*Catarina

Já estava de tarde, e eu e Clarice tínhamos acabado de sair da sala. Nossa aula acaba por volta das três, e nós tínhamos o resto do dia livres. A não ser Annie, que passava o resto da tarde trabalhando, tadinha. Eu, Serena e Clarice passamos a tarde conversando e rindo das besteiras da aula. Ficamos comendo pipoca deitadas na cama, até por volta das cinco e meia, quando a Luize e a Jennifer, que por sinal estão super amigas chegaram e aí eu decidi dar uma volta. Estava um entardecer lindo. Um belo por do sol, eu me sentei em um banco, peguei um livro da bola, e comecei a ler. O chafariz estava ligado com um som bem calmo. Fechei o livro e fui até a cantina da IGF as cinco cadeiras brancas com sombrinha que ficavam debaixo do sol quente estavam lotadas. Quase levei meu pão de queijo para comer no quarto, mas então, notei que em uma das mesas, o Philip, o irmão do Léo, sentado com um livro nas mãos. Eu realmente não queria comer no quarto. E, além disso, por que não puxar um assunto com o novo aluno?

–Oi, Philip. Como vai? –perguntei chegando perto dele.

–Você é a famosa Catarina?

–Como você sabe?

–O Léo ficava uma hora no telefone só pra descrever o quanto você estava incrível. Vocês ficam bem juntos.

–Ficávamos. Você não o viu com a Megan, hoje?

–Megan? Ele nunca me falou dela.

–Então vocês não conversam faz tempo.

–Na verdade, conversávamos toda noite, até ontem.

–Que estranho ele não ter te contado.

–Verdade. Vai ver ele não gostou tanto dela, e não achou necessário me contar. Sente-se.

Sentei-me, e ele fechou o livro sorrindo.

–E então? Por que está aqui sozinho? Não fez muitas amizades? –perguntei.

–Na verdade não, é como se todos me olhassem, mas tivessem vergonha de falar comigo. Eu fiz algo errado?

–Não. Na verdade isso é estranho, já que... Normalmente o pessoal aqui faz amizades no primeiro minuto.

–Pois é... Mas não foi bem isso que aconteceu.

–Olha, deixa eu ver... Ah... Talvez seja porque você é filho da diretora.

–Mas o Léo também é, e fez muitas amizades no primeiro dia de aula.

–Mas foi o primeiro dia de todo mundo, e você chegou bem depois.

–Não precisa mentir pra eu me sentir melhor.

–Ta, então... Pode ser porque você é certinho demais. Está sempre arrumado, não come no refeitório, e sim com a diretora, tira boas notas, e veio da Inglaterra.

–É... Ser inglês afasta as pessoas... –ele disse, me fazendo rir.

–E... Também... Acho que sei outro motivo dos olhares femininos.

–Como assim?

–Hoje mesmo, me falaram diversas vezes o quanto você era lindo, mas elas ficaram desapontadas com a sua política de namoro na escola.

–Eu tenho medo desse “namoro” levar a situações complicadas.

–Ah... Em menos de três meses já aconteceu de tudo aqui, e mesmo assim, ninguém desistiu de namorar.

–Ok, mas eu duvido que algo tenha sido tão complicado como com o que eu passei.

–Minha amiga pegou o namorado na moita com outra, e depois descobriu que o melhor amigo estava fingindo namorar a melhor amiga dela para lhe causar ciúmes.

–Isso é bem ruim... Mas... O meu caso é diferente. Mas, não me sinto muito a vontade para falar.

–Tudo bem. Por enquanto, esse será o mistério de Philip.

–Ok. –ele falou sorridente.

–Você é bem legal. Não me parece ser um menino tão certinho a ponto de ser chato trocar algumas palavras.

–Está me chamando de suportável?

–É melhor do que insuportável. –eu falei, lhe fazendo rir.

–Como é estudar aqui na IGF? –ele perguntou, ajeitando o cabelo loiro. –É que aqui é tudo muito liberal em comparação a Inglaterra.

–Ah, é bem legal. Tem muita gente bacana, com quem eu fico conversando, vendo filmes, séries, e até lendo junto. Tem a Luize, que é uma aluna nova, que namora um amigo de infância da minha melhor amiga, Annie, que ta trabalhando agora. Ela adora música bem alta, é engraçada e divertida. Tem a Clarice, que é toda fofinha e legal, e a Serena, que ama esportes e é uma ótima conselheira. Tem a Jennifer, que é super irônica. Tem o Lucas, que é muito inteligente, o Léo que é claro... Você conhece. Ah desculpa falar feito metralhadora. Se você quiser que eu pare, eu paro.

–Bom, eu é que não quero conhecer o seu lado mal. Se bem que... Tenho certeza que ele não existe. –minhas bochechas rosaram, e então ele mudou de assunto. -Sabe, você é a única pessoa fora da minha família com quem eu conversei aqui.

–Jura?

–Pode apostar.

–Acho que é porque você passou uma impressão errada. Do menino que só fala palavras que a gente não entende, e que é como um professor adolescente.

–E você acha isso?

–Não. Na verdade você é bem legal.

–Eu não era suportável?

–E é. – eu disse, lhe fazendo rir de novo.

Seus olhos azuis brilhavam como dois oceanos.

–Você é igualzinha às descrições do Léo.

–E quais eram as descrições do Léo?

–Bem... “A Catarina é uma menina espontânea, extrovertida, simpática, aberta, e ótima amiga. Daquelas que você não consegue ficar um minuto longe. E a sua voz é tão doce, que você não pode nem a imaginar cantando. Isso sem contar... Que ela é linda.”

–Duvido que o Léo tenha dito isso tudo.

–Por que não? Até onde eu sei é tudo verdade.

Fiz um sorriso leve, mas era óbvio que eu estava envergonhada e que mais uma vez, minhas bochechas estavam rosa.

–Preciso ir. Já está tarde. Minha mãe me espera. –ele falou em pé.

–Você está em que quarto?

–Estou com a minha mãe, no andar dos professores. Já que o Léo não quis.

–Talvez você pudesse repensar. Quem sabe não se enturma?

–Pode ser, de qualquer forma, boa noite Catarina.

–Boa noite Philip.

Ele sorriu e saiu de perto. Ele era encantador. Mas Catarina! Ele não namora ninguém da escola! E ELE É IRMÃO DO LÉO!