POV. Ally

Depois de quase ter desarrumado meu armário atrás de uma boa roupa (que eu já tinha escolhido mas quis mudar por que o modelo não ficou bem em mim) e ter corrido por todos os lados do meu (lindo) quarto procurando perfumes, cremes, maquiagens e meu pente de cabelo, finalmente fiquei pronta. Eu estava agora vestindo uma blusa rosa com estampa florida, uma calça jeans azul, uma sapatilha neutra bem clara e meu cabelo estava solto, não carreguei muito minha maquiagem, parecia que eu quase não tinha nada em meu rosto, estava bem básico, fui dar uma última olhada no meu espelho, assim eu aproveitava para dar uns retoques e algumas pequenas ajeitadas no meu look, eu me sentia confortável e obviamente simples, mas, mesmo assim, eu me sentia bonita.

Já estava quase na hora do Dez chegar e eu estava realmente ansiosa pelo nosso maravilhoso passeio. Desci as escadas e vi meu pai sentado no sofá assistindo ao jogo dos Broncos.

Ele me olhou.

– Onde pensa que vai assim?

– Assim como? – perguntei frente a ele –

–Assim... tão arrumada?! – ele me olhou sério e eu dei um pequeno sorriso –

– Vou passear com o vizinho...

– Hã? Passear com o vizinho?

– Tá, vou ser mais específica pai, sabe aquele garoto que você me falou hoje de manhã? O vizinho... você comentou que ele estudava na minha nova escola, lembra?

– O Dez?!

– Sim, ele! Quando eu fui colocar o lixo lá fora, me encontrei com ele e ele percebeu que eu era nova na cidade, então veio falar comigo, ele disse que, se eu quisesse, ele podia me levar para passear em alguns lugares de Miami e que também podia me mostrar a escola na segunda-feira... acho que para que eu não ficasse tão perdida aqui enquanto não conheço nada... e eu aceitei! – sorri novamente –

– É seu primeiro dia e você já tem um encontro Ally?????

– Não é bem um encontro... nem é um encontro, é só um passeio simples pela cidade... nada demais...

– Onde vocês vão?

– Não sei, ele não me falou isso...

– Que horas você volta?

– Não vou demorar não pai, don’t worry! – pisquei para ele que continuava a me olhar sério –

Quase que não tive como terminar minha última frase, logo em seguida a campainha tocou. Aproximei-me da porta e me senti gelar por um instante, eu sabia bem quem era. Quando abri a porta me deparei com um ruivo alto sorrindo para mim, ele estava com uma blusa azul estampada com um desenho de uma torta escrito “I eat pie”, por baixo de sua blusa estava com uma blusa social xadrez (por incrível que pareça por que, pelo menos eu, nunca vi camisa social xadrez), estava com uma calça amarela e um All Star verde, ou seja, estava bem colorido.

– Olá! – ele disse me olhando dos pés à cabeça –

– Oi... – fiz o mesmo que ele, o olhei por inteiro, mas, dessa vez, não sei como eu não havia corado... acho que sua roupa não me agradava muito –

– Está simples! – ele disse, já sem seu sorriso no rosto –

– E isso é ruim? – fechei, agora, meu sorriso –

– Não muito...

– Como assim “não muito”?

– Sabe, é que... eu não sou muito chegado à roupas simples e delicadas, eu gosto de brincar com as cores! – ele deu um sorriso de canto –

– Então você se veste SEMPRE assim? – senti meus olhos “crescerem” –

– Sempre! Mas você não esta tão ruim, até que simples e delicado cai bem em você! – ele mantinha seu sorriso –

– Certo então... obrigada?! – sorri mas claro que com um tom de enorme falsidade –

– Vamos? – ele me chamou, virou as costas e saiu andando, eu achei que ele, além de tudo, poderia ser mais romântico ou cavalheiro, o que definitivamente não aconteceu, ele parou e me esperou na frente da minha casa, não muito contente mas ainda com um sorriso no rosto eu tinha esperança de que o dia (ou o passeio por completo) podia melhorar, caminhei até ele. –

POV. Dez

Eu e Ally entramos no carro, que, a propósito era novinho, além de mim, Ally era a primeira pessoa que andava nele. Meus pais haviam me dado de presente de 17 anos, ele era preto e bem aconchegante, era uma BMW e eu, sinceramente, o achava lindo, maravilhoso, perfeito, até apelidei ele de Lucius. Ele era meu xodó!

Liguei o rádio e iniciei meu passeio com a Ally.

– Posso mudar de estação? – perguntou ela –

– Ah... eu gosto dessa rádio, toca umas óperas bem legais! – neguei seu pedido sorrindo, tentando ser o mais sensível possível –

– Ópera? Você gosta de ópera?

– Na maioria das vezes é o que eu ouço...

– Você não curte um som mais pop rock?

– Tipo o que?

– Tipo... Justin Timberlake? Justin Bieber? Miley Cyrus? Demi Lovato? Rihanna? Shakira? The Dante? Selena Gomez?

– Isso aí é muito pop, não gosto… - falei percebendo que ela abriu a boca como se estivesse surpresa –

– E R5? Gosta?

– Gosto! Desses aí eu até gosto! – sorri –

– Eu também! É minha banda favorita!

– Isso é um bom sinal! Você tem um pouco de bom gosto!

– Tá certo... “um pouco”... tá bom então... – percebi que ela ficou um pouco emburrada mas nem liguei, já já ela melhora...-

Um silêncio tomou conta do carro e tudo o que se ouvia agora era o doce som da ópera que tocava no rádio, era uma das minhas favoritas, mas preferi não cantar.

Primeiro mostrei para Ally uma das praias de Miami que não ficava muito longe, dava uns 15 minutos de carro.

– Essa praia é uma das mais calmas daqui, nunca é tão movimentada, não tem lixo nenhum, nem barulho, nem pessoas... nunca tem, é realmente tranquilo, tudo o que se ouve são as ondas do mar e as folhas das árvores... venho aqui quando não estou bem, daí eu sento na areia, ligo meu rádio e descanso... quando me acalmo, volto para casa. É ótimo aqui...

– Deve ser bom de ler um livro no fim de tarde...

– Tenha certeza de que é...

Não quis sair do carro por pura preguiça então Ally observou a praia apenas da janela mas e daí? Ela ia morar aqui mesmo, não é? Provavelmente ela terá tempo para conhecer.

Depois a levei para uma das melhores avenidas da cidade.

– Aqui tem os melhores restaurantes, e mais caros também... – haviam restaurantes, lojas e lanchonetes por todos os lados e logo à frente o enorme Shopping de Miami, o Miami’s Mall. – Aquele shopping é rico, quer dizer, só quem pode frequenta ele... normal, a maioria das pessoas aqui tem ótimo estado financeiro!

– Então... só tem rico aqui?

– Uma grande parte sim! Miami não é cidade para qualquer um!

– Você é rico? – ela me encarou –

– Eu não, meus pais sim! Não são os mais ricos, claro, mas ainda sim são...

– O que sua mãe faz?

– Ela atualmente é advogada, mas já foi nutricionista, escritora, médica e empresária, ela tem várias faculdades.

– Nossa... – Vi Ally abrir a boca como se não acreditasse nisso, mas sim, era verdade, minha mãe era ótima – caramba... e seu pai?

– Ele tem uma empresa, mas já foi advogado, foi assim que conheceu minha mãe.

– Mas e você, o que quer fazer?

– Quero ser diretor, trabalhar com filmes, programas, séries, seriados, propagandas, o que seja, desde que eu possa ser diretor! E você?

– Pra falar a verdade não sei bem, não tenho pensado muito nisso...

– Como consegue? Acho tão estanho pessoas que não pensam no futuro, não fazem planos, não escolhem profissões como opção futura...

– Cada um tem seu jeito e seu tempo, não é?

– Isso não faz com que não seja ou não pareça estranho!

– Você acha que só você é sempre certo? – percebi um certo tom de arrogância na voz da Ally ao falar essa frase, mas não me importei com isso –

– Não né? Não quero ser certo, quero ser esperto, mas isso eu já sou! – sorri de canto –

Percorri toda a avenida mostrando algumas lojas e restaurantes bem movimentados, os que as pessoas de Miami mais frequentavam, ela olhava cada lugar, cada detalhe, mas ficava em silêncio.

Depois a levei para um parque que ficava perto da praia, mas, dessa vez, Ally não me fez nenhuma pergunta, de novo senti preguiça de descer então permanecemos no carro.

– É um parque normal, não tem muita coisa, as pessoas vem aqui para fazer pic-nic em família, andar de bicicleta, skate, correr, jogar bola, ler, estudar... lá dentro, no meio do parque tem um lago e vários bancos em volta, lá as pessoas sentam para relaxar, mexem no celular, iPads, ouvem musicas... apesar de ter muita gente é bem calmo, às vezes até aparecem uns esquilos pelas árvores... é bom, muito bom.

– Deve ser bom de ler um livro no fim de tarde...

– Mas será que você só pensa em ler? Parece a Adrione!

– Quem é Adrione? – ela me encarou, quase sempre fazia isso quando me perguntava alguma coisa, o que eu odiava! Não me sinto confortável sendo encarado, acho que ninguém se sente –

– A Adrione, de Holly Peter!

– Holly Peter? Não conheço...

– Aquela saga da J.L. Rokline! Holly Peter! Tem 1 menina, a Adrione, o Holly Peter e o Brone Wisly! Nunca assistiu esse filme?

– Se você refere à Harry Potter, Hermione Granger e Rony Wesley eu conheço! O nome da saga é Harry Potter da escritora J.K. Rowling! – ela me corrigiu –

– E quem se importa? Harry Potter é chato! Não fala nada, não ensina, não é um bom filme!

– Eu me importo e eu amo Harry Potter! É minha saga favorita! Para um cara que quer dirigir filmes e trabalhar com cinegrafia, você não observa bem ou não entende alguns filmes, não é? – ela me pareceu grossa, mas eu ainda não ligava para isso, o que eu conhecia dela já me fazia pensar que ela era uma total estranha, até por que eu tinha conhecido ela ainda hoje. –

– Na verdade, eu observo e entende até demais, esse o principal motivo da minha opinião sobre Harry Potter!

Falei sinceramente, mesmo percebendo que ela estava ficando brava, mas eu decidi me calar, eu não queria deixa-la nervosa logo no seu primeiro dia. Não falei mais muita coisa depois disso, apenas apresentei mais alguns lugares para Ally.

POV. Ally

Estão pensando o mesmo que eu? Dez realmente não era como eu imaginava, ele podia até ser bonitinho sim, era sincero, até demais (coisa que não me agradava de nenhuma forma), se vestia bem (mal) e ele era muito colorido, não vou mentir, ele era estranho o bastante pra mim e aparentemente o único daquela cidade assim, ele gostava de óperas (nem minha avó ouve mais ópera!) e ligava muito para money, o que era chato de todos os jeitos, ele queria sempre opinar sobre qualquer coisa e isso me deixava frustrada!

Pelo que conheci dele (o que me parecia muito) ainda não podia falar nada em relação à isso, eu não o conhecia totalmente bem, ele pode ter pontos bons e muito legais também, acho que por enquanto é a única coisa que posso dizer.

Então, claro que, não é por que ele é o primeiro cara que eu conheci aqui, que eu achei bonito (um pouco agora né? Depois de hoje posso dizer também que a “beleza” dele diminuiu pra mim) e que tomou uma iniciativa gentil que eu tenha que gostar ou esteja gostando dele, até por que ele não fazia meu tipo de garoto de jeito NENHUM!

Ele me levou em alguns lugares mas ainda sim a cidade parecia bem maior com muito mais lugares para conhecer, sem contar que nem do carro a gente saiu, né? Enfim, no fim da tarde chegamos em casa, ele me deixou bem na porta (claro, a casa dele ficava bem do lado), saí do carro e balancei minha mão com um sorriso no rosto (bem falso) em sinal de “tchau”, abri a porta e entrei em casa, meu pai não estava lá, olhei em todos os cantos mas não o vi em lugar algum, subi as escadas e fui direto para meu quarto.

Peguei meu pijama que eu havia colocado em cima da minha cama antes de sair e fui para o banheiro me trocar, tomei um banho e vesti meu pijama, ele era rosa bem clarinho com uns detalhes de cores mais fortes destacando alguns pontos. Tirei toda maquiagem do meu rosto, peguei minha roupa suja, desci e coloquei-a na lavanderia, subi novamente para meu quarto e sentei em minha cama. Peguei meu diário para falar de como tinha sido meu dia e meu “maravilhoso” passeio, o abri e antes que pudesse escrever alguma coisa nele, parei – sem perceber – para refletir sobre tudo o que eu havia pensado antes do passeio e depois do passeio.

Incrível como algumas pessoas estão certas, nada muda do dia para noite, às vezes, algumas coisas mudam antes...