A única coisa que passava na minha cabeça eram pontos de interrogação. O QUE DEMENTADORES ELE ESTAVA FAZENDO?

O empurrei pra trás, e ele saiu rapidamente. Não sabia o que falar, muito menos ele. As pessoas em volta aplaudiam, assobiavam e davam gritinhos. Ele parecia prestes a passar mal, todo vermelho.

– Me desculpe, Louise, eu não...

Fui tomada por uma raiva horrível. O que todas aquelas pessoas pensavam que estavam fazendo? O que ELE pensava que estava fazendo? Saí andando o mais rápido possível para a porta de saída. Provavelmente Draco - e todos os meus colegas de casa - me zoariam até morrer. Eu não conseguia pensar direito. Só queria estar bem longe de todos eles.

– Louise! - ouvi ele atrás de mim.

– Me deixa em paz! - gritei, à beira de ter um ataque. Provavelmente já estava tendo.

– Me desculpa, eu não percebi o que...

Me virei.

Odiaria ter que fazer aquilo, mas era preciso se não queria ser atormentada digamos...pra sempre.

– JÁ CHEGA! - gritei. - Já chega! Por que você acha que eu escolhi você pra ser meu par pro baile? Pois eu vou te dizer: Eu precisava provar algo pra uns babacas e precisava de alguém bobo como você. Além do mais. - não podia imaginar o quanto aquilo machucava ele, mas ainda sim fiz uma expressão de escárnio e nojo - Não tinha ninguém melhor.

– Mas você disse... - ele parecia querer chorar.

– ESQUECE o que eu disse, eu só falei aquilo porque não queria ficar ouvindo você e seus resmungos chatos. Que menina gostaria de você? - acho que estou exagerando. - É por isso que você não tem AMIGOS!

Terminei meu discurso ainda furiosa, e ele parecia arrasado. Não queria encarar a multidão que assistia a tudo, não queria encarar seus olhos cheios de lágrimas, muito menos encarar minhas próprias lágrimas. Não iria chorar. Não poderia.

Só me virei e saí correndo.

Ouvi passos atrás de mim, mas não me virei. Não queria saber quem era.

O primeiro lugar que pensei foi a Sala Precisa. Eu realmente precisava de um lugar pra ficar sozinha, não é?

A porta de madeira reapareceu e eu entrei, fechando a porta. Sabia que do outro lado ela sumiria. Dessa vez não havia toca-discos algum. Não havia nada, apenas o espelho.

Fui até ele, ainda me sentindo horrível. Ainda não via nada demais.

Espera.

Era a mesma eu, com o mesmo vestido e o mesmo penteado. Mas a expressão era diferente.

Eu estava sorrindo.

Então era isso o que eu queria? Sorrir?

Pensando assim, até que era bobo, mas fazia sentido. Olhei com mais concentração e percebi algumas imagens nos cantos; eu ensaiando com Neville, eu e Cedrico brincando na neve, eu e Draco rindo de uma piada boba.

Por que eu me sentia horrível?

Sim, tinha feito o pobre Longbottom ficar arrasado, mas nunca algo assim me incomodou. Tinha feito coisas piores.

Algo me tirou de meus devaneios.

– Por que não está no baile?

Todas as imagens sumiram, e voltou a ser apenas um espelho.

– Dumbledore? - me virei, me deparando com sua grande barba branca. De onde tinha vindo? Tá né...

– Não gostou da festa? - ele me olhou, e pude ver seus olhos azuis atrás dos óculos.

– Não, é que...

Ele não me esperou terminar.

– Admito que aqueles bombons de abóbora não estavam tão bons quanto os do ano passado, mas ainda sim estão ótimos. Estava com vontade de picolé de limão, um doce trouxa. Tomei um há alguns anos que estava ótimo...

Ele continuou falando da comida. Apenas suspirei e continuei quieta.

Ele terminou seu discurso e me olhou com curiosidade.

– Você não é como Potter.

– Jura? - ironizei.

Ele assentiu, não prestando atenção no meu sarcasmo.

– Você só ouve. O pequeno Harry teria me interrompido há algum tempo. - ele riu. - É bom ter alguém que saiba ouvir de vez em quando.

Resmunguei algo e ele suspirou.

– Eu vi o que aconteceu.

Então ele estava fingindo esse tempo todo? Que sacana. Ele andou de um lado para o outro.

– Estou me sentindo horrível. - admiti, cansada.

Ele assentiu de novo, com um rosto pensativo.

– Eu acho que exagerei...

Ele assentiu.

– Eu não precisava ter falado tantas coisas ruins assim...

E adivinha o que ele fez? Assentiu, ainda andando de um lado pro outro.

– Sabe, você não precisa só ouvir. Poderia dar alguns conselhos, é um adulto, não é? - fiquei aborrecida, mas ele só pareceu mais pensativo, apenas com um sorriso no canto da boca.

– É bem sincera, não é, senhorita, Bramen? - ele suspirou. - Mas aquilo que disse ao pobre Neville era sincero? Era verdade?

Ele me olhou nos olhos.

– Não.

Ele balançou a a cabeça afirmativamente - cansei de falar assentiu.

– Nem todos são como a senhorita, Louise. Longbottom é um exemplo. é um garoto muito gentil, mas acredite, é muito sensível também.

Obrigada pela ajuda, Dumbledore, me sinto ainda pior.

Ele andou calmamente até o espelho, ao meu lado e colocou sua mão em meu ombro.

– O que vê, senhorita Bramen?

– Eu...sorrindo. - ok, agora eu estava bem pior. - Mas como isso me ajuda a me sentir melhor?

Ele sorriu.

– Nem sempre a melhor coisa a se fazer é deixar uma pessoa melhor. Às vezes a verdade é a melhor opção.

Aquilo me fez pensar.

– Agora, acho que o pobre Neville merece um pedido de desculpas, não?

Abri a boca para protestar, mas ele apenas colocou uma das mãos pra cima num gesto de "ainda não terminei". Ele andou até a porta, e antes de sair, disse:

– Não pode correr para esta sala toda vez que tiver um problema minha cara. Os problemas te seguem aonde você for.

Droga.

Respirei fundo e saí da sala. Ele não estava mais visível. Andei um pouco pelos corredores. Tinha ouvido um boato de que o Salão da Grifinória era em algum lugar das escadas. Provavelmente, Neville estava lá.

Andei um pouco, até ouvir alguns passos. Parei e percebi que eles vinham do banheiro masculino.

Não poderia entrar ali.

– Neville?

Não houve resposta. Cheguei mais perto.

– Neville? É você?

Um resmungo baixo veio de lá. Agora sim.

Cheguei ainda mais perto, parando na entrada.

– Neville, você sabe que não posso entrar aí, não sabe?

– Por que entraria? Por que se preocuparia com alguém como eu?

Suspirei.

– Vai me obrigar a entrar aí? Vai continuar a fazer drama como uma adolescente trouxa?

Silêncio.

Ah, foda-se.

Entrei, e o vi sentado no piso sujo, encostado na parede.

– Neville. - meu coração quebrou ao ver seu rosto arrasado, seus olhos vermelhos se virarem pra mim.

– Você não pode entrar aqui. - ele só respondeu isso, com a voz rouca.

– Você me obrigou a fazer isso. - cruzei os braços, me repreendendo por dentro. Será que não poderia ser agradável e compreensiva por uma vez na vida?

Depois de um longo silêncio, ele resmungou:

– Me desculpa por fazer aquilo. Eu não estava pensando.

Fiquei boquiaberta.

– VOCÊ está me pedindo desculpas?

– Não é culpa sua. O que você falou era verdade.

Suspirei, me lembrando do que Dumbledore tinha dito;

"Aquilo que disse ao pobre Neville era sincero? Era verdade?"

– Não. - murmurei comigo mesma.

– Como?

Percebi que falava sozinha, mas logo, disse ainda mais alto;

– Não. Não foi culpa sua. Não vou deixar você pedir desculpas, e não vou mais fugir dos meus problemas. Agora eu digo: Me desculpe, Neville Longbottom por ser tão idiota e irresponsável? - Estendi minha mão pra ele.

Ele a olhou com dúvida. Pra reforçar, disse:

– Somos amigos, não somos?

Ainda não era suficiente? Ah, foda-se.

– Nada do que eu disse era verdade. Quer dizer...ainda pouco. Mas o que eu disse naquele dia, que gostava de você, que você era meu amigo, e que era uma pessoa ótima...era tudo verdade. Eu só disse aquilo porque não sabia como lidar com meus problemas. - estava com um ar confiante. - Mas agora eu sei.

Ele olhava pra mim e depois pra minha mão. Depois de alguns momentos, disse:

– Promete?

Eu ri.

– Always.