Caí.

Cai, aí. Cai aí todos os pensamentos

todos os desapontamentos, tudo.

Que será de nós amanhã?

Que pensará, o eu mais velho, sobre o que terei me tornado?

Que deves pensar, o eu mais jovem, do que sou hoje?

Caminho, sigo

o caminho.

Mergulho num túnel espaço-tempo;

equilibro-me numa corda bamba,

o vento quase me derruba, mantenho-me quase muda.

Que dirá, o eu mais velho, caso eu caia de volta ao passado?

Que dirá, o eu mais jovem, caso eu caia lá no futuro?

Que dirá, meus dois eu's, caso eu caia no abismo espaço-tempo?

Coragem!

Que há de temer ao cruzar o contínuo espaço tempo?

Caminho,

continuo cruzando o caminho.

O vento volta a arrepiar.

Congelante, e também aliviante.

Arrisco-me a dar uma boa olhada no que me aguarda, lá em baixo.

Que achará, o eu mais velho, de eu ter olhado antes de chegar?

Que achará, o eu mais jovem, de toda essa covardia?

Levanto a cabeça, como um raio.

Infinidades de sons ensurdecem-me de uma só vez.

Tudo roda, tudo cai.

Cai. Cairá ali, os pensamentos;

viajantes do contínuo espaço-tempo, tudo.

Que sentirá, o eu mais velho, quando eu chegar lá voando?

Que sentirá, o eu mais jovem, por tê-lo abandonado assim, tão subitamente?

Pulo.

Pulo, mas não caio.

Voo no abismo espaço-tempo,

enquanto cai os maus pensamentos.