“O orgulho divide os homens.”

Henri Lacordaire

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A vida de Lílian Evans sempre foi muito boa. Ela tinha uma família unida e feliz, tinha bons amigos e principalmente tinha uma irmã que a amava muito e ela amava muito também. Petúnia Evans era mais do que uma irmã para Lílian, ela era também sua melhor amiga. As duas eram inseparáveis, elas se compreendiam perfeitamente.

Mas as coisas começaram a mudar quando Lílian e Petúnia conheceram Severo Snape, ele morava na região, era esquisito, diferente. E à medida que Lílian se aproximava dele ela se afastava mais e mais de Petúnia.

Ele dizia que Lílian era uma bruxa, Petúnia acreditava nele mesmo que não aceitasse isso. É engraçado como isso às vezes acontece, como muitas vezes não aceitamos o real, a verdade, mesmo ela estando óbvia, mesmo sabendo que ela o é. E Petúnia sabia que aquilo era verdade, mesmo não aceitando, mesmo não querendo acreditar.

Ela não conseguia aceitar que a irmã fosse algo que ela não era, não por inveja, mas porque ela tinha medo que por isso Lílian não iria mais gostar dela. Uma coisa boba para se pensar é claro, mas quando se é jovem tudo parece muito pior do que é, e acreditar nas coisas mais absurdas é muito fácil. Mas aos poucos esse sentimento que não era ruim no começo, pois nada é ruim no início, se tornou inveja e isso foi só as distanciando até que chegou a um ponto que as duas se tornaram completas estranhas.

Talvez se Lílian não tivesse ido para um colégio interno, esse distanciamento inicial não tivesse persistido, mas a distancia física só fez aumentar a distancia entre as duas.

Que ninguém ouse julgar ou apontar culpados, não é como se houvesse culpados. Foi algo inevitável para ambas as partes. Elas se amavam, verdadeiramente se amavam. Mas a imaturidade e a falta de compreensão de ambos os lados foi essencial para que acontecesse o que aconteceu e da forma como aconteceu.

Os anos foram se passando e os Evans foram se tornando mais distantes. As irmãs raramente se falavam e quando isso acontecia só sabiam brigar, e os pais no meio desse fogo cruzado não sabiam como agir e só acabaram piorando a situação.

Petúnia fez seus próprios amigos assim como Lílian, e nem mesmo quando os pais delas morreram em um acidente de carro a relação das irmãs melhorou. Petúnia foi tomada pela dor, culpou Lílian injustamente pela morte dos pais, e Lílian tomada pelo remorso por causa ausência do convívio familiar se deixou dominar pela dor e culpa.

A partir deste momento qualquer laço que ainda existisse entre as irmãs foi desfeito. E as duas nunca mais se viram.

Petúnia se casou e teve um filho assim como Lílian. Lílian ainda tentou uma reaproximação, mas já era tarde demais para isso, as feridas e mágoas tinham se tornado profundas demais.

E então em uma manhã quente de verão, quando Petúnia abriu a porta para pegar o jornal encontrou um cestinho de vime com um bebê e uma carta dentro. Sua irmã e o marido estavam mortos, assassinados, e o único sobrevivente tinha sido seu filho. Ele não tinha mais ninguém, apenas a tia.

Petúnia aceitou a criança em parte por medo, em parte porque era a coisa certa a se fazer, mas ela se recusou terminantemente a lamentar a morte da irmã. Pode parecer uma atitude fria, mas ninguém pode julgar ou fingir compreender o coração e a mente de uma pessoa que acaba de perder a única irmã. A mente de uma pessoa é incompreensível.

Os anos se passaram e Petúnia acompanhou o crescimento do sobrinho e viu que ele se tornava cada vez mais parecido com a mãe e toda a mágoa e dor pareciam se acender novamente cada vez que ela olhava para o garoto. E então ele recebeu a carta como ela sabia que aconteceria e todos os sentimentos amargos aumentaram.

Para Petúnia foi um alívio se ver livre de uma lembrança tão viva da irmã quanto aquele menino, porque no fundo, bem lá no fundo ela nunca tinha deixado de amar a irmã.

E quando o garoto estava indo embora de sua casa, perseguido pelo homem que no passado matara sua irmã ela não sentiu alívio como achou que sentiria. Quando ela olhou para aqueles olhos verdes, tão verdes como os de Lílian todas as palavras não ditas vieram a sua mente e todas as doces lembranças da infância, quando ela a irmã eram melhores amigas vieram à tona. E ela se arrependeu de tudo, de todas as brigas por motivos agora já esquecidos e que não tinham mais importância, não importava mais quem tinha ganhado, as duas tinha perdido uma a outra e a si mesmas. E Petúnia Dursley lamentou e sofreu a morte da irmã, sentiu sua dor tanto quanto se pode sentir.

E ela chorou.

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Fim.