A Gentleman and a Slut escrita por Senjougaha


Capítulo 2
Talvez dê certo. Um grande "talvez"...




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Respirava com dificuldade enquanto me levantava aos poucos. Alexia se remexeu na cama ao lado da minha.
– Afrodite? Tudo bem? - ela perguntou se levantando alarmada.
– Sim - respondi distante - tive um sonho estranho.
– Sonho? - ela perguntou torcendo o edredom nervosamente.
– Sim, eu estava noiva - respondi e caí na risada.
Alexia entrou em pânico. Saiu da cama tropeçando e se sentou ao meu lado, segurando minhas mãos, abrindo e fechando a boca de forma culpada.
– Afrodite, eu... - ela começou.
Alguém bateu na porta, a interrompendo.
– Entra - respondi ainda rindo.
Pietro entrou hesitante, mas com um sorriso gabado no rosto. Congelei.
– Alexia - chamei.
– Sim? - ela respondeu, trêmula.
– Eu bebi demais ontem? Me droguei? - perguntei receosa.
– Não, Afrodite - ela respondeu, segurando um travesseiro.
Gritei. E sempre pronta pra tudo, Alexia abafou meu grito com o travesseiro, enquanto Pietro ria histericamente.
– Sai do meu quarto, gibi-humano! - esbravejei jogando a primeira coisa que vi no criado-mudo.
Era o moletom dele.
– Ei, bom saber que guardou isso - ele disse entre risos - dormiu com o meu cheiro.
Estanquei.
– SAI DAQUI! - gritei puxando meus cabelos.
– Não - ele respondeu ficando sério.
– Não? - repeti, retardada.
– Sua mãe mandou eu te chamar pro café.
– Café? - repeti.
Alexia sacudiu meus ombros.
– Você é noiva agora, Afrodite, tem que tomar café na mesa, não na rua - ela chamou desesperada.
– Por que uma noiva toma café na mesa? - perguntei franzindo o cenho.
– Porque sua mãe quer assim! - ela gritou.
Alexia estava prestes a chorar. Nunca a vira daquele jeito.
– Alexia, você está bem? - perguntei.
Ela desatou a chorar e se afastou de mim.
– Alexia? - chamei indo atras dela.
Pietro continuava olhando tudo.
– Fiz de tudo pra você ser feliz e olha o que a piranha da sua mãe fez com você - ela dizia entre soluços.
Congelei na cama no meio do caminho rumo à Alexia. Ou seja, de quatro.
Pietro inclinou a cabeça disfarçadamente, olhando. Joguei um vidro de perfume nele que, para a minha sorte, era de plástico vagabundo. Dos que minha mãe odiava do fundo da alma.
Alexia enxugou as lágrimas e em segundos, estava de volta ao normal.
– Saia dessa posição vergonhosa, Afrodite - ela ralhou - não está parecendo uma dama.
Gargalhei e me joguei em direção a ela, que desesperada e surpresa com o ato, recebeu meu abraço.
– Estarei esperando no corredor - Pietro disse sem jeito - Alexia, não a deixe fugir pela janela.
Ele parecia sério. E Aléxia também.
– Mas é claro que eu não permitiria isso - ela respondeu empinando o nariz.
Eles assentiram um para o outro e de repente, me senti ameaçada. Se os dois se juntassem para que eu fizesse minhas obrigações, seria o fim do meu universo de dama-vagabunda.
Me troquei. Sequer escolher o meu "look do dia" (como chamava Alexia) eu pude, porque ela selecionou tudo meticulosamente.
– Quero que ele se apaixone por você - ela disse quebrando o longo silêncio que pairava entre nós, enquanto escovava meus cabelos.
– O quê? - perguntei rindo nervosa.
– Eu disse que quero que Pietro se apaixone por você - ela respondeu calma, serena e confiante.
– E por que isso? - perguntei a olhando pelo reflexo do espelho.
Alexia estava muito estranha. Será que ela curtia o Pietro? Estava afim dele?
– Porque não quero te ver amargurada como sua mãe no futuro - ela respondeu perfurando meu couro cabeludo com um grampo - e você precisa de amor, Afrodite.
Ela disse a ultima frase com tanto carinho, que senti vontade de xingá-la e dizer que o amor de amiga dela era tudo o que eu precisava pra minha vida toda.
– Você tem fama, riqueza e beleza sem fim, mas não ama ninguém - ela continuou, triste - nem a si mesma.
Abaixei a cabeça e a deixei com seus raros discursos sentimentais. Fechei os olhos com força quando meu couro cabeludo foi perfurado outra vez. Senti vontade de revirar os olhos quando pensei que ela continuaria a falar.
– Pronto, vamos - ela finalizou passando delineador em mim rapida e agilmente.
– Não vai fazer da minha cara uma tela de Picasso hoje? - perguntei desconfiada.
– Quero que Pietro te veja natural - ela respondeu dando de ombros.
Arregalei os olhos. Alexia abriu a porta sem se importar com minha reação e chamou Pietro.
– Estamos prontas - ela disse numa voz entediada.
Me levantei e arrastei meus pés até a porta, encarando um ponto fixo no chão. Queria ter alguma pedrinha pra chutar durante o caminho.
– Olhe para frente, Afrodite - Alexia disse sem olhar para mim.
Lhe lancei um olhar cansado e ela devolveu com uma metralhadora. Endireitei minha postura e acompanhei Pietro enquanto roía as unhas.
– Deixa que eu corrijo essa - Pietro piscou para Alexia, que abrira a boca pra falar algo.
– O quê? - perguntei confusa e nervosa, roendo as unhas.
– Daqui a pouco você vai roer a mão inteira - Alexia disse seca.
– Eu queria corrigir - resmungou Pietro.
– Vá se ferrar, corrija isso - respondi lhe mostrando o dedo do meio e depois colocando as mãos atras das costas, longe da tentação de serem roídas.
Pietro me obrigou a enlaçar meu braço no seu.
– Pra quê isso? - perguntei irritada.
Ele deu de ombros e antes que eu pudesse fazer algum comentário venenoso, chegamos ao nosso destino.
Minha barriga roncou e pulou de alegria quando o cheiro de cappuccino, pães diversos e queijo derretido invadiu meu olfato.
– Querida! - minha mãe chamou esperançosa.
A ignorei e me sentei ao lado de Pietro. Daria atenção até mesmo pra ele, mas pra ela não.
Não preciso dizer que Suzan continuou a tentar.
– Como passou a noite, filha? - ela perguntava ansiosa enquanto limpava a boca com um guardanapo.
Falsa. Nem tinha comido nada ainda.
– Bem - murmurei e enchi a boca de comida para não ter que falar mais.
Pietro me observava em silêncio. Não sabia dizer se ele reprovava minha atitude em relação à minha mãe mas... E daí? Não precisava saber mesmo.
Alexia estava calada. Respondia evasivamente as perguntas do meu pai, que era sua melhor fonte de conversa. Beliscava a casca do pão e fingia sentir o gosto do suco de laranja que estava em seu copo, mas eu sabia que estava pensativa demais pra isso.
Pietro segurou meu cotovelo de leve e instintivamente, me libertei do seu toque. Lhe lancei um olhar desconfiado e questionador. Ele franziu o cenho e desviou o olhar. Definitivamente escroto. Me lembrei de que na noite passada, ele não estava com os piercings, e nem agora.
– Pietro lhe contou, querida? - Suzan começou e a encarei assustada e desconfiada.
O que ela aprontara agora? Me arranjara outro noivo? Fizera com que aprovassem a poligamia só pra mim? AH MEU DEUS, ELA CRIOU UM HARÉM. Pietro segurou minha mão por baixo da mesa e entendi o gesto. Era um "sossega essa imaginação, garota!".
– Ele pediu uma semana de folga no trabalho pra passar um tempo com você - ela anunciou, toda iluminada.
"Esse bosta trabalha? Grande bosta". Foi o que senti vontade de dizer. Também senti vontade de fazer cara de pouco caso. Mas Alexia me lançou um olhar suplicante. Suspirei e dei um sorriso tímido.
– Valeu - murmurei e voltei a comer.
Ele balançou a cabeça de leve e fez o mesmo. Minha mãe nos observava em silêncio pela primeira vez. Mas estava tão... feliz? Franzi o cenho. Ela nos encarava admirada. Venerava Pietro.
– Vocês formam um casal perfeito - a ouvi suspirar pra si mesma.
Empurrei meu prato para frente. De repente, me senti enjoada.
– Com licença - murmurei soltando a mão de Pietro e fui para o jardim.
Definitivamente evitaria aquele Banco dos Amassos. Automaticamente, fui para meu lugar preferido e me deitei no banco. E felizmente, Alexia escolhera um jeans escuro e uma T-shirt confortável estampada de unicórnios, então eu estava numa boa. Não entendia o porquê de ela ter escolhido meticulosamente um look que sabia que eu gostaria, mas estava grata.
Suspirei e fechei os olhos, ouvindo o vento frio e fraco soprar o salgueiro. Acabei adormecendo.


Minha cabeça estava apoiada em algo. Mas estava tão bom que resolvi ficar ali mesmo: me acomodei melhor. Dormi mais uma boa meia hora até sentir frio e me levantar, batendo minha cabeça no queixo de Pietro. No queixo do Pietro???
– Droga - ela resmungou, segurando possíveis palavrões enquanto massageava a área afetada pela minha cabeçada.
– Droga digo eu - murmurei enquanto fazia o mesmo, sem me preocupar com a zona do meu cabelo.
Queria que ele me achasse feia, insuportável e paranóica.
– Você fica bonita quando dorme - ele disse me encarando - pena que continua tagarela.
Lhe lancei um olhar fuzilador. Pediria mais tarde para que Alexia me ensinasse a metralhar pessoas com os olhos, eu tinha que aprender aquilo!
– Ninguém mandou você vir aqui - resmunguei me sentando e esfregando meus braços.
Ele suspiru frustrado.
– Detesto a ideia de estar noivo com você - ele disse.
Assenti. "Te entendo, cara!", foi o que minha mente repetiu diversas vezes e quase disse isso em voz alta.
– Mas quero fazer isso dar certo - ele continuou.
Pulei do banco e caí de bunda na grama que estava ficando alta por ali.
– Ahn?!
– Estou falando sério, Afrodite - ele enfiou a mão nos bolsos da jaqueta - também estou sendo obrigado a fazer isso por meus pais, eles pensam que você será um bom exemplo.
Dei um sorriso sarcástico.
– Mas a única coisa que sinto quando olho pra você é vontade de fazer mais coisas erradas - ele continuou - como ajudar uma garota a fugir dos guardas.
Soltei uma risada e ele me acompanhou.
– Sinto vontade de furar seus olhos com um salto agulha quando te vejo - eu confessei para acompanhar, fazendo-o rir e fingir estar chocado.
– Soube de cara que você tinha instintos homicidas, mas não a esse ponto - ele caçoou.
Revirei os olhos.
– Não quero fazer isso dar certo - murmurei abraçando meus joelhos ali no chão mesmo.
Pietro me olhou chateado. Por que diabos ele estava chateado se estava de agarração com uma garota no meu jardim na festa de noivado?
– Torço o tempo todo pra você notar meus defeitos, me achar feia, insuportável, paranóica ou qualquer coisa do tipo, só pra você dar o fora - confessei, suspirando.
Ele me olhou espantado, como se eu fosse louca. "Isso! Me ache louca! Yeah!!!!".
– Mas eu tenho que continuar com isso o máximo possível - completei - pra não desapontar Alexia, quero dizer, não me importo mais com o que minha mãe quer pra mim.
– Isso quer dizer que você vai tentar também? - ele perguntou remexendo o bolso da jaqueta, nervoso.
Assenti e coloquei arrumei minha franjinha. Alexia odiava quando eu cortava franjinha. Mas eu adorava a sensação de ter que arrumar ou assoprar o tempo todo pra tirar dos olhos.
Pietro sorriu e eu jamais imaginaria que ele conseguiria sorrir de verdade (sem sacanagem) se ele não tivesse feito isso. Aproveitando minha surpresa, ele me pegou no colo e correu pra dentro do casarão, rindo dos meus berros de desespero e susto.
Alexia topou conosco no caminho e estendi minhas mãos em direção à ela.
– Alexia, manda ele me soltar - supliquei.
Estava começando a ficar nervosa demais com todo o contato físico e ao mesmo tempo, o medo de cair.
– Tome cuidado, Pietro - ela me ignorou - ela tem medo de altura, então não suba as escadas correndo.
Choraminguei algo sobre Alexia ser uma traidora. Pietro teve compaixão e me soltou. Eu estava ofegante de desespero e adrenalina. Incrível como qualquer coisa aciona a adrenalina de uma garota com medo de altura quando ela fica a partir de meio metro acima do chão.
– A diretora ligou dizendo que você pode ficar uma semana em casa e parabenizou seu noivado - Alexia disse tirando um óculos de grau da bolsa que carregava e continuou - mas você tem lição de casa.
– Eles me dão a semana livre da faculdade sem eu pedir e me lotam de trabalhos? - grunhi.
– Você faz faculdade de quê? - perguntou Pietro, curioso.
Corei. Como ia explicar que eu, a senhora do "vista qualquer coisa que ver à sua frente" fazia faculdade de Moda?
– Moda - Alexia respondeu com um sorrisinho maligno e saiu às pressas antes que eu tivesse qualquer reação.
Ele gargalhou e ao perceber que aquilo me irritava além dos limites, se segurou.
– Vou pro meu quarto - murmurei e fui antes que ele dissesse algo.
Passei a tarde fazendo todos os trabalhos que a diretora enviara no meu email. Queria manter a mente ocupada e longe de toda a baboseira de noivado. Ou melhor, de toda aquela baboseira de Pietro.
Terminei rápido demais, para a minha surpresa. Era um conteúdo que eu sempre tivera dificuldade. Alexia entrou no quarto feito um furacão.
– Sobre o quê vocês falaram? - ela perguntou direta.
– Eu me confessei pra ele - dei de ombros.
Alexia caiu no chão, de boca aberta, surpresa, mas satisfeita.
– O QUÊ?!
– Confessei pra ele o fato de que eu detesto estar noiva dele e quero que ele desista logo disso tudo, disse que não vejo a hora de ele notar que sou uma maluca - completei correndo para o banheiro, fugindo do olhar raivoso dela e dos objetos que ela me jogava.
– AFRODITE SUA LOUCA, MALUCA, DESPARAFUSADA DA CABEÇA, NUNCA MAIS ABRE ESSA SUA BOCA, EU VOU RESPONDER TUDO POR VOCÊ AGORA! - ela gritava esmurrando a porta.
– Ele também disse que detesta estar noivo comigo, mas quer fazer isso dar certo, fizemos um acordo: vamos ir até onde der - completei, fazendo-a se acalmar.
Depois de alguns minutos de silêncio, abri a porta do banheiro e a encontrei no chão, com olhos arregalados. Me senti arrependida e culpada.
– Alexia - corri em sua direção.
– Ele disse mesmo isso? - ela sussurrou, fraca.
Assenti desesperadamente, com tanta força que pensei que meu cérebro sairia pelo nariz.
– Certo, isso deve ser bom - ela voltou ao normal.


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Notas finais do capítulo

Continuo?



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