One-shot - Eu escolhi o nada escrita por Annye


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Como uma boa garota dramática, sempre pensei como seria se a Bella demonstrasse o que estava sentindo em Lua Nova.
Levando em conta que absolutamente ninguém poderia saber dos Cullens (até porque ninguém acreditaria), pensei que o jeito seria ela se afogar em sentimentos. E não comprei muito a ideia dela ter ficado catatônica para se proteger.
Então segue minha história infeliz, porém emocionante.
Boa leitura.



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Ninguém nesse universo poderia me compreender. Eu não aguentava mais ficar sufocada em minhas memórias.

Eu queria ser forte. Eu prometi que seria forte e não cometeria besteiras. Mas eu não suportava. Eu era fraca, inútil e desprezível, e não importava o quanto Charlie e Renée tentavam me convencer o contrário. Eu merecia a morte, pois ela era a única que me sorria nesse momento.

Nos últimos meses eu venho planejando uma forma de me reencontrar com ele. No começo, pensei que se eu pensasse em fazer algo perigoso, Alice veria e ele tentaria me impedir. Não deu certo. Eu teria que partir para ação.

Seria muito triste para meu pai que eu me matasse com sua arma. Não era uma punição para ele, e sim para Edward. E embora eu fosse egoísta suficiente para tirar minha vida, eu não era má o bastante para fazer com que meu pai imergisse em culpa por ter facilitado meu acesso a arma do crime.

Depois de semanas oscilando entre misturar medicação e corte nos pulsos, cheguei à conclusão que qualquer que fosse minha escolha, tinha que ser na casa dos Cullen. Seria a concretização de um sonho ver Edward voltar e se deparar com meu corpo inerte por sua causa no chão de sua sala. Ele teria que me segurar nos braços ao menos pela última vez.

Em um dia qualquer, acordei mergulhada em desespero. Meu choro era silencioso, mas minha angústia gritava alto. Eu não suportava mais. Mais uma hora sem Edward, e meu coração pararia de funcionar sozinho. E já que eu tinha que morrer, faria com que ele se arrependesse amargamente por ter me deixado.

Dirigi que nem louca para mansão dos Cullen de madrugada. Meu pai aos roncos, mal notou o ronco ainda mais alto do motor do meu carro. Não teria quem me atrapalhasse. Apenas eu, eu mesma e o ódio misturado com rancor e amor que eu sentia por Edward.

Demorei para achar o local, mas assim que encontrei não hesitei de bater com o trambolho que eu chamava de carro na entrada da porta. Fiquei um pouco machucada com a batida, mas graças ao airbag estava bem o suficiente para sair andando do carro.

Ao entrar na mansão, me deparei com tudo absolutamente intocado. Não havia nenhum vestígio da minha festa de aniversário desastrosa, mas a casa estava a mesma de quando eu ia jogar xadrez com Edward, Alice e Jasper.

Eu senti ódio, Como todos puderam me deixar? Como Edward pode me deixar? Dei um chute na mesa de centro, que se partiu ao meio quando atingiu a parede.

Ao ver o piano, também não me compadeci das teclas de marfim, pisoteei a peça, e depois achei forças para virar o instrumento.

Quebrei cada vaso de cristal, estante de vidro, janelas e eletrônicos daquela sala. E então algo se sobrepujou do ódio que eu sentia por eles: o ódio que eu sentia por mim mesma.

Eu estava aqui, quebrando a casa de alguém que não me amava. Eu queria me matar por isso. Não era apenas infantil. Era doentio. Mas eu não podia ignorar. A depressão dominou minha raiva, e após um grito esganiçado e sofrido, tudo que eu queria era morrer.

Puxei meus cabelos enquanto gritava, e senti alguns pequenos tufos soltarem em meu dedo. Foi absolutamente doloroso, mas senti certo alívio naquela mutilação. A dor física apaziguava a dor psicológica. E naquele momento, eu queria sentir muita dor, apenas para que meu coração não sofresse tanto.

Fui até a cozinha e peguei uma faca de corte. Passei levemente na parte de cima de meu braço e ela rompeu minha pele. Claro, eles nunca tinham usado qualquer utensílio, e aquela faca ainda tinha um fio ótimo. Melhor para mim.

Da cozinha me desloquei até o quarto de Edward. Olhei dentre os CDs, e achei um perfeito. This is the end do The doors, seria minha última música. Coloquei o CD para tocar, enquanto sentava daquele sofá.

Suicídio é um grito desesperado por socorro. Mas não pode ser por qualquer socorro. Quem tem que te socorrer, é a pessoa que te causou o mal. Se meus pais aparecessem ali, eles iriam adiar a facada que me tiraria a vida. Mas não iria solucionar, pois eu já estava morta quando decidi me matar.

Fiz riscos superficiais em minhas coxas com a faca. Eu sempre fui magra, e durante esses dias fiquei ainda mais esquelética e anêmica. Era questão de minutos até que eu tivesse sangrado suficiente para estar morta.

Quando a música chegou numa parte realmente triste e melódica, eu apunhalei a batata da minha perna. Ardeu. Foi doloroso. Lágrimas escorreram do meu rosto, enquanto eu soltei um grito agudo de dor.

Nesse instante pude ouvir um toque de telefone, mas a dor ainda era muito grande para que eu pudesse quiçá pensar em localizar de onde vinha o barulho.

O problema da mutilação é que uma hora o alívio que a dor te proporciona passa, e então você fica na dúvida se você quer sentir a dor física novamente, ou prefere apenas deixar-se dominar pela dor emocional. Não mexi na faca cravada em minha panturrilha, o sangue escorria bem o suficiente, e eu me conhecia bem o suficiente para saber que não suportaria tirá-la dali.

Era estranho o que eu estava sentindo. Eu queria morrer, mas ao mesmo tempo, não queria adiantar as coisas. Minha cabeça zunia, me deixando muito confusa, e acho que meu estômago estava se revirando um pouco.

Em algum momento consegui ouvir o telefone tocando novamente. Fiquei intrigada, pois era mais que óbvio que ninguém teria o telefone dos Cullen, uma vez que Alice via tudo antes que pudesse acontecer, e que a família não tinha nenhum tipo de assunto para tratar com humanos. Então quem ligava para uma casa abandonada há mais de meses?

Primeiramente temi ser meu pai. Eu não sabia quanto tempo tinha partido, mas eu já via pequenos clarões de luz passar pelos vidros. Ainda era madrugada, mas estava quase perto do começo do alvorecer. Charlie teria como encontrar o número dos Cullen com algumas ligações para a companhia telefônica, isso se não cogitar a possibilidade da delegacia estadual de Forks ter o número de absolutamente todos os habitantes da cidade (que não fossem muitos).

Mas esse não era o estilo de Charlie. Ele viria junto com todas as poucas viaturas e ambulâncias da cidade para salvar sua filha indefesa. Como se ele pudesse me salvar de mim mesma.

Depois de sair desses devaneios, percebi que apenas os Cullens poderiam saber seu número telefônico. Até porque, todos (inclusive eu), achávamos que aquela casa estava abandonada. Então apenas quem ainda pagava por uma residência toda mobiliada e com a energia funcionando, poderia saber que o telefone tocaria e que haveria alguém ali para atender.

Quando tentei mover minha perna, a sensação foi horrível. Não poderia me locomover com a parte esquerda do meu corpo. Então fui me arrastando até o corredor, escadas abaixo e cômodo por cômodo, até finalmente achar o aparelho. Entre minha busca, ele parou de tocar várias vezes, mas mesmo assim ele insistia em tentar outra vez. Concluí então que a ligação era obra de Alice.

Respirei fundo, me escorando na bancada de uma pequena sala, e atendi a ligação. Silêncio era tudo que vinha do outro lado.

–– Eu sei que é você, Alice. Passe para Edward agora. –– eu exigi, com a voz alterada, mas ainda mais frágil que costumava ser.

–– Sou eu, Carlisle. Bella, me dê um momento para conversarmos... –– ele começou a dizer gentilmente, mas eu o interrompi.

–– Não! Não quero falar com você. Não quero falar com nenhum de vocês. Apenas Edward. Avise que eu vou finalizar de vez o que estou fazendo aqui, se ele não falar comigo agora! –– mandei ainda mais alterada, gritando em alguns momentos.

Recebi outro silêncio, dessa vez maior e mais desesperador. Estava pronta para fazer mais uma ameaça, quando ouvi um pequeno chiado, avisando que agora eu falaria com outro interlocutor. Algo em mim virou ao contrário, apenas em pensar que finalmente ouviria a voz de Edward após um longo e interminável mês. Mas obviamente, eu estava errada.

–– Isabella, você irá até o sofá descansar. Apenas isso. Sem essas idiotices de “vou me matar”. Aliás, tudo que você está sendo, é uma total e completa idiota! Uma criança mimada e birrenta tem mais noção de vida que você. Ou você pensou que Edward apareceria magicamente assim que você se apunhalasse?! –– a voz de Alice estava cortante e raivosa. Lágrimas começaram a escorrer de meu rosto, ao perceber que ela tinha razão. Mas não era justo. Não depois de tudo que eu estava sofrendo.

–– Vocês me deixaram! Partiram sem se despedir! Me abandonaram sozinha nessa maldita cidade! –– acusei, gritando alto –– Eu morri no momento que vocês me esqueceram, só estou terminando o serviço. –– dessa vez minha voz estava mais controlada, mas a mágoa dentro de mim ardia forte. Podia sentir a faca cravada em meus músculos, pulsando forte, enquanto o sangue escorria e eu ficava cada vez mais fraca. –– Eu vou dar a última chance para vocês, Alice. Não que eu signifique algo para algum Cullen. Mas se vocês ao menos um dia me consideraram um pouco, deixe-me falar com Edward. Se não for assim, prometo que tentarei ao máximo chegar ao além-vida, apenas para atazaná-los pelo resto da eternidade.

Mais silêncio. Meus olhos se encheram de lágrimas de raiva. Eu só queria escutar a voz dele, e nem isso eu podia?

–– Ele não está aqui, Bella. Edward está morando com outra família e... –– desliguei a ligação. Eu só queria ouvir a voz dele, e tudo que ganhei foi mais decepção. Ele tinha largado sua família também. Ele deixou para trás absolutamente tudo que lembrava nós dois.

Tomada pela raiva, me joguei em um único passo em uma poltrona do outro lado da saleta, e arranquei a faca com toda força que eu tinha. Foi difícil, doloroso, e impossível de fazê-lo de uma vez só, então a lâmina cutucou e feriu ainda mais a parte de trás de minha perna. Não importava.

Quando a faca saiu, um jato de sangue escorreu pela parte inferior do meu corpo, chegando até o piso branco. Logo uma pequena poça se formava ali, mas se eu ainda estava reparando nessas pequenas coisas, significava que ainda não era o suficiente.

Eu estava fraca, zonza. Não conseguia raciocinar direito. Mas ainda estava consciente. Ainda sentia a dor do esquecimento. A dor do desprezo. A mágoa. A faca ensanguentada encontrava-se no chão. Eu precisava encontrar forças para abaixar-me e pegar aquela arma. Iria finalizar com tudo de uma vez: uma facada do lado esquerdo do peito.

Aquilo não traria ele de volta. Não faria Edward me amar. Não faria ele lamentar. Provavelmente ele não se lembraria de mim sequer um dia de toda sua vasta eternidade. Eu sabia de tudo isso. Eu era inteligente para ter noção de tudo isso. Mas esse conhecimento não mudava nada. A depressão tinha me engolido de vez, e não importava o quanto eu soubesse que era estúpido, e quanto os outros me dissessem (como Alice acabara de fazer), o sangue derramado até meu fim derradeiro era o único alívio que realmente funcionava.

Me joguei no chão e agarrei a faca. Eu não tinha mais forças, mas não queria mais esperar pela morte.

Ajeitei a faca no lugar de seu último golpe, e tentei forçar que a lâmina entrasse. Mas mesmo largando meu peso sobre a faca, não era suficiente para forçá-la para dentro do meu corpo.

Nesse instante, ouvi a porta abrir-se em um rompante, na outra sala. Tudo aconteceu tão rápido que quase não consegui acompanhar.

Vi o relance de uma cabeça vermelho viva, com fios esvoaçantes. Não tive tempo para pensar o perigo que aquele ser representava, pois logo ela estava ao meu lado.

Victoria me puxou pelo braço, esmagando o osso que ali ficava, fazendo com que eu gritasse de dor e agonia. Não imaginava que ela seria a responsável por minha morte. Internamente, estava aliviada por Edward ter me esquecido; ele nunca ficaria sabendo que a vampira tinha conseguido a vingança. E no fim, embora ela me matasse, jamais cumpriria seu objetivo. Edward não lamentaria minha morte, e não se daria o trabalho de buscar Victoria da forma incansável que ela tentou me buscar para vingar seu companheiro.

–– Ainda bem que estou bem alimentada. Não vou te dar o gosto de virar minha presa. Você merece sofrer pelo resto do pouco tempo que lhe resta, e mordidas com um pouco de veneno não são suficientes. –– ela disse de forma lenta e ameaçadora. Mas aquilo não me assustava. Relaxei em seus braços, sentindo o pulsar do meu braço ferido, minha perna que sangrava e minhas forças se esvaindo por completo. –– Vamos apenas esperar seu namoradinho. –– aquilo deveria significar algo para mim? Porque mediante a dor e cansaço, só queria que ela acabasse logo comigo.

Então a reviravolta final. Alguém chamou por mim. Eu já estava mergulhando na inconsciência, mas eu precisava abrir meus olhos pela última vez, para ter certeza de que fui chamada.

Abri meus olhos e por um milissegundo eu o reconheci. A pele realmente alva, cabelos dourados e olhos escuros. Eu deveria odiá-lo, mas eu não podia. Não ao lembrar do último olhar que ele me lançou. Era como se ele me amasse. Como se ele estivesse assistindo a cena do filme de terror mais assustador de sua vida. Era desespero puro. E então percebi que eu queria olhá-lo para sempre. Mas não pude.

As mãos frias e pequenas na vampira rodearam meu flanco e me esmagaram de uma única vez. Meu fim. Mesmo que eu quisesse muito, não havia salvação. Nenhuma tábua em que me agarrar.

Entre a dor e o nada, eu escolhi o nada.


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Notas finais do capítulo

Pesado. Eu sei.
Espero que vocês tenham gostado.
Bem, eu tenho um capítulo com um final diferente. Isso se tornaria uma rwo-shot, mas se alguém fizer questão de um final feliz, posso até publicá-lo, basta me avisarem.
Espero que tenham gostado. Até a próxima.



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