Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 24
Chamas claras como uma conversa franca


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Como dito antes, este capítulo é uma continuação do anterior...
Perdoem a demora, acho que não teremos mais este problema, férias estão chegando e tirarei um tempinho para escrever mais calmamente... é isso, sem mais enrolação, aí está o capítulo de vocês!



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Kewird rasgou a testa com a unha quando a mão subiu instintivamente para afastar os cabelos dos olhos. Pestanejou silenciosamente enquanto teve tempo.

Duelar com um elfo – Ou, pelo menos, com Líria. – Era como trabalhar esforçadamente para uma conclusão inevitável e desanimadora... como cavar a própria cova. Líria parecia saber exatamente o que ele faria a seguir... Uma estocada à altura do pescoço, nas costelas, um bruto golpe sem direcionamento, todos aparados com uma precisão irritante.

Os braços do rapaz tremiam a cada choque de espada, seus pés enterravam-se nas pedrinhas a cada passo forçado, e a espada da elfa era um aterrorizante borrão cinzento ao luar que não se decidia quanto a espetar sua pele. Parecia um jogo de passa tempo para a elfa a mesma medida que era um árduo trabalho da parte de Kewird.

Líria deslizou sua espada pela de Kewird e atirou longe, arrancando dos dedos do rapaz, o aço simples com um ar levemente aborrecido e cansado.

– Já basta! – Ela disse embainhando sua própria espada. – Estamos a tanto tempo neste duelo... e você nem sequer conseguiu me acertar uma vez. – Ela apanhou a espada de Kewird de entre as pedrinhas e a embainhou no cinto do rapaz. – Você tem que treinar mais... e concentrar-se! – Ela estalou os dedos. – Treine como se quisesse alcançar a lua aos saltos... e concentre-se como se segurasse a vida pela ponta dos dedos.

Ele esfregou o rosto suado e voltou a sentar no chão pedregoso.

– Me concentrarei... – Ele respirou fundo deixando o ar salgado gelar seu peito. – Mas não é fácil duelar com você! Parece mais um borrão de velocidade...

Ela sentou-se ao seu lado com uma expressão de divertimento.

– Mas é assim que será quando estiver em um duelo de verdade, será até pior... você está lutando com uma garotinha de quinze anos, futuramente enfrentará melhores concorrentes.

– Será assim... – Kewird franziu as sobrancelhas.

Pegou uma das pedrinhas e a apertou forte. Apenas uma garotinha... assim como eu sou apenas um garotinho. Seria mesmo? Para os elfos a juventude perdurava por bastante tempo, e a maturidade era vista de forma diferente de como vista pelos humanos. Faltava apenas um ano para que se tornasse um adulto de acordo com os de sua raça, mas ele sabia que não seria visto como um pelos elfos, nem por Líria.

Atirou a pedra ao mar e pôs-se de pé.

– Acho que os cavaleiros já estão esperando no porto. – Disse observando a lua. – Estamos muito distantes... talvez percamos a chegada da Rainha.

– Ela não chegará para logo partir... Se tivermos perdido, amanhã a veremos. – Zeón interrompeu a posição de Rimgar que estava aprendendo com Blödhgarm e deixou-se relaxar. – Ou, com sorte, ela ainda não chegou. – Montou Göro e olhou para os dois com um olhar estranho e abobalhado. – Vamos lá... o que estão esperando?

O céu era apenas lua e estrelas, e as asas dos três dragões faziam um coro único. Kewird já havia lido sobre trovões de dragões, mas não chegara perto de imaginar como era. Eram apenas três dragões, mas lhe passava bem a idéia do fenômeno. A violência do ar em volta dele explicava o som feroz.

– Rá!... Isso é fantástico! – Kewird gritou de felicidade e gargalhou, sentindo no rosto as rajadas provocadas pelas asas dos dragões.

Líria observou-o achando graça de sua reação, então soltou os braços da cela e ergueu-os acima da cabeça, bem esticados, também gritando... mas seu grito era mais lírico. Aquilo surpreendeu Kewird, e ele ficou feliz pela resposta da elfa.

Apertou os dedos na cela e aquietou-se, com um sorriso no rosto, enquanto o dragão avançava.

Kewird não se lembrava de ter demorado tanto para chagar ao monte pedregoso... Voltar à Venora foi como duas viagens de ida. As luzes eram confortantes depois de tanto a sós apenas com o céu e seu manto de estrelas, o calor da cidade gigante era glorioso em seu rosto frio e nos olhos ardidos pelo vento da viajem.

Pousaram em meio à confusão de pessoas na praça, que interagiam entre si à luz de lanternas flutuantes de todas as cores. Kewird nunca tinha visto nada parecido.

– Você... – Líria segurou um garoto pelo ombro, interrompendo seu trajeto. – O que todas estas pessoas fazem aqui? Arya Drottning já chegou?

O garoto olhou assustado para a elfa, como se fosse um monstro terrível de uma história qualquer.

– Os Cavaleiros ainda a aguardam no porto... – Ele libertou-se da mão de Líria. – As pessoas acharam melhor esperá-la aqui! – Ele gritou enquanto fugia por entre a multidão.

Elfos eram a maioria que esperava na praça. Humanos podiam ser encontrados, mas muitos deles apenas aproveitavam o agito da cidade para fazer comércio...

...De maneira geral, a praça era uma mistura desorganizada de raças, e o ar uma mistura de sons desagradável.

Não demoraram naquela confusão:

– Vamos para o porto... – Líria cobria cada orelha pontuda com uma mão. – Com sorte, ela ainda não chegou. – Montou Blöh com um salto para a cela.

Zeón já estava montado, apenas à espera dos companheiros. Kewird observou os dois companheiros por um momento. Göro bateu de leve em Blöh com o rabo, e recebeu um rugido de repreensão do dragão azul. Mais uma vez pensou em sua situação atual, no lugar onde encontrava-se... longe de todos aqueles que um dia fizeram parte de sua vida. Numa situação que jamais pensou encontrar-se outrora. Um frio excitante subiu por sua barriga ao pensar novamente sobre isto. Shavaníra deixou o chão, e lá estava ele, mais uma vez no céu, em direção ao interessante mundo que se revelava a si cada vez mais.

De um modo estranho sentiu-se feliz... O pensamento de que era um estranho naquele lugar, que não há pouco tempo nunca tinha visto aqueles rostos, ainda estava lá, mas também sentia que fazia parte dali. Quando olhou para os dois companheiros que viajavam consigo e para a marca em sua mão, ficou mais claro do que nunca para si.

Acha que Baöh e Ariän estarão lá? Shavaníra perguntou de repente, e em boa hora, Kewird já estava sonolento devido ao ritmo monótono da viajem e ao vento frio no seu rosto.

Não sei, mas eles sempre acompanham Mestre Eragon e Escamas Brilhantes... Pode ser que os vejamos por lá. Ele respondeu esfregando os olhos para afastar o sono que o dominava.

Suas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas enquanto o dragão navegava sob as planícies, mas quando avistou luzes em meio as árvores e a madeira que formava o cais, qualquer sono o abandonou.

Na água, várias luzes coloridas, iguais as da cidade, flutuavam, tornado visível uma parte do mar. Na areia, uma fogueira ardia e aquecia muitos cavaleiros que sentavam-se ao redor, formando uma chamativa roda de fogueira.

Entre os dragões, Kewird identificou o enorme Istalrí, ocupando uma enorme área na areia. Ao seu lado, brilhava com a cor da lua, Awremöm. Escamas brilhantes estava sentada ao lado de um dragão muito menor que ela de cor ciano.

A multidão de Elfos e cavaleiros estranhos sempre intimidava Kewird, mas agora parecia mais fácil para ele conviver entre aqueles... Bastava olhar para sua marca prateada. Era o suficiente para ficar seguro.

Os três dragões pousaram com firmeza, com uma pancada abafada na areia. Kewird acenou para os cavaleiros que desviaram a atenção para o pouso dos dragões enquanto descida da cela do dragão amarelo.

Desta vez, o rapaz sentia-se mais próximo de todos aqueles cavaleiros, todos eles traziam o ar de ansiedade e excitação. Então sorriu aflitamente para eles caminhando ao lado de Líria e Zeón.

O lugar estava extremamente lotado, a algazarra estava ainda maior que em Venora, com todas aquelas pessoas.

– Quantas pessoas! Nunca vi tantas antes... – Comentou Kewird.

Líria aproximou os lábios da orelha do rapaz.

– É a Rainha dos elfos que está vindo! – Ela falou forte para que ele escutasse. – Aqui tem pessoas de toda ilha.

– Mesmo assim, são muitos...

– Vamos indo! – Ela o guiou pela multidão.

Zeón os acompanhou apressando o passo. Os dragões espalharam-se pela praia, misturando-se com os outros. Kewird logo os perdeu de vista.

Comporte-se, Shavaníra pediu.

Prometo-lhe... Ele disse passando pelos cavaleiros eufóricos, seguindo Líria até uma área mais calma. A elfa parecia mais feliz que nunca, até onde Kewird recordava.

– Veja... – Zeón apontou sem nenhuma modéstia. Passando pelas muralhas de pessoas e dragões, Kewird vislumbrou o estruturado e gigantesco cais que, visto de cima, formava um grande “T”. O cais era tão largo que era possível que uma centena de enormes dragões o abrigassem de uma só vez.

Visto de longe era apenas uma imensidão de madeira avermelhada, mas quando se aproximaram, Kewird pode ver os detalhes belos e cuidadosos dos elfos. As bordas eram trabalhadas em detalhes de alto relevo e colunas de madeira acrescentavam-se em deslumbre.

Líria pôs dois dedos embaixo do queixo de Kewird e empurrou-os para cima, fechando sua boca. Ela gargalhou com a reação do rapaz.

– Incrível, não é? – Líria sentou-se na beirada, com os pés balançando alguns metros sob a água. – Cresci observando as estrelas aqui...

– Era aqui que você vivia antes? – Kewird achava que Líria havia crescido em Venora.

– Sim... Meus pais ajudaram a construir o porto de Kormodra... – Com um sorriso carregado de emoção ela passou os dedos pela borda do cais, acariciando.

– Bem... – Zeón pigarreou e levantou-se com a testa franzida e um meio sorriso conceitual. – Irei procurar Blödhgarm Ebrithil, preciso muito falar com ele... – O rapaz levou dois dedos à cabeça e seguiu pela madeira vermelha em direção à praia.

– Nos encontramos outra hora! – Ele gritou para o amigo. Havia esquecido totalmente que Zeón os acompanhava, sentiu-se mal pelo amigo.

Kewird olhou para a água iluminada pelo brilho das luzes dos elfos.

– Sabe... antes eu não imaginava o quão grande as coisas podem ser. – Ele disse observando até onde as luzes azuis, verdes, amarelas, iam. – Quando cheguei à Venora para o Shervaën abr skulblaka, fiquei assustado com esta descoberta, mas agora é mais excitante do que qualquer outra coisa.

Líria sorriu.

– Eu entendo você. – Ela apoiou o peso do corpo no braço esquerdo, aproximando-se dele. – Quando completei oito anos, meu pai levou-me para conhecer os dragões do deserto rochoso, eu sei como se sente...

Ele sorriu timidamente, tentando ignorar o quão próximo ela estava de si.

– Vamos andar até o final do cais... – Propôs Líria quando a falta de assunto os atingiu. – Vamos ver o restante das Luzes, talvez avistamos o barco da Rainha...

Kewird levantou-se sem a oportunidade de dizer sim. A elfa já saltitava pelo cais adentrando o mar sob a superfície de madeira.

– Hei, espere! – Ele gritou enquanto tentava alcançá-la.

Alcançou-a e os dois direcionaram-se para o final, mais devagar. Líria abria caminho entre as pessoas e ele a seguia atrás. Em alguns momentos Líria parava para cumprimentar um elfo qualquer, mas em determinado instante ela parou abruptamente e ficou imóvel. Kewird aproximou-se cauteloso para ver quem a havia feito parar.

Um casal de inconfundíveis elfos. Um alto elfo com os cabelos pratas como uma espada reluzente, com um rosto tão sereno e estável como o mar de inverno da aldeia de Kewird. Os olhos eram levemente esverdeados. Estava com o braço entrelaçado no de uma bela elfa que, ainda que alta, mal chegava ao ombro do elfo. Ela tinha os olhos escuros e brilhantes à noite, e os cabelos eram ondas negras que se esparramavam pelo ombro, e a boca... era o mesmo laranja queimado de Líria.

– Pai, Mãe... – A jovem elfa andou até os pais que a envolveram em um abraço delicado.

Eu permaneço ou sigo meu caminho? Kewird pensou consigo mesmo um pouco temeroso.

– Senti saudades de vocês... – A jovem enterrou o rosto entre os pais.

– Nós também, querida. – O pai meneou com um meio sorriso depois de separados. – Como tem sido na cidade? Comportou-se? Tomou cuidado? – O pai envolveu o rosto da filha com as mãos. – Conversamos com Eragon-elda, ele disse tem tomado todo o cuidado com você, mas nos disse que você sumiu hoje à tarde, e que foi até o Monte rochoso do sul...

– Ele me espiona? – Líria perguntou com a voz levemente alterada.

– Líria, você é muito jovem... – A mãe afagou os cabelos de Líria. – só concordamos em deixá-la na cidade por que confiamos em Eragon, apesar de ele ser bastante jovem também.

– Mãe, está tudo bem, não se preocupe, eu estava com amigos... nada de ruim poderia acontecer, só foi um passeio.

– Hum... – O elfo olhou para Kewird. – Por que não nos apresenta seu amigo? – Levantou uma sobrancelha.

Líria olhou o rapaz com um meio sorriso meigo.

– Este é Kewird, tornou-se cavaleiro de dragão um dia depois de mim. – Ela segurou a sua mão e o puxou para perto.

O titulo ainda soava bastante estranho...

– Kewird, estes são meus pais, Neustlan... – Ela acariciou o braço do elfo de cabelos pratas. – e Jhaeshwia. – A elfa de olhos negros e estrelados sorriu para Kewird.

– Estou contente por conhecê-los, Senhor Neustlan e Senhora Joshw...

– É Jhaeshwia, Kewird. – Ela lhe sorriu novamente. – Você é um rapaz encantador. É bom que se cerque de pessoas assim, querida. – Ela tocou o queixo de Líria com a ponta do dedo. – Não querem nos acompanhar até a fogueira na praia?

– Estamos indo até o final do cais, avistar as luzes, e também queremos ver a chegada de Arya Drottning.

Jhaeshwia parecia a ponto de insistir que os seguisse quando o elfo de cabelos prateados a segurou pelos ombros delicadamente, chamando a atenção dela. Por um instante os dois conversaram com o olhar.

– Tudo bem... – A elfa concordou com o rosto satisfeito. – Fiquem perto de Eragon-elda, e procurem não perambular muito por aí... – Ela advertiu antes de dar passagem para os dois.

– Nos vemos mais tarde. – Líria se despediu.

Kewird despediu-se mais timidamente dos dois e seguiu mais uma vez a jovem elfa pela multidão.

– Eles me pareceram bastante preocupados com você. – Ele comentou, tentando diminuir o ritmo apressado imposto por ela. – Talvez não devêssemos ter ido tão longe...

– Não se preocupe com isso. – Ela disse com a voz refreada, segurando a respiração para não arfar. – Eles sempre foram preocupados excessivamente comigo, mas não podem me segurar debaixo de asas para sempre, não é? – Ela sorriu para ele. – Além disso, sou uma cavaleira de dragão agora, Blöh me deu asas.

Ele também sorriu. Também tinha asas, e se ela voasse... ele também poderia.

– É...

Seguiram o resto do percurso em uma caminhada mais calma.

Kewird viu-se no final daquela interminável estrutura, olhando para aquela infinidade de luzes flutuando sobre a água, até chocar-se contra a escuridão. Olhou para o céu. Não era possível ver as estrelas, o brilho te todas as luzes do porto ofuscavam o céu, apagando as suas brilhantes filhas.

Ao seu lado, Líria observava as luzes coloridas.

– Hoje as estrelas estão no mar... – Ele viu-se dizendo em sua orelha pontuda.

Quando ela o olhou com um sorriso, ele pode ver os olhos negros e estrelados que ele vira na mãe.

– E em seus olhos. – Ele completou contra a própria vontade.

A elfa abaixou a cabeça, fazendo os cabelos negros esconderem o rosto, e abraçou o próprio corpo.

Kewird sentiu as bochechas arderem. Passou os olhos pelo cais tentando apagar o momento constrangedor. Os cavaleiros descontraiam-se em suas felicidades isoladas, cada um com um motivo diferente para o sorriso no rosto. Queria ser um deles... Ele refletiu pensando em como a vida brincava consigo.

Não seja tão estúpido, eu lhe peço... Disse Shavaníra de algum lugar. Como pode dizer algo como isso? Nenhum deles me completa... É você, meu pequenino, foi você que eu escolhi.

Eu sei... perdoe-me. Ele lamentou os seus pensamentos. Onde você está?

Estou com Blöh... Nós estamos conversando com Lïnus, o filho de Escamas Brilhantes... ele está nos contando suas aventuras pela Alagaësia, você não acreditaria!

O rapaz sorriu. Tudo bem, nos vemos depois. A companheira parecia não ter o mesmo problema que ele.

Kewird continuou observando os cavaleiros, incapaz de encarar Líria. Em pé, com um sorriso incansável e postura solene, Matador de espectros conversava com Blödhgarm. Afinal, Zeón não foi conversar com Ebrithil... Kewird perguntava-se onde o rapaz poderia ter ido.

Foi então que ele avistou aquela criatura branca. Uma mancha negra e enorme respirava em seu pescoço, e os olhos brancos estavam paralisados como os de uma tenebrosa estátua. Me parece maior do que a primeira vez que o vi. Ao lado do Dragão espectro, o ser de cabelos brancos e rosto pálido, com um manto branco esvoaçante, olhava para Kewird fixamente, com os olhos tão brilhantes quanto a lua.

“Venha aqui, rapaz...” Kewird leu os lábios brancos dele.

Um frio percorreu da base de suas costas até a nuca, mas mesmo assim pôs um pé à frente do outro, cerrando os punhos. Ele é um cavaleiro de dragão também... Ele lembrou para acalmar-se. Olhou para a sua Gedwëy ignasia e avançou.

À medida que se aproximava um sorriso alargava-se no rosto de Ariän. Kewird lembrou-se de quando foi posto na frente do ovo branco e o homem de cabelos brancos o roubou do trono de exibição.

– A-Ariän... – Kewird gaguejou. – O que q-quer?

O homem levantou uma sobrancelha.

– Por que todos têm medo de mim? Que mal eu fiz a você, garoto? – Ele suspirou com o rosto triste. – Você poderia me acompanhar por um instante? Me concederia uma conversa?

Kewird pensou por um momento. Olhou para trás, para onde estivera Líria, mas ela não estava mais lá. Só então reparou que Matador de reis falava com a elfa à beira do cais.

– Tudo bem... – O rapaz respondeu um pouco confuso com o convite.

– Vamos caminhar. – O homem pôs a mão branca em seu ombro e os dois seguiram pelo cais. Indo em direção à praia.

Kewird notou o dragão branco os acompanhando discretamente logo atrás, dando cada passo tão leve e peculiarmente como nenhum outro dragão poderia fazer.

– O que está achando da festa? – O homem pálido lhe perguntou entre os passos, caminhando e espantando os cavaleiros à frente sem intenção.

– Estou um pouco ansioso. – Kewird franziu as sobrancelhas, aquela situação estava esquisita. – E você? – Ele perguntou, sem saber por que.

De repente, tudo o que Kewird sentia, ao olhar para o rosto pálido, mudou. Era como se estivesse vendo aquele rosto pela primeira vez, e o rosto era simpatizante.

– Festas são festas, não é? – Ariän sorriu. – Nunca gostei de lugares muito agitados, mas o que diriam se eu não viesse? Já não sou bem visto por todos aqui...

Kewird não teve resposta para aquilo.

Os dois continuaram andando e conversando descontraidamente, como Kewird nunca imaginou poder fazer com alguém desconhecido, principalmente com Ariän.

*

–...Então foi simplesmente assim? – Perguntou Ariän com um meio sorriso depois de ouvir Kewird. – Quando montei Baöh, foi algo totalmente diferente.

Kewird bebeu um trago da estranha bebida doce e quente que Ariän lhe dera antes de passar o frasco para ele e criar coragem para fazer a próxima pergunta.

– De onde você veio? – Ele perguntou, vendo a expressão risonha permanecer no rosto pálido. – Como você surgiu aqui? Isso é muito estranho... por mais que converse com você não consigo aceitar esta dúvida na minha cabeça... e nem consigo imaginar uma resposta que faça sentido! – Kewird já derramava palavras. A bebida há muito fazia efeito e seu corpo estava morno e dormente de uma maneira agradável que ele nunca sentira antes.

– Você ultrapassou a quantidade de perguntas que se pode fazer, por tanto não responderei nenhuma delas...

– Mas... – Kewird abandonou a fraca palavra no ar desistindo de debater.

Estavam sentados sozinhos de frente para uma aconchegante fogueira, Kewird sentia os pés dormentes enterrados na areia, tudo estava tão confortável... Não havia muitos mais elfos na praia, ele já havia perdido a noção do tempo, não sabia nem se Arya Drottning havia chegado ou não.

Olhou para a sua marca prateada. Era estranho... a pessoa que mais lhe causava calafrios no inicio era a única que o estava deixando à vontade naquele mundo totalmente diferente do de onde nascera.

– Me responda ao menos uma ultima pergunta. – Kewird pediu com a voz arrastada e alegre.

O ser de cabelos brancos meneou.

– Por que está fazendo isto? – Kewird completou. – Por que está conversando comigo?

O homem olhava fixamente para a fogueira. Criava-se um silencio prazeroso e quente pela praia.

– Você sabe o que é ter asas e não saber usá-las? – Perguntou o homem de cabelos brancos, surpreendendo o rapaz. – Voar sem rumo?

– É assim que se sente? – Kewird podia imaginar.

– Não... – Respondeu Ariän com um sorriso amistoso, mesmo que com caninos grandes e afiados. – É assim que você se sente.

Então, atrás do cavaleiro branco, o dragão branco abriu a boca, jogando a cabeça para trás, e cuspiu um jato de chamas brancas e espectrais que iluminaram o céu escuro por um instante para logo deixá-los na escuridão novamente, com a companhia um do outro e da surpresa.


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Notas finais do capítulo

E então? Pois é... não foi neste capítulo que nossa querida Arya apareceu. Mas tenham calma, é o que estou tentando fazer também... Manter a calma e escrever sem pressa.
O que vocês tem a dizer sobre o capítulo? Qual parte mais gostaram? O que acham que precisa ser melhorado na história? Comentem se acharem merecido ou necessário! Preciso da ajuda de vocês...
É isso, até o próximo!
23/06/15



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