O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Oi ;)



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O dia amanhece chuvoso. O barulhinho da chuva somado ao frio fazem com que eu não tenha vontade de sair da cama nunca. Como hoje eu não tenho aulas, é exatamente isso que eu faço, só saio da cama para trancar a porta (não quero que ninguém entre e me acorde) e logo depois volto para o conforto do meu edredom. Durmo por mais três horas e quando acordo novamente a chuva já cessou. A preguiça é grande, só que fome é maior. Saio do quarto sem me importar com o fato de eu ainda estar de pijama, encontro o corredor lotado. Pessoas para todos os lados, andando atordoadas e algumas estão até chorando. Uma menina que aparenta ter a minha idade passa aos prantos por mim segurando um rodo e um balde. Uma mulher mais velha manda que ela ande rápido e que ela vá limpar logo. Resolvo interferir.
“Ela não tem condições de limpar nada desse jeito! O que está acontecendo?”
Ela começa a chorar ainda mais e eu, sem saber o que fazer, a abraço. Ela larga o rodo e o balde no chão e me abraça de volta. Fico alisando seus cabelos louros até que seu choro para. Pergunto novamente o que aconteceu, ela não responde apenas aponta para um lugar no corredor onde várias pessoas estão amontoadas.
“Você não precisa trabalhar hoje, ok?”
Falo mais para a moça que estava mandando ela trabalhar do que para ela.
“Pode ficar no meu quarto, depois eu te encontro lá. Descanse um pouco, pode dormir na minha cama.”
Ela me olha confusa como se esperasse qualquer coisa menos aquilo, depois vê que eu estou falando sério e faz o que eu disse. Vou para o lugar onde ela pontou e vou me infiltrando no meio da multidão. Quando consigo ver o que aconteceu, meu estômago se revira e eu perco totalmente a fome. Sinto minhas pernas ficarem moles como gelatina e me seguro para não vomitar.
Um guarda morto com uma adaga enfiada no peito e o corpo todo ensanguentado. Entretanto não é isso que me deixa desse jeito, assisti muitos episódios de Grimm e tenho estômago forte. O que me traz arrepios é a mensagem deixada pelo assassino escrita no chão com sangue:
Isso é só um aviso. A próxima será a Princesa.
Respiro fundo. A vontade que tenho é de me esconder, correr o mais rápido que minhas pernas permitirem e me refugiar em um lugar seguro. Porém eu sinto uma responsabilidade tomar conta de mim. Não posso parecer fraca. Tenho que provar que sou digna de ser uma Rainha e nessas horas é preciso ter calma. Tenho que provar ao Rei que ele está errado. Eu posso governar sozinha sem a ajuda de um homem.
O Rei, a Rainha, o Conde e sua família (incluindo Felipe) estão em um canto mais afastado. Nenhum deles parece notar minha presença quando me aproximo, só depois de um tempo minha mãe me vê e corre para me abraçar. Em todos os anos que passei achando que ela estava morta, senti falta de colo nas horas mais difíceis. E agora ela está aqui, me dando suporte. A sensação é boa. Apesar de ser um simples abraço, significa muita coisa. É como se ela estivesse dizendo: ‘Você não está sozinha, pode contar comigo’.
“Você está bem?”
Ela pergunta.
“Sim, eu estou. Por que não estaria? Quer dizer, só acabaram de matar um cara de forma brutal em frente ao meu quarto e o assassino está solto atrás de mim. Fora isso, está tudo bem sim. Como está a família do guarda? Ela já foi informada? Quero que enviem uma cesta para eles cheia de comida e com flores. Sei que não vai acabar com a dor que eles estão sentindo nesse momento, mas pelo menos é legal saber que alguém se importa conosco nessas horas.”
Ninguém discorda e o Rei manda uma criada cuidar disso. Parece que ninguém percebeu minha ironia e realmente acham que eu estou bem.
“Vou à cozinha, estou morrendo de fome.”
Não dou dois passos e Felipe me segura.
“Eu vou com você.”
“Eu sei chegar lá sozinha, obrigada.”
Solto-me dele e volto a andar.
“Ficou doida? Você vai andar pelo castelo sozinha depois do que aconteceu?”
Percebo que todos se surpreendem com o jeito informal e íntimo que ele me trata. Afasto sua mão do meu braço, mas ele continua perto. Perto o suficiente para que eu possa sentir sua quente respiração.
“Sr. Lington, você está sugerindo que a segurança do castelo não é boa o suficiente?”
“Não sei. Pergunte ao cadáver ai do lado, Alteza.”

Reviro os olhos e volto a andar. Ele ignora todos os meus protestos e me acompanha. Pela primeira vez na vida, a cozinha está vazia, não me surpreendo. Pelo que pude ver no corredor, as pessoas estão em choque. Seria impossível trabalhar dessa maneira.
Pego um biscoito caseiro no armário, sento em um banco, apoio os cotovelos na bancada e começo a comer. Ofereço a Felipe, mas ele recusa.
“Como você está? Não venha me dizer que está bem, porque eu sei que não.”
Sou um suspiro.
“Assustada, com medo, cansada, confusa e, principalmente, culpada.”
Ele vem até mim e me abraça de um jeito protetor. A princípio fico rígida, mas logo depois cedo e me entrego ao seu abraço. Enterro a cabeça em seu peito e seu perfume marcante entra pelo meu nariz. Tenho vontade de fica ali para sempre, sentindo o cheiro dele.
“Não vou deixar que nada de mal te aconteça. É uma promessa.”
Ele sussurra ao meu ouvido e me abraça ainda mais forte.
(...)
“Quão bem você o conhecia?”
Pergunto ao entrar no quarto e encontrar a menina com olhos inchados sentada na minha cama. Pelo visto ela não dormiu nem um pouco.
“Ele é... ele era meu namorado.”
Um nó se forma em minha garganta e me seguro para não chorar. De alguma forma eu me sinto culpada pela morte dele, já que pelo visto ela foi só para dar um aviso que logo iriam me matar.
“O que eu faço agora? Ele era meu porto-seguro, a única coisa que me deixava feliz nessa vida triste, ele trazia cor para meus dias cinzas. Cada batida do meu coração tinha o nome dele. Cada batida do meu coração tem o nome dele. Parece que depois da sua morte, o meu amor por ele cresceu ainda mais. Aquele ditado que só damos valor as coisas quando a perdemos nunca foi tão verdadeiro. O pior de tudo é que eu não consigo acreditar, sabe? Agora mesmo, meu coração estava doendo tanto, eu pensei em correr até ele e dar-lhe um abraço, mas aí eu lembrei que ele é o motivo da minha dor.”
Ela falou tão rápido que tive dificuldade de processar suas palavras. Eu não entendia a sua dor, nunca perdi alguém que amo. Na verdade, nunca amei alguém assim. Isso me entristece, me sinto uma insensível.
“O que estou fazendo? Eu deveria estar trabalhando e não desabafando com Vossa Alteza.”
Ela fala mais para si do que para mim.
“Por favor, me chame de Bia. Qual o seu nome?”
“Lucy.” Ficamos caladas por um tempo e depois ela me faz uma pergunta que me tira o fôlego. “Você já se apaixonou ou está apaixonada, Bia?”
“Eu nunca me apaixonei. E sobre eu estar apaixonada... eu não sei. É complicado.”
“Então descomplica, oras. É pelo Eduardo?”
“Prometa que não vai contar para ninguém o que eu vou falar agora, ok?”
Ela jura que nenhuma palavra sairá da boca dela. Sei que estou cometendo um grande erro em contar isso para uma estranha, porém alguma coisa nos olhos de Lucy faz com que eu confie nela. Espero não me arrepender depois.
“Todo esse tempo, eu lia romances e pensava que seria legal sentir o coração sair do compasso ao ver alguém, porém agora eu comecei a sentir isso e não é tão legal quanto eu pensava. Eu tenho medo do que eu sinto daqui dentro. Dói e ao mesmo tempo é uma sensação maravilhosa. Mas eu tenho medo principalmente que outras pessoas descubram e descontem nele.”
“Mas por que fariam isso? Afinal, vocês não vão se casar?”
“Então, essa é a parte complicada. Digamos que eu acabei me apaixonando pelo irmão errado...”
Lucy solta um gritinho de empolgação e fala com uma expressão sonhadora nos olhos:
“Que lindo! Um amor proibido! Ele gosta de você?”
“Eu não faço a mínima ideia!”
“Ainda bem porque essa é a graça da história toda!”
“Graça? Ficar com minhoca na cabeça não tem a mínima graça!”
“Claro que tem! A parte mais legal é descobrir se ele gosta de você!”
“Como eu faço isso?”
“Você não faz nada, eu faço. Próxima vez que vocês se encontrarem, eu vou observa-los. Repare bem nos olhos deles, veja se eles brilham e te olham de jeito diferente. Você tem que se mostrar interessada, mas nem tanto. Homens gostam de um pouco de dificuldade.”
“Sério?”
“Acho que sim, é o que dizem por ai! Funcionou comigo...”
Ela para de falar, toda a felicidade que tinha há minutos se esvai e vejo seus olhos encherem de água. Tento manter o clima leve novamente.
“Nós vamos nos ver no almoço, eu preciso estar linda!”
“Nisso pode contar comigo, eu vou te arrumar!”
Eu tomo um banho e ela me arruma. Escolhe um vestido que valoriza minhas curvas, porém que não mostra tanto e faz uma maquiagem levinha com o olho marcado. Por fim, passa um batom, fazendo os meus lábios ficarem mais “atraentes”.
“Pronto! Mesmo se ele não gostar de você, com certeza depois de te ver essa noite vai ficar com o coração balançado! Cuidado para que todos os homens do castelo não se apaixonem por você!”
Olho-me no espelho e sorrio com o resultado.
“O problema é que quase nunca estamos sozinhos! Sempre tem gente perto!”
“Arrume uma desculpa para ficar a sós com ele!”
“Qual?”
“Já sei! Leve ele à biblioteca e pergunte algo sobre magia.”
De repente, tomo um “banho” de realidade. O que eu estou fazendo? Lucy percebe que eu desanimei e me pergunta o que aconteceu.
“Eu não posso fazer isso! Eu estou noiva do irmão dele, tem noção do que aconteceria caso alguém descobrisse? Ele seria morto! Não quero me apegar porque sei que uma hora vou ter que esquecê-lo.”
Ela segura minhas mãos de um jeito carinhoso e me olha séria.
“Bia, são poucas pessoas no mundo que conseguem amar alguém. Eu sou uma dela e sou grata por isso. Só que olhar nos seus olhos pude perceber que o amor que você guarda aí dentro é puro e verdadeiro, você nem percebe, mas sorri toda vez que fala o nome dele. Se isso é amor, não sei mais o que é o amor. Te dou um conselho por experiência própria: custei muito para encontrar uma pessoa que me completasse e quando finalmente achei, o destino foi cruel e o tirou de mim da pior maneira possível. Se eu soubesse que isso aconteceria... Ah, se eu soubesse. Não teria perdido tempo com bobagens e inseguranças, teria dito mais ‘eu te amo’ em vez de segurar isso entro de mim. Por isso, não perca tempo! Vá atrás do que te faz feliz. Aproveite o aperto no perto quando ele se vai, o frio na barriga quando ele vem, os olhares trocas, as palavras ditas e as não ditas também, tudo! Danem-se as consequências! O importante é que você vá dormir com um sorriso estampado no rosto enquanto pensa nele e se tudo der errado, você vai poder olhar para atrás e perceber que tudo valeu a pena.”
Quando ela termina, ambas estamos chorando feito duas bobas. Ela me manda parar para não borrar a maquiagem e fala para eu me apressar, pois já está na hora do almoço. Não perco tempo, saio do quarto com ela e vamos para a sala de jantar.


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Notas finais do capítulo

Esse cap mudou o rumo da história, sério. Eu ia escrever coisas totalmente diferentes! Lucy ainda vai aparecer muito, talvez eu até faça uma continuação com ela narrando. O que vocês acham?



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