Jogos da Virtualidade escrita por GMarques


Capítulo 9
A Equipe Onça, PARTE I - Laços




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Eu acordo com Shisuodin e Shisudva entrando no cômodo. Essa é a uma das poucas noites que eu não sonhei com a menina e o abismo, fico até feliz por não ter que passar pela mesma agonia que tive nos sonhos relacionados a isso nas últimas vezes. As Shisus, sem perder tempo, começam a falar:

–Acorde Marcael. -As duas falam juntas.

–Já estou acordado. -Resmungo.

–Então... -Shisuodin começa. -Levante.

–Vocês têm uma capacidade de me animar, sabiam? -Digo enquanto me levanto.

–Obrigada. -Falam juntas novamente.

–Eu fui irônico. -Falo.

Quando finalmente estou de pé, paro ao lado da cama e fico olhando para elas, como sempre, na espera de uma ordem.

–Você está sujo. -Shisudva diz.

–E como não estaria? -Pergunto. -Aqui não há chuveiro.

–Mas há tecnologia que pode fazer isso. -Shisuodin fala me puxando para perto da mesma máquina que me trocou a roupa.

–Entre aí. -Shisudva fala.

Eu entro sem menor medo, da última vez nada de mais aconteceu. O encaixe continua perfeito e consigo ficar lá sem problema algum.

–Feche o olho dessa vez. -Shisuodin me adverte.

–Está bem. -Digo.

Shisudva começa a dar os comandos no painel e a porta da máquina se fecha. Eu sigo a ordem de Shisuodin e fecho o meu olho para não causar nenhum problema. Prometi para mim mesmo que tentarei seguir o que As Shisus falam para mim, quem sabe assim evito problemas, principalmente com Kêntrikou.

Os mesmos beliscos de antes, mas dessa vez, um frio intenso me congela dos pés a cabeça. Ao terminar, a porta se abre e eu desço da máquina. Continuo com a mesma roupa branca com o meu nome escrito sobre o peito, mas, no outro lado, tem uma espécie de símbolo, uma onça minuciosamente desenhada em linhas pretas.

–Este é o símbolo da Equipe Onça. -Shisudva me conta.

–Ou Grupo Onça se preferir. -Odin fala.

–Eu ia perguntar o que era, mas vocês me pareceram ler os meu pensamentos. -Eu falo com um pequeno sorriso no rosto. Um sorriso para mim se tornou raro desde que cheguei aqui neste lugar, tudo para mim é uma depressão profunda.

–Hoje você vai ter cumprir o que lhe falamos ontem, Marcael. -Dva me explica com a mesma cara sem feição de sempre.

–Conquistar a confiança e blá, blá, blá... -Falo sem interesse.

–Você deve levar isso muito a sério Marcael. -Shisuodin coloca sua mão em meu ombro. -Esse grupo poderá influenciar muito em sua sobrevivência.

–Não estou preparado para falar com eles. Não tem como ser amanhã? -Pergunto.

–Não. -Shisudva fala e deixa bem claro sua resposta. -Amanhã o jogo começa, Marcael. -Ela termina.

–M-mas, já!? -Gaguejo um pouco e pergunto exclamadamente.

–Sim. Quando falei que aqui o tempo passa rápido, você deveria ter levado na realidade. -Shisuodin briga comigo, ou não, sua falta de feições me confunde.

–Se quiser, pegue uma pílula e nos acompanhe. -Shisudva fala enquanto desliga a máquina.

–Não, obrigado. -Agradeço ao "convite" de Dva.

Enquanto sigo-as pelo corredor cromado fico pensando nos Jogos da Virtualidade e penso em como será a minha morte. Quero que seja uma morte rápida, para que minha mãe e Carolina não sofram muito, e sinceramente, é mais fácil eu morrer por algo construído na Arena do que por outro selecionado.

–Para onde estamos indo?

–Para a sala do seu grupo. -Odin me responde sem cerimônia alguma.

Paramos de frente à uma porta cujo nela está o mesmo símbolo que se encontra em minha roupa. Shisudva me entrega um bracelete dourado que tirou de um de dentro de sua roupa, quase que num milagre. Enquanto diz:

–Isso é o bracelete líder. Deve ser usado por você e somente você. Com ele, os outros saberão com quem estão falando.

–Se isso adiantasse algo... -Digo sem muita esperança e pego o bracelete, colocando-o em meu braço.

Odin abre a porta e eu abro. Pode-se ouvir um pequeno e baixo "boa sorte" de uma das duas enquanto a porta se fecha. Do lado de dentro uma bagunça entre idiomas me deixam louco. Eu vou me adentrando cada vez mais e o pessoal não para de conversar entre si. Dentre as línguas que eles falam reconheci o espanhol, francês, indiano e inglês.

Joana, a única que parece falar a mesma língua que eu, está quieta e sem falar nada, sentada no canto do cômodo cheio de cadeiras posicionadas para uma parede, onde creio que eu terei que falar.

Sem hesitar, decido me aproximar dela e tentar puxar assunto. Ela não está com uma cara muito animada, e parece estar numa depressão mais profunda do que a minha. Eu me sento numa cadeira ao seu lado e sem ela me notar, pergunto:

–Oi, posso sentar aqui?

Ela olha para mim e dá um pequeno sorriso disfarçado.

–Pode sim. Afinal, eu vou ser a única que você vai entender. -Ela fala alternando o olhar para mim e o chão.

–Não sei como vou conseguir fazer eles me ouvirem. -Eu revelo para ela.

–Você não é o garoto que desafiou aquele tal de Kênkiou... -Ela pergunta enquanto tenta acertar o nome de Kêntrikou.

–Sou eu mesmo. -Faço olhando para o chão e balançando a cabeça. -E me arrependo de ter feito aquilo. Me arcou vários problemas.

–Pois se fosse eu, estaria bem feliz em ter desafiado aquele trouxa. -Ela fala com uma entonação de ódio.

–E por que não o fez?

–Não tinha motivos tão profundos para tal coisa. -Ela olha para mim e continua a falar. -Não há ninguém que se preocuparia em chorar por minha morte.

–E seus pais? Você não tem família? -Eu pergunto.

–Não. Eu moro num orfanato desde que nasci, nem meus pais me quiseram. -Ela fala enquanto encara o nada. Vira-se para mim e prossegue com uma pergunta. -E você? Não tem família? Existe alguém que se importará com a sua morte?

–Existe. Mas só fui vê-los realmente quando já era tarde de mais.

–Tem irmãos, irmãs? -Ela me pergunta.

–Tenho... -Engasgo, penso e continuo. -Na verdade eu tinha, ele morreu nos jogos, foi selecionado. E que surpresa, anos depois a família voltou.

–Deve ser triste. Sinto. -Joana tenta me consolar. -Me desculpe, mas, eu estou falando com você, e não me lembro muito bem de seu nome... -Ela fica sem jeito.

–É Marcael. Não é muito comum, mas é único. -Eu falo para ela.

–Eu gosto de coisas únicas. -Ela dá um pequeno sorriso.

Eu fico meio sem graça e mudo o assunto, um enrolamento amoroso não seria muito bom para a minha atual situação, a situação dos jogos...

–Você fala alguma outra língua? -Eu pergunto e explico a questão antes que ela possa me responder. -É que preciso de ajuda para falar com eles.

–Bem, eu falo inglês. -Ela diz. -E você? Fala outra língua útil?

–Não. Mas, se você fala inglês, por que não se enturmou com eles? -Pergunto para ela sem cerimônia alguma. -Digo, os que falam inglês.

–Não sou muito enturmável...

–É, parece que temos algo em comum. -Conto para ela.

–Mas, podemos tentar. Quem sabe eles não nos ouvem?

–Quem sabe... -Digo.


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Notas finais do capítulo

Os comentários me incentivam muito, comentem :D