Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 69
Sobreviver


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores!!! Tudo bem com vocês? Ok, não tá fácil pra ninguém esses 7 meses em casa. Faz tempo que eu n broto aqui, né kkkkkk

Desde o título até o ponto final esse capítulo foi FORTEMENTE moldado por esse período DOIDO e INÉDITO de quarentena



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[Nathaniel]

— Então pra isso que serviam aqueles cartões? — perguntei, enquanto todas as peças não resolvidas pareciam se encaixar pouco a pouco na minha mente. 

Assim que o corpo de Kentin despencou no chão poucos metros longe de nós, corremos para socorrê-lo. Claro, àquela altura já não éramos tão inocentes; retiramos sua camisa branca para limpar e estancar o sangue que respingava do seu rosto; mas também rasgamos um pedaço generoso de tecido para amarrar suas mãos atrás de suas costas, complacentes com a ideia de que ele poderia, além de tudo, ser um inimigo em potencial. Inclusive, pegamos os armamentos que ele guardava consigo; duas facas de combate. 

Depois que finalmente acordou e se assustou com a nossa presença, tentamos nos explicar. E então, todos começamos a nos explicar. 

Até aquele momento, os três tinham se unido num pequeno círculo, sentados no chão daquele imenso lugar. Contei por alto sobre minha investigação, sobre como eu e Burniel tínhamos caído naquele buraco, sobre meu trabalho com a Central e sobre como eu tinha descoberto, horas antes, toda aquela farsa. Burniel também revelou o pouco que sabia pelas suas aventuras que tinha com Jade; e Kentin pareceu bastante surpreso com todas aquelas informações. 

Era como se cada um de nós tivesse em mãos um pequeno fragmento diferente sobre a conspiração de Shermansky; e que, aos poucos e juntos, conseguíssemos criar uma forma cada vez mais legível sobre o que tudo aquilo realmente significava. 

Kentin começou a falar, ainda amarrado; e em determinados momentos tremia, parecendo suar frio de dor pelo ferimento de lâmina em seu olho esquerdo, fechado.  Disse que estava no meio de uma ação quando recebeu o golpe no olho, e que a dor o fez andar cambaleando até biblioteca; onde encontrou a passagem aberta e mergulhou nela quase inconsciente -- foi  quando nossos caminhos se cruzaram. Ele explicou o que sabia; e confirmou a teoria que Jack e eu tínhamos elaborado, sobre alunos serem incitados a cometerem crimes dentro do colégio. Confessou ser um dos alunos participantes também. Mas, mais ainda; ele disse:

— É como um jogo de sobrevivência. E quem vence, escolhe o que quiser.    

Vários pontos se interligaram dentro de mim naquele momento. Era como um grande quebra-cabeça; resolvia tanto o que eu tentava entender naquele momento presente, como também explicava… o caso de 20 anos atrás. Agatha Cotton. Sobre todos os alunos desaparecidos na mesma época. Agatha Cotton sendo a única a aparecer depois de meses, mentalmente instável. Tudo parecia se encaixar perfeitamente. 

Eu ainda tentava gerenciar todas aquelas informações dentro de mim; eram muitas informações, algumas muito claras, outras, nem tanto. No final, era quase igual ao processo de arrumar roupas nas gavetas certas -- as gavetas eram as perguntas, e as respostas preenchiam as gavetas; como as peças de roupa. Algumas gavetas ainda estavam vazias, e aparentemente eu já tinha guardado todas as roupas disponíveis.

Agatha Cotton não era tia da Elsie? Havia um motivo pra Elsie também estar naquele jogo ou se tratava apenas de uma coincidência? Eram perguntas que eu me fazia, mas só porque, no fundo, eu ainda era um detetive em busca de respostas. 

— Você disse que Shermansky prometeu dar ao vencedor “o que ele quisesse”. — me voltei para Kentin. — Qualquer coisa?  

Kentin ficou quieto por alguns segundos. Ele remexeu seu corpo no chão, ajeitando os quadris, e apertou com força as pálpebras do olho ferido, como se isso reprimisse a dor que parecia sentir: 

— Não é bem… qualquer coisa. Acho que, no fundo, ela sempre soube dos nossos desejos. Ela estudou muito bem todos que ela colocaria nesse jogo. — falou com certa melancolia, como se relembrasse e remoesse suas próprias decisões.   

Dentre todas as gavetas vazias que eu tinha no meu esquema mental, uma delas parecia despertar um senso de urgência dentro de mim; como se precisasse ser preenchida mais que todas as outras. Era uma única pergunta, mas que talvez fosse ser a peça central de todo aquele enigma, o núcleo; uma única pergunta que nem eu, nem Burniel, e talvez nem mesmo Kentin soubesse responder: 

— Por que a diretora… criou tudo isso? — disse Burniel, segurando o próprio queixo com a mão fechada enquanto seu dedão erguia a lateral da sua boca, criando a impressão de um sorriso torto. 

— Talvez… — pensei alto, depois de refletir um pouco. — isso só possa ser respondido se pensarmos que tipo de bomba relógio eclodiu na cabeça da Shermansky, vinte anos atrás.   





[Irene]

Quando deixei Armin pra trás, eu tinha um único pensamento na cabeça: aquele momento pertencia à mim.

A porta de entrada do corredor principal estava escancarada, o que acionou meu primeiro instinto de colar as costas na parede e olhar com cautela para o lado de fora, pro pátio. Mantive os dois braços pra baixo segurando a pistola, o dedo no gatilho.    

Não foi possível ver quem era o vulto que atirou contra Armin, mas algumas características denunciavam que era uma garota. O passos eram leves. Também pareceram agitados, nervosos, ansiosos -- ansiosos porque talvez nunca tivessem experimentado o gosto da morte. 

Um sorriso involuntário rasgou no meu rosto.  

Chequei o pátio mais uma vez e verifiquei que tudo estava limpo.

— Foi pra esquerda. — sussurrei, analisando, mentalizando a cena que supostamente tinha acabado de se desenrolar ali. 

Imaginei que a coisa toda provavelmente transcorreu da seguinte forma: ela tentou acertar Armin com o tiro e falhou, se desesperou quando viu que agora tinha dois oponentes vivos e correu… correu e passou pelo pátio, por aquele exato trecho que eu olhava. E pensando nisso, havia três caminhos que ela poderia ter escolhido: a cantina, a lateral do colégio que poderia levá-la para os fundos ou -- nosso local de origem dentro do jogo -- o ginásio

O que seria mais seguro dada a circunstância? Uma cantina pequena? A longa e extensa lateral do colégio que garantia zero proteção na retaguarda? 

Parecia óbvio. 

Mergulhei para a claridade de fora e atravessei o pátio sem problemas, me esgueirando entre as paredes, muito atenta. Atravessei a frente da cantina depressa e cheguei ao ginásio, onde as cabines e toda a parafernalha de Shermansky ainda estavam dispostas sobre a quadra. 

Parecia uma realidade alternativa. Sweet Amoris inteira estava assim, de alguma forma -- eram os mesmos cenários de sempre, mas agora com elementos intrusos à paisagem. Pairava uma aura de abandono e vazio. Pra Elsie, isso podia até trazer algum sentimento de solidão; mas não pra mim. A escola naquela composição era como uma casa abandonada no meio de um matagal; um passe livre pra botar em prática tudo que incendiava o meu coração depois de tanto tempo quietinha.

Inspirei fundo, contente -- sentia o cheiro da morte como um turista que inspira o cheiro de um prado verde depois de anos morando num centro urbano cheio de fumaça.   

E eu deveria me sentir culpada por sentir isso? Pelos impulsos incontroláveis que explodem dentro de mim sempre que penso no ato de matar? Muitas vezes tia Agatha disse que isso era errado; e algumas vezes eu via Murple rezando para sua estátua de santo. Mas, queimar no Inferno por matar não seria justo. Porque se eu não matasse, estaria negando o motivo da minha própria existência -- já que foi assim que eu nasci. Eu nasci da raiva, do ódio, do rancor, do medo e de todos os outros sentimentos que queriam transbordar para fora de Elsie… Sim, da sua ira. 

Dei mais uma boa olhada ao redor da quadra, parada sob a entrada, tentando captar qualquer movimento suspeito enquanto segurava a arma na mão.

Imaginei que o melhor lugar pra se enfiar no ginásio fosse talvez dentro dos vestiários; e fui, passo por passo, silenciosa, até a entrada do corredor que separava os dois gêneros, sendo impedida de continuar antes mesmo de adentrar a área logo que ouvi uma voz feminina às minhas costas:

— Parada! 

Congelei ali mesmo, no primeiro impulso colocando as duas mãos pro alto, acima da cabeça, tentando implantar um sinal de paz (embora não tivesse soltado a pistola). É, e pelo visto eu tinha encontrado quem eu tava procurando (ou ela que me encontrou?). Virei o rosto por cima do ombro para encontrar a dona da voz suave. 

Qual era o nome dela mesmo? Rosa... Rosalinda? Rosalina? Rosalya... Sim, sim. Era uma garota atraente e carismática; chamava a atenção. Nem eu, nem Elsie tínhamos trocado nenhuma palavra com ela alguma vez na vida. 

— S-solta a arma! — exigiu, tensa. 

Estava com o longo cabelo platinado preso no topo da cabeça num rabo-de-cavalo bastante firme, as roupas estavam sujas como se tivessem se encardido numa poeira preta, e um dos joelhos tinha um hematoma forte. Sim... ela deixava escapar muitos detalhes sobre si mesma; era uma leitura fácil. Tive ainda mais certeza de que, de fato, era ela quem eu estava procurando quando encarei a pistola posta na frente do seu corpo, erguida pelos seus dois braços magricelos e trêmulos. Em seus olhos cor-de-mel -- tão claros que chegavam ser amarelos -- o medo.     

Voltei a olhar pra frente, ficando completamente de costas pra ela: 

— Por que tá me pedindo pra fazer isso? Vai me deixar sair viva?

— E-eu não queria ter que atirar… — disse com melindre, como se fosse chorar. — M-mas eu não quero morrer... eletrocutada... 

Não aguentei, era cômica demais aquela situação; tive que soltar uma risadinha e falar, retoricamente:

— Como que você conseguiu chegar até as finais desse jeito? Puta que pariu. — Voltei a encará-la por cima do ombro. — Devia ter atirado logo de uma vez!   

Me virei, o mais rápido que poderia, jogando o corpo para o lado, e atirei na direção de Rosalya, quem encolheu os ombros com o susto do estouro e soltou um gritinho assustado. Mas, claro, a imbecil teve sorte: minha mira tinha sido imprecisa demais naquele movimento, e fez com que, no final das contas, eu conseguisse acertar nada menos que o ar. 

Ela se encolheu cobrindo a cabeça e o ouvido com uma mão e tentou atirar com a outra; o que era simplesmente inútil no estado de nervos que estava. Seu tiro acertou o chão à minha frente e, quase simultaneamente, tive a minha reação: apertei o gatilho várias vezes, bem certa de que a atingiria e acabaria com aquela merda ali mesmo. Mas o inesperado (ou o esperado, talvez, se Elsie estivesse no comando) aconteceu: a munição foi pro saco. 

Joguei a pistola no chão com frustração e impaciência. As ações eram desencadeadas freneticamente, sem muito tempo pra pensar: Rosalya ainda tremia há poucos metros, seus olhos estavam arregalados e a arma mal conseguia se manter estática na sua mão oscilante. Eu estava muito certa de que só tinha uma alternativa…   

Tendo muita certeza de que não teria como atirar em mim nas condições que estava, corri pra cima de Rosalya, apanhando seu braço e jogando-o para o lado, criando uma abertura perfeita pra que eu me aproximasse com segurança e afundasse meu punho livre na lateral do seu rosto. E foi. Em cheio. 

Rosalya cambaleou pro lado, deixando cair sua pistola no chão. Ela se desesperou para tentar apanhá-la de volta, mas chutei a arma pra longe e me preparei pra desferir outro soco no seu rosto. Nesse momento, Rosalya se levantou -- os lábios sangrando e olhar agora menos frágil -- e segurou meu pulso no ar, antes que eu a acertasse. No instinto, acertei seu estômago com a mão livre. 

A vontade de sobreviver gera um fluxo imparável de adrenalina no corpo. E a adrenalina, bem… ela nos deixa loucos. 

Logo após o golpe, Rosalya se contorceu pra frente, engasgando. Até que, de repente, ergueu o rosto na minha direção. Tudo foi muito rápido, mas eu vi, como uma câmera lenta: o seu olhar tinha mudado. Todo o pacifismo tinha se transformado em agressividade. 

Sobreviver exige força. O ódio e a ira são tipos de força; forças que surgem do fundo de nós e nos alimentam.    

Foi um pouco tarde pra pensar quando senti o impacto doloroso do punho fechado contra o meu queixo. Mordi a língua no processo e rapidamente senti o gosto metálico de sangue se espalhando pela minha boca. Vacilei pra trás, tentando me recompor, um pouco atordoada. Porra. 

Agora ambas estavam machucadas e cheias de vontade de sobreviver, cheias de força, de adrenalina e ódio. O ginásio era quase uma bomba-relógio. 

Fomos ambas uma pra cima da outra.

E o que esperar disso? O encontro de dois corpos com grande energia armazenada é sempre uma catástrofe; mas nós tínhamos pouca noção sobre (ou dávamos pouca importância pra) esse detalhe quando nos enfiamos naquele bombardeio frenético de socos, chutes, golpes, puxões de cabelo, mordidas e contra-ataques.

A coisa continuou nesse ritmo por algum tempo (minutos, eu diria; mas que pareciam uma eternidade), até que uma nova voz se juntou ao alvoroço. Vinda da porta de entrada, ela ecoou pelo grande ginásio: 

Elsie!  

Senti um espasmo esquisito, algo como uma queda de pressão instantânea, como se de repente perdesse o controle, e olhei pra voz que eu facilmente reconhecia como sendo Armin. Vi seu rosto, longe, por uma fração de segundos; antes de sentir um impacto muito maior que o primeiro me acertar o rosto e, então, perceber o mundo gradualmente se escurecendo…  

  

[Armin]

— Elsie! — gritei logo que entrei no ginásio. 

Gritei no impulso, sentindo sair quase uma descarga elétrica de dentro de mim. É, e vi que tinha feito merda logo de cara.

Elsie tava num embate alvoroçado contra… a Rosalya?! Meus olhos não estavam me enganando; era ela mesma. 

E Elsie recebeu um nocaute no exato momento que gritei seu nome. Me desesperei, doido, ligeiro, e corri na direção das duas com o braço empunhando o taco de beisebol, à medida que ela cambaleava pra trás, prestes a cair. 

Quando Rosalya notou minha presença (o que não era muito difícil porque eu vinha numa velocidade irracional), correu pra longe. Correu tão desesperada que acabei deduzindo que ela não tivesse mais nenhum armamento. Correu até o lado oposto de onde estava na quadra, chegou a tropeçar e cair, se arrastando no chão pra algum destino que eu não me preocupei em saber. 

Na verdade, com toda aquela explosão maluca de acontecimentos, não pensei muito no que ia fazer -- meu primeiro instinto foi de disparar frenético até Elsie, que já tinha se estatelado pra trás no chão e parecia perder a consciência. Tomei ela nos braços depois de colocar o bastão de lado. Seus olhos pareciam estar numa guerra muito louca pra decidirem se ficavam abertos ou não, num esforço absurdo. 

Foi a tia Agatha… — murmurou como se tivesse tendo algum tipo de alucinação. — Foi ela… 

Dei um leve chacoalhão:

— Calma lá, Elsie. Volta pra cá. 

Ao longe, encarei Rosalya, que nos botava na mira de uma pistola (de onde ela tinha tirado aquela merda?!), ofegante. 

— Ei, ei…! — Coloquei o braço pra frente, com a palma aberta, como se pudesse, de alguma forma, impedi-la de atirar. 

Do outro lado, Rosalya tremia. Por um instante até tive minhas dúvidas se ela era mesmo uma killer e não tinha sido -- sabe-se lá se isso era possível -- enfiada por acaso no jogo. Porque a maioria dos killers que nós tínhamos nos deparado pareciam sempre pouco hesitantes. Tá, não é como se eu, Kentin ou Elsie não sentíssemos ou não tivéssemos sentido medo durante todo aquele tempo. Na verdade, só nós mesmos sabíamos como era acordar no meio de várias noites suando frio, com medo da morte, com a culpa e a dúvida rondando nossas cabeças como pernilongos. Claro que, no fundo, nós sempre tentávamos nos lembrar quais eram nossas motivações; e era isso que nos dava a força pra sobreviver quando parecia impossível continuar carregando todo aquele fardo. Sim, nossas motivações. 

Rosalya estava prestes a atirar; girei o corpo para cima do de Elsie, cobrindo-a num abraço. E com isso, refleti imediatamente: desde quando minhas motivações tinham se perdido? 

Eu tava lá, no meio de toda aquela merda, por causa do Alexy, não foi? Porque eu sabia que um dia ele iria acordar, e eu queria poder dar o melhor pra ele. Era isso, não era? Quando tudo isso tinha desaparecido? Eu me joguei pra morte naquele momento que decidi cobrir Elsie. Foi um pouco impensado, eu confesso. Mas, por quê? 

Não, não. Eu entendi. Minhas motivações não tinham se perdido.

Elas só tinham mudado. 

Senti meu coração batendo muito forte, e olhei pra baixo, pra Elsie inconsciente. Meu sangue bombardeando o corpo todo.

Minha nossa. Minha nossa… Quando isso tinha acontecido?   

O tiro de repente veio. E, oras! Eu já esperava a morte quando deu o estouro, até que senti a sensação de raspado e a queimação no ombro. Voltei pra realidade naquele momento; olhei por cima do ombro: Rosalya, ainda longe, sentada no chão, incrédula com o fato de que não tinha nos acertado, tremendo. 

Cogitei que sua munição tivesse acabado porque ela sequer se mexeu. Reclinei Elsie no chão com cuidado e catei o bastão. 

Todas as vezes que eu partia pra cima de alguém, sempre tinha muito ódio inflamado dentro de mim; o que me dava uma combustão pra atacar, uma esfriada no sangue, sabe? Foi assim desde pequeno, quando os meninos da escola primária zombavam da minha dificuldade com leitura, por exemplo. Ou quando os moleques que tentaram violentar o Alexy em Sweet Amoris, ou com as professoras que tentaram nos atacar uma vez, ou com Lysandre durante a apresentação dos 30 anos do colégio, ou com Castiel... Ah, eu era uma dinamite acesa quando o ódio me atacava. E eu não tinha motivos pra me segurar com nenhum deles. 

Sabe, além das motivações, o que nos mantinha sãos no meio daquilo tudo era tentar justificar que o outro lado também estava tentando nos matar. Mas, naquele momento, vou confessar que era muito difícil sentir ódio de alguém que parece um cachorrinho tremendo de medo.

Sim... agora eu tava vendo como as coisas naquele jogo funcionavam de verdade. Não era mais uma questão de ser só um fantoche movido à adrenalina pra lutar contra um bando de loucos. Haviam escolhas a serem feitas, mesmo que indiretamente. Não era só “mate ou morra”; era também um sofra. E, qualquer que fosse o motivo que levou Shermansky a criar aquele jogo, eu desconfiava que tivesse algo mais haver com isso do que qualquer outra coisa. 

Shermansky -- nós logo iríamos acertar as contas. Eu tava prestes a me considerar um verdadeiro assassino naquele instante e, depois disso, não me importaria de sujar minhas mãos com o sangue daquela filha da puta. 

Já tinha me levantado; estava de frente pra Rosalya, que chorava de olhos fechados enquanto segurava os punhos como se rezasse uma prece. Levantei o bastão de beisebol pro alto como um ceifador. Ouvi, por um segundo, um murmuro, bem, bem baixo:

Leigh, me perdoa.

Foi um baque só. 

O sangue espalhou pelo chão. 

Deixei a cabeça cair pra trás, respirando fundo. Tremendo. Sentindo um revertério no estômago. Meu cronômetro resetou.     

Tinha meus motivos pra sobreviver, mas aquele lugar… eu ia perder minha cabeça logo menos, caso as coisas se estendessem. Já não fazia mais sentido continuar seguindo com aquele joguinho da Shermansky. Talvez nem pra mim; nem pra Elsie.


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