Ayla

— Tudo Bem, Ayla - Tay se ajeita na poltrona do meu quarto e cruza as pernas - Vamos começar a leitura do seu mais novo artefato de ordem e educação (?), com sua total boa vontade, é cla...

— ...Olha - o interrompo - só estou fazendo isso pelo chocolate que você prometeu roubar da Bela e...  

— PRIMEIRA REGRA: Caso queira interromper alguém, a maneira mais educada de fazer é pedir “com licença” e, caso seja lhe dado permissão, só então falar sobre o assunto pretendido.  OLHA AÍ SUA INÚTIL MAL COMEÇOU E JÁ TÁ ERRANDO

— Eu não falo "com licença" é uma perda de tempo imensa. E nem espero permissão pra falar, imagina se é com o Thranduil, ele além de nunca me deixar falar costura minha boca pra garantir. É por isso que eu digo: INTERROMPAM! A VIDA NÃO FUNCIONA DE LICENÇAS (?)

— Vou fingir que nunca escutei isso, senão daqui a pouco me enforco com um  barbante. Pra honra do barbante, beijos de luz - ele faz um biquinho e eu o fuzilo mortalmente com os olhos - Tá, sua chata, paro por agora mas continuo depois. 

— Ótimo

— Falando no loiro...Eu vou ler aqui, nesse maravilhoso livro de boas maneiras que te dei, e você vai comentar sobre e usar ele como referência quando precisar, ok? Vai me dizer como colocaria em pratica as regras com ele. Já que é o alvo do seu ódio nada melhor do que o usar pra você aprender a ter educação

— Tenho escolha? Não - dou de ombros - Então só continue

— Segunda regra: Mantenha um tom de voz adequado para o ambiente que você está, não fale alto ou baixo demais e não interrompa as pessoas enquanto estiverem falando, ouça o que a pessoa tem a dizer e aguarde sua vez de falar.

— Minha voz é naturalmente alta e não dá pra simplesmente ouvir o que Thranduil tem a dizer, ele só fala merda.

—Pra tudo tem solução, monamour. Enquanto ele estiver falando foque apenas naquela boca MA RA VI LHO SA! - ele bate palminhas - Já to até me imaginando indo sensualmente na direção dele ao som de "Sou um homem feminino"  e tascando uma mordida naquela boca

— Tay...ME RESPEITA QUE O CRUSH É MEU

— Ai, você é tão complicada, odeia o elfo mas não deixa que falem dele!

— É O SEGUINTE, RUIVO! - aponto o dedo na cara dele - SE EU NÃO POSSO TER NINGUÉM MAIS PODE - modo possessiva e psicótica ON

— Terceira regra: não aponte

E eu só fiquei ali...com cara de cu. Uff, vontade de bater nesse ruivo.

— Quarta regra: Não falar palavrões -  ele continua com uma expressão séria - É, amiguinha...parece que vou ter que costurar a sua boca - e então começa a rir hienamente

— O que eu fiz pra merecer isso ó Deus? Arranquei o chifre de um unicórnio e usei de casquinha pra sorvete? - me lamento

— Pro seu bem espero que não - ele para de rir imediatamente e me lança um olhar mortal - Quarta regra: Sorrir, sempre é muito elegante

— Sorrir? Sorrir pro Thranduil? Prefiro arrancar minha bunda fora e...

— E soltar ela mundo a fora para que cague nas pessoas (?) MODO POMBO ON

— Só..para. Para que tá feio.

—  VOCÊ É A CRIATURA MAIS SEM PURPURINA NA ALMA QUE EU CONHEÇO

— Continua logo essa merda!

— Continuo, mas só porque EU quero! Uff. Quinta regra: Não monopolizar uma conversa, mostrando que sabe tudo.

— Mas se eu sei tenho que mostrar pro mundo, ué. Ainda mais praquele loiro que se acha o dono da razão!  Vou monopolizar e ainda esfregar na cara dele, ah se vou

— Tá - Tay coça a cabeça - Sexta regra: Caso alguém vá utilizar a mesma porta que você, você pode segurar a porta para que a pessoa possa passar primeiro

— Não, não mesmo. Eu bato com gosto a porta na cara dele, pra quebrar o nariz mesmo. É importante ser uma mulher de atitude

— Quanta atitude, hein...É por isso que eu digo que você vai morrer sozinha

— Não desmereça os 27 gatos que eu vou ter!

— NEM OS GATOS, ESSES POBRES BICHANOS, VÃO TE QUERER!

— Eu tenho comida é claro que eles vão

— C h e g a! Vou embora que você tá cansando meu brilho e desmerecendo minha ilustre presença - Tay se levanta e joga a franja pro lado com a mão - Não vou perder meu tempo com quem não tem rosa na alma, então ADEUS - ele sai e bate a porta

— VAI MESMO! NINGUÉM TE QUER! E ME DEVE UM CHOCOLATE!

Bela

Me apoio na parede e me inclino para frente observando a passagem e, é claro, mantendo uma distância segura. Não, não me aproximo mais, vai que uma aranha gigante mutante sai dessas profundezas e ataca minha pessoa? O que não acho difícil, nunca na minha vida vi tanta teia acumulada. Tenho que me prevenir. 

É bastante escuro, mas da pra ver parte de uma escadaria empoeirada. Ela vai tão pra baixo mas tão pra baixo que não duvido nada que se eu descer saia da Terra Média e apareça no Japão (?).

Agora...o que fazer?

Eu já vi muito filme de terror nessa vida, e se tem uma coisa que eu sei é que não se deve descer escadarias sombrias no meio da noite e sem nenhum tipo de iluminação, a não ser é claro que queira terminar com a cabeça numa bandeja servindo como pote de biscoito (?).

Mas, porém, contudo e todavia eu não posso simplesmente ignorar uma passagem secreta! Seria uma falta de respeito da minha parte, hunf. Passagens servem para serem usadas, oras! Mas se eu calcular a massa da poeira aqui acumulada e somar ao volume de teias de aranha agarradas as paredes (?) percebo que essa aqui foi esquecida até pelos Valar.

— Bela! - a voz esganiçada do Tay berra - Eu desisto de tentar educar a Ayla! Ela é uma inútil e... - ele abre a porta - e uma inútil!

Grazadeus é o Tay. 

Eu devia trancar essa porta, né? Minha passagem tem que estar segura, vai que tentam tomar de mim (?).

— Tay, olha! Olha, olha, olha! - aponto pra passagem - EU TENHO UM PORTAL SECRETO SÓ PRA MIM

—  Mas oi?

— Isso mesmo que você ouviu! Ai, é muita emoção. Se der no quarto do Legolas eu vou ser tão mais feliz. Já pensou que incrível poder ver a bunda dele de camarote? E se der na cozinha? Vou poder furtar comida! Vou ser feliz desde que não dê em algum banheiro público (?)

— ME PASSA QUE EU TO AMARROTADA (?) - Tay fecha a porta rapidamente - ADOREI, MONA!

— Sortuda eu sou

— Porque não me colocaram num quarto com atalho? Que mundo injusto, vou protestar!

— Nem devem saber que aqui tem um portal, senão é obvio que não teriam me dado esse quarto né, seu jumento, por isso é um segredo

— Tem razão, vai que eles sabem que você tentaria usar pra ver o príncipe nu

— Sonhei com a bunda do Legolas noite passada, ela disse pra mim que me amava (?)

— É, tenho certeza que descobriram isso assim que você chegou

— Nhá - mostro a lingua 

**********************

— Sou só eu ou você também tá com cagaço de entrar aí? - pergunto coçando a cabeça

— Bem, devido aos fatos...nós dois. Estamos parados encarando essa passagem faz meia hora 

— Você quis dizer uma hora e meia, né? - um resmungo vindo do fundo do quarto nos faz pular de susto

— AAAAAAAAAAAAAH - Tay pula no meu colo e agarra meu pescoço - FANTASMA

— SAI COISA BALOFA - jogo ele no chão - DAMAS PRIMEIRO  

E saio correndo na direção da porta.

— FILHA DUM MOSQUITO BIDESTRO, VOLTA AQUI - o ruivo, ainda no chão, se joga e me puxa pelo tornozelo me fazendo cair - SOU BONITO DEMAIS PRA MORRER, AINDA MAIS SOZINHO

Escuto uma risadinha baixa em meio aos berros de Tay e viro o rosto na direção. Foi aí que eu vi...

— Tay

— BELA SABE AQUELE SEU ROUPÃO DE UNICÓRNIO QUE SUMIU?  EU QUE DEI ELE PRO MENDIGO DA RUA 7, O CARA ME AMEAÇOU COM UMA BAGUETE (?) DESCULPA

— Filho da...

— E SABE AQUELA VEZ QUE VOCÊ FICOU DOIDONA E ACORDOU NO TERRAÇO DE UM PRÉDIO ESTILO SE BEBER, NÃO CASE E SEM SE LEMBRAR DE  NADA? É QUE EU TROQUEI O PACOTINHO DO CHÁ COM OUTRO PACOTINHO ESTRANHO QUE UM TIO DA RUA ME VENDEU

— ...puta!

— Olha o respeito com my mom, da vagina dela saiu um ser de luz, vulgo eu

— Luz que eu vou apagar!

— Se o fantasma ainda não me matou não é você que vai!

— Não é um fantasma, otário 

— Não? 

— Não

— Nem um fantasminha camarada? Um gasparzinho da vida?

— Não

O ruivo olha pra trás e estreita os olhos ao ver o ser que esta sentado confortavelmente na poltrona.

 - Quié? - Ayla pega uma frutinha vermelha de um pote que esta segurando e joga na boca - Vim em busca de emoção e achei

— COMO DIABOS VOCÊ ENTROU AQUI?

—  Pela porta, dãããã - Ayla manda um beijinho e eu a fuzilo - Eu tava aqui o tempo todo, dei uma de As Panteras, sabe? Só que sozinha. Quando o Tay saiu do meu quarto eu segui ele, aí tava aqui vendo vocês não entrarem na passagem, foi broxante

— Mas...mas... Como não vimos você? - pergunto

— Eu me tornei uma espécie de ninja, vi muito Naruto nessa minha vida

— Ai, quer saber? Pra mim já chega, todos dois vazem daqui! Sumam porque estão cansando minha beleza

— Mas e a passagem? Quando mais rápido descobrir pra onde leva mais rápido vai ver a bunda do Legolas

— A bunda dele não vai sair do lugar. Depois a gente pega um pão e usa pra fazer uma trilha nessa passagem, mas agora só quero dormir porque tem trabalho amanha. Agora xô daqui, rápido!

— Tá, sua grossa - Tay resmunga - Tomara que sonhe com a hell de sunga. Na verdade, eu te amaldiçoo a isso!

— Vai se foder

Empurro a porta para fechar e tiro a tapeçaria de trás da cômoda.

*****************

Venho aqui para relatar minha experiência frustante. Ontem, antes de dormir, pedi a um passarinho que cantasse uma bela melodia exatamente meia hora antes do sol nascer para que eu pudesse acordar mas, bem, ele não cantou e agora eu me fodi.

 Estou A T R A S A D A.

Na verdade, atrasada é um elogio.

Legolas vai me matar. Acho que matar também é um elogio pra minha situação crítica./chorei

Termino de colocar meu corpete de caveirinhas coloridas e corro porta a fora derrubando cinco elfos e uma Hell no caminho.

— SAAAAAAAIAM DO MEU CAMINHOOOOO

Corro mais que o Bolt pelos corredores e derrapo até parar na frente das portas que dão para os campos de treinamentos ao ver que estão fechadas.

— Mas que porra! Satanás tá de brincadeira com my face, só pode - resmungo frustrada

Plano de improviso aqui.

1- Correr

2- Gritar

3- Arrombar

Genial.

Me alongo um pouquinho e respiro fundo. Achou que eu tava brincando, é?

— IÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ - corro com tudo na direção da porta 

Já estava pra chegar quando...

....ela é aberta por fora.

Então eu caí, dei uma cambalhota e derrubei um elfo.

 Que lindo.

Se quer um conselho: Não seja uma Bela no primeiro dia de trabalho.

— Ai - o elfo debaixo de mim geme de dor

— Por Loki, me desculpa! Eu tava atrasada, vim correndo, ia arrombar a porta mas ba dum tas abriram ela! Sacomé, né? A vida é feita de tombos e cambalhotas (?) - dou leves tapinhas na bochecha do elfo moreno de olhos verdes (e sem camisa, importante constar) e me levanto

— Não estava trancada sua louca - ele também se levanta - Bastava usar as mãos e empurrar

— Eu vou é empurrar você pra cair de novo - resmungo - Pessoas atrasadas não pensam direito, me respeita

— Você não está atrasada, Bela - a voz melodiosa do senpai surge ao meu lado. Esse aqui é mais ninja que a Ayla - Chegou exatamente no horário

— Eita, sério? Desculpa, não sei ver as horas pelos sol (?) 

— Sério - ele ri - E sabe...existem relógios

Do que adianta existir se eu não tenho um? 

— Mas isso quer dizer que...eu derrubei esse gostoso por nada?! Que isso, mundo! Não é assim que se faz não!

— As vezes você fala demais, sabe?

Aff, até Legolas tá contra mim mundo cruel? Mas foda-se as injustiças, vou aproveitar pra perguntar inocentemente pra ele sobre algo como...passagens secretas hihihihihi.

— Huuum...Legolas?

— Sim?

— Aqui no palácio tem passagens secretas?

— Porque quer saber? - ele arqueia a sobrancelha

— É que...eu...li um livro e...achei legal

— Tem

— E pra onde vão?. Vão pra... pra...bordéis (?) que nem no livro?

—   Não, claro que não. Onde você leu isso? As que conheço são rotas de fuga para a família real, caso ocorra algum tipo de ataque aqui no palácio. Mas existem várias, a maioria não é usada. Na verdade, quase nenhuma é...

— As que conhece?

— Sim, não conheço todas elas. Com toda certeza existem várias que nem sabemos que existem, creio eu.

— Ooooooh, interessante. Se, hipoteticamente falando, tivesse uma passagem secreta em um quarto deixariam uma desconhecida dormir lá?

— Mas é claro que não. É por isso o nome "Passagem secreta". É secreta.

— Ooooooh, mais interessante ainda

Bem, tá aí. Já sabemos pra que serve aquela passagem, só resta saber pra onde ela vai e como entrar nela sem ser engolida pelas trevas ou morrer de rinite no caminho (?).

— Bela, Bela...menos fala e mais ação. Vá no arsenal e traga 17 espadas de madeira, 13 arcos e algumas dezenas de flechas - ele aponta para um pequeno prédio ao fundo - Agora

 Caralho, tenho braço pra isso tudo não - penso

— O que? - o loiro arqueia a sobrancelha

— Eita, jurava que tava pensando. Quer dizer, eu tava pensando, mas pensando alto. Pensei que tivesse pensado internamente mas pensei externamente e...você entendeu, né?

— Entendi, Bela - ele balança a cabeça - Agora ao trabalho, não tenho tempo pra conversinha no momento. Ah...e não demore

Hunf, grosso. Saio andando, resmungando e arrastando o pé na direção do arsenal. Desvio das árvores, das moitas e das flechas perdidas da Hell (?) e abro a porta do arsenal parando pra observar.

Okay.

É uma sala grande com uma quantidade imensa de prateleiras e mesas, todas totalmente preenchidas com variados tipos de armas (menos machados). Em resumo: Empilhadas nas mesas temos as espadas de madeira, distribuídos nas prateleiras temos os arcos, em uma espécie de gancho na parede espalhados por todo lado temos as espadas de verdade e as lanças, em baús abertos temos incontáveis adagas, facas de caça e as flechas, sem contar nas inúmeras bugigangas jogadas. Ou seja, um lugar de perigo e morte certa pra mim. Não é exagero e nem brincadeira, eu mal sei rasgar papel sem me cortar (?)

Mas agora a questão é: Como diabos vou levar esse tanto de tralha pro outro lado do campo? Nem dá pra dar uma de desentendida porque Legolas foi bastante exato sobre a quantidade. 

17 espadas de madeira, 13 arcos e algumas dezenas de flechas. Não é possível que tenha tanto elfo, se eu disser que parece uma orgia suprema não vão me respeitar.

  E não tem nem um carrinho de supermercado por aqui não? Uma carroça também serve. Trabalho braçal não é comigo não, Jesus.

 Que bando de elfo inútil e folgado, porque não podem vir até aqui pegar as próprias armas? Aposto que isso é obra do Thranduil, aquele elfo das trevas deve ter ameaçado o filho com algum tipo de segredo constrangedor e por isso aqui estou no trabalho escravo. Eu devia cobrar meus direitos de trabalhadora (?).

— BELA - a voz do senpai berra

Oxi, mas que elfinho apressado. Devia tomar um anti stress e...Já sei!

Estico uma corda no chão e sobre ela coloco as espadas de madeira uma de cada vez. Com elas devidamente arrumadas puxo as pontas fazendo as espadas se empilharem e amarro uma na outra, deixando um pedaço pra poder puxar. Faço a mesma coisa com um baú de flechas. Depois, pego os arcos e coloco nos meus braços como se fossem braceletes e saio puxando meu carrinho de espadas e meu baú.

Pronto! Sou ou não sou uma gênia? Como eu como consegui eu não sei, mas gostei que pelo menos uma vez o mundo colaborou, a corda nem criou vida e tentou me enforcar (?)

— JÁ TO INDO, CHEFINHO - sai do arsenal

— Porque está trazendo tudo assim? - Legolas arqueia a sobrancelha - Tem um carrinho lá dentro que serve justamente pra trazer o armamento

— Pra trabalhar os músculos, é claro. E também porque não vi carrinho nenhum, aí tive que trazer na sofrência e...

E ao fundo só escuto o barulho de rodinhas enferrujadas e uma risada feminina cruel....Me viro a tempo de ver um flash de cabelos ruivos.

Vadia.

Tay

Aliso com as mãos minha maravilhosa túnica cor de jabuticaba (porque mesmo que o seu destino seja lavar vasilha tem que lavar com graça e estilo) e faço um toca aqui com o espelho porque amor próprio é tudo nessa life. Estou totalmente sem pressa, que diferença faz mais cinco minutos quando já se está três horas atrasado? Os pratos que esperem, tenho certeza que não estão com pressa (?)

Dou uma ultima olhada no espelho e saio do quarto trancando a porta em seguida.

— Okay...onde é a cozinha? O loiro delicia soberano é um inútil - resmungo - nem um GPS fornece pra nóis que não tem senso de direção e nem conhece o lugar

— E é exatamente quando não se tem senso ou não conhece o lugar que se usa a boca pra perguntar - uma voz feminina diz com raiva e eu me viro pra olhar- E o senhor já deveria ter feito isso! Não sou obrigada a esperar quatro horas na cozinha por uma criatura estúpida que não sabe usar as palavras

— Primeiramente foram só três horas. Segundamente queridinha, sou um ser de luz que gosta de caminhos mais práticos, métodos mais simples que não envolvam ter que me dirigir a pessoas essa hora da manhã - observo a elfa morena - E eu acho que não te conheço

—  Quão obvio isso é? É claro que não conhece. Sou Nerwen,sua responsável - a morena revira os olhos e ajeita o vestido azul claro

— E como sabe exatamente que sou eu quem tem que tomar conta, heeein?

— Não é muito difícil distinguir um humano ruivo de um elfo, não concorda? Se for pra perguntar no minimo pergunte algo inteligente  

— Ai, elfa chata. Vai tomar banho de sal grosso pra ver se tira esse seu mal humor. Ou melhor, vai encontrar um homem e transar, com toda certeza isso é xota com fogo 

Ela anota algo num caderninho e me lança um olhar reprovador. Faço uma cara de ponto de interrogação.

— Isso é um relatório, o rei quer saber tudinho - ela responde - E você acabou de ganhar mais uma hora de trabalho pelas ofensas que a mim foram dirigidas

— O QUE? NÃO!

******************

— Lerê lerê lerê lerê lerê - canto minha própria trilha sonora enquanto puxo um prato da pilha gigante dentro da pia

— Tem uma sujeirinha naquele copo ali e naquele prato ali...e aqueles talheres você nem lavou - Nerwen bufa irritada

— Esse é meu jeito de lavar e se não esta satisfeita faça melhor, hunf. Mas posso colaborar um pouquinho mais - sorrio cruelmente e estico meu braço esbarrando sem querer na pilha da pia e derrubando todos - Ooooooooops - Ah, o doce som de coisas quebrando.

Eu juro pra vocês que os olhos dela saltaram pra fora da cara, deram uma volta na cozinha e depois voltaram e começaram a me jogar faíscas (?)

— MAIS UMA HORA POR PRATO QUEBRADO

— PORQUE? Estão limpos não estão? Me contrataram pra isso

— Nem tem mais prato pra estar limpo!

— Exatamente. Fiz minha parte - jogo sabão na cara dela 

Ayla

Levanta-te e anda-te, Ayla. Que a força esteja com você, pois hoje passarás por uma provação: Passarás o dia com Thranduil sem mata-lo ou ataca-lo de alguma forma.

Foi com esse pensamento me dito em sonho pelo Tay vestido de Madonna (?) que eu me levantei da cama e fui me arrumar.

Algo me diz que vou sofrer hoje nas mãos do Thranduil, porque será né?

Foi o tempo de eu terminar de vestir minha saia longa azul pra porta ser aberta e Faneth entrar empurrando um carrinho lotado de comida. Meus reflexos são tão bons que eu só reagi a "invasão" depois de ela já ter entrado, estacionado o carrinho no meio do quarto e voltado pra fechar a porta.

— Ai - coloco a mão no coração - Não sabe bater não?

— E você não sabe trancar a porta? - ela revira os olhos - Enfim, soube que você agora serve diretamente ao rei e vim aqui te dar as instruções no lugar da elfa que ele mandou

— Que seja. E essa comida toda é pra mim? - pergunto já avançando pra pegar um bolinho e levando um tapa na mão - Ai! Quanta agressividade

— Não toque - ela praticamente rosna - Esse é o café da manhã do rei, do príncipe Lindus e do senhor Thoronthur.

— Então porque trouxe pro alcance das minhas mãos?

Não envenenar nada.

— Porque e você quem deve levar, garota tonta. Sempre que eles tenham ido para o escritório sem comer você leva.

Observo o carrinho, são três andares com prateleiras de vidro. Na primeira tem vinho e uma torre de bolinhos, na segunda vários bolos e na terceira variados tipos de  frutas.

— Três pessoas apenas vão comer isso tudo? Se fosse a Bela eu até entenderia, mas pensei que elfos comessem pouco

— Claro que não vão comer tudo, mas devemos fornecer opções

— Quanta frescura, vontade de levar só água e um pedaço de lembas

E uma coisa eu devo dizer: Lembas tem gosto de pão de sal.

— Pare de resmungar e vamos logo! O rei não admite atrasos, e considerando que é você quem vai levar agora vai tolerar menos ainda

— Isso é bullying, sabia?

*****************

Estaciono o carrinho e paro na frente da porta do escritório. Faneth sussurra um boa sorte e foge rapidamente. Aff, covarde.

Já estava pra bater quando...

— Pelos Valar, Thranduil, eu saio por umas semanas e quando volto você já arrumou briga com os anões, declarou guerra, foi contornado por humanas (?) Legolas desobedeceu as regras, ajudou prisioneiras a fugir e agora tá dando uma de Arwen ao se envolver com uma humana. E Lindus, bem...ele não fez nada. - por trás da porta escuto uma voz - Eu simplesmente não posso deixar vocês sozinhos! Que Erú me livre da casa de Oropher, vocês um dia serão a minha morte

Ôôôôôô uma discussão. Finalmente algum elfo com coragem nesse lugar! Me encosto na porta para escutar melhor.

— Pare de reclamar, Thoronthur. Eu fiz o que considerei certo e Legolas passou dos limites, agora cala-se e me passe aqueles relatórios, por favor - Thranduil respondeu

— Vocês dois discutem demais - Lindus, eu acho, resmungou - Me sinto até meio sufocado aqui - uma cadeira é arrastada e escuto passos 

Não deu nem tempo de reagir, a porta foi aberta e eu cai de cara no chão.

— Eeeeeer, oi? - rio nervosamente