13º Desafio Sherlolly - Trio escrita por Leticiaps


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bateu uma inspiração. Não tive sossego enquanto não escrevi.
Música pra quem quiser https://www.youtube.com/watch?v=G_Vzpjv_kR4

Agradeço a Bloodstained pela sugestão sem querer de música ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/508993/chapter/1

Sherlock sempre foi uma criança difícil. Era inteligente demais e isso incomodava não só os adultos, como as crianças também. Na escola ele até tentava brincar com os outros na hora do recreio, mas era sempre desastre, principalmente quando brincavam de esconde-esconde. Ele estragava tudo, avaliando tudo ao redor e dois minutos depois, falava o nome e os esconderijos de cada uma das crianças. Era meio triste, considerando que ele só tinha quatro anos.

Então preferia brincar sozinho. Enquanto todos corriam para lá e para cá, gritando e rindo, Sherlock ficava pulando pelos muros e brinquedos, fingindo ser um pirata.

- ATACAR A BOMBORDO, OS INIMIGOS ESTÃO SE APROXIMANDO! ARRRRRR – Gritava para os tripulantes imaginários.

- CAPITÃO, O LEME FOI ATINGIDO! – Confuso, Sherlock se virou, e encontrou uma menininha pequena, com os cabelos castanhos cobertos por um chapéu pirata enorme olhando para ele, implorando com os olhos para que ele a deixasse participar da brincadeira. Era a primeira criança que se aproximava dele por vontade própria.

- Rápido, maruja, eu posso arrumar isso, mas preciso que você assuma o controle! – e ficaram correndo em volta do navio, digo, brinquedo.

E todos os dias era assim. Começava o recreio, os dois corriam para o lugar de sempre para brincar e no final, sem falar nada, se separavam. Ele gostava disso, mas tinha companhia apenas nesse tempo. Quando estava em casa, ficava brincando sozinho, correndo pelo quintal e as vezes infernizando a vida de Mycroft para brincar com ele, o que era meio difícil, considerando a diferença de idade.

Então um dia seus pais lhe deram um cachorro, Redbeard. Era um nome bem pirata e combinava bastante com o cachorro. Não demorou muito para que os dois não se desgrudassem. Se dependesse de Sherlock, até no banho ele levava o pobre cachorro.

Com o tempo, na escola, Sherlock e Molly começaram a falar. Na maior parte do tempo ele falava de seu cachorro e de como era divertido brincar com ele, enquanto ela lamentava o fato de só ter um hamister chato que só dormia e comia o dia inteiro. Além de deixar a casa inteira fedendo.

Um dia Sherlock cometeu o erro de falar sobre Molly para os pais. E é claro que eles ficaram encantados. Ele finalmente tinha um amigo. Uma amiga! Desde então eles não deram paz ao pobre garoto enquanto ele não a convidou para passar uma tarde na casa dele. Como eles não falavam muito, foi complicado para ele convida-la.

- Então, eu falei para os meus pais sobre você sem querer, e eles querem que você vá lá em casa. – Ele falava, encarando os sapatos.

- E você não quer?

- Eu? – levantou rapidamente a cabeça. Não esperava por aquilo. – Eu... Claro, por que não? Assim você pode conhecer Redbeard.

Ela ficou vermelha até o ultimo fio de cabelo. Aquilo era estranho, mas aceitou mesmo assim.

No fim de semana seguinte, os pais de Molly a levaram até lá e ficaram encantados com os dois juntos. Aparentemente Molly também não era assim tão boa em fazer amigos.

Brincaram o dia inteiro. Estavam com lama dos pés à cabeça, e era quase impossível de se ver o pelo vermelho de Redbeard. Duas horas depois os dois estavam limpos e cansados. Molly acabou pegando no sono abraçada com o cachorro e sem querer acorda-la, ela acabou dormindo ali mesmo.

Por anos foi assim. Hora ela ia na casa dele, hora ele ia na dela. E Redbeard sempre presente. Com o tempo Molly ia se abrindo para mais amizades, enquanto Sherlock se fechava cada vez mais. Mas não com Molly. Ele ainda era o mesmo com ela, e na escola ninguém entendia como ela podia suportar aquele estranho.

Até que um dia Sherlock se cansou disso. Eles tinham doze anos e percebeu que ela aturava muita coisa por causa dele, tinha que ouvir muitas piadinhas de mau gosto por causa dele. Acontece que isso machucava. Não só ela, mas ele também. Sabia que Molly chorava as vezes por conta disso. Não entendia porque ninguém suportava o menino, ele só era diferente.

Então ele se afastou. Mudou de escola e tentou ignora-la. Mas não conseguiu. Ela foi a sua primeira amiga – única amiga – e por mais que tentasse, sempre arranjava um jeito de encontrar com ela.

De qualquer modo, ele ainda tinha Redbeard ao seu lado, e de vez em quando ainda brincavam de pirata. Na maioria das vezes Sherlock levava seu companheiro no parque. Iam andando até lá e depois ficavam correndo por ali, ou jogando frisbee. Em muitas dessas idas ao parque Molly estava presente, e mesmo que não houvesse muito o que falar, ainda se divertiam com Redbeard perseguindo outros cachorros, fugindo de gatos e atacando piqueniques alheios. E então quando ele estava cansado demais para continuar correndo, paravam debaixo da mesma árvore que tantas vezes escalaram durante as brincadeiras, Sherlock se sentava apoiado no tronco, lado a lado com Molly, e Redbeard apoiado com a cabeça em seu colo, esperando receber carinho de ambos.

Quando conversavam, normalmente era nessa hora. Falavam sobre quase tudo que tinha alguma relevância para Sherlock, menos, é claro, sobre o sentimento que os dois compartilhavam, sabiam que compartilhavam, mas não faziam nada a respeito. Tinham quatorze anos, eram dois adolescentes apaixonados que simplesmente ignoravam isso. Pelo menos Sherlock ignorava. Molly achava bem difícil se controlar para não pular nos braços dele.

Naquele dia ela tentou uma aproximação. Sentou mais perto do que o normal, e colocou a cabeça no ombro dele. Percebeu que ele se enrijeceu, e passados alguns minutos ela não havia desencostado, ele relaxou. Confiante, pegou a mão dele. Redbeard levantou a cabeça, curioso, porque de repente não havia mais ninguém fazendo carinho dele.

- Sherlock, eu...

- Molly, não. – Ela desencostou dele e ele soltou sua mão.

- Mas você não sabe o que...

- Sei, sim. – Ela esperou, mas ele não falou mais nada, nem mesmo olhou pra ela. E com lágrimas nos olhos, Molly saiu. Em suas mentes, cada um pensava que havia arruinado a amizade deles. Mas Sherlock não podia se render àquilo e Molly finalmente percebeu porque ninguém gostava de estar perto dele.

Corações partidos, cada um à sua maneira, nenhum dos dois procurou o outro para pôr a limpo o que havia acontecido. E assim ficou por muito tempo.

Até o acidente.

Sherlock estava fazendo seu caminho de volta do parque para casa com Redbeard, e o cachorro estava sem coleira, na verdade ele nunca usou. Nesse dia estavam voltando mais cedo, o céu começava a ficar cinza e iria chover de alagar a cidade, então saíram antes, para evitar a correria na chuva. Estavam perto de casa quando alguma coisa chamou a atenção de Redbeard do outro lado da rua, ele saiu correndo. O motorista do caminhão não teve tempo de parar.

Sherlock não prestou atenção em mais nada. Em sua mente, aquilo não fazia sentido. Não, Redbeard estava só dormindo. Ele iria acordar.

- Vamos, Red. Vamos, garoto. – Ele chacoalhava o amigo, mas de nada adiantava. Sentiu alguém levantando, e o levando para longe deli. Aquilo ainda não fazia sentido. Por que Redbeard não se levantava?

Passou dias assim, sem entender nada. Não falava nada, não comia, não ia para escola, mal saia do quarto. Mandava embora qualquer pessoa e suas patéticas tentativas de consolo.

Mas uma insistiu.

Ouviu alguém bater na porta de novo. Ele estava sentado no parapeito da janela, encarando o jardim que tantas vezes foi seu oceano. Bateu de novo. E de novo. Normalmente depois da segunda vez sem uma resposta as pessoas desistiam.

Ela foi até janela daquele quarto que conhecia tão bem e se sentou ao lado de Sherlock. Estava com um chapéu pirata na mão. Naquela época, milhões de anos atrás, aquele chapéu ficava gigante em sua mão. Agora era minúsculo. Ela não falou nada, só entregou a memória a ele, que ficou encarando. Sem aviso nenhum, as lágrimas começaram a rolar. Ela pegou a mão dele, e para sua surpresa, ele a abraçou, e soluçava em seu ombro, em desespero pelo amigo perdido. Fazia uma semana do acidente, e só então ele realmente entendeu o que estava acontecendo. Só permitiria Molly vê-lo naquele estado. Porque ela entendia o que Redbeard significava pra ele. Porque também significava pra ela. Eles haviam perdido uma parte do trio. E agora precisavam um do outro para seguir em frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? *pisca*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "13º Desafio Sherlolly - Trio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.