Finalmente o grande dia havia chegado. O dia em que a Royal Academy of Music abriria as inscrições para o novo ano letivo. Centenas de pessoas de cinquenta países diferentes disputariam as poucas vagas disponíveis. A quantidade de cada curso era limitadíssima e a seleção era feita em três etapas: Inscrição, Prova de conhecimentos gerais e Prova específica.

A primeira etapa era a inscrição, no qual o candidato ou candidata tem que enviar uma ficha com todos os seus dados pessoais, além de hobbies, gostos para filmes, livros, músicas e qual curso desejado. A academia escolheria as cinquenta melhores fichas de cada curso e os selecionava para a próxima etapa.

Hermione e Hazel acharam que haviam perguntas demais, algumas até sem nenhuma serventia, mas tinham plena ciência que para se formar grandes musicistas era preciso ter um ensino de excelência, e quanto a isso a Royal Academy era bem rigorosa. Sua média de pontos era 8.0, e se o aluno ficasse com média inferior a isso, além de ser reprovado era encaminhado para um psicólogo.

A segunda etapa era feita através de uma prova de conhecimentos gerais, e dos cinquenta selecionados na primeira etapa somente as vinte melhores notas passariam.

A terceira e última etapa também era feita através de provas, porém especificamente do curso desejado. E somente os dez de primeiros colocados ficariam.

Os nomes dos escolhidos eram disponibilizados no site do conservatório e todo o processo era longo. Um mês para cada etapa.

Hermione não tinha dúvidas sobre o que escolher. Seguiria no curso de piano, já Hazel estava indecisa entre o curso de Jazz ou Violino. Somente um poderia ser escolhido, então optou pelo Violino. Ambas não continham seus sorrisos, finalmente poderiam seguir seus sonhos.

Só havia um problema nesse meio que nenhuma das duas tinham lembrado: como ambas eram menores de idade precisariam da autorização de seus pais para enviar suas inscrições. Para Hermione isso não seria problema, já para Hazel seria como entrar na cova dos leões.

– Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! - disse Hazel tirando toda a concentração da amiga.

– Que foi agora Hazel?

– Hazel Grace por favor! - brincou. Hazel era uma das raras exceções de pessoas que gostava de ser chamada por seus dois nomes.

– Okay, o que foi agora Hazel Grace? - perguntou risonha.

– Hermione eu esqueci completamente! Meus pais terão que assinar essa droga de papel. Somos menores de idade ainda. Eu to ferrada, eles não vão querer assinar.

– Hazel Grace Lancaster! - a jovem olhou para a amiga como se já soubesse que vinha lição de moral. Toda vez que Hermione a chamava pelo nome completo era sinal que ia encorajá-la a fazer ou a enfrentar algo. - você precisa dizer a eles o que quer da sua vida!

– Mais do que eu já digo?

– Sim, talvez esteja fazendo do jeito errado. Não é brigando e gritando que vai resolver alguma coisa.

– Você diz isso porque seus pais são legais e não te impedem de seguir seu sonho. Os meus são dois carrascos, que se pudessem me chicoteariam em praça pública.

– Está exagerando.

– Você sempre diz que eu exagero!

– E você sempre reclama! Estamos quites - Hermione deu um sorrisinho maroto que fez Hazel sorrir também. - olha, é sério, você precisa conversar com eles de forma tranquila. Se quiser posso pedir aos meus que dêem uma forcinha.

– Faria isso? Por mim?

– Eu não acredito que estou ouvindo essa pergunta! Hazel Grace pare com essas suas neuras que isso ainda vai te deixar louca antes dos quarenta anos! - ambas gargalharam e voltaram a preencher duas fichas enquanto varias crianças brincavam no Regent's Park.

Já era noite quando voltaram para suas respectivas casas.

Hazel precisava fazer com que seus pais assinassem a autorização para poder se inscrever no curso de violino, mas como fazer isso se eles odiavam essa idéia? Na verdade seu pai era mais maleável que sua mãe, mas ele sempre acabava cedendo as suas vontades.

Depois de tomar um demorado banho e vestir uma roupa confortável, Hazel se juntou aos pais na mesa de jantar. Os três faziam suas refeições tranquilamente até que a jovem resolveu quebrar o silêncio.

– Érr...pai, posso fazer um pedido?

– Sim filha, claro. - Hazel juntou toda a coragem que conseguiu e tentaria seus melhores argumentos para convencê-los.

– Eu gostaria que o senhor ou a mamãe assinasse um documento pra mim.

– E que tipo de documento seria esse? - ele perguntou.

– A minha inscrição na Royal Academy...

– Hazel já conversamos sobre isso, a resposta é não! - disse sua mãe.

– Mas mãe...

– Sem mais! Você não vai estragar sua vida por conta de um capricho!

– Mas que droga, é a minha vida e eu tenho direito de fazer dela o que bem entender! - disse já alterada.

– Enquanto for menor de idade e morar embaixo desse teto terá que nos obedecer!

– Filha, ouça sua mãe. Música, dança...essas não são profissões decentes.

– Mas é o meu sonho pai - sua voz já estava embargada devido ao choro contido.

– A maioria das pessoas que seguem esse tipo de profissão são pessoas que fracassaram na vida e não tiveram outra saída a não ser essa - disse a mãe da jovem.

– Você não sabe o que está dizendo. - respondeu, dirigindo-se novamente ao pai. - Pai por favor, você nunca teve um sonho?

– Meu sonho sempre foi seguir a carreira jurídica.

– E você mamãe?

– Nunca tive sonhos sem cabimento como os seus Hazel!

– Vamos fazer o seguinte - disse o jovem senhor - Hazel como é feita essa seleção? - o coração da jovem encheu-se de esperança nesse momento. Explicou todo o processo para o pai que ouvia tudo atentamente enquanto sua mãe somente reprovava a atitude do marido.

– Você não está pensando em ceder aos caprichos da sua filha, ou está? - perguntou ela com o semblante totalmente sério.

– Vamos fazer um acordo! Hazel eu vou assinar a sua autorização...

– O que?

– Meu amor, prendermos ela só fará com que nos odeie - disse ele. Logo depois virou-se para a filha com um olhar que somente ela reconhecia, pois era o mesmo olhar que a jovem possuía quando queria dar fim em alguma coisa. - Então Hazel faremos um acordo. Eu assino a sua autorização, mas se não for aceita você irá pra faculdade de Direito e se tornará uma grande advogada assim como eu e sua mãe.

– Pai, você é o melhor pai do mundo - disse a jovem correndo para abraçá-lo.

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Na residência dos Granger a situação era totalmente o inverso. Tanto o senhor como a senhora Granger vibravam com a filha que era só sorrisos.

A mãe da jovem a fez prometer que ensinaria música clássica as crianças. Hermione achou uma excelente ideia e concordou no mesmo instante.

Assim que acabou de jantar o telefone celular tocou. Hermione já imaginava ser a amiga e não estava errada.

– Mione preciso te dar uma notícia - a jovem fingia estar com a voz triste.

– Não vai me dizer que seus pais barraram? - perguntou aflita.

– Eles...

– Anda Hazel!

– Já disse que é Hazel Grace! Eles...eles deixaram! Pode acreditar? Eles finalmente deixaram! - Hazel não conseguia controlar a euforia de saber que seu sonho estava cada vez mais próximo. - Hermione você ainda ta aí?

–T...to, quer dizer, eu preciso de um beliscão. Eles aceitaram assim na boa?

– Bem...na boa, na boa não, mas papai e eu fizemos um acordo.

– E que acordo seria esse?

– Se eu não for aceita dessa vez, terei que ir pra faculdade de Direito.

– Meu Deus, Hazel isso é tortura.

– Mas era o único jeito. E só assim pra minha mãe aceitar também. Bem, preciso ir, tenho uma ficha enorme pra preencher.

– Capricha nessa ficha! Nos vemos amanhã! – ambas desligaram seus celulares. Hermione foi logo se deitar, enquanto Hazel parecia ter acabado de acordar, estava elétrica e não conseguia conter a alegria de finalmente ter a permissão de estudar o que sempre sonhou.

No dia seguinte foram bem cedo até o conservatório e deixaram suas inscrições. Naquelas duas folhas de papel continham os sonhos e esperanças de duas jovens amigas.