Os passos eram curtos e apressados, os degraus da escada pareciam intermináveis. Abriu a porta e ofegante entrou. Como ainda moravam em um prédio onde o elevador era permanentemente quebrado?

Tentou recompor-se um pouco, mas o outro estava lá sentado em um sofá de frente para a porta, dedilhando qualquer coisa na guitarra.

-Parece que você correu uma maratona. - Sua concentração ainda permanecia no instrumento.

-São essas malditas escadas, e depois, vim correndo só para que ainda o alcançasse em casa.

-Certo, e aqui estou. - Levantou o rosto em um sorriso de canto que convidou o outro a sentar-se ao seu lado.

-Então Shinji, o que está fazendo?

O outro pareceu ainda mais desinteressado, esticou os braços para expreguiçar-se, logo depois começou a estalar todos os ossos das mãos - Saga detestava aquele hábito - e por fim alcançou o cigarro que estava pousado no cinzeiro da mesinha de frente.

-Estou só afinando um pouco, brincando com algumas melodias.

Saga recostou sua cabeça no apoio do sofá, observando o teto, com certeza era um hábito estranho, mas era o que gostava de fazer para relaxar. Tora havia esquecido a guitarra, e agora, pousava sua mão sob a do outro.

-Shinji... E se a gente trocar essas cortinas por sei lá... Persianas? Assim essa sala não teria de parecer tão escura o tempo todo.

A fumaça escapava de seus lábios enquanto os dedos ainda prendiam o cigarro. enquanto ainda prendiam o calor que vinha da mão de Saga. O olhar parecia perdido em qualquer outro tipo de pensamento.

-Não sei, para mim tanto faz... Ainda mais se você está sempre aqui.

-Você é quem deveria passar mais tempo na sua própria casa

-É, eu sei, sinto muito. - Apertou mais a mão buscando mais calor.

O lugar era um pouco abafado, meio desconfortável, mas desde que Saga passou a ter uma presença mais constante Tora já não se importava mais. Sentia-se confortável de estar ali, parecia iluminado o suficiente. E nenhuma melodia que buscava parecia mais ser grande o suficiente para dizer...

-Takashi... Mais um pouco esse teto vai cair, de tanto que você olha para ele.

-Hm, só estou imaginando olhar o céu, aqui da cidade não dá para ver as estrelas.

-Meu deus, foi alguma garota que te deixou sentimental assim? - Disse sorrindo, na verdade, gostava da forma sutil que o outro tinha para explicar-se.

-Você bem sabe que não, mas é que não consigo evitar pensar nesses tipos de coisa quando estou aqui. Teve uma noite em que eu estava mais afastado da cidade, e o céu parecia tão cheio de estrelas. Era o tipo de coisa que eu gostaria de poder mostrar à alguém.

O cigarro desfazia-se nas últimas cinzas, antes de enfim, alcançar o filtro. Os dedos também iam desfazendo-se dele. Tornou a recostar-se no sofá, tomando cuidado com a guitarra que estava ao lado.

-Não custa nada pegar o carro e ir até a parte mais afastada da cidade.

Saga virou-se para o outro, sorrindo.

-Eu é que não vou dirigir.

Tora riu, simulou falar alguma coisa, mas não conseguiu. Mas já não lhe importava mais que ainda não conseguia dizer. Sabia que o outro tinha a certeza, e sempre fazia tudo para dar a Takashi essa certeza.

-Shinji... Você não tem que ir trabalhar não?

-Tudo bem se eu chegar atrasado, ainda preciso te falar algumas coisas... Ou ao menos fazer você saber...

Ainda ficaria lá por segundos, sentindo o toque, o calor, a luminosidade que havia chegado naquele apartamento de elevador permanentemente quebrado.

x x x

Espero não ter deixado eles caricatos demais, também não queria que fosse uma coisa melosa demais. E nem que o Saga parecesse um uke passivão demais.

Espero, sinceramente, não ter colocado nenhuma dessas características no texto, ou pelo menos não ter exagerado nelas.

Ah sim, Wonderful Tonight é o nome de uma música, como sempre. Por algum motivo achei que se adequaria como título :).