso já era perfeito. A única coisa em nosso caminho era a família de Levi, quando passássemos por eles estaríamos livres pra namorar sem problemas.

~*~

E assim chega o dia do festival escolar. Os festivais da escola sempre eram imensamente divertidos, e esse era o primeiro que eu participaria no Ensino Médio. Minha sala estava decorada como um castelo de terror, então construímos um labirinto e vestimos fantasias para assustar os visitantes. A sala de Levi era um laboratório maluco, então nem preciso dizer que quem mais se divertiu foi a Hanji.

Levi e eu escapamos por um tempo para ver as outras salas – cada um ainda com suafantasia, eu de lobisomem e o Levi de cientista – e temos nossas mãos lidas por uma cartomante, comemos sorvete e conferimos o horário dos shows à noite. Eu tocaria com o resto do clube de música às 7 da noite, então ainda tinha tempo antes de reunir todos para praticar uma última vez.

Estava torcendo que Jean tivesse reservado uma cadeira para Levi na primeira fileira como eu o pedi. E eu esperava muito que Ymir não se atrasasse, ela sempre sumia quando precisávamos dela.

Claro que Levi não tinha nem ideia sobre o que nossa apresentação era; ele provavelmente imaginava que apenas tocaríamos alguma musica clássica em nossa pequena orquestra. Bom, a apresentação principal era algo assim mesmo, mas eu consegui convencer a professora a nos deixar tocar algo diferente depois.

E essa era a surpresa.

Caminho com Levi de volta a sua sala bem na hora que sua família estava a visitando, guiados por Mikasa. Sua mãe, especialmente, nos entreolhou com um olhar julgador, até que Levi decidiu soltar minha mão e voltar para seu lugar. E eu voltei correndo para minha sala.

Em torno de seis horas envio uma mensagem para Levi o avisando que ia ensaiar e peço que ele não se atrase para nossa apresentação. Depois reúno o Jean, a Ymir, a Mikasa e o Reiner para irmos para a sala do clube de música. Todos estavam cansados de treinar a musica que sugeri, mas eu queria que ficasse perfeito. E por sorte eles concordaram me ajudar. Okay, a Ymir ordenou colocar um solo de guitarra louco no meio da musica, mas ao menos ela aceitou participar.

Fico bastante ansioso nos minutos antes de subir ao pequeno palco. Vejo meus pais sentados na segunda fileira, e o Levi bem no lugar que eu queria que ele ficasse, com uma visão completa. Primeiro tocamos uma música de Tchaikovsky com o resto do clube, eu fiquei na flauta e por sorte tive meus erros camuflados pelo restante do grupo. Depois livramos o palco e pegamos nossos instrumentos para a segunda apresentação. A banda que iria encerrar o festival foi legal em nos emprestar sua bateria, que já estava no palco desde o inicio das preparações.

Mikasa ajeita seu teclado, Jean seu baixo, Reiner na bateria e Ymir com sua guitarra. Todos nos olham em expectativa, me fazendo quase congelar. Até que Jean bate em minhas costas.

“Quando você estiver pronto.” Ele diz, e eu engulo seco.

Ajeito o microfone para minha altura e noto que Levi me olha curiosamente. Isso apenas me deixa mais nervoso, então viro meu olhar para as luzes e fico focando lá para que eu não visse ninguém nos assistindo.

E assim começamos nossa versão rock de How Deep Is Your Love. Minha intenção era cantar olhando para Levi, mas estava muito envergonhado para isso e apenas fico olhando para lugar nenhum. As pessoas estavam gostando, até algumas cantavam junto, mas todas ficam um pouco assustadas com o solo de heavy metal da Ymir começando do nada. Eu começo a rir, e finalmente olho para o Levi e o encontro rindo também. Então logo antes de cantar o último refrão digo no microfone “essa é pra você, querido” olhando para ele e acho que todos entenderam e ficaram em um silêncio constrangedor até que eu comecei a cantar e eles cantaram junto.

Todos gritaram e aplaudiram enquanto saiamos do palco. Deu tudo certo. E eu logo sou surpreendido por Levi, que vem correndo e pula em meus braços, me abraçando fortemente.

“Isso foi perfeito. Perfeito perfeito.” Ele fica repetindo em meu ouvido.

“Que bom que gostou. É a coisa mais brega que já fiz em toda minha vida.” Rio, envergonhado.

“Que bom que ele gostou, eu nunca vou fazer uma coisa do tipo de novo.” Jean entra na conversa.

“Espera, ele não disse que ia pagar a gente?” Reiner pergunta.

“Eu pago em pizza um dia, não se preocupe.” Explico de novo. “Mas obrigada, pessoal.”

“Sem problemas. Desde que eu possa tocar meus solos...” Ymir diz.

“E desde que isso ajude no seu relacionamento.” Mikasa me dá um cutucão. “Vamos torcer pra isso derreter o coração da minha família.”

“Sei que ele derreteu o meu, e isso já é o suficiente pra mim.” Levi diz.

Voltamos para o público, meus pais me elogiam meio constrangidos e depois nos encontramos com a mãe de Levi, acompanhada de seus tios.

“Aquilo foi muito bom.” Ela me diz.

“Obrigado, Sra. Ackerman.” Aceno com a cabeça, envergonhado.

E acho que consegui o que eu queria.

~*~

Uma semana depois Levi consegue seus piercings de volta, seu tio apenas o enganou fingindo que ia jogar fora para que o choque fosse maior. Isso foi maldoso, mas pelo menos Levi estava feliz de novo. E sua mãe o deixa sair se for comigo, então Mikasa perde seu emprego como nossa segurança particular.

Não era como se estivéssemos provocando ou procurando encrenca, realmente não era. Mas Levi estava tão feliz com seus milhões de piercings de volta e eu estava tão curioso para fazer um que nós vamos a um estúdio para fazermos um juntos. O lugar não pedia documento, o que era um tanto suspeito, mas parecia limpo o suficiente.

E agora tínhamos piercings no tragus iguais. Eu teria que esconder dos meus pais, o que não era difícil já que meu cabelo escondia. E o Levi poderia apenas dizer que ele sempre teve aquele.

Na semana seguinte vamos ao cinema, e depois caminhamos pelo parque, e fazemos tudo que não podíamos antes. Incluindo dormir na casa um do outro, mas agora avisando a todos. Meus pais apenas deixam com a porta aberta, e os tios do Levi apenas deixam se ficássemos na sala ou com a Mikasa junto. Já que a Mikasa não estava nem um pouco a fim de ficar com a gente, nós ficávamos na sala. E isso estava bom o suficiente.

~*~

Passamos um final de semana em Tókio no apartamento da mãe de Levi. Ela era ainda mais durona que a Mikasa e o Levi juntos, mas ela gostava de mim de certa forma. Almoçamos com ela e depois vamos apenas os dois para ver alguns pontos turísticos, tirando fotos o caminho todo.

E é assim que o Levi descobre, da pior forma possível, que seu professor pagou fiança para sair da cadeia: o encontrando na rua. O homem tenta cumprimentá-lo, mas Levi apenas me puxa pelo braço e caminhamos para longe. Fico um tanto chocado ao vê-lo pessoalmente, imaginava que ele ao menos pareceria jovem, mas ele não parecia. Ele era grande e velho. Isso me deixou enjoado.

Levi fica tão perturbado ao vê-lo que fazemos uma pausa para nos sentar. Ele fica em silêncio por alguns minutos e eu apenas seguro sua mão.

Até que ele se vira para mim, um sorriso aparecendo em seu rosto.

“Obrigado por trazer minha juventude de volta.” Ele diz honestamente. “Eu te amo.”

“Eu te amo também.”

Queria ter dito primeiro, mas fico feliz que ele o fez. Isso prova para meu lado inseguro que eu sou importante para ele.

Porque ele é tão importante para mim.

Seguro sua mão mais firme do que antes e me levanto, o puxando comigo.

“Vamos lá. Temos algumas memórias para fazer.” Digo, sorrindo.

“Memórias preciosas.” Ele completa.

Dizem que o Ensino Médio é um grande sofrimento do início ao fim e eu não acreditava nisso, mas comecei a entender. Tenho sorte de ter apenas boas experiências, e deveria guardar esses momentos com carinho.

Espero que com Levi ao meu lado durante todos esses anos, mesmo depois que ele se formar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Quem souber de uma versão rock da How Deep Is Your Love por favor me diga, o máximo que encontrei foi o John Frusciante tocando ela em um show só no violão... De qualquer forma, até a próxima *-*