O galero entrara em Vila Toupeira, e, para a surpresa de todos, foram bem tratados pelos moradores locais. Uma ilusão causada pelos lobinhos, quem sabe?

Era a primeira vez que Loras de Delicium via humanos, depois que deixara de ser um. Finalmente sentia um cheiro diferente no ar, dos bares, das pessoas, que conhecera quando ainda era uma criança, e lembrava-se bem de quando seu pai o trouxera ali duas ou três vezes, quando todos o conheciam como uma menina.

Talvez isso explicasse por que ninguém o reconhecera... Mas, gente, era um morto-vivo andando com um Panda de Três Olhos, um cara suspeito que nunca mostrou nenhuma parte do corpo além dos olhos, e pior, um White Walker. E, em seu íntimo, ainda não conseguia confiar nele. Talvez tivesse um pé atrás com todos eles, mas o tal Rei da Noite o dava quase certeza de estar escondendo alguma coisa.

O White Walker esboçara novamente um sorriso dumau. Estava prestes a concluir outra parte de seu plano, talvez a mais importante.

– Se não tiverem armas, matem todos os humanos que encontrarem com suas mãos, e eu usarei minha magia para que se juntem ao nosso exército. Agora!– ordenou, avançando com sua lança para todos que encontrava pela frente.

Imediatamente o cara mascarado e os lobos também partiram para o ataque, mas o pandinha parou ao ouvir Loras gritar em tom rústico:

– Vocês vão matar inocentes de todo jeito?!

– Calma, é que isso é necessário para aumentar o exército - e o fofinho apressou-se a explicar mais quando viu na expressão do nosso zumbi divoso que ele já ia contra-argumentar novamente - Após a conquista de Delicium, o Rei da Noite libertará a consciência de todos, e eles serão imortais assim como você!

Loras olhava em volta e observava que o White Walker e - principalmente - os lobos matavam as pessoas sem o menor cuidado; como raios eles viveriam novamente, e bem, se seus braços eram arrancados e suas gargantas estraçalhadas? "Sou o único que não entende o que está acontecendo"?

Então, repentinamente, foi surpreendido por um homem transformado em zumbi, que agarrou o pandinha com quem falara agora a pouco e o jogou para longe. Não o vira ser morto, não era da vila e seu corpo parecia ter entrado em decomposição havia dias. O chutou, e ao erguer o olhar vibrante viu um grande exército se aproximar: mais zumbis, misturados a outros White Walkers, que nunca vira antes.

– Rei da Noite!!!– ele gritou para a imensidão. - EEEI!

E tão subitamente quanto vira surgir aquele exército, o White Walker que acabara de chamar irrompera na frente dos seus olhos... e uma dor horrível foi sentida, concentrada em seu peito e espalhando-se por seu sistema nervoso.

Fora atravessado pela lança.

– MALDITO!!! - ele berrou, ao perceber que lentamente seu corpo congelava, encarando a figura branca à sua frente.

– Agora que não há mais saída pra você, é melhor explicar tudo. Desde o começo eu tramei a aliança com vocês apenas para poder abrir a passagem na Muralha, e meu exército então passar. Nunca me importei com você, mas precisei da sua energia de Delicium para romper a pedra e o gelo...

Loras não conseguia mais falar, e estendia seu braço direito na direção do traidor, em seu último esforço antes e ter esse membro completamente congelado.

– ... nós, que agora estamos em grande número, instalaremos o Regime da Grande Noite em Delicium, onde somente a dor e o frio reinarão, e faremos assim com que esse Inverno dure para todo o sempre.

"Todo o sempre..." pensava, angustiado. "Fingi que confiava nele, e fui um todo da mesma maneira... Vi inocentes e conhecidos morrendo na minha frente, mal sabiam eles que serão usados para tamanha crueldade." O gelo chegava agora ao seu pescoço, e sua mão pairava no ar, sem que ele pudesse mexê-la.

"Mesmo que eu estivesse com a minha espada, do que adiantaria, se ninguém sabe como matar um White Walker? Agora a minha hora chegou, e não posso fazer nada para impedi-lo... meu reino sofrerá... e não posso fazer nada."

O filho de Delicium fora completamente atingido pela onda congelante que começara a partir do ferimento em seu peito. Seu olhar azul, vidrado, mirava o vazio com desespero.

o White Walker nomeado como Rei da Noite arrancara sua lança, e contemplara o corpo inútil de Loras caído ao chão, antes de voltar ao seu exército.