O Refúgio Online escrita por Nedhand


Capítulo 13
Capítulo 57




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27, Maio de 2013(Segunda-feira)



A Ilha do Torneio era um rochedo grande, flutuando baixo acima do mar perto da costa de Porto Lith como uma montanha de cabeça para baixo. Seu topo era liso e havia grama. No centro, erguia-se uma enorme estádio circular.



Dentro dela, os torcedores lotavam todos os seis andares de arquibancadas. Havia jogadores e não jogadores, todos eles com diamante branco - ali não havia nível de Honra. O centro da arena, onde aconteceriam as lutas, era retangular, comprido, e muito largo. Haveria espaço para todos os jogadores que iriam participar.



—Hoje, descobriremos quem são os melhores e mais capazes lutadores de Maple — um narrador começou a dizer. Sua plataforma ficava no lugar onde dois arcos se cruzavam acima da arquibancada, como em um "X" curvo. Tinha chão e paredes de vidro, pequena comparada ao tamanho do estádio. De lá, podia ver tudo — Nestas lutas, separaremos os bons, e desses tiraremos os melhores. Com orgulho, declaro a primeira fase... aberta!



Os NPCs que estavam na torcida começaram um grito, que logo foi seguido pelos demais jogadores e encorajou os que ainda hesitavam. Muitos deles tinham amigos participando do torneio, e apressaram-se em gritar seus nomes, mas eram muitos e as palavras se perdiam. Então o primeiro grupo surgiu na arena.



—A primeira rodada de Guerreiros — o narrador anunciou.



Eram vinte, garotos e garotas armados com lâminas e protegidos com armaduras. Ocupavam uma fração mínima do espaço disponível e pareciam pequenos lá embaixo, mas todos os jogadores nas arquibancadas conseguiam enxergá-los perfeitamente bem, não importando o quão longe estivessem sentados. Uns poucos viram seus amigos e gritaram por eles. Na arena, alguns dos competidores exibiram-se com sorrisos e floreios, outros acenaram e sacudiram as armas. O narrador deu o aviso, e eles ficaram a postos.



Um apito soou, e a primeira rodada, da primeira fase do torneio começou. De início espalhados, os competidores convergiram uns para os outros com poucos passos e puseram-se a trocar golpes. Os sons da batalha chegavam até o canto mais alto, e ouviam espadas batendo em escudos, lanças raspando nas armaduras e maças esmagando-se contra placas de peito.



A rodada terminou nos primeiros minutos depois de um breve período de golpes e contragolpes, quando seis competidores permaneceram de pé. Os que eram derrotados não morriam de verdade, mas eram enviados para fora da arena onde poderiam sair ou juntar-se à torcida.



O narrador anunciou a segunda rodada, e outro grupo de vinte Guerreiros entrou na arena. davam um bom espetáculo - a batalha era formada por duplas e trios, jogadores que duelavam um contra um ou um contra dois, e um lanceiro lutava contra três. Caiu antes que pudesse levar um dos oponentes consigo, que logo se voltaram uns contra os outros.



Como era a primeira fase, Guerreiros enfrentavam-se sem levar em consideração a que classe pertenciam - os Guerreiros eram uma classe, mas havia os Soldados, os Escudeiros e os Lanceiros, cada uma com habilidades diferentes. Os Soldados usavam armas curtas e tinham Fúria, uma habilidade que melhorava seu dano e seus ataques quando ficavam muito tempo em batalha. Os Escudeiros eram notáveis por sua defesa, e os Lanceiros tinham maior alcance com suas armas e tinham uma clássica habilidade que invocava um sarcófago que, ao explodir, melhorava o HP e MP máximo.



Além disso, cada classe tinha suas outras habilidades, e cada jogador tinha suas técnicas e artimanhas. Havia Soldados que usavam escudo e espada e conheciam algumas perícias de Escudeiro, para manter-se em combate por mais tempo. A maior parte dos competidores Guerreiros era Soldado ou Lanceiro, mas havia menos Lanceiros, e uns poucos que preferiam armas de duas mãos. Eles também acabaram a luta em poucos minutos, dando lugar à terceira rodada.



Na quarta rodada a luta não durou mais de cinco minutos, a quinta rodada terminou com um duelo. Um Soldado de escudo de madeira e espada de gume duplo, com um elmo fechado e armadura negra contra outro Soldado, armado com uma grande espada de duas mãos negra com uma fenda comprida no meio. Não usava capacete, mas sua armadura era cinzenta em cada parte. Os outros cinco sobreviventes assistiram à luta sem interromper e a rodada terminou com a vitória do que usava a espada de duas mãos.



Já na sexta rodada aconteceu algo diferente. Um dos competidores era grande, todo coberto de armadura grossa, armado com um martelo de bronze. O elmo cobria-lhe a cabeça e o rosto, mas ele acenou para a multidão. Ele despachou dois competidores com facilidade desdenhosa, mas encontrou páreo duro ao lutar contra um grande escudo ornamentado, cujo dono carregava uma maça de espinhos. Nove competidores foram derrotados e a rodada terminou antes que um deles saísse vitorioso.



A sétima rodada demorou ainda mais, com oito sobreviventes que se recusavam a deixar o torneio tão cedo. Recuavam, circulavam pela arena e observavam antes de atacar, jogando mais na defensiva do que na ofensiva. As carnificinas das rodadas iniciais tinham acabado, e as habilidades também começaram a aparecer mais nessa. Enquanto nas outras rodadas os Guerreiros tinham se limitado a usar habilidades que lhes dessem força ou melhorassem o desempenho, agora havia um que golpeava o chão e causava tremores, um que fazia o mesmo mas causando ondas de choque, outro que podia duplicar o comprimento de sua espada. Os Guerreiros agiam agora com muito mais tática, nunca abrindo a guarda desnecessariamente e tomando cuidado de manter um olho na posição de cada adversário. Dois dos que oito que restaram podiam criar uma pequena parede de aço que sumia rápido, mas que podia ser usada para defesa, e a luta se prolongou por vários minutos sem que ninguém caísse. Até que um deles, o que tinha obtido o melhor desempenho naquela rodada, gritou e apontou dois jogadores como alvos. Os outros cinco seguiram-no numa investida, e a rodada terminou rapidamente.



Tiveram ainda mais duas rodadas, uma rápida, onde um garoto que vestia negro usando duas espadas e uma garota com lança e elmo de leão deram cabo de outros competidores rapidamente, e uma última que demorou uma hora. O primeiro competidor foi derrotado depois dos trinta minutos de batalha. O segundo caiu ao ser atingido por um homem alto de armadura dourada com uma grande lança elétrica; foi empalado, eletrocutado no ar e jogado longe, onde pereceu sob os golpes de oponentes que se encontravam ali. Ele chegou a fazer o mesmo com outro Guerreiro, que não morreu, e terminou sendo o quarto a cair, vencido por um rapaz barbudo com uma espada em chamas.



Quando o nono Guerreiro, uma garota que usava uma maça e uma espada, finalmente caiu, os restantes foram ovacionados pela grande luta, e o narrador anunciou o fim dos embates dos Guerreiros. Ainda era manhã e continuavam na primeira fase; houve um intervalo de uma hora onde os torcedores podiam conhecer os classificados para a segunda fase, ou então descansar para esperar os combates seguintes.



A primeira fase dos Bruxos veio depois. Túnicas, vestes de linho, seda e lã substituíram o aço e as armaduras; varinhas, cetros e cajados enfeitados com pedras vieram no lugar das lâminas afiadas. Os vinte primeiros Bruxos pareciam mais uma aglomeração de festa do pijama do que magos implacáveis. Muitos Bruxos gostavam de usar capuz que cobria os olhos, mas alguns eram magricelas demais e tinham rosto muito franzino, outros pareciam muito novos e infantis, e a tática não os fazia parecer mais sagazes. Negro e branco eram cores mais raras para equipamentos de Bruxos; viam-se vestes verdes, capuzes cor de creme e luvas azuis e vermelhas, botas de couro cinza, amarelo aqui e ali. E muito raramente um capuz preto ou roupa branca. Às vezes um monstro derrubava um equipamento útil para o jogador, mas nem sempre era da cor dos demais equipamentos. Havia Bruxos com luvas e botas azuis, roupão vermelho e capuz verde, alguns tão coloridos quanto palhaços e uns poucos mais discretos, com equipamentos combinando melhor.



Ao invés do apito, uma bola de fogo explodiu no céu, anunciando o início. Mais de uma dúzia dos competidores cruzaram as pernas e puseram-se a flutuar, de olhos fechados. Bruxos podiam escolher entre um dos dois tipos de Feiticeiros ou Clérigos, e os Feiticeiros podiam usar a Meditação, que lhes melhorava o ataque com magia. Terminando de usar as habilidades, levantaram-se e começaram a luta.



Alguns jogavam pedras de gelo e criavam tempestades, outros atiravam flechas flamejantes e cortinas de fumaça, bolhas ferventes cheias de veneno, garras azuis etéreas que apareciam diante de um jogador para arranhá-lo. Uma confusão de fogo, gelo e raios tomou conta da arena e a luta terminou tão repentinamente que alguns continuaram atacando, embora já sem inflingir nenhum dano. Os seis classificados perceberam, perplexos, que nove Bruxos já tinham desaparecido da arena.



A segunda rodada trouxe mais, e outro pandemônio de chamas e energia. Desta vez, enquanto alguns Meditavam, outros aproveitaram para atacar - mas, o estado meditativo, enquanto a habilidade era conjurada, concedia defesa contra magia, e os que atacavam não tinham magia extra por não terem Meditado. Mas esta rodada também durou pouco.



Na terceira, dezoito Bruxos usaram a Meditação enquanto os outros dois eram Clérigos, e usaram em si mesmos a Bênção. Os Feiticeiros levantaram-se um a um e a batalha começou. Havia um rapaz de verde, com capuz branco, que teleportava-se de ponto em ponto enquanto usava seus raios. Erguia a outra mão e fazia aparecer um globo elétrico no ar, e dele saía um raio fulminante em outro competidor. Ele fez três competidores caírem, mas enquanto nas disputas dos Guerreiros ficava claro quem derrubava quem, na dos Bruxos era difícil decidir quem havia dado o golpe final. Às vezes um competidor via-se no meio de uma nuvem de fumaça, ou era atingido por habilidades de três adversários ao mesmo tempo. Logo ficou visível que os dois Clérigos tinham se aliado, mas suas Flechas Divinas causavam pouco dano nos demais Bruxos, e foram facilmente derrotados. Na torcida, pessoas vaiavam e torciam, aplaudiam e assobiavam em favor de algum competidor.



Por algum motivo, somente um jogador de cada clã podia participar do torneio. Isso tinha causado discussões em alguns dos clãs maiores, onde vários membros queriam ter a oportunidade de brilhar na arena. Geralmente, o líder do clã decidia qual deles iria, mas não sem algum ressentimento. Grupos de até trinta jogadores espalhavam-se na arquibancada, membros do mesmo clã, que torciam por seus representantes lá embaixo. Na maioria dos clãs, a decisão de quem iria participar do torneio era complicada porque muitos queriam participar. Mas em alguns poucos casos, chegava a acontecer o contrário.



Numa região no terceiro andar da arquibancada, membros da Solaris reuniam-se para assistir às lutas, uns gritando como os outros, e outros calados. Decidir qual deles iria participar tinha sido algo difícil. Gatts ainda não tinha retornado, e Kiara estava com ele, e nenhum dos dois respondera às mensagens. Donnie não quisera participar, Anna não confiava em suas habilidades e Aphanyus não se mostrou muito interessado(embora ele mesmo não fosse do clã). South não podia porque era Aprendiz, e Zeru dissera "não quero tomar o lugar de alguém que queira mais do que eu, podem deixar outro participar". Thugles era Sacerdote, uma classe que não fora feita para lutar e causar dano. Giu, Kash e Noctolia tinham chegado ao terceiro avanço de classe recentemente, e certamente estariam em desvantagem contra os competidores mais fortes. Além disso, estavam viajando num navio. Nick queria participar, mas parecia impulsivo demais, irritadiço e muito nervoso, e seria melhor que não fosse.



Tinha chegado, então, o último dia do torneio e não tinham encontrado ninguém. Assim, Thugles deu de ombros e inscreveu seu nome nas listas.



E agora lá estava ele, entre os participantes da quarta rodada. Sua túnica, luvas e botas era brancas, o cajado era um bastão de velha madeira, cuja extremidade era retorcida ao redor de uma pedra azul como o fundo do mar. O capuz também era branco, enfeitado por duas curtas tranças grossas douradas, ambas com um nó. A frente de suas vestes era ornamentada com fitas de ouro. Procurou seus amigos na torcida e acenou para eles, sorrindo.



—Vai, Thugles! — Nick gritou entusiasmado.



—Por que eu tenho que ficar aqui? — Giu reclamou — Vou torcer pra que ele perca, e perca feio. Assim a gente vai embora logo.



South riu, e bateu uma mão no ombro dela.



—As lutas chateiam você? Talvez devesse ficar em Henesys tomando chá.



Giu cruzou os braços, emburrada, e revirou os olhos.



Ela, Kash e Noctolia tinham ido ao estádio porque Victarion, o capitão do navio, tinha um amigo que iria participar e queria ver as lutas. South, Anna, Donnie e Zeru também vieram à Ilha para ver Thugles competir, e Aphanyus também estava lá após mudar de idéia quanto a participar, chegando depois que o período de inscrições tinha acabado. Ficou na arena como os outros, observando os Guerreiros. Rockfield também tinha vindo e ido, dizendo que ninguém da Sunrise of Astoria iria participar do torneio, por ordens de Italo. Até Vampiritico aparecera, alegre e sorridente, encontrando-os quando a luta dos Guerreiros estava na terceira rodada. Seu gorro tinha uma faixa de prata entalhada com algum símbolo de Gatuno, e todas as suas roupas eram pretas.



A quarta rodada dos Bruxos começou. Havia agora Bruxos mais sérios, com roupas menos coloridas, e nenhum se preocupou em Meditar. Uma menina materializou-se no meio de todos e explodiu, causando uma série de estouros ao redor de si e desaparecendo no meio deles. Pedras de fogo, como meteoros, saíam da fumaça e das explosóes e iam atingir jogadores no peito e na cabeça. As roupas dos Bruxos eram ótimas para defender contra magia, mas as pedras causavam também dano físico.



Enquanto os outros lutavam, Thugles mantinha-se à distância, escapando, esperando. Dois Clérigos foram derrotados pelo mesmo Feiticeiro que usava gelo, e uma garota que disparava Flechas Divinas foi pega por uma das pedras flamejantes. Quando alguém se aproximava de Thugles, ele se teletransportava. Usava Flecha Divina naqueles que estavam perdendo, e mantinha-se na parte mais distante da arena para evitar ser atingido. Uma Feiticeira resolveu aproximar-se dele. Thugles atacou-a com uma Flecha Divina e ela usou Teleporte. Quando reapareceu, Thugles já não estava mais lá e sua flecha seguinte a atingiu no braço. A garota levantou a varinha e lançou fogo contra ele. Thugles apareceu na frente dela e fez surgir seu Anjo Brilhante que a cegou com sua luz azul, abrindo suas asas ao redor do Sacerdote e inundando a menina com a magia. Quando ela se recuperou, ele já estava longe para lutar contra os adversários que se enfrentavam do outro lado da arena.



Como não podiam usar poções, era arriscado usar tanto Teleporte, mas Thugles contava que a luta acabaria antes do seu MP. E assim aconteceu, sendo ele um dos seis sobreviventes para a segunda fase. A quinta rodada foi então anunciada, e ele foi substituído pelos Bruxos que esperavam a sua vez de lutar.



—E a macumba da Giu... Funcionou — Kash sorriu para a amiga. A outra bufou e sacudiu a cabeça.



—Não acredito que ele ficou fugindo da luta o tempo todo. Ele não ganhou, só ficou esperando os outros perderem! Como ele espera ganhar a segunda e a terceira fase assim. quando tiver que lutar contra outro jogador sozinho?



—O Thugles não estava usando todas as suas habilidades — Aphanyus declarou — Acho que queria que os outros pensassem que ele é fraco... Ele nem usou o raio solar, por exemplo.



—Mesmo assim, o que ele fez foi deixar os outros ganharem por ele...



—Disse a gatuna, que se esconde e espera a chance de pular no inimigo desavisado — falou Noctolia — Lembra que ele é Sacerdote, e não um Mago. Os Magos têm a magia pra lutar, enquanto os Sacerdotes dispõem das magias de proteção, e foi o que ele usou. Além disso ele só participou porque ninguém mais quis.



—Eu queria!



—Eu também — Aphanyus concordou com Nick — É uma pena que Minar ficasse tão longe de Porto Lith... Se eu tivesse chegado antes poderia ter massacrado todos aqueles Guerreiros, não tem nenhum Moon Lord na competição...



—Olhem, vai começar a próxima — falou Vampiritico — De Gatunos agora!



Os Gatunos eram, por definição, meninos e meninas que vestiam trajes mais leves e que favoreciam a velocidade, a precisão e a astúcia. Eles podiam escolher entre Mercenários, que especializavam-se em atirar shurikens com longas garras de metal, e, às vezes, facas de arremesso, ou escolher serem Arruaceiros, que utilizavam principalmente adagas. Era uma maioria esmagadora os que escolhiam as shurikens e as facas; de fato, ninguém do primeiro grupo era Arruaceiro.



O apito soou e a primeira rodada começou para os Gatunos, que fizeram chover estrelas de aço prateado, cinzento e negro pela extensão da arena. Eles podiam ser rápidos, mas cada Gatuno era um jogador rápido contra dezenove jogadores rápidos, recebendo uma shuriken para cada duas que atirava e torcendo para não ser um dos alvos escolhidos pelos demais adversários. Eles corriam e saltavam enquanto arremessavam, para escapar de ataques, e às vezes viravam sombras difíceis de serem discernidas. No entanto, Gatunos eram especialistas em furtividade, mas também eram bons em detectar furtividade. Os Mercenários travaram uma breve guerra de estrelas rodopiantes, ao que a rodada terminou e abriu espaço para a segunda.



A maior parte dos Gatunos procurava usar roupas discretas, e mesmo os que não usavam preto ou cinza tinham cores verde-escuras, azuis marinhos e vermelho profundo, cor de sangue, marrons muito escuros, laranja sem luz como o pôr do sol. Mas havia um, de bandana dourada e luvas brancas, que mostrou-se mais ágil que todos os demais; lançava várias shurkens, sempre uma em cada mão, e errava uma quantidade muito pequena das estrelas que colocava no ar. Ele caiu depois de derrotar quatro jogadores e tirar HP de quase todos os outros, e Vampiritico não lamentou sua derrota. Não gostava de Mercenários; ele era Mestre Arruaceiro, e havia poucas coisas que ele apreciasse mais do que pegar um atirador de shuriken fora de sua guarda.



Na quarta rodada já havia um númerio considerável de Arruaceiros. Os Mercenários levavam vantagem com os ataques à distância, mas os Arruaceiros pareciam acostumados a enfrentar atiradores de projéteis. Esquivavam-se com surpreendente rapidez e logo estavam perto de um inimigo Mercenário. De perto, estes não podiam fazer muito com as shurikens, embora pudessem lutar com a garra; mas era muito raro alguém atacar com a garra no jogo, visto que mantinham-se longe dos monstros o tempo todo, e enfrentar outros jogadores fosse incomum. Os Arruaceiros tinham golpes rápidos e desconcertantes, e cada corte aumentava o dano do seguinte. Era fácil achar pontos críticos nas roupas leves dos Gatunos. Se um Mercenário não era rápido o bastante para manter um Arruaceiro longe, sofria perante os ataques frios e furiosos das lâminas curtas.



Os alvos mais fáceis para as shurikens eram os Arruaceiros ocupados lutando contra outros jogadores, e eram os que caíram primeiro. Somente um Arruaceiro sobreviveu à quarta rodada, e quatro ficaram no final da quinta. Agora começavam a aparecer os Mestres Arruaceiros, pois alguns jogavam mesos e os explodiam, outros usavam moedas como bombas de fumaça e alguns saltavam bem alto, depois mergulhavam como falcões com a lâmina em riste, certeiramente contra os corpos dos adversários. Vampiritico socava o ar e gritava quando via um deles usando habilidades. Notaram que, a partir da quinta rodada, as adagas deixaram de serem lâminas curtas e esguias. Em vez disso eram maiores, cabos com uma lâmina em cada extremidade, e o Arruaceiro segurava pelo meio. Vampiritico detestava esse tipo de adaga. Ainda usava uma que parecia uma faca grande demais, marrom no cabo e negra com prateado no gume.



A sexta rodada foi composta por ninjas que usavam preto, todos eles, exceto nos detalhes das roupas e dos gorros e chapéus. As shurikens tinham trabalho para encontrar um alvo; também tinham se tornado negras, todas, as shurikens Tobi, que eram as mais fortes e raras de todo o jogo. Vingadoras, as shurikens gigantes de várias pontas, rodopiavam e cortavam o ar por toda parte. As adagas eram quase invisíveis, tamanha era a rapidez com que os jogadores as moviam, e um os competidores tinha levado uma lança. Foi o primeiro a perder, subjugado pela quantidade de golpes que eram rápidos demais para sua arma. A arquibancada vibrava, mas não era uma luta muito boa de se ver. Os competidores eram tão velozes que tudo o que se podia fazer era assistir, de boca aberta, captando muito de vez em quando o momento em que uma shuriken raspava uma perna, ou quando alguém dava um salto mortal para aparecer atrás do oponente, quando uma mão com garra deixava a shuriken cair porque outras cinco lhe tinham entrado pelas costas...



Rockfield apareceu na sétima rodada, em sua armadura negra que lhe cobria o corpo inteiro, vestindo a máscara que lhe dava uma aparência assustadora. O Nightingale esperou, de pé no meio da arena, mais alto que os demais enquanto a luta rodopiava à sua volta. Então ele ficou na ponta dos pés e girou, veloz como um pião, enquanto shurikens negras saíam dele como tiros sibilantes. Competidores hesitavam e arqueavam as costas, interrompiam seus ataques e cambaleavam quando uma estrela os atingia. Parou, então, de girar, e convocou sua Vingadora, a estrela gigante que tinha uma ponta para cada nível alcançado com o Dark Lord em Kerning; a de Rockfield tinha vinte e nove, uma rosa-dos-ventos exagerada e cortante, que deslocava-se para a frente e depois virava, subindo e voltando para retornar à mão do dono antes de desaparecer. Uma menina de duas adagas correu para as costas dele e o rapaz virou-se. Seis shurikens, em trios, saíram de sua mão e interromperam a corrida. Quando uma Vingadora veio atrás dele, Rockfield empurrou um Gatuno perto dele para correr enquanto disparava mais shurikens para o lado.



Nem mesmo Vampiritico conseguiu controlar o espanto ao vê-lo. O "ninguém-do-meu-clã-vai -participar" contou, no fim das contas, oito dos nove adversários que caíram, um feito que parecia impossível com tantos outros Gatunos em campo. Quando a multidão pôs-se a berrar por ele, Rockfield atirou sua Vingadora aos céus, desapareceu e no instante seguinte a oitava rodada foi anunciada, e ele não voltou mais à arena.



—Seu pai é um dos hackers — Vampiritico lembrou, finalmente, e fitou o guerreiro ao seu lado — Ele está ajudando o Rock. Não tem outra explicação.



—Tem — Aphanyus respondeu com firmeza — Ele disse que os Nightingale são abençoados pela deusa da fortuna. Parece que ele não estava brincando, afinal.



A última rodada de Gatunos envolveu um rapaz de calças brancas, casaco negro e capa marrom. Além das shurikens, ele saltava nos adversários e os arranhava com a garra, à selvageria de um animal selvagem. Ele quase for derrotado por um Mestre Arruaceiro de espada. Gatunos geralmente não usavam espadas, mas havia exceções, que usavam armas curtas, longas e afiadas. Aquela, entretanto, era do tamanho de um homem, comprida e curvada na extremidade. Movia-se com surpreendente rapidez, e usava a mais leve das armaduras de aço. Shurikens faziam pouco efeito nele, e adagas não podiam competir com o alcance de sua enorme espada. Cada golpe era devastador para os demais, em suas roupas finas que ofereciam pouca proteção.



Em seguida veio a rodada dos Arqueiros. Houve a primeira, a segunda e, na terceira, Giu saiu da arena. Ela simplesmente não aguentava mais o tédio. Os arqueiros ficavam em seus lugares atirando flechas e disparando dardos de bestas, escolhendo um oponente como alvo e torcendo para não serem eles mesmos os escolhidos.



Mas a partir da quarta rodada, segundo Vampiritico tinha dito, os competidores deixaram de ser torres imóveis e ficaram mais interessantes. Os que usavam arco eram mais rápidos, corriam e deslizavam enquanto atiravam, focando os balestreiros que eram mais lentos e usavam armas mais pesadas. Invocavam espantalhos de palha que levavam tiros no lugar deles, jogavam redes e colocavam armadilhas de urso no chão.



Alguns faziam surgir falcões prateados e águias douradas, que Kash e Noctolia observaram com murmúrio de admiração. Havia muitas aves conjuradas, o que sugeria que a habilidade era comum aos Arqueiros. Havia grandes chances de as duas ganharem-na, no futuro. As aves voavam pela arena, mergulhando em rajadas e levando flechas por seus donos. Na última rodada, uma das águias era uma fênix com penas cor de ouro e fogo, maior do que todas as demais e que podia cuspir fogo. Quando as flechas do conjurador passavam pelo corpo dela, atravessavam e saíam imbuídas em chamas.



—Então os arqueiros têm tudo isso — Vampiritico assobiou baixinho — Queria que o Sheddeer estivesse aqui.



—O Sheddeer. Sabia de tudo, ele. Era melhor que eu nas aulas e sempre o mais inteligente — Nick devolveu. Vampiritico olhou para ele.



—Sabemos disso. E qual é o problema?



—Nenhum — e voltou a se sentar, emburrado.



A rodada final dos arqueiros foi a mais rápida de todo o torneio. Quando os jogadores vestidos de couro, casacos e capuzes apareceram, um deles foi para o meio da arena e conjurou um arco gigante. Flutuando no ar, disparou uma flecha para o céu, que subiu como um foguete e explodiu, fazendo chover flechas no exato raio de tamanho da arena. Explodiam em fumaça negra quando atingiam o chão e causavam choque se acertassem jogadores. Depois disso, o grande arco desapareceu e ele pôs-se a atirar nos adversários, calma e deliberadamente até a rodada ser encerrada.



—E com esta incrível demonstração de VincenT, começamos as rodadas dos Piratas! — anunciou o narrador em meio aos uivos surpresos da multidão.



—Não entendo nada de Piratas — Vampiritico cuspiu — Também não tô com saco pra mais um quebra-quebra. Vamos fazer alguma coisa?



—Tipo o quê? — Aphanyus quis saber.



—Tipo procurar a Giu — Kash fez notar — Ela pode se perder ou sair da Ilha, de raiva, e nunca mais vemos ela. Acho que já deu pra ela esfriar a cabeça.



Nick e Vampiritico se entreolharam. Este sorriu.



—Uma garota alta, de touca azul e fazendo cara de macaco empacado. O que me dá se eu for o primeiro a encontrar?



—Um pouco da minha Garra Gélida, porque eu acho ela primeiro — desafiou Nick. Vampiritico riu.



—Uma aposta muito tentadora, mas é um prêmio muito grande e eu não vou ser ganancioso. Cem mil mesos já está bom.



—E um equipamento de nível 90 novinho — Nick acrescentou.



Os olhos de Vampiritico se arregalaram. Então ele baixou o rosto e sorriu perversamente.



—Feito.


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