O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Oi!! A personagem nova que vai aparecer "Ana" é em homenagem a minha amiga Ana



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“- É um conflito entre Apolo e Dioniso, um dilema famoso da mitologia. A batalha ancestral entre a mente e o coração, que raras vezes querem a mesma coisa.” - Inferno

Imediatamente, eu fico preocupada. Atravesso o pequeno esconderijo e vou falar com o Conde.

“Onde está Felipe?” Ele demonstra surpresa, como se não esperasse por essa pergunta.

“Ele está lá fora.”

“O QUE?” Grito um pouco mais alto do que eu pretendia. “Vou falar para um guarda ir buscar ele!”

“Não. Ele é um mago, tem que aprender a lutar.”

A forma casual como ele fala me dá nos nervos. O filho dele pode morrer lá fora e ele não está nem um pouco preocupado! Ignoro-o e vou até um guarda, porém antes que alguma palavra saia da minha boca, o Rei me impede e “ordena” que eu fique quieta.

“Meu Deus! Felipe pode morrer e vocês não estão nem um pouco preocupados!”

Exclamo, indignada.

“E você parece preocupada de mais, não acha?” Eduardo interfere e me lança um olhar acusador. Escuto um gemido do outro lado do abrigo e percebo que é Joana tentando chamar minha atenção, vou até ela. Ela recobrou a consciência, mas ainda está um pouco tonta. Sendo ao lado dela na maca improvisada e ela me usa como apoio. Sua cabeça descansa no meu ombro e com um fio de voz ela sussurra ao meu ouvido: “Você precisa ter certeza que ele está bem, vá!” Suas palavras servem para concretizar a ideia que já estava se formando em minha mente.

Essa é uma daquelas situações que o coração comanda o corpo. Apesar de ter mil motivos para não fazer isso, meu corpo é tomado pelo objetivo de proteger Felipe a todo custo. Olho para Joana, ela está pálida e com vários ferimentos espalhados pelo corpo. Isso me mostra que a coisa lá fora está feia. Seus olhos sem vida e cansados encontram os meus. Eles parecem suplicar para que eu faça alguma coisa.

Uma onda de adrenalina me possui e eu arranjo uma força que nunca me pertenceu antes. Corro em direção à saída do abrigo. Antes que eu vá muito longe, um guarda alto me segura. Esperneio e chuto sua parte íntima.Ele cai no chão, rolando de dor. Agacho e pego desajeitadamente sua espada. Ela é pesada e só a lâmina é um pouco maior que meu braço. Antes que eu possa cantar vitória, outros três guardas me cercam. O mais forte dos três parte para cima de mim. Eu tenho uma vantagem que eles não têm: eu posso machucá-los e eles não podem me machucar, ou, pelo menos, eu acho. Não que eu queira ferir alguém, mas se for necessário, o farei.

Bato com o cabo da espada na cabeça do que veio para cima de mim, e ele cai no chão, adormecido. Livro-me facilmente dos outros dois, um eu chuto na boca do estômago e o outro na garganta. Sempre usando joelhos e cotovelos, já que sou fraca.

Todas as outras pessoas no recinto estão chocadas demais para fazer algo. Saio correndo sem olhar para trás, subo as escadas, com cuidado para não escorregar nos degraus íngremes e mal feitos. Arranho minha mão com a ponta da espada e a esfrego na parede, que se abre. Derrubo o quadro do outro lado e continuo correndo, parando apenas para tirar os sapatos. Percebo o estrago que fizeram no castelo, por todo lugar tem vasos quebrados, quadros rasgados, e paredes ensanguentadas. Os corredores estão destruídos, porém vazios.

Escuto uma leve fungada. Meu corpo congela, procuro por todos os lados e não vejo ninguém. Escuto outra fungada, dessa vez mais alta. Vejo um quadro caído no chão encostado na parede, o barulho parece vir de lá. Vou até ele e o desencosto da parece. Encontro uma mulher escondida em posição fetal chorando.

Lucy.

Meu coração se enche de alívio ao perceber que ela está bem. Ela se levanta e me abraça,e seu corpo todo está tremendo. Tento acalmá-la dizendo que está tudo bem, mesmo sabendo que não está.

Explico a ela como chegar ao abrigo e dou a ela uma gota do meu sangue. Nojento, porém necessário. Ela protesta dizendo que eu deveria ir com ela, mas eu não dou ouvidos. Mando-a correr e não preciso falar duas vezes. Eu também corro, só que para o lado oposto.

Sigo o som da confusão que está concentrada no salão principal. Chego lá e a primeira coisa que eu reparo é no cadáver do guarda que me levou para o abrigo.Meu estômago se revira e tenho vontade de voltar para lá, onde eu estava segura. Mas como já estou aqui, tenho que prosseguir.

Escondo-me atrás de uma pilastra e observo a baderna. São poucas as pessoas que usam armas, a maioria aponta para a outra e alguma coisa sinistra acontece, tipo ela ficar paralisada ou começar a se debater no chão ou pegar fogo, entre outras coisas. A magia é perceptível no local. Sou tentada a gritar “por Hogwarts” e entrar na guerra.

Avisto Felipe do outro lado do salão, lutando bravamente com contra uma mulher. Ambos seguram espadas, mas não as utilizam muito. Eles parecem travar um diálogo e em um momento de descuido, a mulher derruba Felipe no chão e pressiona a espada contra a garganta de Felipe, para mantê-lo nessa posição. Isso é o suficiente para que minhas pernas se movam. Atravesso o salão principal correndo e chego até eles, porém nenhum dos dois me nota. Escondo-me atrás de outra pilastra para pegar a mulher de surpresa.

Ela parece tentar convencê-lo de alguma coisa. Apuro os ouvidos e consigo escutar.

“Felipe, eu não quero te matar. Se junte à nós,e não te machucarei.”

Vamos lá, Felipe. Não seja idiota! Aceite, é melhor você ser um traidor do que um defunto!

“Nunca.” Ele fala com um fio de voz.

“Sinto muito pelo que vou fazer agora.”

Antes que ela lance o feitiço em Felipe eu me jogo entre os dois. A magia me atinge em cheio e queima dentro de mim, entretanto nada acontece. Não sei quem está mais surpreso: eu, Felipe ou a mulher. A mulher voa para cima de mim e me prende com a espada contra o meu pescoço, depois grita: “Todo mundo parado, eu estou com a Princesa.”

Um silêncio sinistro se instala no salão. Todos congelam e se viram para ver de onde vem aquela voz. A mulher deve ter uns vinte anos e tem um sorriso triunfante no rosto. Minha respiração está ofegante e meu coração bate acelerado contra meu peito. “Todos os guardas, coloquem as armas no chão!”

Há um momento de hesitação, e ela pressiona ainda mais a lâmina fria contra o meu pescoço. Sinto um fio de sangue escorrer pela minha pele. “Agora!” Todos jogam as armas no chão, o que provoca um barulhão.

Meus olhos encontram Felipe, eu o analiso e percebo que ele não tem machucados graves. Seus olhos azuis estão arregalados e eu consigo ver pavor dentro deles.

“Ana, o que você quer?” Ele pergunta cauteloso.

“Ah! Agora você resolve me ouvir, não é, Felipe? Eu quero conversar com o Rei!”

Ele passa as mãos pelo cabelo, nervoso, e pede para um guarda ir chamar o Rei. Enquanto ele não vem, Ana sussurra ao meu ouvido: “Sabe quem deveria estar no seu lugar? Eu. Os magos deveriam estar no poder e eu seria a princesa, não você!”

“Certeza? Porque eu acho que você não ficaria tão bem de vestido quanto eu.”

Ela pressiona ainda mais a espada contra o meu pescoço, Felipe a manda parar e ela faça um feitiço nele. Felipe se contorce de dor e meu coração aperta só de vê-lo sofrer.

“Por favor, pare.”

Suplico com uma voz chorosa. Ela faz um barulho irritante de desaprovação, mas tenho a sensação que ela está sorrindo.

“Diga-me, Alteza. O que te fez sair do conforto o abrigo para vim para a briga?”

Pelo seu tom de voz eu tenho certeza que ela já sabe a resposta.

Os acontecimentos que se seguem são como um borrão na minha cabeça. O Rei chega, cercado de guardas. Sua cabeça está baixa de modo que não é possível ver seu rosto. Logo percebo que alguma coisa está errada, ele não usa as mesmas roupas que usava quando eu o vi pela última vez no abrigo. Na verdade, ele não é o Rei, e sim um guarda disfarçado.Todos percebem isso quando ele tira seu manto e brande a espada junto com vários guardas que surgiram não sei de onde.

Eles não querem conversar.

O ataque pega a todos de surpresa, mas Ana continua com a espada contra o meu pescoço. Tudo em que consigo prestar atenção são nos olhos de Felipe e em como eles me mandam uma mensagem silenciosa para manter a calma. Apesar disso, eu consigo, lá no fundo daquelas magníficas íris azuis, enxergar pavor e sei que meus olhos refletem o mesmo sentimento.

Nunca falei com essa tal de Ana na vida, mas pelo visto ela não gosta mesmo de mim. O castelo está praticamente caindo aos pedaços e ela se ocupa em pressionar essa merda de espada contra o meu pescoço (eu mal consigo respirar) e sussurrar ao meu ouvido como eu estou ocupando o lugar que era dela. Está começando a me assustar. O lado bom é que ela está tão imersa no próprio ódio que nem repara Felipe, que se prepara para lançar um feitiço nela.

Ele lança o feitiço e sinto os músculos de Ana se afrouxarem e ela cai no chão. Não perco tempo, e saio correndo, com Felipe logo atrás de mim.

Como eu sou sortuda pra caralho, sobrevivo a mil e uma coisas hoje (incluindo uma poção que me deixou piradona), e o que me derruba? Uma pilastra.

(...)

Quando retorno à consciência, estou no meu quarto. O silêncio indica que a invasão já acabou. Minha cabeça lateja e minha garganta está seca. Abro os olhos com cuidado e vejo minha mãe, Felipe, Eduardo, Joana e um médico. Todos respiram aliviados quando vêem que eu estou viva. O alívio da minha mãe é momentâneo. Logo ela começa a me dar uma bronca sobre como eu corri perigo e que eu não deveria ter feito aquilo, Felipe podia muito bem se virar sozinho, eu deveria deixar meu lado altruísta para outros momentos, quando minhas chances de morte não fossem altas e blá, blá, blá.

Ignoro totalmente o que ela fala e encaro aqueles lindos (e preocupados) olhos azuis. Sorrio fracamente e ele retribui. Aquilo aquece meu coração e faz tudo o que eu passei valer a pena. Minutos depois, todos saem do quarto, menos Felipe.Ninguém se opõe, uma vez que eu salvei a vida dele, ele provavelmente vai agradecer.

Felipe se senta no chão, ao lado da minha cama, e segura minha mão. Ele a acaricia, sem dizer nada. Fecho os olhos e fico sentindo o seu toque por um bom tempo.

“Você sabe que não deveria ter feito isso, não sabe?”

Ele fala com uma voz de veludo. Assinto sem abrir os olhos. Agora ele acaricia meu braço também.

“E por que você fez?”

Só então cometo o erro de abrir os olhos. Felipe, agora deitado ao meu lado na cama, me fita com esses maravilhosos olhos azuis que me fazem perder a cabeça. Umedeço os lábios e tento me concentrar em outra coisa que não seja o quão próximo nós estamos. Fecho os olhos novamente.

“Não sei...” Minha voz sai arranhada e roca. “Só não consegui imaginar ver você em perigo e ficar sem fazer nada.”

Escuto-o respirar fundo.

“Não posso te culpar, porque eu faria a mesma coisa.”

Um sentimento rodopiante queima em meu peito ao ouvir essa (quase) declaração. Mesmo com olhos fechados, consigo sentir Felipe se aproximar. E então, ele me beija.

Todas as vezes que imaginei meu beijo com Felipe, eu tinha colocado um pouco de drama. Nós fugíamos do castelo e parávamos em um bosque distante, ele se declarava e nós nos beijávamos, entre outras coisas. Mas nenhuma foi tão perfeita quanto essa. Não preciso de flores, anéis, declarações e juras de amor. O simples fato de eu poder sentir o calor de seus lábios contra os meus já torna tudo perfeito.

Fazemos uma pausa para respirar e para fazer contato visual. Seu olhar exibe um brilho que eu nunca vi antes. Impossível de decifrar, mais impossível ainda parar de olhar. Amor, felicidade, desejo, esse e outros sentimentos me assolam e, pelo que eu pude perceber, a ele também. Nesse momento não existe nenhum obstáculo. Só eu, ele e nossos lábios. Esse beijo não parece errado, pelo contrário, nunca fiz coisa mais certa.

Eu o puxo para mais um beijo. Dessa vez, mais intenso. Seu beijo é suave e lento. Ele me segura como se eu fosse de cristal e pudesse quebrar a qualquer momento. Meu coração bate tão forte que tenho medo de ele escutar. Ele interrompe o beijo. Suas bochechas estão vermelhas e seu cabelo emaranhado, nunca esteve mais lindo. Um leve sorriso dança em seu rosto e reflete no meu.

Ele sela nossos lábios mais uma vez e saí do quarto, me lançando um olhar significativo antes de passar pela porta. Nenhum comentário de como isso foi errado, ou das consequências que isso possa nos trazer caso alguém descubra, apesar de nossos intimo essas questões estarem nos atormentando.

Toco de leve minha boca, ainda sentindo a pressão de seus lábios contra os meus, e sorrio comigo mesma. Levanto da cama, um pouco tonta, e vou até o banheiro. Lavo o rosto e me encaro no espelho. Tanta coisa mudou em mim e ao mesmo tempo eu continuo sendo a mesma de sempre, se isso é bom ou não, eu ainda preciso descobrir.

Toco delicadamente a superfície lisa do espelho e outra dúvida invade minha cabeça: será que eu realmente quero voltar?

Resolvo afastar isso da minha mente, pelo menos por hora. Tomo um banho rápido e visto um vestido azul claro. Amarro meu cabelo em uma trança de raiz e vou para a pequena sacada que tem no meu quarto. Apoio-me no murinho que me impede de cair e miro o céu alaranjado do pôr-do-sol. Fecho os olhos e sinto a leve brisa de fim da tarde acariciar meu rosto.


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Notas finais do capítulo

Mereço comentários e recomendações pelo momento Bilipe *-*? Ia parar o capítulo em uma parte mais tensa, mas como minhas provas vão começar e eu vou demorar pra postar, não quis deixar vocês agoniadas (tão vendo como eu sou amorosa



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