Respire fundo, Nathie. Respire fundo. Faltam apenas dois minutos.

Ela estava contando os minutos para a aula de Álgebra acabar e assim as férias começarem. Havia combinado com Pheyton Osgood, sua melhor amiga, em ir ao Burry Bales quando o sinal tocasse, seu irmão Bennet e sua namorada Suzan Kane estariam as esperando. Ninguém melhor que seu quinteto — contando o irmão de Phey, Phillip — para comer naquele lugar.

Nathalie Jeffery batia a caneta esferográfica na mesa em um rítmo constante a espera de algum som semelhante ao sino do colégio. Ela comparou sua sala com uma cena no filme High School Musical, onde a sala toda começa a cantar quando o sinal toca. Mas sua turma de Álgebra não começou a cantar, muito menos dançar.

Quando o sinal bateu todos os alunos retiraram de suas mochilas rolos de pepel higiênico e atiraram sem piedade em direção ao Sr. Kidman, o professor.

Nathelie apenas ficou observando a chuva de papel caindo sobre o homem e esperou que todos estivessem fora da sala para pegar suas coisas e sair. Quando estava na metade do corredor não aguentou a pressão desumana que sua garganta fazia e deixou uma gargalhada sair antes que pudesse impedí-la.

Quando Kidman saiu da sala — cinco segundos depois — os alunos naquele corredor entenderam o motivo da gargalhada da garota e começaram a rir também. Nathalie não tinha dúvidas que no ano seguinte fotos do professor Kidman estariam na primeira página do jornal retrospectiva.

Nathalie não se importava com isso mais do que com sua roupa. Usando um simples shorts claro e uma regata Jack Daniels, Nathie andava pelos corredores agitados da Winterbridge High a procura da melhor amiga e não ligava a mínima para o que diziam sobre seu cabelo rosa bebê.

Assim como ela, Pheyton também exibia cabelos coloridos, mas o tom azul de suas madeixas onduladas era mais forte. As duas se encontraram na saida do colégio e simplesmente reviraram os olhos e sairam em direção a Harley de Pheyton.

Pheyton Osgood era filha de um dos mais ricos homens da cidade e isso lhe dava o direito de ter uma moto como aquela. Mas a garota não dava-lhe o devido valor como Nathalie ou qualquer membro da Stapled Mambers, a banda do grupo.

As duas subiram na moto, colocando seus capacetes e sairam em disparada para o Burry Bales.

Nathalie gostaria de saber o motivo de tanta agitação quando entrou na lanchonete temática. As pessoas gritavam e algumas até corriam de um lado ao outro. As duas amigas se entreolharam apenas uma vez para concordar com a resposta: Phillip estava tocando.

Pheyton amava seu irmão, isso era indiscutível, mas ela sabia que Phill tinha sérios problemas de fama. O rapaz, além de bonito, carregava um grande talento na guitarra e sempre roubava os holofotes. E foi por esse motivo que, quando ele e Nathalie namoravam, acabaram terminando.

— Ele é um idiota — comentou Pheyton à amiga ao seu lado.

Nathalie olhou ao redor a procura do irmão mais velho e o encontrou junto de Suzan em um canto afastado. Os dois traziam seus instrumentos em cima da mesa e observavam Phillip em cima do palco improvisado ameaçadoramente. Nathalie soube na hora que o irmão da amiga havia feito algo desagradável.

— Phillip fez alguma coisa — falou à Pheyton, que revirou os olhos imediatamente.

— Quando ele não faz?

As duas amigas caminharam a passos largos até a mesa onde Bennet e Suzan se encontravam. Quando chegaram, não precisaram abrir a boca para perguntar o que estava acontecendo.

— Ele nos expulsou do palco! — Explicou Ben de forma rude. — Quem esse mauricinho pensa que é?

Nathalie olhou para a amiga como que se desculpando pelas palavras do irmão, mas ele tinha razão. Phillip precisava tomar um choque de realidade e decidir de uma vez se estava no grupo ou não. Ela sentia-se mal por estar prestes a jogar Phill no olho da rua, mas era o certo a se fazer. Também seria uma espécie de vingança, por sua traição.

À dois meses Nathalie descobrira que fora traída por Phillip e uma garota da Winterbridge High. Ela havia apenas demonstrado seu ódio ao dar de ombros e virar as costas, naquele momento ela sabia que era o melhor a se fazer. Mas naquela situação o garoto estava prejudicando seus amigos.

Ela sentou-se junto a Ben e Suz, sendo acompanhada por Pheyton, e ficou observando os quinze minutos de fama de seu ex-namorado, que acabaria ficando caolho com tantas piscadas.

Tudo desabou quando Nathalie viu a figura falsa de Megan Westfall entrar na lanchonete e se dirigir a Phill, mandando-lhe beijos e piscando da mesma forma. Não que ela estivesse com ciúmes, Nathie já havia passado dessa fase a tempos, mas pelo descaramento do conjunto da obra, pois Phillip encarou-a antes de descer do palco e agarrar Megan, a garota com quem havia traído-a.

— Mas o quê...? — Pheyton estava de boca aberta. Não conseguia acreditar na falta de consideração do irmão.

Mal ela imaginava que Nathalie sorria ao seu lado.

Após um show incessante de beijos e músicas do repertório Osgood Filho, Nathalie finalmente teria a oportunidade de dizer a Phillip o que todos desejavam.

Phillip desceu do palco, acompanhado de Megan, e se dirigiu a mesa onde estavam seus amigos com um sorriso no rosto.

— Vocês viram isso? Eu arrasei lá em cima! — Disse ele.

Todas as quatros pessoas na mesa se apressaram em levantar. Bennet teria dado um soco na mandíbula de Phill se Nathalie não tivesse intervido, segurando seu braço.

Suzan, que estava quieta até o momento, pronunciou-se pela primeira vez.

— Qual o seu problema, cara?

O garoto vez-se de desintendido e colocou sua melhor cara de ingênuo no rosto. Ele não ligava para o que dissessem, contanto que continuassem lhe dando fama.

— Como assim? — Perguntou sinicamente.

Nathalie revirou os olhos, ela já havia visto aquele filme milhares de vezes.

— Como po... — Suzan não conseguiu completar a frase.

— Poupe saliva, Suz, ele não valhe a pena. — O comentário de Nathalie apenas completava seu sorriso de escárnio. Ela estava adorando tudo aquilo e não via a hora de dizer a Phillip o que queria.

Todos ali olharam-na espantados.

— Não diga isso. Meu namorado vale tanto apena quanto qualquer um de nós! — Retrucou Megan.

Nathalie respirou fundo, fechou os olhos e os comprimiu em frustração antes de abrí-los novamente e sorrir irônicamente na direção de Phillip.

— Tentando me fazer ficar com ciúmes? — pergutou, não esperando uma resposta - Não irá dar certo. Página virada, Phillip.

O rosto do garoto se contorceu em desgosto. Tudo o que Nathie falara era verdade, ele ainda tinha esperanças em voltar, mas sabia que as coisas estavam mais feias que o normal, sua calma revelava isso. Quando Nathalie Jeffery estava calma em uma situação em que outros estão nervosos saiba que nada está bem.

Mas ele não iria dar o braço a torcer e demostrar seu abalamento.

— O mundo não gira em torno de você, Nathie.

— Nem de você, Phill. — Nathalie elevou a sobrancelha esquerda.

Os dois ouviram o riso abafado de Ben e Suz atrás de Nathalie. Ela abriu ainda mais seu famoso sorriso de escárnio e direcionou seu olhar para Megan, depois para Pheyton, e por último à Phillip.

— Suma da minha frente, seu ótário! — Sua calma surpreendeu Pheyton. — Você está fora da banda, Phillip Osgood, e não quero vê-lo nunca mais. — Disse entre dentes.

— Como assim: fora da banda? — Perguntou Phill, soando desesperado. A Stapled Members era sua passagem para o mundo das estrelas.

— Fora, mané, não pertence mais ao grupo! — Ben sorria internamente e teve vontade de jogar o refrigerante que estava na mesa na cabeça do garoto.

— Vocês não podem tirá-lo da banda apenas por que preferiu a mim do que ela — Megan disse, apontando na direção de Nathalie e soava tão indignada quanto um jogador de futebol que perdeu o passe.

A garota de cabelos rosa contraiu o rosto e suspirou fundo antes de olhar o rosto repleto de maquiagem de Megan. Teria de se segurar antes de socar o rosto dela, o que não seria esforço algum.

— Megan, não dou a mínima para o que Phillip está fazendo aqui com você. O que quero é que ele pare de bancar a criança mimada e acorde para a vida. - disse Nathalie, sua voz tão limpa quanto um rio cristalino - Portanto, sugiro que comece a trabalhar em formas de mudar essa personalidade mesquinha. Nada de Stapled Members até lá. Nada de shows.

Phillip expressou todo seu ódio claramente no momento em que tentou bater em Nathalie. Ele levantou o braço direito ameaçando-a com a mão em punho e chegou bem perto de seu rosto antes de ser parado. Não por Pheyton, nem por Megan, Suzan ou Bennet; a própria Nathalie segurava seu braço agora, e torcia-o ao contrário.

Phillip sentiu a dor de unhas cravando em sua carne no momento em que ela o agarrou mais forte e soltou um grito agudo quando ela o soltou. A sensação ardente de algo pulsando em suas veias, enquanto essas latejavam por debaixo da pele, não o deixou nem quando Phillip virou as costas e partiu em disparada rumo a porta.

Os quatro adolescentes restantes naquela mesa só notaram que um público curioso os observava quando o som estalido e seco de palmas resoou pela lanchonete. Todos sorriam para a garota que enfrentou o ex-namorado, mas eles não sabiam disso.

Infelizmente, Nathalie não sentia-se tão especial em ter tirado o garoto da banda, ainda mais ao virar o rosto e contemplar o semblante assustado de Pheyton ao seu lado. Ela acabara de chutar o irmão de sua melhor amiga da própria banda.

Nathalie estava vazia por dentro. Tão vazia que nem notou suas unhas encurtando de tamanho repentinamente.