12.

I’ve seen the world, done it all

Elsa era romântica. Como qualquer ser humano que não teria nada além de livros e do ávido hábito de devorá-los para manter sua mente em equilíbrio em uma situação de confinamento. E ainda sim, considerava-se muito diferente de sua irmã menor, e inclusive o repreendia em cólera quando ele ousava insultar sua irmãzinha comparando-a a um monstro como ela. Jack as observava frequentemente, bastava mudar de janela. No entanto, com o tempo o espírito do inverno deixou de julgá-la totalmente errada em suas comparações com Anna. Elsa era romântica, mas ao contrário do frenético corpo ruivo, ela era insanamente romântica. Prezava por apreciar a poesia inclusive de sua amargura, como quem desesperadamente se contenta, ou melhor, se delicia com sensações que a despertassem da quietude mórbida, mesmo sendo ruins e cortantes, mas ainda sim, indícios de que seu corpo não estaria parado, e ela estaria viva. E não tardou ele a notar que se sentia atraído em demasia por aquela criança altamente complexa para a idade.

15.

And all the ways I got to know

Your pretty face and electric soul

Elsa beijava como lia: faminta, em desespero, calculosamente intensa, procurando algo em que se agarrar, procurando construir uma vida e uma liberdade entre quatro paredes, buscando entre línguas e dentes construir sua história ou algo que a faça sentir-se viva. Ele poderia disseca-la e estuda-la se não estivesse tão absorto em seus lábios logo após, a jovem, depois de ler um livro que ele tinha certeza que chegou a ela através de um servente que não conhecia a premissa instigadora de liberdade e rebeldia da história, tornou-se altamente contagiada, e implorou, aliás, o obrigou a beijá-la como se não houvesse amanhã. E após o afastamento, que ele apenas concedeu para que ela pudesse respirar, ele apenas pôde impotente, puxá-la novamente para si. Mostrar àquela princesa o que ela procurava. Se assim ela desejava, ele a concederia, uma vez que ele pacientemente esperou por isso, o dia em que desfrutaria dela, e seria parte de suas fantasias ultrarromânticas.

18.

Had my cake now.

Elsa o levava como lia: sádica, a um caminho cheio de atalhos e preliminares, ao destino onde ele poderia tomar do néctar de sua beleza. Ela estava além da beleza na noite em que seus pais morreram. E ele desejou com todas as suas forças resistir em quebrar sua imagem em pedaços quando ela avançou em um misto de tristeza e outro sentimento que ela descobrira somente naquele momento, quando após horas de choque, sem reação ao ambiente em volta, seu coração frívolo bateu descompassado ao notar Jack sentado no parapeito da varanda esperando que ela voltasse a si. Ela tornou-se gritante aos olhos dele quando seu vestido caiu aos tornozelos, assim como os fios platinados pairaram acima do torso em camadas, e o olhar penetrante o perseguiu. Olhos e boca de Jack caíram em descrença diante da visão das portas do paraíso, e antes que ele questionasse por que logo agora, ou por que dessa forma, ela proclamou: Faça-me sentir algo, antes que eu morra em embotamento. E ele compreendeu que, embora imponente, aquele anjo estava deparado com uma dor de perda, um fardo insuportável até para ela, que se acostumou a viver em abandono, e precisava agarrar-se a algo para não morrer de isolação. E antes que aquele pequeno espírito se tornasse tão sólido quanto o cômodo que a abrigava, Jack agarrou a garota invernal pelos braços. Naquela noite o guardião realizou que, embora, por ser eterno, achasse que jamais conheceria o paraíso, percebeu estar enganado, quando a recém-mulher que estremecia em um último gemido de êxtase sob ele, era paradisíaca.

21.

Channeling angels in

The new age now

Elsa nunca esteve assim, ele concluiu enquanto ela, alheia a sua chegada, rondava o quarto recitando o mantra sobre encobrir, não sentir, não deixar saber, encobrir, não sentir, não deixar saber, encobrir, não sentir... Suspirou quando esta absurdez em palavras embaralharam inclusive seus pensamentos, este insulto a que ela fora submetida para esconder algo tão maravilhoso quanto seus poderes de gelo, que ele arduamente tentou convencê-la de que era um dom e não uma maldição. Ele, enfim, nunca a tinha visto de tal forma, insegura, sem nem mesmo apreciar a nova sensação de expectativa e eminente adrenalina por finalmente expor-se ao mundo. Sem apreciar a sensação de medo, de tristeza, dos únicos sentimentos que tinha como sempre o fez. De costas, ereta, elegantemente adornada, ele a observou. Já havia o ultrapassado, aparentemente, 4 anos de idade. Ainda sim, montava nele como ninguém, e o chamava languidamente após seu ápice como se ele fosse um homem, seu homem. E neste momento a deixou ter livre acesso à sua sinceridade mais embaraçosa, a fim de recuperar a imponência que ela exibia para ele na cama, a fim de que ela usasse de tal imponência para enfrentar o mundo atrás daquelas portas. Confessou todos os conceitos de beleza que via nela, confessou o quanto venerava seu corpo e sua mente, e o quanto ele a pertencia e a acompanharia até o resto de seus dias. E o mais inusitado, contou-lhe sobre o fato de que em todos esses séculos de existência, visitando vários tipos de pessoas, admirando incontáveis mulheres, jamais conhecera alguém como ela. Ela era única. E ele a fez se sentir assim com a simples menção disso. No entanto, haviam chegado a um ponto em que nem mesmo ele poderia ajudar, diante da velha fraqueza da rainha quando deparada à sua irmã.

25.

All that grace, all that body

All that face makes me wanna party

He's my sun, he makes me shine

Like diamonds

Elsa governava como lia: majestosa, impecável, perfeccionista. Jack permanecia um segredo habitante atrás de suas portas, e ela ignorava a todo custo tanto os boatos sobre a rainha ser solitária e (com toda a malícia que um ser humano pode fazer uso durante fofocas) “independente” para bons entendedores, quanto à insistência de seu espírito amante para que ela encontrasse um rei que a desposasse. A última vez em que Jack insistiu nesta ideia, sua majestade apenas grunhiu um resmungo sensualmente, prometendo calá-lo para sempre. E implacável, o encarou com os olhos arregalados, em uma inocência fingida que eles compartilhavam intimamente, e marejados pela grandeza do albino que preenchia sua boca dançante que o sugava até as paredes da garganta, enquanto ele fazia do nome dela uma melodia, cujo ritmo acelerava na medida em que ela investia em seu rapaz com a língua tão pulsante quando a intimidade dele.

30.

Hot summer nights mid-july

When you and I were forever wild

The crazy days, the city lights

The way you'd play with me like a child

Após o tempo de pastos bons, vem à seca. Ela agora era visivelmente mais velha que ele, embora ainda fosse arrebatadoramente incrível. E Jack sentiu uma insegurança brotar naquele par de oceanos femininos, semelhante à que ele assistiu ela cair no dia de sua coroação e subsequente revelação. No entanto, descobriu através da mulher que era por sua causa. Ela sentia-se como uma mãe para ele, até mesmo por ter idade o suficiente para tal. Era perturbador, ela declarou, enfim caindo na realidade de que ela não seria sua bela dama para sempre, não teria a mesma disposição ao chegar de um dia, nem o mesmo fogo jovial, nem o corpo que ele adorava tampouco os quadris cruéis que se emparelhavam perfeitamente com os dele, ainda. Ainda. E um dia chegaria, onde não mais se encaixariam fisicamente, onde ela não poderia mais satisfazê-lo, e nem satisfazer-se com ele. Após a negação, vem à aceitação. Jack, por habituar-se a isso, pôde sentir tal antecipação primeiro que Elsa, e após longas conversas silenciosas com a Lua, apenas conformou-se, certo de que não valia a pena pensar no amanhã, e mantendo o que disse sobre amá-la até o resto de seus dias. Descontraído, foi a vez dele de ser implacável com ela, e convencê-la a desfrutar do poço ultrarromântico contido na tragédia a que estavam destinados, enquanto a boca fria molhava a mandíbula pálida e brilhante, os dentes arrastavam-se no fino pescoço, os braços a tornavam propriedade dele com voracidade que a lembravam que embora ele já parecesse um moleque perto dela, ainda poderia leva-la à loucura como sempre fazia, e foi o que fez, tortuosamente lento até que ela prometesse arquejante que jamais duvidaria de seu amor, e quando ela disse o que ele queria ouvir, ele moeu contra ela com a força máscula que ele usaria para dar-lhe a segurança que ela merecia como mulher, e para provar que ele não iria a lugar algum. Nunca.

40.

Will you still love me

When I'm no longer young and beautiful?

Jack a beijava como ela lia: suave, enquanto Elsa teimava em esconder a primeira linha de expressão que maculou sua pele de veludo. Jack descobriu ser romântico, não como Elsa, mas como ele próprio, jamais deixando de lembrá-la que ela jamais deixaria de ser linda e jovem ao olhar dele. E que ele a amaria eternamente.

50.

Will you still love me, when

I got nothing but my aching soul?

Elsa morreu jovem demais, e provavelmente gostou disso. Se seus lábios não estivessem secos, a respiração sonífera substituída por um sono permanente sem ar, e o quarto não estivesse tão quente, significando nada além de sua ausência, Jack estaria certo de que ela levaria seu tempo para apreciar tudo isso. Olaf derreter violentamente fora o arauto do luto em Arendelle, até Jack, tentando de alguma forma mantê-la presente e suprir o que ela decerto solicitaria se tivesse chance, refez a nevasca particular do boneco. No entanto, Marshmellow não usufruiu da mesma sorte, e amargurado, Jack notou que nem mesmo o castelo ela deixou intacto. Tudo relacionado à Elsa, com exceção de Olaf, derretia, desfazia, e logo ela própria seria uma poça fundida no tempo, quando seus pertences fossem substituídos pelos das novas gerações da família real. Estava findado, junto com o corpo de Elsa, a sete palmos da superfície, o espírito de inverno sentia-se findado, agora não havia mais ela, tampouco a vivacidade dele. Enquanto sempre prezou por auxiliá-la a sentir-se viva, ele acabava por fazer o mesmo consigo, ao lado dela. E dali em diante, nada restava além da sôfrega alma que ele sempre foi antes de seu único pedaço de vida nascer naquela que foi sua mulher. Jack seguiu pensando assim até ouvir Anna dizer num fio de esperança para Kristoff, dias após o sepultamento de sua majestade, que sua irmã ainda estava ao seu lado, e que Olaf era a prova viva disso. Tentou ignorar tais palavras, até que filhos, netos, bisnetos, tornaram memorável a presença de Elsa no boneco. Jack, embora fosse o infeliz detentor da realidade por trás disso, sorriu consigo mesmo diante da conclusão de que era a prova simples de que ele era a presença dela, afinal, ambos eram um só, pois ele a amou com todas as forças, e para ele, Elsa sempre seria sua jovem e linda mulher.

I know you will, I know...

You will.