– Ainda acho que eu deveria ter ficado com o Coulson e os outros na base.

Skye olhava pelo retrovisor, encarando a expressão cansada de Jemma Simmons.

– É a décima segunda vez que você fala isso, Skye. – Barton protestou, sem tirar os olhos da estrada.

– E isso, só do posto de gasolina pra cá. - Fitz completou, enquanto atacava um saco de rosquinhas que ele e Jemma tinham comprado na loja de conveniências.

– Jemma? Nada a declarar? – Skye perguntou, já esperando o comentário da amiga.

– O que você quer que eu diga? – A cientista perguntou, corando um pouco.

– Deixa pra lá. – ela deu de ombros, virando-se para pegar uma rosquinha do pacote.

– Olha só, Skye – Barton olhou para ela por um segundo. – Apenas faça de conta que estamos indo recuperar um prisioneiro, sim? Não precisa pensar nele como amigo ou aliado. Pense que ele é uma arma que usaremos ao nosso favor.

– Eu não estou interessada nele, agente Barton, acredite em mim.

– É, eu percebi a sua falta de interesse. – O arqueiro alfinetou com um meio sorriso.

– Eu tô falando sério, tá legal? – ela respondeu irritada, ao som das risadinhas de Simmons e Fitz. – Eu já estou em outra.

– Uau... Garota rápida. Sei como é isso.

– É, pelo visto você sabe sim. Kate me contou muito sobre você. Que, aliás, é outra pessoa que eu estou pensando seriamente em matar.

– Eu?! – Barton olhou para ela assustado.

– A Kate, oras!

– A Kate não fez isso.

– Claro que fez, Barton! Se ela não tivesse feito isso, nós não teríamos mudado todo o protocolo da missão! Pensando bem... Isso tudo é culpa dela. A Harpia correndo perigo, o time se fragmentando, a base desfalcada, essa missão estúpida para resgatar o filho da...

– Uou... – Barton a olhou rapidamente antes de retomar a atenção para o trânsito nas avenidas canadenses. – Vamos nos acalmar aqui, okay? Eu já lidei com coisas piores antes.

– Skye, já estamos perto. – Jemma interrompeu. Sua voz em um doce britânico tentava acalmar os nervos da amiga. – O radar aponta para a próxima rua à direita.

– É. Vamos logo terminar com isso. – Fitz desabafou.

– Gente... – Barton chamava a atenção para os demais. – Aquilo ali na frente parece suspeito pra vocês?

Os semáforos ainda estavam vermelhos quando um homem fugia, atirando pela faixa de pedestres com outros sete correndo atrás dele.

– É o Ward. – Skye confirmou. – Vamos!

– Ei, ei, ei! Espera... O carro! – Barton segurou o braço de Skye que já estava do lado de fora, fechando a porta do carro. – Preciso estacionar em algum lugar se não quisermos chamar mais a atenção por aqui!

– Você estaciona o carro, eu vou atrás dele. Meu GPS tá ligado, Fitz-Simmons podem me rastrear facilmente...

– Mas de jeito nenhum você vai atrás desse maníaco sozinha, tá doida?! – Barton retrucou, com um olhar assustado. – Se você morrer, a May me mata com certeza e daí o Coulson injeta GH-325 em mim, me ressuscita e me mata de novo!

– Barton! – ela segurou uma risada. – Nós vamos perder ele de vista! – ela pronunciava, já carregando a pistola e observando o movimento da avenida.

– Eu assumo! – Simmons saiu do banco do passageiro e empurrou Clint para fora do carro. – E Skye, você não vai atrás do Ward sem reforço. Eu estaciono o carro na próxima curva. Fitz e eu estamos com os rastreadores, podemos alcançar vocês dois num instante.

Skye e Fitz paralisaram boquiabertos por alguns segundos vendo a cientista tomar posse do volante.

– O que foi? – Jemma os acordou, com uma ponta de constrangimento. – Vocês estão perdendo tempo. Vão!

Fitz entregou a aljava ao arqueiro e passou para o banco da frente. Imediatamente, Clint deixou uma flecha no ponto e Skye seguia empunhando uma pistola e com uma ICER no coldre.

– Estamos no caminho certo. – Clint apontou para um dos agentes da H.Y.D.R.A. que estava escondido atrás de um beco. – Eles querem emboscar o cara.

– Não é pra menos. Ward é um mentiroso da pior espécie. – Skye comentou, observando o trajeto dos inimigos com o binóculo.

– É melhor parar de falar assim, ou eu vou pensar que você ainda é apaixonada por ele. – Clint devolveu, enquanto escalava por uma escada de emergência de um prédio. – Minha visão é melhor de cima. Você pega eles no solo.

– Entendido. E ative o seu comunicador. Precisamos dar conta deles, levar o Ward e ficar de olho em Fitz-Simmons.

– Os cientistas estão desarmados?

– Duas ICERs contra sete assassinos treinados? – Skye deu uma dica.

– É melhor ficarmos de olho em Fitz-Simmons. – Barton concordou.

– Eu estou vendo um deles. Está sozinho ao lado de uma ponte antiga.

– Consegue se aproximar sem ser vista?

– Acho que sim.

– Ele é todo seu. – Barton avistou um agente da IMA preparando-se para atirar contra Ward. – Já encontrei meu primeiro alvo.

– Então é isso... Vamos lá!

Barton atirou uma flecha certeira no peito do agente que caiu de joelhos, caindo de costas sobre um caixote de madeira.

– Menos um. – ele indicou.

– Menos dois. – Barton ouviu o baque seco da pistola, e o som da respiração pesada de Skye. – Faltam cinco.

– Cuidado, Skye! Estou avistando uma movimentação estranha atrás...

– Procurando alguma coisa?

Skye ouviu uma voz atrás de si e abaixou-se antes de virar para ver quem era, bem a tempo de escapar do tiro que pegou de raspão no seu ombro esquerdo.

– Prometo não errar dessa vez. – O agente apontou a arma para ela.

– Não terá próxima vez.

Skye chutou a mão dele violentamente, fazendo-o atirar sobre o concreto da ponte acima deles. Ele avançou para cima dela e Skye torceu a outra mão dele, no momento em que ele tentava acertar um soco em seu rosto. O homem caiu no chão de dor, mas deu uma rasteira que a derrubou no chão.

– Não tão rápido, mocinha.

O agente partiu para cima dela, deveria ter no mínimo o dobro do peso de Skye. Quando ele estava apertando o pescoço dela, Skye lembrou-se da ICER e a empunhou rapidamente, atirando contra a barriga dele. O homem desmaiou sobre ela e Skye empurrou o corpo dele para o lado, com uma expressão de nojo.

– Eca. – ela passou as mãos no rosto e na sua roupa, só agora percebendo que o ombro estava sangrando. – Menos três.

– Você tá legal?

– Estou bem. Só vou precisar de uns pontinhos mais tarde.

– Só vou derrubar mais um cara e te encontro no mesmo prédio em que eu subi. Não vou te deixar só.

– Barton, eu dou conta. Não precisa ficar de babá.

– Mas o Coulson me pediu pra tomar conta de você antes de sairmos. E a May fez o mesmo, só que de um jeito mais ameaçador.

– Tá legal. – ela suspirou, derrotada. – Estou indo te encontrar aí.

– Skye? Barton? – A voz de Jemma apareceu na conversa. – Onde vocês estão?

– Nos encontrem em frente ao prédio antigo na rua principal. Aquele com uma floricultura do lado, uma parede de tijolos artesanais...

– Ah! Eu sei qual é. Passamos por ele na volta, agente Barton. – Fitz respondeu.

– Okay, estamos indo. – Skye respondeu, descendo a rua com cautela.

Skye já estava atravessando a praça, em direção ao prédio quando sentiu algo tapando sua boca de repente. Por instinto, a garota sacou sua arma e a segurou firme, esperando que o sujeito se revelasse.

– Fique quieta. – Ward cochichou, enquanto desativava a escuta que ela usava.

Ao reconhecer a voz, Skye mordeu os dedos de Ward e virou-se para ele violentamente, observando-o apertar a mão com a dor que sentia.

– Tire suas mãos de mim, desgraçado.

– Ai... Não precisava disso, eu não ia te machucar.

– Eu sei que não ia. – Skye sorriu com sarcasmo, cruzando os braços. – Mas não podia deixar passar.

– Olha, Skye... Eu sei o que você está pensando, mas não é nada...

– Relaxa, Ward. – ela disse, com seu tom mais irônico. – Por incrível que pareça, estamos numa missão de extração. E você é o pacote.

– Vocês vieram me salvar?

– Não. “Salvar” é uma palavra muito bonita. Nós viemos pegar nosso trunfo de volta. Coulson e Harpia acham que você pode ser últil. Bem, eu já acho que poderíamos despachar o seu corpo para uma vala qualquer.

– Skye, não faça uma loucura. – ele levantou as duas mãos, temendo que ela sacasse a pistola verdadeira. – Eu juro que tentei ajudar depois de tudo... Era o mínimo que podia fazer.

– Eu não duvido disso. – ela respondeu séria, aproximando-se dele com a cabeça erguida. – Mas você mentiu para mim. Você machucou a May, mesmo que ela nunca consiga admitir. Você fez com que ela acreditasse em você. Você a fez pensar que estávamos seguros, quando na verdade, você nos colocou em perigo... Consegue imaginar quantas vezes eu ouvi a May acordar no meio da noite? E depois ela aparecia na porta do meu quarto porque havia sonhado que você tinha voltado pra tentar me machucar? Ela se sentiu culpada, Ward. E isso... Isso me faz querer matar você.

– Eu sinto muito, Skye. – ele a encarava com um semblante de culpa. – Eu sei que o que eu fiz é imperdoável... Mas eu consegui enganá-los. Minhas intenções eram boas. Ia leva-los até a base Providence, e...

– Já sei disso tudo. Só precisamos levar você de volta.

– Skye, o que tá havendo? – Barton aproximava-se dela, e não viu que Ward estava atrás de uma torre na praça. – Seu comunicador parou de repente...

Fitz-Simmons e Clint Barton pararam logo ao perceber que Ward estava com ela.

– Entendi tudo agora. – Barton pronunciou, tomando a frente de Skye. – Você não a machucou, machucou?

– É bom ver você de novo, Barton. – Ward pronunciou com um sorriso sarcástico.

– Skye, seu ombro está sangrando. – Jemma percebeu e aproximou-se da amiga, encarando Grant Ward em seguida. – Você não foi o responsável por isso, foi?

– Eu nunca machucaria Skye.

– Oh, claro que não! E como você chama aquilo que o seu querido O.S. mandou que Quinn fizesse com ela? Cócegas?

– Jemma, não. – Fitz a segurou pelo braço, vendo que Jemma já se aproximava com violência de Ward.

– Eu não vou entrar no carro com ele assim.

Simmons sacou sua ICER e deu dois disparos no peito de Ward, que caiu para o lado na grama, sob os olhares assustados dos outros membros da equipe.

– Uau! – Skye virou-se para Jemma de boca aberta. – O que raios você tem hoje?

– Não sei. – Jemma guardou a ICER na bolsa que trazia. – Acho que essa missão despertou o meu lado Skye. – ela sorriu.

– Nunca senti tanto orgulho na vida! – Skye a abraçou e percebeu que o ombro doía ao fazer aquele movimento.

– Agora vamos para o carro. – Barton anunciou, olhando para os lados. – Derrubamos quatro deles, mas os outros três estão por aí. Se perceberem que levamos a presa deles, nós seremos o prêmio de consolação.

– Vamos, eu cuido do seu ombro no carro.

– Meio com o kit médico? – Skye perguntou, nada surpresa. – Claro que veio, é você.

– Agradeça por isso, sua linguaruda! – Jemma andava de braço dado com amiga. – Isso pode infeccionar se não for tratado rapidamente.

– Nossa, que medo.

– Ei, vocês... – Clint trazia um Ward desacordado com a ajuda de Fitz. – Vocês acham que podemos coloca-lo no porta-malas?

– E onde mais você estava achando que ele ia ficar? São horas de viagem! Ainda recomendo que o algemem com criptonita ou algo do tipo. – Skye recomendou. – Dentro do carro mesmo ele não vai ficar. Provavelmente, Jemma vai me dar um sedativo e eu voltarei dormindo no banco de trás.

– Ótimo. Porta-malas, então.

Todos caíram na risada enquanto amarravam o homem desacordado e o colocavam no porta-malas. Barton deu mais um tiro contra Grant, esperando que isso o fizesse dormir por mais um bom tempo, e seguiram a longa viagem de volta para a base Playground.