(Yuu’s POV)

Era o cheiro de sempre, o lugar de sempre. Lótus. Sempre lótus. E, a mesma pessoa estava no meio das flores. Com a expressão alegre e doce, um sorriso e olhos bondosos. Era... O mesmo de sempre.

E, como sempre, eu não podia me mexer. Minhas pernas pareciam pesar duas toneladas, e eu fui obrigado a observar enquanto aqueles monstros surgiam no ar, e se aproximavam dela. Tive de ver enquanto ela se aproximava da morte... E ver quando ela girou.

Mas, quando o rosto me encarou novamente, um susto me fez sentar e olhar ao redor, notando que era tudo apenas um sonho. Um pesadelo.

E, com o coração acelerado e a respiração irregular, voltei a deitar sobre os lençóis, girando de lado para passar um braço sobre o corpo pequeno próximo ao meu.

Seus olhos cinzentos estavam abertos, e ele me encarava decididamente preocupado.

— Yuu? Tudo bem? — murmurou gentilmente, erguendo uma mão ao meu rosto.

Encolhi-me de leve, sentindo a maciez de sua tez contra minha bochecha. Suspirei, sabendo o que viria em seguida, mas não queria ouvir. Não agora.

Inclinei-me para frente, puxando-o mais para perto, e tomei seus lábios com os meus. Suaves, os acariciei com meus próprios, sentindo uma onda de calor se espalhar por meu corpo. Muito hesitante, correspondeu ao beijo, fazendo um arrepio percorrer minha coluna, fazendo-me suspirar deliciado pela delicadeza que lhe era costumeira.

Dei uma mordidinha em seu lábio inferior, e ele rapidamente os abriu, enlaçando sua língua à minha, começando uma dança lenta, com gosto de mitarashi dango. A mão em minha bochecha logo estava em meu cabelo, e o senti puxar meus fios, causando um pequeno choque, que foi muito bem recebido, e lhe retribuí apertando mais sua cintura.

Quando nos afastamos, ambos ofegávamos.

— Você teve um pesadelo? — perguntou entre inspirações profundas, tentando se acalmar. — Quer falar sobre?

Estalei a língua e franzi o cenho, irritado por ele continuar querendo conversar.

— Moyashi. — chamei sua atenção, meio rosnado, ao mesmo tempo em que lhe encarava nos olhos, recebendo em resposta um dar de ombros. — Fique quieto!

Ele pareceu confuso, piscando quando lhe aproximei mais um pouco, mas logo corou e suspirou.

Sorri de canto com sua reação, e o calei com um beijo novamente.

(Allen’s POV)

Quando o sol atingiu meu rosto, praguejei por não ter me lembrado de puxar a cortina. Levantando-me, caminhei à janela, coçando um olho enquanto escurecia o cômodo.

Girei sobre os calcanhares, e sorri lentamente vendo o corpo esguio em minha cama. Os cabelos negros caíam sobre seu rosto e parte de sua pele exposta, e ele parecia tão calmo, tão relaxado... E tão bonito como sempre.

Sentei-me à beirada da cama, deslizando uma mão pelos fios lisos, tomando coragem para acordá-lo. Aí, me lembrei de que dia era, e sorri com maior vontade, me inclinando para roçar os lábios sobre os seus, em um selar suave.

— Yuu. — chamei próximo ao seu rosto. — Levanta, Yuu...

Dei-lhe outro selinho, subindo em seu corpo coberto pelo lençol fino, e pousei a cabeça ao lado da sua, continuando a lhe dar beijinhos no rosto, e fazendo uma massagem em suas têmporas.

— Bem, acho que não preciso pedir o sobá, de qualquer forma. Mas, levanta daí, seu japonês preguiçoso. — fiz um bico.

Um sorriso de canto se espalhou por seu rosto, e eu bufei. Maldito. Seus orbes negros se revelaram lentamente, e me encararam com aquele ar sonolento e divertido que eu via de vez em quando.

— Eu estou acordado desde que você se mexeu, Moyashi. — informou com a voz rouca, deslizando o nariz em meu rosto, me fazendo estremecer pelas cócegas. — Agora, por que tanto me atormenta?

Sorri, deixando de lado minha irritação pela sua demora a me responder, e me ergui nos cotovelos para lhe encarar de cima.

— Feliz aniversário, Yuu! — cantarolei, vendo-o suspirar e revirar os olhos, para meu divertimento. — E, mesmo que reclame, eu ainda vou comemorá-lo com você, então talvez seja melhor se levantar.

Se levantando com uma velocidade impressionante, tive meus lábios roubados por um beijo muito mais profundo que um simples selinho, nossas línguas se enlaçando em uma mistura de gosto de chá verde e uma sensação maravilhosa de calor em meu corpo.

— Não quero me levantar. A cama está ótima para os planos que eu tenho em mente. — comentou levemente ofegante. — Se faz tanta questão de comemorar, que seja do meu jeito...

E, com um movimento mais rápido até que seu beijo, eu senti o colchão sobre minhas costas, e o lençol ficou perdido em algum lugar, um beijo muito apressado começou e, sua mão (muito, muito, muito boba), passou a deslizar em minha pele.

Ofegante, pressionei o rosto em seu ombro e murmurei, embriagado e envergonhado:

— Eu te odeio, Yuu. — aí suspirei, sentindo uma mão perigosamente baixa. — Por me fazer tão... Apaixonado assim.

Ouvi seu risinho, para meu espanto, e seus olhos se conectaram aos meus quando murmurou, a voz muito baixa enquanto me respondia:

— Talvez eu também. — aí pausou, e um pouco nervoso, completou. — E ai de você se voltar a morrer na minha frente.

Senti meu coração se acelerar ao notar qual era seu pesadelo.

E, oh céus, não sei quando vamos sair dessa cama hoje...