Monomania escrita por nymeria


Capítulo 7
Conversas


Notas iniciais do capítulo

Yay, consegui escrever um capítulo novo. Tudo já tá se encaminhando pro Davi se dar conta de que está sendo um grande idiota (tá bem perto, na verdade). Mas não garanto que a partir daí tudo vai ser fácil rs.
Espero que vocês gostem. Deixem reviews dizendo o que tão achando, sugestões, angústias e problemas amorosos. Bjos!!
PS. Reviews são tão boas quanto descobrir que um amigo também ama seu livro preferido.
Músicas do capítulo:
Fire Breather – Laurel
Cosmic Love – Florence and the Machine



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Relacionamentos são compostos basicamente de momentos e de conversas.

Momentos são aqueles pequenos instantes silenciosos, indescritíveis que acabam representando muito mais do que sua substância aparente.

Conversas são a essência – nossa forma de se relacionar durante a maior parte do tempo: a maneira pela qual um engana o outro, ou pela qual tentamos alertar alguém em problemas.

Já momentos não mentem, mas podem por vezes ser difíceis de interpretar.

Conversas são o método através do qual trocamos informações. São fontes de boatos e fatos, mentiras e verdades, boas e más notícias.

Conversas podem resolver os problemas que a mera ação não conseguiria solucionar. Podem afastar os perigos gerados pela falta de comunicação e sinais mal-interpretados. Salvam relacionamentos, terminam discussões e, às vezes, impedem a violência.

Há, no entanto, algumas conversas das quais desejamos nunca ter participado.

****

(Sobre traições)

– Eu preferia não ter descoberto toda essa história, mom. Na verdade, eu queria nunca ter começado essa maldita amizade – Megan estava deitada com a cabeça no colo de Pamela, tentando conter o surto de lágrimas que sentia que se aproximava. – O Davi vai morar com ela. Eles tão praticamente… se casando.

– Não é bem assim, Megan Lily – Pamela não sabia como agir e o que dizer para acalmar a filha. Talvez se estivessem tendo aquela mesma conversa alguns meses atrás, ela se sentiria segura o suficiente para dar conselhos amorosos. Mas não mais. – Hoje casais são assim mesmo, tão modernos. Provavelmente vai acabar saindo mais barato dividir um apartamento e…

Mom! Ele é o fucking presidente da Marra. Ou alguma coisa próxima disso. Ele não precisa dividir as contas.

Pamela acariciou as mechas loiras da filha, tentando pensar em algo tranquilizador para dizer.

– Você não precisa se preocupar, okay? I mean, se vocês dois estão destinados a ficar juntos, nada nem ninguém vai conseguir atrapalhar essa relação.

Destino era uma invenção humana para confortar o espírito dos perdedores. Megan não acreditava que havia uma força sobrenatural que guiasse suas ações, que cada ser humano fosse uma marionete num jogo sádico manipulado por alguma divindade. Ela era a única responsável por seu futuro, e mais ninguém.

Sentia-se terrivelmente egoísta, despejando suas aflições diante de sua mãe já cheia de problemas. Afinal, Jonas Marra era uma entidade cada vez mais ausente em suas vidas. Megan quisera se ver livre dele por tanto tempo, e agora só queria que o pai estivesse ali para abraçá-las.

– Você precisa conversar seriamente com ele – ela finalmente expressou o que estava preso por tanto tempo dentro de si.

– Com seu Golias?

– Não, mom, com Mr. Marra – Megan se sentou, encarando a mãe de frente. – Ele não pode continuar nos tratando assim. Você não merece essa vida, Pamela Parker.

I’ve tried – Sua mãe era a imagem de uma mulher derrotada. – Ele não me escuta. Eu quero mesmo perguntar se ele está envolvido com outra mulher. É uma situação tão... humilhante. Mas se for somente isso, nós podemos resolver, eu sei disso.

Megan não era a maior crente em histórias de contos-de-fada, mas não podia acreditar que a mãe estava se prestando a esse papel em nome de um casamento falido.

– Para de se enganar, please. Não tem desculpa para uma traição.

– Eu acho que você está certa – Pamela ainda parecia totalmente insegura.

– Você não tem certeza de que eu estou certa? – Megan podia ser muito mais teimosa do que a mãe.

– Eu realmente não sei, darling – Pamela puxou a filha para perto de si. – A realidade é mais complicada do que isso. Logicamente que não existe uma desculpa para trair, mas... A vida nem sempre faz sentido.

Megan não concordava com a mãe (embora, é preciso dizer, a loira fosse mudar de opinião mais tarde), mas, deitada ali perto de Pamela, tudo a sua volta estava estranhamente reconfortante, e ela não queria arruinar o momento com mais uma briga. Megan observou o brilho incandescente do abajur na cabeceira de sua cama e esperou que a sonolência causada pelos calmantes que tomara finalmente a dominasse.

– Você pode levar o tempo que quiser para resolver essa situação, mom – ela fechou os olhos. – Eu só quero que você seja feliz. Extraordinariamente feliz. Mesmo que com outro homem.

Pamela sentiu os olhos se encherem de lágrimas, emocionada por ainda ter sua menina por perto. Naquele instante, ela se considerava mais frágil do que sua própria filha de vinte e um anos, mas logo conseguiria retomar suas forças. As mulheres Parker era guerreiras, afinal de contas.

****

(Sobre Megan Marra)

– Davi, por que você desapareceu ontem depois do expediente? – Manuela se agachou ao lado da cadeira do namorado, sentado em frente ao computador em seu quarto na Gambiarra. – O Ernesto levou a gente pra conhecer um restaurante muito maneiro.

Davi coçou os olhos, ainda cansado devido a noite mal-dormida. Não conseguira informar sua família da decisão de se mudar, e sabia que tia Rita e Matias ficariam magoados, mesmo que tentassem esconder. Ele não queria que sentissem como se Davi os estivesse abandonando e deixando a Plugar de lado. O que não era verdade, afinal. Ele continuaria a frequentar a Gambiarra da mesma forma que antes, tinha certeza disso.

– Você sabe que eu não tenho muita paciência pra continuar discutindo o tema Marra depois que dá o horário de ir embora da empresa – ele pegou a mão de Manu e sentou-se no chão do quarto, esperando que a namorada o imitasse. – Você e o Ernesto parecem só conseguir falar disso ultimamente.

– Ei, não é verdade – Manu encostou a cabeça no ombro dele. – E você ainda não me disse onde foi.

Ele não tinha razões para mentir, sabia disso. A recente amizade com Megan já era do conhecimento de Manu há bastante tempo. A namorada não apoiava esse recente desenvolvimento, mas também não o condenava. Como na maioria dos casos, Manu parecia se encontrar no âmbito da neutralidade.

– Eu me encontrei com a Megan Marra – ele observou cuidadosamente a reação no rosto dela. – É bom, sabe, pra me distrair. Aquela garota é uma matraca e... eu gosto de ouvir as novidades da vida dela.

– Bom, eu não tenho ciúmes se vocês são só amigos. E você deu um fora nela por mim, no final das contas – ela se endireitou para encarar Davi nos olhos. – Mas eu não entendo o que você vê de tão interessante naquela menina. Ela tem um comportamento tão infantilizado.

Davi riu.

– Manu, a Megan pode ter muitos defeitos, mas ser infantil não é um deles. Eu acho que você gostaria dela se a conhecesse.

– Bom, eu não tenho nenhum interesse nisso.

Davi sabia que Megan se sentia da mesma forma, e ele não se incomodava com isso. Ele gostava de manter essas duas facetas do seu dia-a-dia completamente separadas. Megan e Manu tinham papeis diferentes em sua vida e ele sabia que, de alguma forma, as duas eram igualmente necessárias para sua sanidade.

Manu era sua parceira de vida e de reality, outra fervorosa apaixonada pela tecnologia, que tinha sonhos tão parecidos com os seus. Ele sabia que podia construir seu destino com ela ao seu lado.

Já Megan era um constante alívio quando sentia que tudo estava saindo dos eixos. Quando ele sentia que estava deixando sua personalidade ao poucos se esvair naquele ambiente corporativo em que estava inserido. Ela o fazia rir, contando suas peripécias junto com Prudence e Alice, e ao mesmo tempo despertava seu lado protetor, ao ouvir seus problemas com os pais e perceber sua falta de esperança em relação à vida.

Ele sabia que estava sendo egoísta, querendo que as duas permanecem ao seu lado enquanto ignoravam uma a existência da outra. Mas deveria se tornar o novo Jonas Marra, não é verdade? Ele poderia absorver algumas das falhas de caráter do fundador da Marra, no final das contas.

****

(Sobre necessidades)

D: Eu preciso conversar com você hoje. Te encontro na frente da sua casa?

M: Não posso. Finalmente consegui um jantar com o tal Tomás. Ele desmarcou duas vezes, o maldito.

D: Okay. Como tá sendo o jantar?

M: Interessante. Mas o cara é um baita de um safado.

D: Por que você diz isso?

D: Megan? Tá tudo bem?

****

Town crier, village flyer

Got a skull and crossbones on his chest

And I can't resist

When he looks like this

All his other girls

Face on magazines

Big blue eyes, oh I don't know what it means, no

What does he want from me?

– Agora, será que você pode parar de dar em cima de mim e voltar a tratar de assuntos profissionais? – Megan queria fingir que não estava achando tudo aquilo extremamente interessante. Ele era, afinal, o que ela podia considerar seu “par ideal”, antes de conhecer Davi Reis.

Não em relação à aparência, claro. Megan nunca teve um tipo físico preferido. Adorava morenos, loiros, ruivos, olhos doces ou enigmáticos, corpos fortes ou magrelos. Mas Tomás Casagrande tinha atitude de sobra e pelo menos nisso, ela podia dizer, Davi estava deixando bastante a desejar.

– Bom, eu gosto de admirar pessoas bonitas e faz algum tempo que resolvi não me negar os prazeres mais simples da existência humana – Ele não deixava de encará-la diretamente nos olhos. E acabara de sorrir de novo. Desgraçado. – Mas se você quer conversar sobre aulas de piano, eu posso te falar das minhas experiências e do quando eu gosto de crianças e blá-blá-blá. É isso que você quer, Megan Lily?

Ela inclinou o corpo na direção do dele, sedutora.

– Então é isso que você gosta de admirar? Minha beleza? Eu te garanto que tem fotos minhas bem mais reveladoras na internet, você nem precisa que eu continue por aqui.

Tomás se recostou na cadeira, bebendo outro pequeno gole do vinho que haviam pedido.

– Megan Lily, eu te achei, apenas por esses poucos instantes que passamos juntos, uma pessoa incrivelmente interessante – ele colocou a taça de volta na mesa e apoiou o rosto em uma das mãos. – E eu também me considero alguém incrivelmente interessante.

Ela teve de rir da cara-de-pau do moreno a sua frente.

– Agora eu vou te fazer uma pergunta e eu espero que você seja tão sincera quanto eu: você quer passar essa noite comigo aqui, nesse restaurante maravilhoso, e esquecer de qualquer outro problema que você possa ter nessa sua cabecinha bonita?

Davi não tinha saído dos pensamentos de Megan em nenhum momento, mas, diante do bom-humor de Tomás, a presença dele era, talvez, um pouco menos invasiva. Ela não era o tipo de garota que dava falsas esperanças, mas naquele instante, Megan Lily Parker-Marra tomou uma decisão.

Era impossível Megan se apaixonar, ela sabia, porque grande parte de seus sentimentos já estavam reservados para outra pessoa. Essa era a razão, afinal, pela qual ela não tinha se envolvido seriamente com alguém em todos esses meses, se restringindo a alguns beijinhos sem importância quando saía para dançar com o primo ou Prudence. Porém, aquilo não queria dizer que ela não podia gostar de verdade de outra pessoa, e Tomás Casagrande parecia digno de sua atenção naquele momento. Megan sorriu.

– Eu quero estar aqui com você. Really – ela disse. E estava sendo sincera.

****

(Sobre olhos azuis)

P: Como foi o jantar com o professor de piano?

M: Só tenho isso a dizer: alto, cabelos castanho-avermelhados, olhos azuis-acinzentados. E muito, muito bom de papo. Socorro, Prudence.

P: Eita, você tá encrencada.

****

(Sobre pais)

– As pessoas escrevem músicas sobre manhãs como essa, você não acha? – Megan estava bem-humorada naquela manhã de outubro. Tomás assentiu de seu lugar no piano ao lado do pequeno Miguel, ensinando a simples sequência de notas do início da 5a Sinfonia de Beethoven. Mi, mi, fá, sol, sol, fá, mi, ré...

Alice revirou os olhos.

– É muito cedo pra até você começar a dizer esse tipo de porcaria, Megan. Já não basta a Prudence. Eu juro que, se mais uma frase otimista e sem sentido sair da sua boca, eu paro de falar com você. Pra sempre.

Prudence ouviu seu nome.

– O que tá acontecendo por aqui? – Silêncio. – Alice, eu já disse pra você parar de agir assim sem nenhum motivo. As aulas de piano deveriam te deixar feliz, não fazer com que você aja ainda mais como uma pirralha emburrada.

Megan sentiu vontade de socar Prudence.

– Eu estou surpresa que você conseguiu ouvir alguma coisa, já que você passou todo esse tempo trocando saliva com esse babaca – Alice retrucou.

A pequena risada de Tomás podia ser ouvida acima do som do piano. Ré, mi, dó, ré, fá, mi, dó...

– Ei!! – Gabriel realmente odiava aquela pentelha.

Alice saiu correndo para os fundos da organização. Prudence foi atrás dela, mas Megan a impediu.

– Você – ela puxou a ruiva com pouca delicadeza – fica aí com seu babaca.

Em um dos bancos de madeira perto do jardim plantado nos fundos da ONG Harmonia do Saci, Megan encontrou Alice. Ela se sentou ao lado da menina, acendeu um cigarro e ficou em silêncio, esperando. Ela sabia que Alice era como ela: precisava de tempo para colocar suas emoções em ordem. Então elas ficaram ali – Megan distraída com seu cigarro e Alice com seus pensamentos – até que a morena resolveu se expressar.

– Eu tenho um padrasto agora.

Sem se virar, Megan acenou.

– Ele e minha mãe passam muito tempo discutindo.

Okay – ela deu mais um trago. – Ele é violento com ela, Alice?

– Não. Eu bateria nele se ele fosse – Mais silêncio. – Ele me trata bem. E aos meus irmãos também. Eu só... odeio ouvir os gritos.

Megan sabia que tinha que investigar mais sobre o que estava acontecendo na casa da sua aluna.

– E como vão as coisas com os seus pais, Megan?

– Eu vou jantar com o meu pai essa semana – Mais um trago. – Eu não vejo Jonas Marra desde que ele saiu de casa há duas semanas. Minha mãe quer que eu mantenha relações amigáveis com ele.

– Oh – Alice ficou calada, então –, e você pretende obedecer?

Megan considerou a questão por alguns segundos.

– Não.

Alice acenou.

Okay.

****

(Tempo, tempo, tempo, és um dos deuses mais lindos)

D: Parece que a gente não se vê faz uma eternidade.

M: Você que fica desmarcando por causa da Marra.

D: E seus sábados agora se resumem a Tomás, Tomás e... Tomás.

M: Deixa de ser possessivo. Eu continuo sendo sua melhor amiga.

D: EU NÃO SOU POSSESSIVO.

M: Abaixa o caps lock, meu filho.

–--

D: A Prudence tá tão mal-humorada ultimamente.

M: Culpa daquele cretino. Eu não sei o que fazer pra ela largar ele.

D: É uma missão impossível, definitivamente.

D: Falando nisso, o Ernesto voltou com a Ludmila.

M: WHY GOD?

–--

D: O Jonas chegou na empresa ainda mais puto da vida depois de almoçar com você.

M: Eu joguei uma taça de vinho na cara dele. E chamei a jornalista de piranha.

D: Megan!!

M: Só sou sincera.

–--

M: Faz quantos dias que você não aparece na Gambiarra?

D: Por que a pergunta?

M: Eu encontrei seu primo no Jardim Botânico. Ele disse que não te vê há semanas.

D: Jardim Botânico?

M: Coisa do Tomás.

D: Eu quis dizer o que o Matias tava fazendo por lá.

M: Ele tá namorando minha prima Danusa. Você não sabia disso?

M: Hello, Davi?

****

The stars, the moon, they have all been blown out

You left me in the dark

No dawn, no day, I'm always in this twilight

In the shadow of your heart

And in the dark, I can hear your heartbeat

I tried to find the sound

But then it stopped, and I was in the darkness

So darkness I became

Em algum momento nos últimos meses, a nova realidade na vida de Megan, na qual ela nunca se imaginara, tornou-se uma repetição familiar. As saídas com Tomás (e os beijos que normalmente estavam envolvidos), as conversas intermináveis com Davi (e a falta de beijos sempre envolvida), as aulas de música e seus novos alunos, a imagem de Davi e Manuela juntos, Jonas Marra deixando sua casa, dormir no apartamento de Tomás (e com ele). Todas essas rotinas de algum modo invadiram a vida que Megan conhecia e pareceram se instalar de forma definitiva.

E ela estava feliz. Mais feliz do que imaginava que poderia ser diante das circunstâncias.

– Você tá estranhamente animada nos últimos dias – observou Davi. Os dois estavam tomando café da manhã juntos naquele sábado de novembro, já que não haviam conseguido se encontrar durante toda a semana. – Será que isso quer dizer que você vai abandonar todo esse estilo de vida Bob Dylan?

Ele parecia esperançoso. Megan sabia que, mesmo com os meses de amizade e pleno conhecimento acerca das angústias e dilemas da loira a sua frente, Davi ainda não aceitava muito bem seus vícios. Ele queria que ela deixasse de lado o cigarro, os calmantes... E ele nem sabia da maconha que ocasionalmente ela dividia com Tomás nos momentos pós-sexo.

– Se você tá tentando me insultar, não deveria ter me comparado a um complete badass, Davi – ela deu mais um gole no chocolate quente. – Você sabe o que eu odeio?

– Perguntas retóricas? – ele ofereceu.

Megan riu.

– Não, you idiot. Eu odeio essa capacidade que você tem de transformar qualquer conversa em um monólogo sobre mim. Eu estava perguntando sobre você. Sobre você e sua relação com a sua família.

– Não tem nada o que contar, Megan – Davi tirou com o polegar uma mancha de chocolate do canto da boca dela. Ela congelou. Será que o maldito tá tentando me distrair? – Realmente faz algum tempo que eu fui visitar meus tios na Gambiarra. Eu tô bastante ocupado com o lançamento do novo sistema operacional do MarraBook, mas no próximo mês toda essa confusão acaba e eu posso voltar a me dedicar a eles.

– E ao Júnior?

Davi parecia cada vez mais incomodado.

– Eu não tô entendendo toda essa falação sobre o meu projeto – ele segurou a mão dela. – Megan, por favor, eu não gosto de falar sobre trabalho com você. Eu já passo a semana toda preocupado com essas coisas, não me incomoda com esse assunto você também, vai.

Megan retirou a mão das dele, nervosa. Ela estava conseguindo manter todos aqueles sentimentos enterrados há já algum tempo, e não era agora que iria remexer no passado. Ela gostava de ter Davi como um amigo. E gostava de Tomás. Demais. Ele tinha sido uma fortaleza nos últimos dois meses, diante de todo o sofrimento que ela tinha encarado por causa de Jonas e Pamela, de Davi e Manuela. Ela não iria desapontá-lo.

Okay, então, se é assim que você quer. De qualquer maneira, eu tenho uma novidade pra te contar.

Ela sabia que tinha de pressionar Davi para que ele percebesse a passividade que estava tomando conta de sua vida, mas deixaria aquilo para depois. Ele podia não ser mais o mesmo Davi que ela um dia conhecera, mas o lado Golias ainda estava vivo em algum lugar dentro dele. Ela tinha certeza.

– Notícia que eu recebi há dois dias. Adivinha quem tá namorando dona Pamela Parker.

– Você sabe que eu não conheço muita gente nesse mundo dos famosos, Megan.

Ela riu. Davi teria mesmo uma surpresa.

– Esse famoso você conhece. O nome Herval Domingues te diz alguma coisa?

– Eu não tô acreditando.

E assim Megan lhe contou tudo sobre o novo relacionamento da mãe. Ela ainda não sabia muito sobre o tal Herval, mas iria se esforçar para conhecê-lo melhor. Pela felicidade de Pamela. E Davi também foi só elogios ao antigo mentor, garantindo a Megan que ele era uma ótima pessoa e que faria bem a sua mãe.

Um pouco mais tarde, os dois amigos (por enquanto, ao menos) estavam andando em direção ao prédio de Davi, na frente do qual Megan tinha deixado seu carro. A manhã estava linda e o clima extremamente agradável, prenunciando o verão quente que estava por vir.

– Por que você não tomou café com a Manu hoje? – Megan não parecia mais guardar tanto ressentimento em relação à pernambucana.

– O irmão dela tá visitando nossa casa essa semana.

Da maneira que Davi falava, ele parecia mesmo estar casado. Ela sentiu o estômago apertar.

– Eu acho que eu tô me apaixonando – Ela disse de repente. Não sabia da onde tinha surgido a vontade de soltar aquela frase, do nada, mas precisava sentir que não estava sendo deixada pra trás. Que a sua vida também estava prosseguindo.

Davi permaneceu em silêncio por alguns instantes.

– E você descobriu isso assim, de repente? – Os olhos castanhos dele eram enigmáticos, tão diferentes dos dela, que eram quase um livro-aberto. Ela não conseguia ler as emoções de Davi, sempre bem escondidas.

– Olha quem fala – Megan tentou rir com leveza. – Você se apaixonou pela internet, e depois a primeira vista lá na Marra. Pelo menos eu levei quase dois meses pra isso.

Eles continuaram caminhando, cada um perdido em seus pensamentos.

– O que mudou? Você sempre me disse que era tudo só diversão.

– Eu não sei – Na verdade, nada tinha mudado. Ela ainda gostava de Tomás, mas tinha certeza que aquilo não era amor. Não de verdade. – Mas ele realmente faz com que eu me sinta especial. Amada. Desejada. E ele me faz rir, e ele é bom de cama, e toca piano muito bem, porque aqueles dedos são realmente mágicos, e...

– Megan – Eles haviam parado de andar, insuportavelmente próximos. Naquela luz da manhã, que deixava o cabelo de Davi levemente avermelhado, ele nunca fora tão bonito aos olhos dela. Ele colocou uma teimosa mecha de cabelo atrás da orelha de Megan. – Eu não preciso saber de todos esses detalhes.

Ela riu. Tinham por fim chegado ao local onde havia estacionado seu carro. Ela deveria mesmo ir embora. Os olhos de Davi pareciam ainda mais profundos e focados inteiramente nela, e ela sabia que seu autocontrole era muito fraco.

– Eu preciso ir – Megan se colocou na ponta dos pés para dar um beijo na bochecha dele. Davi ainda estava estranhamente quieto. – Foi bom te ver.

A loira correu para a porta do motorista e entrou no carro. O ar condicionado foi logo ligado na potência máxima, já que aquele dia tinha começado quente. Muito quente.


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Notas finais do capítulo

Vocês foram lindxs no último capítulo, bastante gente nova comentando. Continuem participando, gnt, é super importante pra mim!!
Fica aqui uns spoilers pra vocês (minha nova sessão que imita novelas mexicanas rs).
—-> No próximo capítulo: Herval provoca uma boa impressão na herdeira Parker-Marra. Megan e Jonas se enfrentam. Davi se dá conta de que é um grande BURRO (e o povo canta e dança rs). Prudence é chamada de patética e aprende um pouco sobre o ódio.
Bom, é isso, bjos, gnt!!