Alvo Potter e o Segredo de Hogwarts escrita por sheilacosta


Capítulo 28
A Noite Elemental




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28

A NOITE ELEMENTAL

Hagrid esperou até o último dia para libertar todos os animais que participaram tão ativamente de suas aulas. Ao menos, aqueles que Minerva tinha autorizado. O Guarda Caças acreditava que, se os alunos tinham direito a férias, deveria ser a mesma coisa para os seres que o ajudavam a ser o melhor professor de Trato de Criaturas Mágicas que a escola já viu, embora tenha sido o único a lecionar esta disciplina.

Vermes cegos, tronquilhos, bicadores vermelhos, doninhas, lesmas gigantes, porco agulha, espirra veneno, salamandras, atiçadores de Rohenheim e uma série de outros seres estavam finalmente libertos.

Hagrid aproveitou para levar Canino para fora, embora o animal de recusasse terminantemente. Cansado de carregar o cão para vê-lo recuar para dentro da casa em seguida, o Guarda Caças resolveu investir suas forças para alimentar os cavalos alados e Azafugaz, que estavam no interior da floresta, acostumados à região. Não era necessário prendê-los para tê-los sempre por ali.

Ao passar pela borda da floresta deparou-se com uma pequena visitante: uma acromântula do tamanho de sua mão. Hagrid a pegou com cuidado e tentou acalmá-la fazendo carinho em seu enorme corpo peludo.

― Ora, pequenina. O que está fazendo tão longe de casa, hein? Talvez...

Hagrid pensou em levá-la para casa e criá-la com todo amor e carinho do mundo, mas lembrou-se de como era complicado cuidar de acromântula no castelo. Sem falar que a diretora McGonagall jamais permitiria, por mais que Hagrid fosse um bom Guarda Caças.

― Vá para casa, pequenina. Volte para seus irmãos – disse e deixou a aranha no chão, dando alguns incentivos para que ela continuasse floresta adentro.

Hagrid caminhava para a clareira enquanto observava o canto dos pássaros, as famílias de sariguês da floresta, os grandes comboios de ratazanas e uma série de pequenos seres que não costumavam andar por ali.

“Talvez eu esteja precisando de mais tempo livre para aproveitar as pequenas coisas da floresta”, pensou Hagrid ao passo que um estalar do lado oposto o fez ficar atento e erguer o seu lançador de flechas.

― Quem está aí? – perguntou, mirando em qualquer coisa que se movesse. ― Apareça! – ordenou, contudo parecia fazer mais silêncio do que o normal na floresta.

Hagrid ficou parado, aguardando. O Guarda Caças estava tenso e passou a escutar o silêncio da floresta. Afinal, ainda havia um hungú solto por aí. Talvez ele tivesse retornado e estivesse de tocaia, apenas esperando. Mas a floresta também parecia tensa. Quando ouviu um estalo do seu lado esquerdo, atirou e acertou uma árvore. Detrás dela, viu surgir Matenzo, o líder dos centauros.

― Por Merlim, Matenzo! Você me assustou, desculpe – pediu Hagrid, educadamente. ― Podia ter respondido que era você quando perguntei.

― Prefiro ser discreto, meu caro Hagrid – respondeu.

― Eu sei, mas era mais seguro responder do que acabar com uma flecha no tras... Hu-hum! – recompôs-se ao encarar o enorme corpo de cavalo do centauro. ― Mas o que você está fazendo tão longe da área de costume? Não me diga que está caçando o hungú – disse, olhando ao redor.

― Não. Outros assuntos me trazem à Hogwarts esta noite.

― Noite? Mas mal passamos do meio-dia!

― Tivemos que garantir o nosso lugar.

― Tivemos? – perguntou Hagrid, para em seguida notar vários vultos de centauros. ― O que... Matenzo, o que está acontecendo?

― Existem certos fatos para os quais, vocês, bruxos, ainda não estão preparados. Sua raça é muito nova para entender. Contudo, talvez ainda haja esperança.

Hagrid encarou o centauro certo de que ele falava algo importante, mas do qual lhe faltava o domínio da informação. Respirou fundo, colocou sua arma sobre o ombro e despediu-se dos centauros, solicitando que não ultrapassassem a orla da floresta, pois as crianças ainda dormiriam na escola naquela noite.

Após alimentar os cavalos e Bicuço, como o chamava quando ninguém estava por perto, Hagrid decidiu que deveria falar com a diretora sobre o comportamento dos centauros, embora não soubesse o que exatamente eles estavam planejando. Já nos terrenos da escola, teve que espantar um aluno que tentava se aproximar da floresta e um casalzinho que parecia ter planos de não assistir ao jogo de quadribol. No caminho para o castelo, topou com Nicolas, filho de Neville, que estava coberto de cocô de coruja.

― Longbottom, o que houve? – perguntou o Guarda Caças.

― Ah! Algum engraçadinho atiçou as corujas hoje cedo. Elas estão atacando qualquer um que chega lá. Não estão nem entregando as cartas. Minha mãe ficou de escrever no último dia para combinarmos as férias e eu tinha que vir. Acho que, dessa vez, vou poder ficar com ela – disse, radiante. ― Agora vou ter que tomar banho. De novo! – suspirou. ― Te vejo no jogo, Hagrid – disse e entrou no castelo, enquando o Guarda Caças seguia para o corujal a fim de averiguar a situação.

O grifinório entrou no castelo sob olhares de nojo dos outros alunos, pois estava realmente fedendo. Lembrou-se de um feitiço para transformar odores e tentou em si mesmo, passando a sentir um aroma de gato escaldado. Pelo menos, era mais agradável. Ia cruzar a passagem para o 7º andar, quando deparou-se com a irmã de Jonathan.

― Ei! – exclamou o garoto.

― Você está falando comigo? – questionou a garota, confusa, pois nunca tinha trocado cumprimentos com o rapaz.

― Claro. Eu achei esta carta para você e o John. As corujas estão meio loucas hoje.

― Que cheiro é esse? – perguntou Lizzie, tapando o nariz.

― Longa história – revirou os olhos e fez sinal de pouco caso. ― Aqui. O John está na biblioteca se quiser procurará-lo agora.

― Não, não está. Acabei de vir de lá.

― Bom, quando eu falei com ele e chamei para uma partida de priscobol, a Rose disse que iriam ficar mais tempo lá. Você estava na biblioteca conversando com Madame Pince quando eu saí – disse. ― Tenho que ir. Tomar um banho, sabe? Até mais.

O garoto sumiu pela passagem e deixou uma sonserina atônita. Como não os viu ou escutou? Correu de volta para a biblioteca, mas quando chegou lá, John estava apenas conversando com Gustav e os outros já haviam sumido.

― Oi! – exclamou a garota.

― Lizzie! Tudo bem? Vai ao jogo hoje? Vai ser um grande jogo. Vamos ver juntos? – questionou animado à irmã, enquanto se despedia do colega de quarto.

― Não vou ver o jogo. Não me interesso por quadribol, você sabe. Recebemos uma carta.

― De quem?

― Não sei – falou e abriu o envelope. ― Rita Skeeter – informou sem muito entusiasmo ao ler a assinatura.

― O que diz? – perguntou John e se posicionou ao lado da irmã.

Queridíssimos Sr e Srta Dumbledore,

Em primeiro lugar, minhas sinceras desculpas por não ter enviado esta coruja imediatamente após ter recebido a carta de vocês. Compreendam que o trabalho investigativo, principalmente quando se trata de mergulhar a fundo na vida do saudoso Alvo Dumbledore, consome energia, técnica apurada e tempo dos melhores profissionais. Posso, no entanto, informá-los de que estou bem próxima de revelar-lhes a sua própria história. A verdadeira: sem cortes ou especulações. Não se preocupem, pois não revelarei absolutamente nada aos Ruffery sobre vocês, como um favorzinho entre amigos.

Meus pequenos amiguinhos, fiquei profundamente estarrecida com os acontecimentos de Hogwarts. Por Merlim, se a diretora McGonagall não tivesse impedido os profissionais da imprensa de adentrar os terrenos da escola quando houve a inundação das Casas Sonserina e Lufa-Lufa, eu poderia tê-los encontrado mais cedo. Não recebi notícias suas sobre o evento, mas suponho que a diretora não tenha permitido que minha carta chegasse em suas mãos. Que tempos! Violação de correspondência! Infelizmente minha matéria sobre o assunto foi vetada. O Ministério claramente abafou o caso para salvar a cabeça de Minerva McGonagall.

Fico encantada com os relatos do jovem Dumbledore sobre as aulas de Hogwarts, professores e de como esta nova realidade os afeta. Folgo em saber que o Mundo da Magia é muito mais do que vocês poderiam imaginar. Tenho certeza de que serão bruxos interessantíssimos, mesmo que a Srta Dumbledore enfrente alguns problemas para utilizar a varinha. Espero que nossa sincera amizade seja eterna, pois considerava e tinha grande admiração pelo saudoso Alvo Dumbledore. Estou tão envolvida na história desta família que me sinto praticamente parte dela.

A amizade com a Granger-Weasley e os Potter era algo que eu considerava previsível. Certamente a Sra Weasley orientou sua filha a aproximar-se de vocês. Sempre soube que aquela bruxa tinha uma obcessão por homens poderosos. Sua maior frustração, desconfio, é não ter conseguido fisgar o Sr Potter, tendo que se contentar com seu melhor amigo para manter-se próxima. Por isso, tomem cuidado meus pequenos. O Sr Potter, com seu complexo de ausência paterna, sempre se fiou demais no saudoso Dumbledore e certamente não permitirá que vocês escapem de seu alcance. Desconfio que depois desta passagem pela escola, ele irá se oferecer para mostrar o nosso mundo a vocês. Não me surpreenderia. Conheço o Sr Potter mais do que ele mesmo.

Já a amizade com o Sr Malfoy me preocupa. Jovem Srta Dumbledore, devo alertá-la de que a família Malfoy, embora pareça ter se reerguido do fundo do poço após a 2ª Grande Guerra, jamais será confiável. Estarrece-me este relacionamento. Como amiga íntima, devo alertá-la de que uma fonte confiável me informou que o Sr Draco Malfoy esteve diretamente envolvido na morte de Alvo Dumbledore. Sua vida certamente corre perigo.

Em breve terão notícias minhas. Quentíssimas!

Sua amiga e confidente,

Rita Skeeter.

― Como assim o Sr. Malfoy matou nosso avô? – perguntou John, horrorizado.

― Shh! Fale baixo! – ordenou a garota, puxando o irmão para longe de possíveis curiosos. – Todo mundo sabe que Snape matou Dumbledore, deixe de pensar bobagem.

― Mas Rita Skeeter disse...

― E desde quando tudo o que aquela mulher escreve é verdade? Embora boa parte seja.

― Se você não acredita nela, por que mantém contato?

― Mantenho até que seja interessante para mim. Você não vai se meter com o Malfoy, entendeu? – disse, com o dedo em riste. ― Essa história da Rita não tem cabimento. O Prof Potter defendeu os Malfoys e informou que eles estavam sendo forçados pela situação. Essa história já acabou. Você está com ciúmes!

― Eu!? Ciúmes? É claro que não.

― É claro que sim. Faz todo o sentido. Jonathan, não se meta nas minhas amizades e eu não me meto nas suas. Ou esqueceu que a Rita Skeeter também escreveu que a Sra Weasley é uma sanguessuga? A mãe da sua amiguinha?

― Isso foi invenção dela! – defendeu.

― E por que Malfoy não é? Porque você quer? Me poupe!

Lizzie voltou para a biblioteca, retirou pena e pergaminho, rabiscou algumas coisas e entregou duas cartas para o irmão.

― Por que duas cartas? – perguntou.

― Porque sim. Você pode deixá-las no corujal.

― Por que eu?

― Porque o Prof. Slughorn me pediu para ajudá-lo a arrumar o armário de estoque de poções agora. E não esqueça. São importantes! Senão nossos pais podem nos esquecer na plataforma de Londres – advertiu.

― Então eu vou lá agora! – deu as costas, mas voltou atrás e encarou seriamente os olhos verdes da irmã. – Tome cuidado.

Por alguns instantes Elizabeth podia jurar que Jonathan havia invadido sua mente e descoberto absolutamente tudo o que estava planejando. Será que seu treinamento pessoal de oclumência não era efetivo contra seu próprio irmão? Mas o grifinório desfez qualquer suspeita.

― Mesmo que não acredite no que Skeeter falou, me prometa que ficará atenta e de olhos abertos.

― Eu sempre estou – respondeu e sorriu.

Jonathan deixou a irmã e foi para o corujal ainda em tempo de ver Hagrid saindo coberto e coco de coruja, garantindo aos outros alunos que agora estava tudo bem. Ele balbuciou que precisava ver a diretora e John se perguntou como ela reagiria ao vê-lo daquele jeito, sorrindo ao imaginar a cena. Discretamente, lançou um feitiço anticheiro no meio gigante. Voltou-se para o outro lado e notou que muitos alunos enviavam e recebiam cartas, ansiosos pelas merecidas férias. Escolheu duas corujas pardas e entregou os pergaminhos, separadamente. Pagou antecipadamente a uma delas, que bicava insistentemente. Quando se virou notou o sonserino amigo de sua irmã bem próximo. Acenou cordialmente, mas o garoto sequer o viu ou fingiu não ver: estava mais pálido do que o normal. John se lembrou de que o pai do garoto era um foragido perigoso, o que transformava a alegria das férias em um grande medo. Deixou o corujal rapidamente, pois ainda precisava resolver algumas pendências antes do jogo de quadribol.

O castelo parecia ainda mais agitado naquela tarde. A ansiedade e expectativa pelo último jogo do ano e a definição da Taça de Quadribol deixavam todos com os nervos à flor da pele. Até o momento, Grifinória liderava com 530 pontos no Quadribol, seguida pela Sonserina, com 470 pontos. Contudo, nem todos estavam preocupados com isso. Elizabeth andava de um lado para o outro na sala vazia do quinto andar, ao lado da armadura de bronze, onde teve aulas para controlar sua instável varinha durante todo o ano letivo. Já estava há 20min esperando que alguém aparecesse, ansiosa. Sua mochila, largada em um canto, trazia muito mais coisas do que seu exterior supunha. Tiago chegou ao mesmo tempo em que Deymon e o trio confabulou alguns detalhes de última hora. Outros 15min se passaram e nada de Khai aparecer. Elizabeth já considerava avadá-lo e ir sem ele, quando o garoto apareceu.

― Onde você estava, afinal? – quis saber Malfoy.

― Eu... – o garoto pensou um pouco no que responder, mas foi interrompido pela colega. ― Não temos tempo para isso. Vamos! – comandou Elizabeth.

O quarteto tomou o caminho para a Câmara das Passagens em silêncio, cada qual pensando no que estava por vir. Era algo excitante e perigoso. Poderiam morrer, ou pior, serem expulsos. No meio do percurso, saindo de uma passagem secreta, deram de cara com o Prof Pratevil. O inesperado encontro deixou a todos momentaneamente congelados, em atitude suspeita.

― Boa tarde – disse o professor, seco.

― Boa tarde, Prof Pratevil – responderam, em um suspeito uníssono.

O professor ergueu uma sombrancelha e analisou as feições das crianças, enquanto coçava seu queixo. Elas estavam tensas em sua presença, inclusive a Srta Dumbledore, que raras vezes se deixava intimidar por ele.

― Indo a algum lugar? – perguntou, em um tom que beirava à legilimência.

― Para o campo de quadribol – informou Deymon, o mais normal possível.

― Mas a senhorita não gosta de quadribol – constatou dirigindo-se à única garota do grupo, pressionando o quarteto.

― E não gosto mesmo. Por isso vou ficar lendo alguns livros que peguei na biblioteca – respondeu, sem tirar os olhos do bruxo. ― Professor, onde essa passagem secreta vai dar? Ninguém nunca nos falou dela.

― Existem muitas passagens secretas em Hogwarts que vocês não ouviram ou ouvirão falar. Com licença – retirou-se, em um voleio de capa.

― Muito suspeito – ressaltou Malfoy, dirigindo-se para a passagem.

― Não temos tempo. Vamos em frente – constatou a garota, puxando o colega pelo braço.

Caminharam por um corredor junto com outras crianças que mal os notavam, tamanha a empolgação em suas próprias conversas. Conforme o combinado, Deymon e Khai seguiram na frente, enquanto Lizzie e Tiago colocavam a capa em um corredor transversal, deserto. Os dois sonserinos encontraram o hall relativamente cheio, mas não do jeito que esperavam. Pirraça estava próximo às escadas, zombando de tudo, como sempre. Os garotos trocaram olhares rápidos.

― Como assim explosivins dando mole?! – bradou Macbeer, para chamar a atenção do poltergeist.

― Shhh! Ninguém pode saber! – sussurrou Malfoy, notando a aproximação do fantasma, que fingiu desaparecer.

― Onde estão? Podemos soltá-los quando a Grifinória perder o título – mentiu Khai.

― Está na passagem secreta do 1º andar, atrás da tapeçaria. Provavelmente o Filch estava no pé de algum desavisado. Mas temos que ir agora, antes que alguém ache e...

Achei! Acheei! Acheeeeeeeeei! Achado não é roubado, quem perdeu é um trasgo desdentado! – gritou e saiu voando pelas escadas para o 1º andar, dando língua para os alunos do hall.

Os garotos sorriram e correram para a Câmara das Passagens, posicionando-se do lado direito da saída, conversando sobre assuntos que não interessavam a ninguém no momento. Atrás deles, protegidos de esbarrões, estavam duas pessoas invisíveis. Não demorou muito para ouvirem os primeiros sons de explosões e para que a correria começasse. Aproveitando-se do fato de todos olharem para um Pirraça com um sorriso maroto, os dois sonserinos se esconderam sob a capa. O poltergeist fazia bem o seu papel, tentando acertar os alunos na cabeça, o que acabou chamuscando muitos cabelos e chapéus. O quarteto foi se esgueirando, cuidadosamente, pelo canto. Foi então que surgiu, no meio da escada do hall, onde antes não havia nada, o sumido Sr Beezinsky. Congelaram quando ele parou a um corpo de distância de onde estavam para retirar do poltergeist os explosivins que restavam e bater boca com o teimoso fantasma. Foi a oportunidade que esperavam. Passaram por trás do animago e entraram no corredor da infiltração, dirigindo-se para a masmorra número 13.

Passada a confusão que atraiu uma diretora furiosa, as atenções se concentraram na última partida de quadribol. Sonserina e Lufa-Lufa se enfrentariam em um duelo mortal. Todas as casas torciam contra os sonserinos, uma vez que achavam a saída de Potter do jogo contra eles muito suspeita e não queriam ver a Taça em suas mãos trapaceiras.

O jogo começou com muita ação de ambos os lados. James gritava com o capitão dos lufos para fazer algumas jogadas da grifinória até o próprio Leo Bernett mandá-lo calar a boca. Gina acompanhava a tudo com os olhos afiados, vibrando com a vivacidade daquelas crianças. Não teve como negar a sua vontade de entrar em campo, como no tempo de Hogwarts ou das Harpias de Holyhead e fazer valer as suas habilidades. De repente, uma leve brisa de nostalgia a atingiu, fazendo-a lembrar de como era jogar com Harry no comando, com Rony no gol e Mione na arquibancada. Sentiu seu coração palpitar e colocou a mão sobre o peito, contendo uma pequena lágrima dos tempos que não voltavam mais. Agora era uma mulher madura, com filhos, tinha um marido com uma responsabilidade imensa sobre os ombros e seu irmão, junto com sua melhor amiga, estavam em uma busca interminável dos bruxos que reconstruíram Hogwarts. Não soube o porquê, mas sua mente, por um instante, fixou os pensamentos neles dois e perguntou-se quando aquela tarefa teria fim.

No norte da Inglaterra, quase na fronteira, Rony e Hermione saíam de mais uma residência bruxa sem nada de concreto. Aparentemente, todas as pessoas da lista que o Ministério possuía eram bruxos de boa índole, embora alguns já tivessem se tornado um pouco esquisitos demais com a idade. Havia, é claro, alguns mortos e destes já não se podia ouvir muito sobre o assunto. Hermione deixou-se largar em uma cafeteria trouxa, quando aparatou em Londres, pedindo um cappuccino. Ronald preferiu um café irlandês, para rebater o cansaço, sob o olhar duvidoso da esposa.

― Admita, Hermione. Essa investigação foi uma enorme perda de tempo.

― Para os objetivos do Ministério e de Hogwarts, realmente, não posso discordar de você, querido. Contudo, as histórias que ouvimos foram fantásticas. Não tinha ideia de tamanha devoção, emoção e dedicação no levantar de cada uma daquelas pedras. Você tem noção de como isso pode ter afetado magicamente a escola?

― Não – respondeu de imediato, ao morder um biscoito que acompanhava seu café. ― Mas tenho certeza de que você tem várias ideias, amor.

― Não ideias, suposições. Gostaria de poder passar um tempo estudando esse impacto em Hogwarts. Imagine a compilação de dados que eu teria e...

― Não está pensando em escrever um livro sobre isso, está? – questionou o ruivo, com um olhar inquisidor para a esposa.

― Não Ronald. Já lhe disse que não.

― Sei...

O silêncio de seu esposo foi demais para a morena suportar.

― Mas seria um desperdício de ideia, não seria?

― Ideia, não. Suposição – corrigiu e viu uma expressão desgostosa no rosto da esposa. ― Mione, você prometeu! Sabe que quando entra nessa espiral de “ideia fantástica que não pode ser desprezada” é impossível conviver com você. Até as crianças reclamam.

― Mas ninguém precisaria saber, Ron. Eu poderia até... – Hermione encarou os olhos azuis cansados do marido e desistiu. ― Quem sabe em um outro momento.

― Bom, agora que acabou, podemos voltar para casa?

― Você sabe que tenho que fazer um relatório sobre essas visitas. Apenas um relatório, Rony, nada mais – ressaltou, diante do olhar desconfiado do outro. ― E você deve ir para o quartel dos aurores, ver o que pode fazer. Ainda existem bruxos à solta, você bem sabe.

― E quem vai olhar as crianças? Elas serão criadas por duentes ou trasgos invisíveis ou babuínos bobocas que balbuciam bobagens? É um absurdo que não tenhamos férias depois de quase 6 meses procurando por pistas na bosta de dragão dessa lista inútil!

Hermione não pôde conter uma risada. Esse lado divertido em Rony, não importava a situação, era o que mais amava nele. O mundo podia se acabar, mas sempre estaria com raiva dele e riria das suas idiotices ao mesmo tempo.

― Babuínos bobocas que balbuciam bobagens! Realmente... – balançou a cabeça negativamente, embora sorrindo e voltou a encarar o marido. ― Ora, não seja dramático. Rose ainda está em Hogwarts e sua mãe está com Hugo. Todo Weasley ama estar na Toca e é isso que você quer. Tirar longos cochilos na sua cama e comer a comida de Molly.

― E se for? Qual o problema? Sou filho da minha mãe. Não tenho vergonha de admitir.

Hermione passou gentilmente as mãos no rosto do marido, que fechou os olhos para curtir o toque suave da mão de sua esposa. Depois de algum tempo, ela quebrou o silêncio.

― Quer dizer que você prefere ir para a casa da sua mãe do que ficar comigo na nossa casa? – perguntou em um tom displiscente.

Ronald imediatamente abriu os olhos, sentou-se direito e encarou a esposa, com um sorriso nos lábios.

― Claro que não, quando você coloca nesses termos...

― Ron, você não existe! – exclamou sorrindo, enquanto abria sua bolsa para rever a lista de nomes mais uma vez, para desapontamento do ruivo que dava adeus aos seus pensamentos. ― Não vimos a Sra Aileen Ambrose – disse em voz alta.

― Ela estava em um safári na África, com o marido e 8 filhos, lembra? A mulher que teve octoplus depois de tomar uma overdose de poção de fertilidade? Devem ser colegas de Hugo, inclusive. Vou mandá-lo manter distância das meninas dessa família.

― Por que? – perguntou Mione, tirando os olhos da lista para encarar, curiosa, o esposo.

― E eu sei lá o efeito que a poção causou nessas meninas? Devem ser muito férteis.

― Ronald! Seu filho completou 10 anos a poucos meses!

― Os tempos são outros, minha querida.

― Que absurdo! Você me desaponta com seu machismo sem sentido.

― É que as mulheres de hoje não são mais comportadas como você e Rose, Mione. Elas praticamente se atiram nos caras e a gente é quem tem que desviar dessas malucas...

Hermione jogou na mesa com demasiada força um livro que tinha acabado de tirar da bolsa com anotações e encarou o marido com um olhar assassino.

― Não acho que estamos mais falando do futuro de Hugo, Sr Weasley – constatou séria.

― Amor, são observações da vida. São todas malucas, verdade, não tenho como adivinhar de onde uma desmiolada vai sair. Digo sempre que sou muito bem casado com uma mestre em feitiços, contrafeitiços, azarações e maldições, sem falar na família linda que tenho e de como sou feliz. Mas essas malucas... Precisa ver o Harry.

― O que tem o Harry? – perguntou, beirando à fúria.

― Ele é o mestre em desviar na diplomacia – respondeu rapidamente. ― Aprendi tudo o que sei com ele, verdade!

― Ronald, Ronald. Não me faça usar legilimência em você.

― Não é preciso, amor. Sabe que eu sou retardado o suficiente para não notar uma mulher interessada em mim nem que esteja diante do meu nariz. Demorei anos para notar você, não foi? E estou muito feliz até hoje com essa escolha – respondeu, se aproximando para tocar os lábios de sua esposa. ― Ninguém nunca vai me completar como você, Mione. Disso eu tenho certeza.

Ele beijou carinhosamente sua esposa, que retribuiu. O assunto seria adiado, mas Hermione já tinha uma nota mental para discutir isso com Gina um outro dia até chegarem a um acordo sobre como proceder com essas malucas desmioladas sem amor à própria vida.

― Vamos para casa? – ele perguntou num sussurro.

― Não até eu conferir a lista. Primeiro a obrigação – disse e puxou o pergaminho para si, enquanto o bruxo revirava os olhos e bufafa, frustrado. ― Sr Adolphus Kimball estava a trabalho do ministério e o interrogaram lá mesmo. Vejamos... Hum... Por que não encontramos o Sr Wades Upton? Não sei por que não anotei.

― Não faço ideia.

― Ronald, estou falando sério.

― Eu também. Não faço ideia.

― Será que o esquecemos? Bom... Se nenhum de nós lembra, só há uma coisa a fazer.

Hermione pediu a conta e saiu de braços dados com seu marido do estabelecimento. No beco deserto mais próximo desaparataram para o endereço de registro. O local onde aparataram era inabitado, mas não irreconhecível.

― A casa abandonada e a infestação de fadas mordentes, agora eu lembrei – disse Ron.

― Bom, não tão abandonada assim. Veja! Aquele par de botas sujas não estava ali antes – afirmou Mione e sacou sua varinha. ― Vamos.

Os bruxos se aproximaram cautelosamente, atentos ao alarme de algum feitiço repelente ou um ataque vindo da casa. Surpreenderam-se quando um senhor alto e esguio, com barba por fazer e começando a ficar careca abriu a porta para colocar o lixo para fora. Pego de surpresa, o bruxo ficou parado de boca aberta um tempo e depois tateou as vestes em busca da varinha, quando notou que não estava ali. Desarmado, levantou as mãos e encarou os visitantes.

― Não devo nada a ninguém. Já disse que foi um mal entendido. O que querem dessa vez? – perguntou com sua voz confusa, embolando as palavras.

― Desculpe, senhor – disse Mione, baixando a sua varinha. ― Estamos procurando o Sr Wades Upton. Assunto do Ministério.

― Sempre é um assunto do Ministério, não é? O que eles querem dessa vez? Recolocar um rastreador em mim? Me colocar como cão farejador do ministro? Ora, não tenho culpa de ser atraído por chaves de portal. Já disse que não consigo evitar. É uma bosta de dragão, se quer saber a minha opinião.

― O senhor é... É Wades Where? – perguntou Rony, surpreso.

― Não gosto desse apelido – retrucou, fazendo uma careta.

― Santo Merlim, Mione! É o andarilho dos portais. Não acredito.

― Agora o Ministério manda pessoas atrás de mim sem contar quem eu sou. Que amadorismo. Pois digam que não me interessa o que o Ministério pensa! Eu não estou disponível! – disse e virou-se para fechar a porta.

― Na verdade, estamos interessados na sua participação na reconstrução de Hogwarts – informou a bruxa, antes que o homem fechasse a porta por completo. ― Não sabíamos que o senhor era Wades Wh... Upton e que possuía esse dom.

O bruxo voltou a abrir a porta e encarar os dois forasteiros, parecendo olhar para eles com interesse pela primeira vez.

― Os senhores não me são estranhos.

― Ronald Weasley, senhor. Esta é minha esposa Hermione Granger Weasley.

― Vocês não eram os amigos de Hogwarts de Harry Potter?

― É uma forma de ver a coisa – respondeu Rony, dando de ombros, sinal de que já não se importava mais com a referência.

O velho bruxo encarou os dois refletindo sobre a questão por alguns instantes.

― Entrem.

O casebre era muito simples, com aspecto de abandono, sinal de que o seu dono passava longos períodos fora dali. Embora as teias de aranha não fizessem mais parte da decoração, os velhos móveis e o fedor de mofo ainda predominavam no ambiente. A cama no cômodo ao lado, contudo, destoava de tudo: estava completamente limpa e apta para um belo cochilo. Uma velha mala de mão estava recostada a um canto e uma garrafa cheia repousava sobre a mesa, acompanhada de um velho copo de prata.

― Em que posso ser útil? – questionou o bruxo, ao conjurar duas cadeiras para os inusitados visitantes. ― Desculpe não poder oferecer algo para beber – informou.

Ronald encarou a garrafa na mesa, mas logo foi cutucado por Hermione para não fazer comentários inadequados sobre a clara falta de educação do andarilho.

― Sr Upton, Hogwarts está enfrentando problemas inusitados, como o senhor deve ter lido no Profeta Diário – disse a bruxa.

― Não sei – respondeu. ― O que houve?

― Bom, aparentemente a escola está com uma infiltração impossível de ser estancada, ocorreu uma séria inundação em algumas áreas do castelo, estamos acompanhando o desaparecimento de alguns espécimes de flora e fauna que são atraídas pelo campo mágico da escola e as escadas que se movem, subitamente, pararam – continuou.

― Merlim! As escadas pararam? Realmente essa questão me entristece muito.

― Por quê? – questionou Rony.

― Ora, porque depois de chegar à Hogwarts foi ali que fiz questão de trabalhar. Na época em que estudei na escola, adorava ficar admirando o movimento das escadas.

― O senhor se recorda de algum acontecimento estranho quando estava trabalhando na reconstrução? Qualquer fato inusitado. Talvez alguém que possa ter feito algo diferente...? – comentou Ron, despretensioso.

― O senhor quer saber se eu vi alguém fazendo uma besteira ou se eu fiz uma besteira? – questionou irônico o outro bruxo e se levantou para dar uma olhada no caldeirão. ― Evidente que não lhes diria, não acham? Mas a supervisão na reconstrução da escola foi muito bem conduzida pelo Ministério. Nunca houve nenhum incidente – completou, voltando a sentar-se diante do casal.

Hermione suspirou frustrada. Durante os anos de treinamento no Ministério era capaz de observar, sem o uso da legilimência, os traços na expressão dos outros para saber se estavam mentindo ou não. O homem diante de si poderia ser considerado um reincidente em romper os acordos diplomáticos entre países no que dizia respeito a viagens de portal, mas não era um enganador. Realmente, o Ministério havia escolhido a dedo todos os que desejaram participar da reforma da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ronald encarou a esposa e compreendeu que estavam, mais uma vez, na estaca zero.

― Bom, senhor, muito obrigado pelo seu tempo. Espero que possa tirar um bom cochilo – desejou Ron, apontando para o quarto arrumado.

― É o que eu desejo também – informou o outro, alisando carinhosamente a garrafa em cima da mesa.

Aquilo atraiu a atenção de Hermione para algumas palavras não ditas naquela conversa:

― Com as andanças que o senhor faz, não costuma ler muito o Profeta, verdade?

― A leitura nunca foi o meu forte.

― Então, como soube que a escola estava selecionando voluntários para a reconstrução?

O bruxo encarou Hermione com curiosidade, tentando antecipar seu raciocínio.

― Eu fui atraído, é claro.

― Por chaves de portal. Existe uma chave de portal em Hogwarts? – questionou a bruxa.

― Querida, a pergunta é: quantas chaves de portal existem em Hogwarts?

― Você a encontrou? – continuou a questionar, ansiosa.

Ronald observava a cena, tentando captar todos os detalhes e ler as entrelinhas que, para Hermione, parecia bem simples.

― Não. Chaves de portal só são ativadas no momento que foram programadas para isso. Só o que consegui foi uma pista.

― Qual a pista? – perguntou Ron, agora tão excitado pela descoberta quanto Mione.

― Não lhes direi. Chaves de portal são coisas perigosas e quem escondeu essa soube bem o que fazer. Na verdade, desconfio de quatro pessoas – disse e sorriu, enigmático.

― Os fundadores – afirmou Hermione, mais para si do que para os outros. ― Esse é o prêmio para quem descobrir a estratégia do jogo de Hogwarts.

― Jogo? – perguntou Wade, curioso.

― Informação sigilosa – informou Ronald, rebatendo a postura do outro bruxo.

― Ronald, está tudo bem. Vamos provar que somos de confiança.

Em alguns minutos, Hermione explicou toda a lógica de seu raciocínio diante de um olhar atento aos pormenores. Ao fim, Wade Where sorriu.

― Sempre as crianças – disse.

― O quê? – exclamou o casal ao mesmo tempo.

― Quando estudei em Hogwarts passei muito tempo admirando as escadas, sabe? Achando que elas queriam me dizer alguma coisa, como se eu quase pudesse ouvir a sua voz. Talvez o meu dom de encontrar chaves de portal estivesse se manifestando. Enfim, fiquei um pouco esquisito naquela época, todos me achavam louco. Minhas horas intermináveis deitado abaixo das escadas, vendo o movimento que faziam, me fizeram enxergar.

― Enxergar o quê, precisamente? – questionou Hermione, suavemente.

― As runas por trás do movimento. As escadas se movem de forma aleatória, certo? Aleatória para quem não entende a sua lógica e eu entendi. Quando retornei para a escola, depois de tantas andanças, ao ver os primeiros movimentos das escadas, eu percebi. Não que isso me faça menos esquisito, na verdade, acho que me faz muito mais. Quem diria que entender a língua de escadas mágicas renderia alguma coisa? – e gargalhou com muito gosto.

Ron e Mione trocaram olhares rapidamente. Estavam muito ansiosos e se controlavam ao máximo para não pressionar o bruxo e jogar por água abaixo todo o trabalho que tiveram. A lista do Ministério estava, enfim, dando um imenso retorno.

― Sempre as crianças. É isso que a escada diz.

― Sempre as crianças. Mas o que isso quer dizer? – perguntou o ruivo e viu o outro dar de ombros.

― Talvez que sempre as crianças importem – disse o bruxo, displiscente.

― Talvez... Talvez que sempre as crianças encontrem um caminho – supôs Hermione e seu rosto se iluminou pela teoria que se formava e Ron já conhecia o que estava por vir. ― Merlim, Ron! Sempre as crianças, é claro! Sempre as crianças são as únicas a ver o que vale a pena ser visto. Nós, como crianças, conseguimos ver muito mais do que os adultos, quando estávamos em Hogwarts. Nossas mentes estavam abertas naquela época, como os sereianos nos disseram para mantê-las. Talvez, em algum momento, nós tenhamos esquecido como é. Certamente crescemos e deixamos muitas coisas para trás, mas as crianças, sempre as crianças, nos farão lembrar e ver o que realmente importa!

― Ela é brilhante – sussurrou o andarilho, em reconhecimento ao raciocínio da bruxa.

― Sempre o tom de surpresa – respondeu Ron, sorrindo, sem tirar os olhos da esposa.

― Obrigada, muito obrigada por sua ajuda, Sr Upton. Ron, precisamos voltar para Hogwarts imediatamente – decidiu Hermione, recolhendo suas coisas.

― Os senhores vão para Hogwarts hoje? Por Merlim! Daria tudo para estar na escola esta noite – disse, num tom saudosista.

― Esta noite? O que há de tão especial em Hogwarts esta noite? – Ron perguntou.

― Ora, então não sabem? Para nós, entusiastas da mitologia bruxa, esta noite é a noite mais importante de todas.

― A noite elemental! Esqueci completamente! Como pude ser tão estúpida? Ronald, precisamos correr – Hermione se dirigiu para a porta, mas se virou e encarou o andarilho. ― Você pressente alguma chave de portal?

― Minha querida, esta noite é o meu pior pesadelo. Pretendo tomar um porre de poção para dormir sem sonhar, imediatamente – afirmou, carregando a garrafa nos braços. ― Todos os bruxos mais simplórios do mundo parecem ter criado uma chave de portal para hoje à noite. Imagine o que quatro mentes brilhantes não possam ter planejado?

Hermione aquiesceu e puxou Rony porta afora.

― Aproveite a beleza da noite elemental! – gritou, mas o casal já havia desaparatado.

Enquanto Hermione e Rony travavam uma longa conversa com o Sr Upton, em Hogwarts ocorria a partida mais dramática de todos os tempos. Os goleiros de ambos os times estavam impossíveis, realizando defesas impressionantes. Os batedores também faziam com precisão seus trabalhos, retardando o avanço dos artilheiros. Os gols da partida haviam saído de jogadas individuais, uma vez que os times haviam desenvolvido um esquema de marcação quase impecável. Lena Jordan fez a diferença no jogo, ao ampliar a vantagem dos lufos em duas jogadas espetaculares em sequência, deixando até mesmo James de queixo caído. O jogo estava 80 a 60 quando o pomo foi avistado.

Esse era o sinal combinado com Rose para que o grupo se aproveitasse da distração geral e pudessem sumir sem ser notados. A garota e Peter foram os primeiros a deixar os seus lugares, descendo as escadas da arquibancada do campo até que ninguém pudesse vê-los. De sua bolsa extensiva, a grifinória retirou a capa de invisibilidade do primo e se cobriu com o amigo. Alvo e Jonathan os encontraram em seguida, pela voz.

― Chegou a hora. Vamos andando para não esbarrarmos em ninguém – comandou Rose.

Em silêncio e a passos lentos, de forma que ninguém visse seus pés, os quatro seguiram curvados sob a capa, com certa dificuldade.

No campo de quadribol, os apanhadores disputavam ombro a ombro, centímetro a centímetro, em uma velocidade estonteante atrás da bolinha dourada. Os olhos da plateia brilhavam de ansiedade e todos prenderam o fôlego quando Artemus Ruscatcher, lufo, quase a alcançou. Ele logo se recuperou da jogada em falso e emparelhou novamente com o sonserino, em uma descida em espiral. O pomo zigzagueou e voltou a subir, forçando os jogadores a dar meia volta para cima. Ruscatcher levou a melhor sobre Vector Pendraconis e novamente quase tocava o pomo, quando o gongo soou com o gol de Ivanova Pervehell para a Sonserina, alertando os torcedores para a partida que ainda rolava.

― Não! – gritou James levando as mãos à cabeça. ― Não pegue o pomo!

Mas já era tarde demais. Madame Hooch apontou o centro do campo e encerrou a partida. Lufa-Lufa ganhou o jogo por 240 a 70. A torcida verde e prata foi à loucura gritando em triunfo. Com a soma dos pontos, a Sonserina levava a Taça de Quadribol por 10 pontos de diferença.

A evasão em massa das outras torcidas e a entrada barulhenta da Sonserina era exatamente o que Rose e seus amigos precisavam, para atrair a atenção dos bruxos do Ministério. Uma pequena confusão envolvendo sonserinos e grifinórios mais velhos foi a deixa para os quatro alunos entrarem no corredor da infiltração, sem ninguém notar a singela alteração que causaram ao atravessarem o véu de invisibilidade deixado pela diretora no início do ano.

― E agora? – sussurrou Jonathan.

― Nós esperamos sob a capa – respondeu Rose.

Os quatro acompanharam atentamente os comentários sobre o jogo dos alunos que trafegavam pelo hall. Ficaram bem desapontados pelo fato de a Sonserina ser a campeã de quadribol e voltaram a discutir sobre o suspeito acidente de James. John, claro, fingiu não saber a verdade. Do lado de fora, Gina caminhava ao lado de Neville, comentando algumas jogadas interessantes e lamentando, bem baixinho, a vitória sonserina. Enquanto conversava com o amigo avistou pela porta do hall a chegada de dois bruxos bem conhecidos e se perguntou o que Mione e seu irmão estavam fazendo nos terrenos de Hogwarts.

― Mione, Ron! O que estão fazendo aqui? Descobriram algo? – perguntou Gina.

― Precisamos falar com a diretora – informou Hermione. ― O assunto se tornou um pouco mais sério, eu acredito.

― Vamos encontrá-la em sua sala. Levo vocês – informou Longbottom.

Os quatro bruxos caminharam a passos apressados, mas o clima ao redor chamou a atenção de Ronald.

― O que houve? – perguntou.

― A Sonserina ganhou a Taça de Quadribol – informou Gina, um pouco triste.

― Por quê? Como? – questionou Ron. ― Eles são péssimos!

― Na verdade, eles são bons, Rony. O time não é de todo um trasgo, como quando a gente estudava. São jogadores espertos. Foi muito apertado, por 10 pontos – respondeu sua irmã. ― Embora a Lufa-Lufa tenha realizado jogadas individuais excelentes, principalmente Lena Jordan.

― Aquela Lena Jordan? – perguntou Mione, com um sorriso enviesado.

― Exatamente – sorriu Gina.

Os quatro bruxos seguiram para a sala da diretora. Assim que alcançaram a estátua de mármore e informaram a senha, que desta fez era Russo Azul, encontraram Minerva assinando alguns pergaminhos, preocupada. Ao levantar o olhar e deparar-se com seus antigos alunos, presumiu que haviam, enfim, alcançado alguma luz sobre os problemas da escola. Rapidamente solicitou a um dos quadros dos ex-diretores que informasse ao Ministro, com discrição, que sua presença era requerida na escola e aguardou, pacientemente.

Kingsley Shacklebolt aparatou em Hogsmeade segundos depois de receber a mensagem, acompanhado do Chefe da Seção de Aurores, Harry Potter. A visão dos dois causou, evidentemente, um alvoroço fora do comum na escola. O receio de que ela fosse fechada começou a percorrer os corredores do castelo, assim como o medo de que alguns dos fugitivos de Azkaban estivessem rondando os terrenos. Alvo e Rose se entreolharam quando os bruxos passaram pelo hall, sem notá-los atrás do véu.

Assim que entrou da sala da diretora McGonagall, Harry não conseguiu conter um sorriso por reencontrar seus amigos e, especialmente, sua esposa. Ela parecia ainda mais linda quando lhe retribuiu pelo olhar, cúmplice, a saudade que sentia. Ele conjurou uma cadeira ao lado dela e tocou sua mão discretamente, enquanto todos silenciavam para escutar, atentamente, as novas informações.

— Ronald e eu visitamos, nos últimos meses, todos os bruxos disponíveis na lista que nos foi fornecida pelo setor de Reconstrução de Desastres Mágicos. De fato, as pessoas selecionadas para auxiliar na reforma da escola foram criteriosamente escolhidas – ressaltou Mione. — Somente hoje encontramos um bruxo capaz de nos fornecer alguma pista: Wade Upton.

— Ele é mais conhecido como Wades Where – informou Rony, diante da apatia de todos.

— O andarilho dos portais? – questionou Harry. — Achei que fosse apenas uma brincadeira do Departamento de Mistérios.

— Ele é um bruxo capaz de sentir a presença de chaves de portal, diretora McGonagall – continuou Hermione. — Quando Hogwarts sofreu grandes provações na II Grande Guerra, ele foi atraído para cá, durante a reconstrução. Ele trabalhou diretamente nas escadarias, pois sempre foi atraído por elas, quando criança.

— Seria uma provável manifestação de seu dom? – questionou o Ministro.

— Acreditamos que sim, senhor – respondeu a bruxa. — Ele observou as escadas por um longo tempo até notar que a sequência delas poderia ser vinculada à escrita de runas antigas e identificar o seu teor — Hermione fez uma breve pausa, aumentando a expectativa de todos na sala. — Significa “sempre as crianças” – afirmou e diante do olhar confuso dos outros, prosseguiu. — A lenda dos sereianos nos informa que devemos manter a mente aberta e quem mais possui o dom de observar o inobservável do que as crianças? Nós, quando éramos estudantes, compreendíamos o que ocorria no mundo de um jeito diferente dos adultos, nos antecipando, muitas vezes, aos acontecimentos. Por que seria diferente com essa geração? Eles estão muito mais sensíveis e antenados do que nós. “Sempre as crianças” nos farão lembrar do que realmente importa.

— Então a teoria do jogo de xadrez seria para elas? – perguntou Harry.

— Sim. Eu acho que algum pestin… Alguma criança – corrigiu-se Rony – Deve ter alguma informação que não levou a um professor. Claro, até nós mesmos já fizemos isso. Quantas vezes falamos e não fomos ouvidos? Sem ofensa, diretora.

— Ronald! – retrucou sua esposa.

— Ele está certo – respondeu Minerva. — Sempre no lugar errado na hora certa, era o que costumávamos dizer. Coincidências, mas o Prof. Dumbledore nunca pensou assim.

— Seus filhos – respondeu, de repente, Neville.

— Perdão? – questionaram seus amigos.

— Bom, se for para pensar assim, são os seus filhos que sempre estão no lugar errado na hora certa – disse Longbottom. — Alvo e Rose estavam na escadaria no dia em que você também ouviu a voz, Harry. Os Dumbledore, Malfoy e algumas outras crianças também. De fato, eles sempre andam por aí em atitude suspeita, como diz o Prof Pratevil a toda hora na sala dos professores. Na biblioteca, nos terrenos lá fora, nos corredores e até mesmo aqui perto da sala da diretoria. Nunca notaram? – questionou a Harry e Gina, que já haviam lecionado, dirigindo depois seu olhar a uma diretora que buscava na memória todos estes fatos.

— Nesse caso, acredito que devemos ouvir o que os jovens têm a dizer para acrescentar informações para a resolução deste caso – ressaltou o Ministro. — Não vamos cometer os mesmos erros de antes. Quem sabe não venha deles a simples solução para o problema da magia que enfrentamos na escola? Eu preciso voltar ao Ministério. O senhor deve ficar, Sr Potter. Acredito que lhe interesse saber sobre seu filho.

— Tem mais uma coisa – disse Hermione, atraindo a atenção de todos. — Muitos excêntricos de magia acreditam, segundo o calendário antigo, que hoje será a noite elemental.

— O Ministério esteve uma loucura durante todo o dia por conta disso e o Profeta Diário não ajudou publicando as matérias sobre o assunto. Sete páginas devoradas ávidamente por muitos curiosos. Não faz ideia de quantas corujas recebi alardeando sobre o fim dos tempos – informou o Ministro.

— O senhor não acredita? – perguntou Neville, um dos que devoraram as páginas do Profeta.

— Acredito que esse tipo de notícia vende muito jornal e atrapalha o andamento dos trabalhos mais sérios – respondeu, austero. — Metade dos funcionários do turno da noite já informou que não irá trabalhar e desconfio que a outra metade simplesmente não apareça. Todos querem observar a lua ficar azul, com o acúmulo de poeira cósmica. Deve ser algo único de se admirar e pode ser que eu o faça, se de fato acontecer. Não acredito nas informações sobre o que ocorreram em noites assim, mas devo me precaver daqueles que acreditam, pois o fanatismo, muitas vezes, leva a atitudes insensatas. Pegamos um grupo que tentou revelar a existência de nosso mundo em plena King’s Cross na hora do rush. Sem falar do monitoramento dos trouxas que acreditam em magia e fim dos tempos. Não é um dia comum, nisso os teóricos estavam certos.

— De certa forma, Ministro, Wades Where tem o mesmo pensamento que o do senhor – informou Rony. — Ele sente que muitos bruxos fizeram chaves de portais acreditando nas supertições do dia de hoje, inclusive, em Hogwarts. Se existe uma chave de portal aqui pode ter sido deixada por qualquer pessoa, em qualquer tempo – ressaltou. — Desde os fundadores até mesmo…

— Voldemort – finalizou Harry, criando um silêncio constrangedor na sala.

Hermione encarou o esposo, surpresa pela conclusão brilhante que ela mesma não teve.

— Vou verificar se dispomos de mais alguns bruxos para monitorar a escola hoje à noite – informou o Ministro, concordando com os bruxos. — Diretora McGonagall, acredito que os alunos não devam percorrer o castelo livremente esta noite.

— Concordo. Prof Longbottom, por favor, avise aos outros diretores das Casas que iremos reunir todos os alunos no Salão Principal para admirar, através do teto encantado, esse fenômeno. Dessa forma, não levantaremos suspeitas ou alardes. Vou preparar o espaço junto aos outros professores para o evento. Senhores Potter e Weasley, poderiam fazer a gentileza de conversar com os seus filhos? Nos encontraremos no salão.

Os adultos logo de dispuseram aos trabalhos. Enquanto isso, nas masmorras, o quarteto formado pelo corvinal e sonserinos aguardava, ansiosamente, algum sinal próximo à masmorra número 12.

— Acha que ainda vai demorar muito? – perguntou Malfoy à colega.

— Você precisa ter paciência – informou a garota, sem tirar os olhos de sua interessante leitura.

— A noite elemental deve acontecer por volta das 19h. Era como meu avô contava as histórias, pelo menos – respondeu Khai.

— Bom, estamos próximos das 19h, com certeza. O jogo já deve ter terminado. Será que a Grifinória ganhou a Taça de Quadribol de novo? – comentou o corvinal para se arrepender em seguida, diante do olhar sanguinário dos sonserinos. — Desculpe.

— Vou dar uma volta – informou Malfoy.

— Mas e se algo acontecer e… - começou Khai.

— Vocês me chamam, ora. Vou olhar o que tem nas masmorras – retrucou.

— Tome cuidado – ressaltou a garota, passando a página do livro sem encará-lo. — Deve existir uma boa razão para não deixarem os alunos perambularem por aqui. Vê se não morre comido por um dragão ou é enfeitiçado.

— Lizzie! – exclamaram Tiago e Khai.

Deymon encarou a garota por alguns instantes e sorriu discretamente enquanto saía.

— Pode deixar.

Malfoy começou a andar descompromissado, mantendo-se próximo ao local onde estavam seus colegas. Pelo caminho ascendeu algumas tochas com incendio. Espiou curioso pelas portas abertas das masmorras, empurrou outras sem trinca e até utilizou o feitiço alohomora em pequenas salas trancadas. Algumas, entretanto, foram impossíveis de abrir. Observou curioso uma sala repleta de instrumentos antigos e algemas nas paredes onde supunha que ocorriam os antigos castigos tão comentados por Filch. Na verdade, mais parecia um local para conter um animal mágico de escala XXXXX na classificação do Ministério da Magia. A maioria das salas naquela seção estava vazia.

Após alguns minutos de exploração, ele resolveu caminhar de volta e aguardar pacientemente junto aos outros quando chutou uma pedra que quicou através de uma parede sólida. Aquilo definitivamente chamou sua atenção, pois era algo excitante e perigoso. As palavras da sonserina ecoaram em sua mente como um lembrete e Deymon sacou sua varinha, atravessando a parede, cautelosamente. Um pequeno corredor escuro se revelou.

Lumus! – ordenou.

Não havia absolutamente nada. Nenhum barulho, nenhum objeto, nada. Apenas um longo corredor sem fim. Talvez fosse esta a passagem para fora do castelo à qual Filch havia citado quando tomou a poção veritasserum. Deu meia volta para se juntar aos amigos na longa vigília e contar as novidades quando notou que pisava em pequenas pedrinhas pontudas que brilhavam. Ao aproximar os olhos notou que, na verdade, eram sementes. Pegou algumas e tentou imaginar que tipo de espécie alguém estava tentando plantar por ali. Prontamente pegou o caminho de volta para questionar à sonserina se saberia identificá-la. Talvez fosse algo interessante para investir.

Elizabeth estava aparentemente calma, folheando um livro de feitiços práticos, dentro da masmorra número 12, mas mantinha os olhos atentos a qualquer alteração no ambiente. Do lado de fora, Khai e Tiago estavam sentados em lados opostos do corredor, também alertas para algum sinal. Deymon chegou pelo caminho onde Macbeer se encontrava e comentou com o amigo o que tinha visto na pequena exploração. Sacou dos bolsos as sementes e mostrou ao colega. Por alguns instantes Khai encarou o que o sonserino lhe mostrava na certeza de que sabia ser algo importante, mas não conseguia recordar exatamente o quê. Tiago, curioso, se aproximou dos dois e viu as sementes. A expressão no rosto do corvinal se tornou sombria:

— Merlim! Onde você encontrou isso? São sementes de fogo da Macedônia. Ingredientes não-comercializáveis classe A! São elas que atraem os hungús e sabemos que eles estão na floresta!

— Tem certeza de que são sementes de fogo? – Malfoy perguntou, preocupado.

— Claro que sim. Meu tio me mostrou no livro. Onde conseguiu? – interrogou tenso.

— Em uma passagem secreta mais adiante – informou. — Acho que é a passagem que leva para fora da escola – disse, em tom de afirmação.

— O que houve? – indagou a garota ao sair da masmorra, diante do alvoroço.

— Semente de fogo da Macedônia. Malfoy encontrou, possivelmente, na passagem que leva para fora. Acha que pode atrair os hungús, Lizzie? – Khai questionou.

— Tenho certeza – sussurrou a sonserina ao avistar uma sombra se formando na parede ao fim do corredor. — Mantenham a calma, saquem as varinhas e encostem na parede – sussurrou. — Ninguém move um músculo. Lembrem que os hungús são completamente surdos, têm um olfato muito ruim e se orientam pelo movimento da presa apenas. Shhh! – ordenou.

Virando no corredor, um animal de 1 metro de altura e pelugem vermelha, de corcunda acentuada e pelos espetados em toda a extensão da coluna surgiu no campo de visão de todos. Lizzie discretamente fez sinal para todos manterem a calma. O hungú caminhou vagarosamente, como se desconfiasse de algo. Farejou o ar e atiçou os sentidos para qualquer movimento suspeito de alguma presa. Passou bem próximo a Malfoy que prendeu a respiração no momento e chegou a roçar a perna de Khai, que fechou os olhos e mentalmente pediu a proteção de Merlim.

Preocupado com o que um simples movimento do sonserino pudesse acarretar, Tiago virou o rosto na posição oposta, ergueu sua varinha e murmurou o feitiço wingadium leviosa no banquinho onde estava sentado, minutos antes. A ação chamou a atenção do hungú que ergueu as orelhas pontiagudas e se retesou para analisar o melhor ataque. Tiago murmurou um outro feitiço: uediuose. O banquinho foi descontroladamente lançado para dentro da masmorra número 13. O animal partiu em um ataque violento e, assim que passou pela porta, as crianças correram para trancá-la. Tiago a lacrou com o colloportus e todos suspiraram aliviados.

— Brilhante, Tiago! Isso foi brilhante! – exclamou Lizzie.

— Arriscado, mas realmente inteligente – afirmou Deymon.

— Ora, não foi nada – e sorriu, constrangido. — Acho que devemos avisar que o hungú está preso aqui, não acham? Seria perigoso se ele fugisse e atacasse alguém no corredor.

— Se fosse o Prof Pratevil seria um alívio, na verdade – disse Macbeer e todos deram risada, concordando.

— Bom, não podemos sair daqui para avisar. O que sugere Sr Richards? – perguntou Malfoy.

— Podemos mandar um bilhete voador – informou Lizzie. — Tenho aqui exatamente o que precisamos – disse e começou a vasculhar a sua bolsa por alguns instantes.

Depois do que pareceu uma eternidade, retirou um pergaminho, tinta e pena. Rasgou um pedaço do papel e escreveu uma mensagem sucinta informando onde estava preso o hungú, mas não assinou, é claro. Seria a prova de que estavam no lugar errado e na hora errada. Tiago se prontificou a fazer a transfiguração e, instantes depois, todos admiraram o feitiço do colega seguir em direção à entrada das masmorras. Certamente, alguém o acharia.

Os minutos se passavam e nada acontecia. De um lado, os sonserinos e corvinal comentavam sobre quem poderia ter colocado as sementes para tentar se distrair; do outro, os grifinórios e lufos observavam, nervosos, os alunos serem convocados para dormir no Salão Principal. Rose se aproximou bastante e conseguiu captar algumas conversas soltas sobre um fenômeno excitante e crendices idiotas. A garota não tinha dúvida de que todos estavam comentando sobre a noite elemental. Protegidos pelo feitiço abaffiato, os quatro discutiam as opções.

— Vão dar a nossa falta, quando fizerem a contagem das Casas – começou John.

— Pior. Nossos pais vão sentir a nossa falta antes disso – informou Rose. — Péssima hora para minha mãe estar aqui no castelo. Acho melhor desistirmos, Alvo. Podemos falar para eles que o sinal será aqui. Tenho certeza de que saberão o que fazer.

— Eu não quero ser pego fora da cama e ser expulso da escola. Esse é o único lugar em que eu fico sem gaguejar e as pessoas não pegam no meu pé o tempo todo. Não quero voltar para a escola de trouxas – confessou Peter.

— Alvo, vamos deixar nas mãos dos adultos mesmo, afinal, somos apenas crianças. Até onde iríamos com isso? – disse Rose.

— Foi uma aventura boa enquanto durou, não acha? – John questionou ao lufo.

— Sabe, alguma coisa dentro de mim acha que estamos no lugar certo e na hora certa, mas vocês têm razão. Estamos arriscando coisas muito preciosas, para cada um de nós. Não serei eu a insistir em algo que a maioria não quer. Vamos encontrar os outros alunos no Salão e contar para nossos pais o que sabemos da noite elemental, do portal e dessa pedra do Lago.

Os quatro recolheram suas coisas e iam sair quando ouviram uma pequena discussão vinda do hall. Parecia que um aluno estava informando a um professor que precisava fazer uma coisa importante, em particular, antes de entrar no Salão Principal. Alvo rapidamente identificou a voz do seu irmão, James, solicitando ao Prof Pratevil que fosse na frente, pois ele iria depois. Acreditando tratar-se de uma afronta sem tamanho, o professor pegou-lhe pelo braço e levou-o até o Salão, sob protestos de que Pratevil não entendia o que estava acontecendo. Por um momento, James olhou diretamente através do véu de invisibilidade e os quatro primeiro anistas tinham certeza de que o garoto sabia da localização deles.

O Salão Principal estava totalmente decorado com temas de astronomia. Tapeçarias que imitavam as estrelas ocupavam todas as paredes laterais de pedra. As tochas emanavam uma luz azulada, o que dava um clima ainda mais mágico ao evento. No chão, vários sacos de dormir com os emblemas das Casas estavam misturados no chão. No teto que imitava o céu lá fora, a lua aparecia com todo o seu esplendor, oferecendo um espetáculo de beleza.

Assim que James entrou no Salão se desvencilhou do Prof Pratevil e foi em direção aos seus pais. No mesmo momento, Hagrid entrou no Salão com o olhar preocupado e dirigiu-se à diretora McGonagall. Harry, Rony e Hermione conheciam muito bem o Guarda Caças para saber que algo estava muito errado e foram ao seu encontro, juntamente com Gina.

— Diretora, temos um problema – informou Hagrid.

— Por Merlim, Hagrid. Estou muito ocupada agora. As corujas novamente?

— Na verdade, é tudo – continuou.

— O que houve Hagrid? – perguntou Hermione.

— Está uma loucura lá fora. Centauros, acromântulas, tronquilhos, sereianos, cavalos alados, testrálios, corujas, Bicuço, quase toda a Floresta... Estão todos lá fora – disse o meio gigante, contorcendo as mãos. — Eu não sei o que fazer. Os centauros se recusam a sair, assim como os animais. É como se Hogwarts estivesse sitiada.

— Pai... – chamou James.

— Agora não, querido. Estamos muito ocupados – disse Gina.

— Vamos até lá – ordenou a diretora.

Hagrid, Harry e Rony seguiram imediatamente a diretora, enquanto James insistia:

— Mas mãe é importante! Muito!

— James, agora não é a hora. Faça um favor para mim, sim? Encontre seu irmão. Não o vi por aqui ainda.

— E Rose também. Não acredito que ela não veio falar comigo – disse Mione, chateada.

— Mas mãe...

— Voltamos já amor. Vamos só aqui fora rapidinho.

— Mas...

Os adultos saíram do Salão deixando um James bem irritado. Ele abriu mais uma vez o Mapa do Maroto que surrupiou da sala de sua mãe após o jogo de quadribol e viu onde os quatro se escondiam. Tentou sair do local e encontrá-los, mas o Prof Longbottom não permitiu, pois era uma ordem da diretora. Estava prestes a revelar o que era o pergaminho em suas mãos quando exclamações brotaram de todos os lados. Os alunos, professores e funcionários encaravam abismados a lua no teto encantado ser completamente tomada por um azul cintilante fora do comum. A noite elemental se revelava verdadeira, afinal. Ainda embriagados pela beleza do evento, os estudantes comentavam sobre todas as histórias possíveis e imagináveis relacionadas àquilo.

As portas do Salão voltaram a se abrir para a entrada de Harry, Rony, Gina e Hermione. Suas expressões eram de extrema preocupação, diante do que tinham visto. Minerva ainda estava lá fora, junto com Hagrid e bruxos do Ministério, tentando fazer os animais e seres mágicos respeitarem o terreno da escola, uma vez que ameaçaram invadir. Os olhos do quarteto rapidamente procuraram seus filhos e Harry encontrou James. O jovem bruxo deu uma nova olhada no Mapa enquanto seguia ao encontro dos pais e estagnou, em choque.

— O que...?

— James, onde estão Alvo e Rose? – perguntou Harry ao alcançá-lo.

— É isso que estou tentando falar para vocês há séculos! – exclamou, alarmante. — Eles estavam bem aqui, ó! – e indicou o local da infiltração.

— Estavam? – perguntou Hermione, colocando a mão sobre o coração apertado.

— Sumiram! – respondeu o garoto.


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Notas finais do capítulo

Em breve tem mais!
Obrigada pela leitura!



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