Separate Ways - Requiem escrita por WofWinchester


Capítulo 10
Exorcizo te


Notas iniciais do capítulo

Hey girls! Que tal a capa do capítulo? Não me julguem! Sou nova em edições, porém me dedico AHUSHAU. Queria mais uma vez dizer que estou amando os comentários de vocês, suas lindas, maravilhosas e divas. Esse capítulo também é "light", mas prometo que no próximo as coisas vão esquentar de novo. Beijos de luz na bochecha de cada uma, e vamos ao capítulo!



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Acordei com algo quente pingando na minha testa, o sol entrava pela janela iluminando o quarto. Passei a mão no rosto e tomei um susto ao ver meus dedos manchados de... Sangue.

Ao olhar pra cima, havia um corpo de um homem dependurado, os olhos me encarando diretamente.

Pulei da cama, tropeçando nas cobertas e caindo no chão. Quando olhei novamente, não havia nada. Passei a mão na testa várias vezes constatando que não havia sangue. Meu coração dava pulos desesperados, querendo sair pela garganta. Tentei me acalmar aos poucos, foi um pesadelo, só pode ter sido. Ou uma maldita visão! Fitei o amuleto ao meu lado, e com raiva eu o coloquei no pescoço.

Desci as escadas, passando por Sam que estava concentrado no computador, e fui direto para o banheiro. Escovei os dentes, tomei um banho rápido, vesti um dos meus jeans novos e uma camiseta de mangas compridas branca com bolinhas pretas. Eram nove horas da manhã, e ao sair pela porta eu vi a silhueta de Dean se esgueirar sorrateiramente pela janela até o carro com passos cuidadosos. Sam fitou a cena com uma careta, em seguida seguiu o irmão, e eu fui atrás.
– Deixa ele descansar, depois a gente liga – dizia Dean.
– Ligar de onde? – surpreendeu-o Sam logo às suas costas. O loiro se virou num pulo.
– Tem um lance no Oregon – revelou depois de dois segundos.
– Ótimo, estou dentro – falou o moreno animado.
– Você acabou de levantar.
– Exatamente. Estou de pé, estou legal.
– Uns dias a mais de TV não vão fazer mal – argumentou Dean.
– É. Porque foi isso que você fez quando saiu do inferno – rebateu Sam enfático. O irmão mais velho ficou pensativo, mas por fim acabou cedendo.
– Muito bem, eu, você e Bobby. – falou o loiro e em seguida se voltou pra mim – E pra você uma babá com asas.
– Nem pensar! – protestei nada feliz em saber que eu teria que aguentar o Castiel e seus momentos de “deixa eu enfiar meu braço em você um pouquinho” – Eu posso me virar sozinha. - garanti.
– Vocês vão à frente – começou Bobby – Vocês dão conta. Eu esqueci que prometi ao idiota do Rufus que cuidaria dos telefones pra ele, e eu não quero ver a casa destruída pela Esther e o Castiel que mais parecem cão e gato, então...
– Prometeu? - perguntei distraída, não me lembro de ter visto ele atender qualquer telefone de ontem pra hoje.
– Tem certeza? – questionou Dean. Eu poderia abraçar Bobby agora, mas sentia que toda essa história era apenas um pretexto. Digo, Sam tentou matá-lo, se fosse eu, não me sentiria bem em andar com ele armado por aí.
– Sim – o velho Singer tirou uma mala de armas do banco de trás do Impala – E vocês dois divirtam-se matando as saudades – ele passou por mim, entrando novamente dentro de casa.
– O que foi isso? – perguntou Sam, se referindo ao comportamento estranho e nada sutil de Bobby.
– Um quarto de idade e três quartos de birita – comentou Dean, e em seguida se voltou pra mim. – E você comporte-se, qualquer coisa me ligue. Ouviu?
– Sim, Comandante Dean Winchester! - coloquei uma mão em frente à cabeça e marchei uma vez, como um soldado. Ele riu do gesto, passando os dedos no meu cabelo molhado, descabelando-o. Eu o olhei de cara feia.
– Eu não me canso de fazer isso – o loiro riu e entrou no Impala. Sam acenou com um sorriso e abriu a porta do passageiro.

Entrei em casa e vi Bobby sentado em sua mesa, como sempre. Ele levantou os olhos pra mim.
– Não me julgue.
– Eu não falei nada – disse, levantando as mãos.
– Mas pensava em falar.
– Quer minha opinião?
– Não exatamente, mas pode dizer.
– Não era o Sam, sei lá, pega leve. – falei. Bobby suspirou pesadamente. Enchendo um copo de vodka até a metade.
– Eu sei, não é algo que eu possa controlar. O garoto tentou me matar, eu preciso de um tempo. – ele deu uma pausa e depois me encarou, sarcástico - E você vai ficar aí bancando a Dra. Laura ou quer fazer algo produtivo?
– Você é um amor, sabia? – retribui sarcástica, com um sorriso.

Embora ele fosse um resmungão, eu me divertia com seus surtos de sarcasmo. Me fazia lembrar um pouco de Daniel. Eu sentia muita falta do meu amigo, do meu tio Lucius, até da minha tia Elena que era insuportável à maioria das vezes. Sentia falta da vida normal que eu pensava ter.
Quando nos afastamos das coisas mais simples, é que nos damos conta para sempre de que elas não são assim tão sem graça.

Caminhei até a mesa, sentando na cadeira. Bobby me estendeu um caderno grosso.
– É de grande ajuda se você ler isso, e principalmente – ele abriu o caderno e apontou com o dedo algumas palavras numa língua que parecia ser latim – decorar isso.
– O que é? – indaguei, estreitando os olhos para as palavras. Eu precisaria de muitas horas para decorar isso, e muito mais para conseguir pronunciar corretamente.
– Para exorcizar demônios, é muito útil quando se é caçado por eles.

Segurei o caderno, pegando uma folha e uma caneta, e copiei o ritual de exorcismo calmamente com letras de forma e emendadas, eu tinha essa mania de misturar. Depois eu fui ler as anotações.
– O que exatamente é isso? Um livro do ensino médio sobre coisas sobrenaturais? – perguntei ao ler várias coisas sobre diversos tipos de monstros. Djins, Skinwalkers, Ghouls, Vampiros, Lobisomens, Metamorfos.
– Uma cópia do caderno de John – respondeu Bobby, sem tirar os olhos dos papéis que lia. Lembrei do pequeno diário que Dean e Sam carregavam pra lá e pra cá, então essa era a cópia dele.
– John Winchester?
– Exato.
– Como ele era? – a curiosidade me pegou desprevenida. Pelo que eu sabia, John criou os filhos como caçadores, que tipo de pessoa faz isso? Não que eu estivesse julgando-o, ele devia ter seus motivos, eu só estava curiosa quanto a sua personalidade. Seria mais parecida com a do irmão mais velho ou do caçula?
– Uma mistura de Dean e Sam, só que mais louco. – disse com um ar divertido. E de repente outra pergunta me veio a mente.
– E como você entrou nessa vida afinal?
– Não é uma historia agradável. – respondeu Bobby depois de alguns segundos em silêncio.
– E como poderia ser? – retruquei – Nenhuma dessas histórias é.
Ele suspirou, voltando os olhos para mim novamente.
– Em resumo: Eu cheguei em casa e minha mulher estava possuída por um demônio.
– Você a matou? - perguntei. Bobby ficou em silencio, e eu já sabia a resposta.
– O nome dela era Karen - suspirou encarando a mesa a sua frente, mas eu tinha certeza que ele estava perdido em pensamentos.

Imaginei o quão difícil deve ter sido, tanto quanto foi para Dean e Sam perderem os pais, tanto quanto foi para John perder Mary, tanto quanto foi para mim perder toda a minha suposta família. Uma tristeza me invadiu sorrateira e implacável. Estávamos todos unidos por um mesmo laço, o da dor.

O velho Singer catou a folha e a caneta que eu havia copiado o exorcismo, colocando-as em minhas mãos.
– Comece a decorar, é mais fácil se você escrever várias vezes.

Três horas depois.
Exorcizo te, omnis spíritus immúnde, in nómine Dei Patris omnipoténtis, et in nómine Jesu Christi Fílii ejus...
– Não – interrompeu Bobby, colocando o copo de vodka sobre a mesa. Os lábios curvados para baixo, em desaprovação – Você está pronunciando tudo errado.
Suspirei. Era a quinquagésima vez que eu estava lendo aquele ritual, depois de copiar umas dez.
– Por que você não me mostra então? – pedi. Ele se levantou da cadeira.
– Certo. Pegue a folha e venha comigo. Posso recitar um exorcismo enquanto faço alguma coisa pra comer.

Segui-o até a cozinha, enquanto ele falava o ritual como um verdadeiro Papa da igreja e misturava almôndegas com molho de tomate no fogão.
– É assim. Entendeu? – perguntou, se virando para mim com uma colher de pau na mão.
– Entendi – assenti com a cabeça. O telefone começou a tocar, Bobby o pegou e colocou no viva-voz para poder mexer o molho na panela.
– Alô?
– O que você sabe sobre dragões? – perguntou a voz de Dean, do outro lado da linha.
– O quê? Dragões? Onde vocês estão? Na convenção de fãs do World of Warcraft? – perguntei, franzindo a testa. Dragões? O que viriam a seguir? Os Teletubbies?
– HAHAHA – entoou o loiro enfático – Muito engraçadinha.
– Eu não sei nada sobre dragões – revelou Bobby.
– Sério?
– É. Eles não são como o monstro do lago Ness, Dean. Dragões não são reais.
– Você pode fazer algumas ligações? – insistiu o Winchester.
– Pra quem, Hogwarts? Acho que o Harry Potter está ocupado – disse irônico enquanto tirava a panela do fogo.
– Ajude Bobby.
– Tá bom, tá bom.
– Você é um cavalheiro e um erudito – elogiou Dean.
– Certo. E como o Amnésia está se virando? Já pegou você na mentira? – perguntou. O loiro pareceu meio desconfortável, talvez porque o irmão estivesse perto.
– Está tudo ótimo, o Sam mandou "Oi".
Dizendo isso ele desligou. Bobby se virou pra mim.
– É questão de tempo. Eu aposto em três dias, e você?
Mordi a boca, realmente Sam estava bem desconfiado quando fomos ao shopping. Me admira dele ainda não ter dado um ultimato ao irmão – Dois dias – apostei.
– Então, agora eu quero ver você fazer esse ritual certinho, se não, não tem almoço – avisou, balançando a colher para mim. Peguei a folha e comecei a ler, não passando da segunda frase antes de Bobby me interromper.
– Não. Não, e não. Comece de novo.

Algumas horas depois, eu estava no meu quarto, lendo e relendo o ritual, enquanto tentava fazer uma trança embutida no cabelo. Os dois estavam saindo incrivelmente errados.
Exorcizo te, omnis spíritus immúnde, in nómine... Não. – balancei a cabeça, começando novamente - Exorcizo te, omnis spíritus immúnde, in nómine Dei Patris omnipoténtis... Não! Ah, que droga.
Patris omnipoténtis – repeti, tentando acertar a pronúncia enquanto me levantava da cama e começava a caminhar pelo quarto - Patris omnipoténtis. Certo, agora eu consigo. - Exorcizo te, omnis spíritus immúnde, in nómine Dei Patris omnipoténtis, et in nómine Jesu Christi Fílii ejus, Dómini et Júdicis nostri, et in virtúte Spíritus Sancti, ut discédas abnoc plásmate... – de repente algo entrou no meu caminho.

Eu estava tão concentrada em decorar o ritual que não percebi que Castiel havia chegado, e estava parado na minha frente igual a um poste.
– Precisamos conversar – falou com a voz grave e baixa de sempre.
– Da última vez que você falou isso eu fui estuprada por um braço e acabei desmaiando. Então, acho que não – sorri sarcástica, me afastando em direção a janela.
– Mas pra estuprar eu teria que...
– Não! – cortei-o imediatamente, apontando um dedo em sua direção. Eu não precisava guardar mais um momento constrangedor desses pro resto da minha vida, ou o que me restava dela.
– Desculpe. Eu esqueci de comentar que ter a alma tocada pode ser exaustivo.
– Bem conveniente pra você – reclamei, jogando o caderno em cima da cama e cruzando os braços.
– Tem algo preso na sua alma – continuou o anjo, ignorando meu comentário - Um poder muito forte, eu nunca vi nada parecido.
– E você desaparece por dias e me conta isso só agora? – disparei com uma mistura de irritação e surpresa.
– Eu estava reunindo informações - disse, colocando as mãos em frente ao corpo.
– Os Winchester já sabem?
– Não. Eu ainda não tive tempo de contar.
Ele caminhou até mim, desviando no último segundo e encarando a janela.
–Você tem algo parecido com uma graça de anjo preso a sua alma, só que com a diferença de que é infinitamente mais forte. É uma quantidade de poder imensa. – ele me fitou com os olhos apreensivos.Tinha algo que Castiel não estava dizendo.
– Você já disse isso, mas tem mais coisa – afirmei, incentivando-o a continuar.
– Estou preocupado com você – seu maxilar se contraiu, sua voz começava a diminuir o volume gradativamente – Esse tipo de poder, se fosse colocado num anjo, este poderia explodir em questão de segundos.
Digeri a informação por um momento.
– Você está dizendo que eu posso explodir?
– Estou dizendo que se esse poder não for controlado você pode explodir.
– Então eu posso explodir - falei enfática. Castiel ficou mudo. Eu estava encarando o chão, tentando processar a informação de que eu era uma bomba capaz de fazer "cabum" a qualquer hora. Como se tudo isso já não fosse suficiente, mais essa agora.
– No fim é inevitável, não é? – meu tom de voz entrou em total morbidez - Se os demônios não me matarem, Raphael vai me usar pra aumentar os poderes dele, ou eu vou acabar explodindo. De qualquer maneira eu vou morrer.
Nós vamos dar um jeito nisso, eu prometo – sua expressão se suavizou, e algo no modo como ele falou “nós” me deu uma pontada de esperança. Mas afinal ele só estava dizendo isso porque era vital para ele. Como meu guardião, se eu morresse, ele morria.
– Castiel, posso te perguntar uma coisa?
Ele assentiu levemente com a cabeça. Eu o fitei diretamente nos olhos.
– Por que você quer impedir o apocalipse? Sam e Dean, eu entendo, eles são humanos, mas você... Por quê? Você nunca pensou que as coisas tem um motivo para acontecer? Que elas talvez devam acontecer?

O anjo desviou o olhar, parecendo buscar as palavras, e então sorriu. Foi a primeira vez que eu o vi sorrir, e parecia que o sol estava nascendo, lindo e brilhante no horizonte. Lutei contra a vontade de sorrir também, feito uma besta.
– Podemos não ser o tipo de pessoa que gostaríamos, podemos estar muito distantes de nossos objetivos, podemos contar mais fracassos do que realizações, podemos até mesmo não sermos felizes, mas somos os únicos que podemos mudar tudo. Fazer melhor. É por isso que eu acredito que toda criação merece o direito de existir, é por isso que eu luto, Esther. Porque eu acredito que ainda vale a pena.

Senti meu coração se encher de esperança, e por um momento eu acreditei naquelas palavras, por um momento elas foram a minha verdade. Mas não mais do que um momento, eu tinha minhas próprias conclusões e infelizmente eu não tinha motivos para mudá-las. Abaixei os olhos, fitando o chão. Castiel deslizou a mão para o meu queixo, levantando meu olhar. Um gesto muito ousado, então eu me esquivei. Não gostava de contatos diretos com ele, me davam um frio na barriga que eu não me permitia sentir.
– Você parece triste – observou, inclinando a cabeça de lado.
– Eu queria acreditar em tudo que você disse, Castiel. Queria mesmo, queria que isso fosse verdade, mas infelizmente pra mim não é. Eu vejo as coisas de outra maneira.

O anjo estreitou os olhos, suspirando lentamente. Parecia que ele ia falar alguma coisa, mas então fez uma careta e balançou a cabeça
– Desculpe, eu preciso ir. Sam está me chamando – eu o encarei e ele desapareceu em frente aos meus olhos juntamente com o som de um farfalhar de asas. Típico.

Fiquei ali parada durante vários minutos, pensando em tudo que Castiel havia dito, e no fundo eu o invejava por ser capaz de acreditar que ainda havia alguma esperança. Cada vez que eu ligava a TV, os jornais noticiavam uma morte brutal. Guerras sem fim. Pais matando os próprios filhos, assaltantes assassinando por 30 dólares, crianças com armas matando por aí. Tanta gente passando fome, tanta gente sofrendo, tanta gente gritando em silêncio.

Cada vez que eu realmente parava pra pensar nisso, meu coração inchava de tristeza e de raiva. Nós não passávamos de animais, os mais burros, os que se destroem e acabam com tudo a sua volta. E no fim, apenas uma pergunta martelava na minha cabeça:

A humanidade realmente merecia o direito de existir?


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Notas finais do capítulo

PS:O próximo ficou um pouco grande, quase oito mil palavras. Querem que eu divida em dois ou poste inteiro?
PSS: A capa é fruto das minhas brincadeiras no photoscape.
PSSS: Beijinho, girls!



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