Kin escrita por Vindalf
Do trono, a saudação:
— Legolas Thranduilion, príncipe do Reino de Mirkwood, seja bem-vindo a Erebor!
O príncipe da floresta se curvou de maneira cerimoniosa:
— Paz e fatura a Erebor são os desejos de Mirkwood.
Eram poucas semanas após a Batalha dos Cinco Exércitos. A reconstrução de Erebor ia a pleno vapor, ao mesmo passo em que Anna se adaptava à vida de Consorte Sob a Montanha. Uma de suas atribuições era negociar com delegações estrangeiras, e este era o motivo de estar recepcionando enviados de Mirkwood.
Mas para Anna, Legolas não era apenas um enviado estrangeiro, e sim um amigo querido. Por isso ela se ergueu do trono e foi até ele, de braços estendidos e sorriso aberto:
— Meu querido amigo. Fico tão feliz em vê-lo. Fez boa viagem?
O elfo sorriu e pegou suas mãos:
— Sim, livre de incidentes. Parece bem, Anna. Como vai a saúde?
— Vou bem, obrigada.
— Trago lembranças de meu pai. Ele lhe deseja saúde e paz.
Anna sorriu:
— Reciproco tais desejos com muito gosto. O rei Thranduil sempre foi cortês para comigo. Lembra-se de Balin? — Eles se cumprimentaram. — Ele vai nos auxiliar a tratar das negociações enquanto Thorin continua a supervisionar as forjas. Ele se unirá a nós mais tarde.
— Pois bem. — Ele apresentou o elfo a seu lado. — Maeben vai nos acompanhar nas tratativas.
— Mas e o resto de sua comitiva? Já estão acomodados?
— São soldados, e preferem acampar ao pé da montanha. A capitã da guarda os acompanhou no acampamento.
Anna garantiu:
— Serão bem-vindos para se hospedarem na montanha, é claro. Mas espero ver todos no banquete desta noite.
Legolas curvou-se, dizendo:
— Transmitirei suas gentis palavras, milady.
— Mestre Dori — pediu Anna, e o khuzd se adiantou —, por favor, leve nossos convidados a seus aposentos e veja para que sejam bem-cuidados.
— Sim, milady.
Com gestos graciosos, os eldar se retiraram. Balin sorriu para Anna.
— Foi muito bem, Senhora Consorte. Estreou bem como embaixadora de Erebor.
Anna confessou, sorrindo:
— Não foi difícil, pois eram conhecidos. Gosto de Legolas. Ele é mais afável que o pai.
— Pode-se ver que ele tem apreço por você. A julgar por sua atitude, parece que não tem má-intenção contra nosso povo.
— E ele já agiu diferentemente?
— Thorin não lhe contou que ele chefiava o grupo que nos capturou na floresta?
— Isso é novidade para mim.
— Bem, deixe-me contar essa história, pequena.
E foi assim que Anna descobriu como Legolas capturara a companhia na floresta e desarmara-os todos. Ao descobrir Orcrist em poder de Thorin, o príncipe élfico chamara seu marido de ladrão e mentiroso, e levara todos presos. Anna confessou estar confusa, e falou, em voz baixa:
— Mas Balin, Legolas foi a razão de eu ter conseguido fugir do reino de seu pai!... Ele ajudou a mim e a Eldrin. Não sei se teríamos conseguido fugir sem a ajuda dele.
Balin assentiu, dizendo em voz baixa:
— Às vezes esqueço os outros fatores entre vocês.
Anna o encarou, alarmada. Embora os elfos a tivessem declarado kin, Thorin preferia que essa knformação não se espalhasse. Afinal, com a desconfiança mútua de eldar e khazâd, essa poderia ser uma causa de enfraquecimento político para o Rei Sob a Montanha. Mais do que isso: seria um fator de desconfiamça nas negociações que estavam sendo realizadas. Os khazâd poderiam suspeitar que a Consorte seria capaz de beneficiar os elfos, se soubessem que ela era kin.
Obviamente, porém, pensou Anna, seu marido tinha falado a verdade para seu conselheiro mais fiel, que também era seu primo. Era natural e compreensível. Eles eram kin entre si.
— Balin — disse Anna, com sinceridade —, eu ainda nem sei direito o que isso quer dizer. Mas espero sinceramente que isso não implique uma escolha. Porque se eu precisar optar entre elfos e anões, espero que não imaginem que eu seja capaz de prejudicar o meu povo, que é o de meu marido e meu filho.
Balin abriu o sorriso, comentando:
— Nem nós, pequena. Nem nós. Agora vamos preparar essa reunião.
Fim
Palavra em Eldarin
eldar = elfos
Palavras em Khuzdul
khazâd = anões
khuzd = anão
Nota excepcional
Quem assistiu à "Desolação de Smaug" com dublagem pode ter perdido uma palavrinha extremamente importante para a próxima fic do universo de "Jornada para Erebor": a palavra é kin. Thorin a usa duas vezes: para xingar Thranduil e seu kin, e para explicar a Kíli que ele tem que ficar na Cidade do Lago. "Não posso arriscar essa expedição por nenhum anão — nem mesmo meu próprio kin".
Normalmente, e o filme não fugiu à regra, a palavra kin é traduzida por "parente" ou "família". Mas o conceito é bem mais abrangente, quase tribal. E também é fluido.
Nas duas ocasiões do filme, descritas acima, tenho certeza que a palavra kin podia ser substituída por palavras diferentes. Para mim, Thorin diz a Kíli que nem mesmo sua família (kin) vai por em risco a expedição. Mas ao xingar Thraduil, estou certa que Thorin se refere não apenas à família do fiho de Oropher, mas também a todos os elfos silvestres de Mirkwood. Na verdade, conhecendo Thorin, tenho quase certeza de que ele teve intenção de xingar todos os elfos da Terra Média.
A palavra kin tem origem num conceito proto-germânico, significando família e raça. Portanto, kin também se refere a comunidade próxima. Em português, cuja língua não tem o mínimo traço (ou conceito) bárbaro, a tradução perde este significado social.
Meu kin são todos os que fazem parte da minha gente, do meu povo, meu grupo. Em Tolkien, o conceito é complexo (como tudo que esse homem faz).
Consideremos Aragorn. Ele considera kin os elfos de Rivendell (que o criaram como família), e a raça dos homens, do qual se originou. Mas, mesmo entre os homens, Aragorn é mais kin de Gondor do que de Rohan. Contudo, ele é kin de todos os da Sociedade do Anel, o que o faz considerar até mesmo seres como Gimli e Pippin como seu kin.
Esse conceito é tão fascinante e central na próxima fic que me fez escrever essa cena. Espero que tenham gostado.
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Continuo trabalhando na segunda parte de "Jornada". Por favor, continuem a ter paciência mais um pouco. Obrigada.