– Jean...

Ele olhou para ela com receio de que ela visse algo que não era para ser visto nos olhos dele.

– Hm?

– Estou com fome...

E ele continuou acariciando lentamente os cabelos dela, que agora estavam soltos e extremamente bagunçados. Ele riu suavemente. Ela conseguia falar uma coisa estúpida como aquela em um momento como aquele... E ele sabia que era porque ela queria tornar tudo o menos pesado possível, ela queria de alguma forma tornar tudo aquilo muito leve, do jeito dela... E ele simplesmente não conseguia pronunciar uma palavra sequer, por medo da voz não sair ou que saísse embargada demais e o denunciasse. E ela, de alguma forma, entendia.

E com extrema dificuldade ela ergueu a mão direita e a levou ao rosto dele.

– Eu vou cuidar de você...

A voz dela já saía fraca e ela não queria mais tentar lutar. Não adiantaria mais. Ele cobriu a mão dela com a sua própria e sentiu aquela estranha ardência nos olhos, as lágrimas cedendo ao exterior. Porque ele já não tinha mais o que perder. Ele só tinha que ficar ali e embalar aquele corpo frágil e já quase sem a vida que um dia estivera ali. Ele apertou a mão dela com a sua e abaixou a cabeça, apertando os olhos e deixando que as lágrimas caíssem livremente pelo rosto cansado.

– Eu vou sentir sua falta... Eu vou sentir tanto a sua falta...

E então quando ele ergueu a cabeça e levou os olhos àquela face serena que ele tanto amou... Ela já não estava mais ali. Há muito já havia fechado eternamente os olhos. Os olhos brilhantes e alegres. Os olhos que eram a luz que ele precisava. Os olhos que ele nunca mais veria. Que nunca mais iriam iluminar a sua vida.

Ele inclinou a cabeça em direção ao Céu e suplicou que se existisse um Deus, que Ele cuidasse dela. E então ele chorou mais uma vez como ainda não havia chorado em sua vida. Porque ele já não tinha mais forças para seguir, ele já não queria lutar. Mas continuaria, e lutaria pelo sonho maior que não era só dele, mas que era dos dois, um sonho que era de todos. Ele lutaria pela esperança e pela liberdade. E um dia se encontraria com ela novamente. E poderia dizer a ela, de cabeça erguida, que lutou, que viveu, que sonhou e que amou.