Existe um ditado que diz: “A vingança tarda mas não falha”.

Takao estava finalmente provando que sua represália tinha chegado quando pararam frente ao rickshaw, ambos se encararam.

— Não pense que vou te carregar como Midorima faz! — o maior respondeu.

Takao prendeu o riso, para então soltá-lo num som alto e estridente.

— Shin-chan nunca me carregou, sempre perco no jankenpo, você sabe como a sorte dele é... Então, como hoje tecnicamente não estou lidando com ele, vamos jogar, quem perder puxa o rickshaw!

Kagami bufou antes de erguer a mão para jogar...

Era incrível estar do outro lado. O vento bagunçava seus cabelos e ele sentia uma forte vontade de ajeitar os óculos imaginários e dizer “nanodayo”, não, talvez sentisse falta de uma lata de feijão vermelho nas mãos.

Sem dúvida, estava se sentindo o Shin-chan!

Quando o mesmo, na verdade Kagami, puxava o transporte em pedaladas fortes e rápidas, estava visivelmente irritado, e era incrível como se parecia de fato com o jogador da Seirin, se não fosse a aparência do seu companheiro.

Essa coisa de troca de personalidades era divertida meeeeeeeeeeesmo no fim das contas!

...

O som de um estomago roncando foi acompanhado de outro barulho idêntico, porém mais alto. Os dois trocaram um olhar.

— Não sei cozinhar Midorima-kun.

— Não vou mexer na cozinha da casa dos outros! — o rapaz disse, mas na verdade simplesmente não sabia fazer nada naquele ambiente.

Kuroko estava constrangido. Não é que não ficasse a vontade perto de Midorima, afinal, foram três anos estudando juntos. Não na mesma classe, agora que pensava, percebia que em três anos nunca caiu na mesma turma que ele.

O rapaz de óculos estudou com Akashi e Murasakibara, mas nunca com Kuroko. Entretanto eles se viam todos os dias na hora do almoço, durante longas horas de treino e saiam todos pós-treino, isso pelo menos até que cada um seguisse o seu rumo.

Mas seu constrangimento se dava pelo fato de tê-lo beijado. Bom, não beijado Midorima, e sim Kagami. E de qualquer forma era complexo.

Agora estava explicado por que o outro despertou tão rápido. Kagami sucumbia ao sono com facilidade, enquanto Midorima acordava no mínimo som, quem dirá recebendo um beijo.

O menor ficou rapidamente envergonhado, ganhando várias tonalidades em sua face.

— Não é como se eu... Fosse contar para alguém. Sabe.

Era incrível como o corpo era de Kagami, a voz era a dele, porém o jeito de falar mostrava quem estava ali de verdade. Midorima parecia perceber a razão do desconforto de Kuroko, e resolveu dizer algo para que ele ficasse melhor, até porque temia o que quer que tivesse acontecido em sua casa.

— Midorima-kun, você vê muita diferença entre a Shutoku e a Teiko?

O maior levou a mão no rosto, para lembrar que não tinha óculos algum, e Kuroko se surpreendeu ao ver os dedos da mão esquerda de “Kagami” enfaixados.

— Uma pergunta assim, sem mais nem menos?

— É apenas para passar o tempo.

— Não tem nada de parecido. Em Teiko eu pensava que tínhamos chegado a um patamar inalcançável aos outros. No ensino médio acabei me deparando com o contrário.

Kuroko acenou, porém não podia concordar de fato, diferente dos cinco, ele nunca esteve num patamar inalcançável.

— Eu vejo que todos são bem unidos na Seirin, dentro e fora da quadra e... Nosso capitão é duro, mas é diferente do que eu pensei que fosse real.

— Na Shutoku o técnico me deixou lá. Não precisava fazer o treinamento pesado, não precisava interagir com o time, ele só... Me queria ali.

— Isso não é tão diferente de como acabaram ficando nos últimos meses de Teiko.

Midorima concordou.

— Isso que me deixava irritado. Tanto Teiko, quando o treinador Masaaki me deixavam. É...

— Como se apenas sua presença no time fosse o bastante, é como um status. Kise-kun e Murasakibara-kun tiveram outros fins, mas vejo que para a Touhou, apenas manter Aomine-kun está tudo bem.

— No final acho que era exatamente o que eu não queria, a verdade era que queria pressão e exigência. Mas continuei treinando, nem mesmo em Teiko, quando todos pararam de treinar, eu parei. O basquete é algo continuo pra mim, é implexo.

Kuroko não precisava de Midorima falando para saber.

Diferente dos outros que treinavam para marcar, receber, enterrar, aperfeiçoar. Ele praticava de tudo, mas apenas fazia uma coisa, podia parecer pouco, mas era uma coisa feita em absoluta perfeição. E recordando o ensino fundamental, de fato Midorima nunca parou de treinar.

— O que fez você mudar, ou o time mudar com você?

O rapaz que estava num corpo com músculos e cabelos ruivo olhou para a porta, era uma pergunta complicada que exigia mil fatorares para ser respondida, ou podia resumir em apenas um nome.

Quando abriu a boca, a porta da frente foi escancarada.

— Takao. — disse pela quase surpresa, e como resposta. Dois coelhos, uma paulada.

— Kagami-kun. — Kuroko disse, ficando de pé e olhando o rapaz com óculos que entrou bufando.

— Eu vou matar você!

Murmurou para o ruivo. Era estranho ameaçar a própria imagem, como se tivesse frente a um espelho.

— Acha mesmo que eu perderia meu tempo planejando trocar de corpo com você?

Takao e Kuroko trocaram um olhar indagador. Midorima, ou o correto seria, o corpo de Midorima, se dirigiu até a cozinha e passou a fazer algo, não teve coragem de parar na cozinha daquela casa luxuosa e comer algo, estava desesperado demais para saber sobre essa mudança de corpo.

E agora a fome o estava consumindo.

Quando terminou, os quatro se viram sentados e tomando café da manhã juntos, era estranho começar o domingo assim, muitas surpresas para poucas horas.

Midorima nunca admitiria que Kagami cozinha bem, já Takao fez questão de agradecer, abraçando o corpo que abrigava Kagami inúmeras vezes emitindo um sonoro “Shin-chaaaaaaan”, e sendo recordado que era Kagami ali.

— O que pode ter sido? — o moreno perguntou.

— Pensei em alguma coisa com a lua ou estrelas. Você que é o esotérico, pense em algo!

— Eu já olhei a sorte de Leão e Câncer... — ele apontou para seu lado, onde tinha uma revista de moda feminina e um mangá. — Como não sabia o que fazer, estou carregando o item da sorte de ambos.

Certo, ver “Kagami” com itens da sorte era mais do que engraçado, e ao mesmo tempo, “Midorima” ficou de pé, praticamente arrancando os próprios cabelos.

— Não posso assistir meu corpo carregando itens da sorte!

— Morra Kagami!

— Está difícil resolver isso.

— Na verdade, eu pensei em algo. Porem talvez não faça tanto sentido, nanodayo.

— Diga logo Shin-chan, ou seria Tai-chan, hahahaha. Entenderam?

Todos reviraram os olhos. Midorima continuou.

— Ontem tomamos algo que Kise nos ofereceu, era uma lata brilhosa e estranha. Acho que pode ter sido a causadora dessa confusão.

— Vou ligar para Kise-kun. Agora!