– Bryan, Bryan, Bryan venha já aqui, oh não, Sophie não faça isso.

Oi, sou Samantha Romanoff, e isso é óbvio, o que ainda não se sabe sobre mim é que nesse instante meus cabelos estão ficando brancos. Aí vem aquela exclamação super esperada: Mas você é jovem! Sim, sou uma jovem de vinte e quatro anos com dois gêmeos pestinhas que não param um segundo. E só para constar, esses pestinhas são meus filhos.

– Pluquê num pode fazê ixo, mamãe? - perguntou Sophie com aqueles olhinhos gigantes e sua enorme inocência enquanto brincava com uma faca.

– Porquê é perigoso, meu amor.

– Peligoso igual ao bicho que fica em baixo da minha caminha quando xou uma menininha mau?

– É, perigoso desse jeito.

– Não - gritou ela jogando a faca longe - Mamãe me plotege - chorou aos meus pés com os braçinhos estendidos abrindo e fechando as mãozinhas rapidamente, esperando que eu a pegasse.

– Oh, minha princesinha - agachei-me para ficar de sua altura e a vi enroscar-se em meu pescoço - Nunca vou deixar nada de mal te acontecer.

– Mamãe, mamãe, mamãe, tia Caty chegô - saltitou Bryan para perto de nós arrastando Caty pelo braço.

Caty, ou Catarina, é a ginecologista que trouxe meus pequenos ao mundo. Após os nove meses de acompanhamento da minha gravidez, viramos boas amigas, fomos morar no mesmo apartamento e ela se tornou uma segunda mãe para meus filhos.

– Tiaaaaa - Sophie correu ao seu encontro.

– Oi, florzinha - sorriu ela para a pequenina agarrada em suas pernas.

– Dia cheio? - indaguei notando sua expressão cansada.

– Lotado - bufou - Preciso de um banho.

– A gente vai blincar dipois né, titia? - perguntou Bryan.

– Não, deixe ela des...

– Vamos sim, meu super herói - interrompeu-me.

– O que vocês acham de falar com a Tia Bruna e a Tia Thamires? - indaguei chamando a atenção deles.

– Ebaaaaaa - os dois comemoraram em uníssono.

Catarina aproveitou sua deixa e correu para o banho. Eu, por outro lado, me acomodei em frente ao computador com Bryan e Sophie sentados em meu colo, um em cada perna. Ao conectar a internet logo vi Bruna on-line, e a convidei para uma chamada de vídeo que foi imediatamente correspondida.

– Titiaaaa - gritaram os dois ao verem a imagem de Bruna surgir na tela.

– Oiiiii amores da tia - ela sorriu abertamente - Nossa como estão grandes.

Bryan levantou o braço esquerdo e fez força - Tô glandão tia, zá tenho musclulos - exclamou ele fazendo uma careta.

– Uau, que menino mais musculoso, assim titia se apaixona - disse ela rindo enquanto ele corava.

– E eu titia? Tô bunitona né? - indagou Sophie ajeitando os cachinhos dourados.

– Linda como uma princesa - comentou Bruna.

– Será que posso falar com ela agora? - perguntei fazendo cosquinhas nos dois.

– Pala mamãe pala - pediu Bryan.

– Xe a mamãe num palá num podi falá com a titia Bluna - Sophie cruzou os bracinhos e fez um biquinho adorável.

– Parei - sorri levantando as mãos em rendição - E aí sua vaca, como está? - dirigi-me à Bruna.

– Como ousa me chamar dessa maneira com meus sobrinhos ouvindo? - ela fingiu estar indignada.

– Vaca? Igual aquela que tem na faxenda? - Bryan me olhou interrogativamente.

– Está vendo o que você fez? - Bruna pareceu irritada, mas eu conhecia suas ceninhas.

– Crianças, não chamem a Tia Bruna de vaca - ordenei.

– Xim, mamãe - responderam igualmente.

– Quem quer brincar com a titia? - gritou Caty atrás de mim.

– Eu vô - gritaram os dois em resposta.

– Como se fala? - perguntei.

– Lixenxa Tia Bluna - falou Sophie sorrindo.

– Lixenxa titia, mais eu vô blincar de super héloi - Bryan disse descendo de meu colo junto com Sophie.

– Tchau, meus amores, titia ama vocês - Bruna acenou - Caramba, a cada dia eles parecem ainda mais com James - comentou.

– Não fale nele, por favor - pedi sem a olhar, ainda prestando atenção em meus filhos que brincavam com Caty no outro cômodo.

– Mas é verdade - persistiu.

– Não insista Bruna, James não é pai deles, nunca foi, nem será, eles só tem à mim - vociferei.

– Não está mais aqui quem falou - suspirou - Você...pensa em voltar?

– Talvez - respirei fundo - É difícil dizer, tenho duas vidas para cuidar aqui, e para manter longe de você sabe quem.

– Isso é errado - comentou ela mais para si mesma que para mim.

– Eu preciso mantê-los longe, se James descobrir, ele pode tomar meus filhos de mim, meus filhos, e eles são tudo o que tenho Bruna, não posso perdê-los, além do mais, James está feliz não é? Desde que vim embora ele está com essa tal de Halston, a loura com quem fui traída, então estamos bem assim, eu fiz uma boa escolha, e isso não precisa mudar.

– Okay, você é quem sabe - resmungou ela.

– Onde está Thamires?

– Ouvi meu nome? - sua voz gritou ao fundo, fazendo com que um sorriso brotasse em meu rosto.

– Apareceu a margarida.

– É, pois é, eu estava com Carlos acertando os preparativos para o noi...- ela não pôde completar a frase graças à Bruna que tapou sua boca.

– Preparativos para quê? - indaguei confusa.

– Você é uma linguaruda - Bruna disse à Thamires.

– Ah, eu pensei que você já tinha contado, não me culpe - rebateu.

– Contado sobre o quê gente? - interrompi-as.

– Nós... - começou Bruna.

– Estamos... - continuou Thamires.

– Noivas - completaram em uníssono.

– Meu Deus - escancarei a boca - Vocês são lésbicas? Como não percebi por tanto tempo?

– Credo - gritou Bruna.

– De onde tirou isso sua babaca? - perguntou Thamires.

– Vocês disseram que estão noivas oras - gargalhei.

– Idiota, os nossos respectivos namorados nos pediram em casamento no mesmo dia - Mires bufou.

– Ah entendi, porquê não disse logo em Bruna?

– Nós estávamos discutindo sobre J...

– Chega, não complete a frase, valeu, falou - a interrompi.

– Que seja, queremos que você seja madrinha - Thamires interveio.

– Como?

– É isso mesmo que você ouviu - respondeu Bruna.

– Super aceito - soletrei sorrindo.

– Aí sim em - comemorou Thamires - Quando você vem?

– Para onde?

– Não dá pra você ser madrinha das noivas daí sua lesa, você vai ter que vir para Los Angeles - explicou Bruna.

– Los Angeles? Mas, e James? - indaguei preocupada.

– Nós vamos dar um jeito, você tem que vir - reforçou Mires.

Naquela noite, após aquela conversa, não consegui dormir direito, pois a minha preocupação era: E se James descobrir, o que será de mim?