Memórias escrita por sayuri1468


Capítulo 1
Capítulo 1




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Molly andava nervosamente de um lado para outro na sala. Aguardava ansiosamente pela chegada de Sherlock. Segurava algumas lágrimas que ela sabia que estavam por vir a qualquer momento, e se a notícia que o detetive lhe trouxesse fosse a que estava esperando, saberia que nada iria impedir que elas caíssem.

Sherlock adentrou a pequena sala do St. Barts, batendo a porta rapidamente assim que entrara. Molly encarou seus olhos, esperando que eles dissessem alguma coisa, já que ele nada dissera. Sherlock sustentou o olhar e isso foi o suficiente para que a legista entendesse que seus temores haviam se realizado. O choro que ela tanto havia segurado desabou, e o detetive correu para abraça-la. Compartilhavam da mesma dor, por isso nada mais justo que se apoiassem nesse momento.

- Eu tentei, Molly! – sussurrou o detetive enquanto acariciava os cabelos da legista. – Eu juro que tentei!

Molly apenas assentiu e afundou-se no peito do dele. Não havia mais nada que ela ou ele pudessem fazer a respeito.

-------------------------------------------------Vinte anos atrás -----------------------------------------------

- Parado Barba Ruiva! Esse tesouro é meu, e nada do que você fizer irá me impedir de recuperá-lo!

Um pequeno garoto de oito anos e cabelos negros cacheados usava um chapéu de pirata, seguido por um pequeno galho, que ele atiçava animadamente, como se fosse uma espada. Ele brincava com um cachorro de pelos longos e ruivos, que curiosamente, utilizava um tapa-olho.

- Ahá, boa tentativa! Mas não me deterá! – gritou quando o cachorro pulou contente para seu lado.

- Sinceramente Sherlock, por que você ainda se comporta como se fosse uma criança?! – um outro rapaz, aparentemente bem mais velho e arrumado, estava sentado na mesa de chá na varanda, olhando o irmão mais novo.

- Por que sou uma criança, Mycroft! Tenho oito anos, ou por um acaso se esqueceu? – rebateu o pequeno com uma atitude muito maior do que sua idade exigia.

- Eu nunca fui tão estúpido quando tinha oito anos! – falou o outro, sem se abater.

- Mas tenho certeza de que sempre foi chato!

Mycroft o olhou com desaprovação no olhar e Sherlock mostrou-lhe a língua e saiu correndo do jardim, em direção a rua, com Barba Ruiva em seu encalço.

- Sherlock, você não deve sair do jardim! – gritou Mycroft em vão, pois o garoto já estava bem longe.

Sherlock correu até chegar a entrada do bosque aonde sempre costumava brincar. Ria de sua própria coragem pela sua atitude com o irmão. Mycroft sempre o infernizara e o humilhava, mas dessa vez, ele havia ganho dele.

- Muito bem, Barba Ruiva, foi aqui que você escondeu seu tesouro?! Me mostre o esconderijo! – dirigiu-se ao cachorro que pulava animadamente ao seu lado.

Sherlock e Barba Ruiva correram pelo bosque, até chegarem a uma pequena clareira com uma tenda montada. Eles entraram. Apesar da grande quantidade de papeis, fotos e livros dentro da tenda, ela era extremamente confortável, ou tão confortável como um garoto de oito anos poderia achar.

- Esse garoto, Barba Ruiva – disse apontando uma foto para o cachorro – está desaparecido da escola há mais ou menos dois meses! Dizem que está com sarampo, mas é mentira, sarampo não dura dois meses!

O cachorro latiu, como se concordasse com o garoto.

- Espero que não tenha sumido com ele, Barba Ruiva, não está tentando aumentar sua tripulação, está?! – brincou enquanto afagava o cachorro.

Um outro garoto adentrou a tenda. Estava com a roupa suja e amassada e os cabelos desarrumados.

- Está atrasado, James! – falou Sherlock - O que houve com você?!

- Briguei com meu pai de novo! Saímos na pancada dessa vez!

Sherlock então pode notar o lábio ensanguentado e as marcas roxas no braço do amigo.

- Está tudo bem, só uns arranhões! – tranquilizou James ao notar a preocupação do outro.

- Qual o motivo dessa vez?

James respirou fundo, aparentemente ainda estava com raiva.

- Ele quer se casar de novo, acredita nisso?! Quer se casar de novo! Casar! – sua voz se elevava conforme repetia a palavra “casar” – Não faz nem um ano que minha mãe morreu e ele já quer se casar de novo!

Sherlock permaneceu quieto. Notava toda a raiva e rancor que James exalava diante do acontecimento. Ele sempre soube que o amigo e o pai não tinham um bom relacionamento, que só piorou com a morte da mãe, a quem James era muito apegado. Sherlock tentava entender os sentimentos do amigo, mas por mais que tentasse, não conseguia, afinal, ele tinha apenas oito anos e seus pais se amavam e se tratavam com o máximo respeito. Isso levava o garoto a crer que os problemas de seu amigo eram razoavelmente simples de se resolver.

- E qual o problema? Ela pode ser legal! – foi o que o garoto respondeu com ingenuidade.

James o olhou como se tivesse levado um tapa na cara do amigo.

- Legal?! Eu não ligo se ela é legal! Ela não vai ocupar o lugar da minha mãe!

James se aproximou de Sherlock como se mais alguém, fora Barba Ruiva, estivesse lá para ouvir seu segredo.

- A mulher tem uma filha! – sussurrou.

- Não gosta dela? – deduziu o outro.

- Eu a detesto! – confessou agora com a voz em seu volume normal. – Ela insiste em me chamar de Jim!

- Mais nova ou mais velha?

- Mesma idade! Acho que ela tem sete, na verdade!

- Se fosse mais velha, ela te chamaria de Jim para forçar uma intimidade, mas sendo mais nova, acredito que ela goste mesmo de você, já que crianças não conseguem fingir afeição!

- Você consegue fingir! – rebateu.

- Você também, James! Mas nem mesmo nós conseguimos fingir por muito tempo! – Sherlock lhe entregou um graveto – Vamos, temos que achar o tesouro enterrado pelo temível Barba Ruiva.

E lembrando-se que tinham apenas oito anos, saíram da tenda e correram pelo bosque, atrás do único tesouro que poderiam desfrutar: a liberdade.

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Molly olhava pela janela do hospital, mas seus olhos inchados não observavam nada que não fossem lampejos do passado, lembranças de uma infância feliz. Sherlock lhe entregou um café que Molly até o pegou, mas não o bebeu.

- Ele odiava você no início, sabia?! – falou Sherlock, sorrindo pela lembrança.

Molly riu enquanto limpava novas lágrimas.

- Claro que sabia! E eu o amei desde o início! – falou em meio a sorrisos – Desde o primeiro momento em que o vi, todo desarrumado, como um pequeno selvagem, eu quis cuidar dele! Apesar dele ser mais velho, eu o via como um bebe que precisava da minha atenção!

Sherlock sorriu ao ouvir essa confissão.

- É, ele sempre foi meio perdido! – concordou.

- Você é igualzinho a ele, Sherlock! – falou – Exceto que ele se deixou influenciar por seu irmão!

O rosto do detetive assumiu um semblante sério, a legista então percebeu o que havia dito.

- E sinto muito, não quis dizer que...

- Você está certa! – ele falou antes que ela se desculpasse – Não tem problema, Molly, você está realmente certa!

Molly se levantou e agora foi a sua vez de abraça-lo. Ela o beijou suavemente nos lábios, com toda a ternura e amor que sentia por ele.

- Já anoiteceu! – disse em seguida – Já é hora de irmos pra casa, amanhã ainda terei que ir ao seu funeral!

Sherlock assentiu e os dois saíram cautelosamente daquela pequena sala no St. Bart’s.

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- Parado James! – gritou Sherlock ameaçando o amigo com um graveto – Você não me engana mais, sei que foi pro lado do Barba Ruiva!

- Pois venha me deter, se achar que é possível, Sherlock! – respondeu.

Um batalha de gravetos se armou. Os dois lutavam com o fervor de duas crianças brincando.

- Jim?! – chamou uma voz feminina ecoando pelo bosque.

- Droga! – falou James, visivelmente irritado.

Sherlock observou uma menina de cabelos castanhos surgir por entre às arvores. Ela segurava um pequeno urso de pelúcia em uma mão e um agasalho na outra.

- Jim, te achei! – disse sorridente ao ver o menino - Você esqueceu seu agasalho! A mamãe disse que vai esfriar, então achei que você ia precisar dele!

- Já falei pra você não me seguir, Molly! – respondeu rispidamente para a garota.

- Mas eu só...

- Não interessa! Se eu quisesse um agasalho, eu mesmo teria pego!

Sherlock pode perceber que a menina estava quase chorando, e por um instante, sentiu raiva do amigo.

- Me deixa em paz, Molly!

E dizendo isso, James saiu correndo pelo bosque. Molly foi embora, escondendo as lágrimas no agasalho que trouxera. Sherlock apenas observou a cena, sem entender realmente o que havia acontecido.


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