Cigarettes escrita por Laris


Capítulo 5
IV - Bonitinha demais para isso


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez o capítulo veio mais rápido, então boa leitura pra vocês.



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A voz maravilhosa de Danny Jones ecoava pelo fone de ouvido enquanto eu virava mais uma página do livro gigante de Sociologia. A minha vontade de estudar continuava nula, assim como a coragem para retornar as incontáveis ligações da Sra. Mathison naquele momento.

Desviei a atenção das páginas brancas cheias de letrinhas minúsculas, e encarei a loira que estava deitada na outra ponta do nosso sofá. Diane descansava a cabeça sobre o braço, aparentando estar tão irritada e desconfortável com aquela situação quanto eu.

– É por isso que eu odeio líderes de torcida. – ela resmungou quando um novo gemido feminino extremamente irritante veio de dentro do quarto de Luke. – Desculpe por isso, Heather.

– Tudo bem. – dei de ombros. Não que a idéia de passar o resto da tarde ouvindo aquela cadela no cio gemer me agradasse, mas Diane realmente parecia estar chegando no limite da sua paciência e, eu ainda temia pelo que poderia acontecer assim que espírito de assassina dela fosse libertado.

Encontrar um conjunto de roupas íntimas e um minúsculo uniforme da equipe de torcida largados no meio da nossa sala fedorenta após mais um dia estressante de aulas com certeza não estava nos nossos planos de hoje.

– O que vocês estão fazendo aqui?

Olhei para trás assustada, me deparando com a outra criatura irritante que vivia debaixo do mesmo teto que eu. Christopher Wright.

– Caso não se lembre, nós também moramos aqui. – respondi. Diane cerrou os olhos verdes e arqueou a sobrancelha, percebendo o estranho clima entre nós.

– Certo. – ela pigarreou alguns segundos depois, assumindo uma postura bem mais rígida. – O que aconteceu dessa vez?

Arranquei o outro lado do fone e mirei o cara parado a alguns passos de distância.

– Ele desligou a resistência do chuveiro outra vez. – acusei.

– Eu gosto de tomar banho frio. – ele deu de ombros, tentando se justificar.

– Ninguém gosta de tomar banho frio no inverno, Christopher. – cruzei os braços, começando a bufar de raiva.

– Talvez eu seja a exceção. – ele revirou os olhos. – E a culpa não é minha se você não cresceu o suficiente.

– Como é? – retruquei, enfurecida.

Diane balançou a cabeça negativamente e respirou fundo. Alguém precisava manter a calma ali, e obviamente não seria nenhum de nós.

– Se o problema é apenas esse, nós podemos mudar a ordem do banho de manhã. – ela interveio, usando o mesmo tom de voz que se usa para explicar algo a crianças idiotas. – Luke primeiro, Christopher depois, eu e você em seguida. Está bem?

Assenti a contragosto e a loira sorriu um pouco aliviada. De todas as regras de convivência do nosso alojamento, essa com certeza era a que eu mais odiava. Calouros sempre por último.

– Tanto faz. – Christopher murmurou, largando a mochila surrada em qualquer canto perto da porta. – Que merda é essa? – ele perguntou, arregalando os olhos assustado e encarando as peças de roupa.

– Luke. – a loira se limitou a responder. – Podemos dar o fora daqui logo e ir comer comida de verdade?

Meu estômago instantaneamente deu sinal de vida, produzindo um ruído tão alto e constrangedor que fez até Christopher desmanchar aquela expressão azeda e rir da situação. Sua risada era bastante agradável, do tipo que me fazia querer ouvir mais vezes.

Guardei o resto de dinheiro que tinha me sobrado dentro de um dos bolsos do meu moletom lilás, junto com o celular e por via das dúvidas, a minha chave de casa.

– Só espero que eles não estejam usando a minha cama. – Christopher reclamou, enojado.

O lugar onde nós pretendíamos almoçar era mais uma daquelas pequenas lanchonetes de esquina estilo anos 50 que serviam deliciosos hambúrgueres gordurosos sempre acompanhados de copos gigantes de milk-shake de morango.

O cheiro maravilhoso de queijo sendo derretido na chapa invadiu as minhas narinas assim que Christopher empurrou as portas enferrujadas do estabelecimento, balançando o pequeno sino de metal que estava pendurado ali.

Depois de quase uma semana sobrevivendo à comida tóxica da minha colega de quarto e a do refeitório da faculdade, eu não via a hora de finalmente poder engolir algo comestível.

– Isso aqui não muda. – Diane comentou enquanto nós ocupávamos os lugares vagos de uma das mesas próximas à janela.

Comecei a folhear um dos cardápios plastificados que estavam ali em cima, procurando pelo maior sanduíche que eu conseguisse comer. Diane continuava tagarelando sobre o quanto ela em gostava de almoçar aqui no seu primeiro ano, época em que a faculdade de medicina ainda não tinha começado a sugar toda a sua vida social e disposição.– Diane. – Christopher chamou, interrompendo aquele monólogo chato. – Aquele não é o Mason? – ele questionou, apontando discretamente o polegar na direção do cara pálido de olhos extremamente azuis que estava sentado sozinho do outro lado da lanchonete meio vazia.

Observei ela morder o lábio inferior, nitidamente envergonhada, ao invés de responder a pergunta de Christopher.

– Vai lá falar com ele. – sugeriu.

– Ele parece ocupado. – ela disse em um murmúrio.

– Ele é perfeitamente capaz de comer e te escutar ao mesmo tempo. – Christopher tentou mais uma vez.

– Anda logo. – eu resmunguei cansada daquela troca de olhares idiota. Era mais do que óbvio o quanto ela queria ir até ele.

Descansei o rosto na mão, esperando Diane terminar a sua luta interna.

– Eu já volto. – respondeu baixinho antes de levantar da nossa mesa.

O tal Mason abriu um pequeno sorriso inseguro quando a minha amiga loira se aproximou. Diane correu os dedos pelos fios curtos e platinados, correspondendo o gesto dele.

– Para de encarar. – Christopher me repreendeu em um sussurro.

Ergui o rosto, tirando os olhos de cima do casal que agora conversava timidamente, e mirei ele. Christopher mantinha os cotovelos apoiados sobre a mesa enquanto digitava algo no celular.

– Eu não estava encarando. – ele riu do meu tom agressivo.

– Claro que não. – Christopher fez uma careta sugestiva.

Uma garçonete morena saiu de trás do balcão de madeira, balançando um bloquinho de notas em uma das mãos, e se aproximou de nós. Além de ser extremamente curto e apertado, o uniforme rosa que ela estava vestindo mostrava boa parte das suas pernas bronzeadas.

– Já decidiram o que vão pedir? – ela perguntou, olhando especificamente para mim.

– Um número cinco com uma porção média de batatas e um milk-shake de morango.

– Certo. – ela anotou tudo rapidamente no papel e depois fuzilou Christopher como se ele fosse algum tipo de bicho nojento que tinha fugido do esgoto. – E você?

– O mesmo que ela. – ele respondeu, parecendo tão irritado quanto a garçonete.

A garota resmungou alguma coisa ininteligível e saiu rebolando de volta para a cozinha.

– Sua amiga? – perguntei, irônica.

Ele balançou a cabeça, rindo outra vez daquele jeito agradável.

– Sarcasmo não combina com você. – arqueei as sobrancelhas, ficando surpresa com o seu comentário.

– Por que não?

– Você é bonitinha demais para isso.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todo os lindos que comentaram no capítulo passado, sério. Eu vou responder vocês daqui a pouco, prometo.
O capítulo foi revisado, mas se acharem qualquer erro grave é só avisar. Queridos leitores fantasmas que acompanham e favoritaram a fanfic, apareçam por aqui, por favor. Não custa nada vocês comentarem e isso me ajuda a continuar.
Acho que é só, até o próximo capítulo gente.
Beijos