Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 24
E então... A tempestade




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O horário era um dos mais complicados de se locomover pela cidade com qualquer tipo de veículo e James fazia o possível para minimizar isso. Ele realizou diversas ultrapassagens irregulares, pegou atalhos em becos, entrou na contra mão e ignorou semáforos. Mesmo assim, demoramos quase uma hora para chegar ao local desejado. Durante o trajeto, havia um clima de tensão esmagador dentro do carro. Bunny, que geralmente era calma e descontraída, estava visivelmente desesperada e olhava seu relógio o tempo todo. Claro que eu também estava alterado. O tempo dentro do veículo parecia ter parado (isso estava ficando cada vez mais comum para mim) e mais de oito mil pensamentos passavam simultaneamente pela minha mente (me pergunto como não fritei meus “circuitos”). Bem... Voltando ao ponto que interessa: depois de muito sufoco, finalmente chegamos ao nosso destino.

Saímos do carro muito rapidamente, como se nada (lê-se: vários “quase-acidentes”) tivesse acontecido e corremos até a entrada do local com armas em punho. Era um grande e velho galpão (os Harrisons deveriam ter uma queda por galpões) que antigamente fora utilizado como armazém de carros da coleção de um cara rico da cidade (que já não era mais rico e havia perdido suas posses). Desta vez, não havia mais nenhum veículo no local. Entramos pela porta da frente, que estava aberta, e corremos por seu interior praticamente vazio sem nem sequer checarmos os contadores dos presentes. Não havia nenhum sinal de uma emboscada ou de qualquer Harrison, apenas Jackie amarrada em uma cadeira de frente para uma espécie de... Depósito ou armazém de produtos de limpeza... Um pequeno quarto.

Corremos até ela, que olhava fixamente para a porta do... Quarto. Comecei a desamarrá-la e notei que as cordas haviam machucado seus pulsos e calcanhares. Logo tentei falar com ela, já que não parecia ter notado nossa presença:

– Jackie! O que aconteceu?

Ela continuou olhando fixamente para a porta. Seus olhos demonstravam um estado de choque. Algo terrível deveria ter acontecido com ela, mas ela não aparentava nenhum ferimento, exceto por um arroxeado em sua testa (provavelmente proveniente de uma pancada). Tentei falar com ela mais algumas vezes, mas foi em vão. Nada que eu fizesse modificava sua expressão. Enquanto eu tentava algum contato com a pobre coitada, James e os outros Valentines estavam ocupados com a porta. Ela estava trancada e os três batiam nela para abri-la. Bunny aproximou-se de mim aparentemente nervosa:

– Droga... Onde está...

Desisti da Jackie e me voltei para Bunny. Ela se abraçava sutilmente apertando seus braços com força enquanto olhava para a porta.

– Fique calma... Vai... Ficar tudo bem...

Ela levou um pequeno susto e olhou nos meus olhos. Pude sentir sua tristeza. Talvez ela já soubesse o que havia acontecido e estivesse apenas tentando fazer com que a ficha caísse. Senti-me mal por tentar encorajá-lo, mesmo com 99% de mim achando que algo ruim ocorrera.

Ficamos nos encarando em silêncio, até que seus olhos ficaram marejados e ela sorriu:

– Tudo bem... Não precisa dizer nada disso... E... Desista dessa aí. Pelo jeito aconteceu algo horrível aqui e... Chegamos tarde demais... Ela... Deve demorar a sair desse estado de choque...

– Oh... Eu... Não sei o que dizer...

– Não precisa...

Com um barulho alto, a porta cedeu, dando passagem ao quarto, que estava muito escuro (aliás, todo aquele lugar estava escuro exceto pelo lugar onde Jackie se encontrava). Bunny rapidamente correu para dentro do local, quase pisando em James (ele caiu junto com a porta devido ao impulso) e começou a procurar desesperadamente um interruptor. Pouco antes de ela o encontra, Jackie começou a sair do transe:

– Ja... Jade...

Várias lágrimas começaram a escorrer por seus olhos ao mesmo tempo em que o interruptor foi acionado. Com a luz, pudemos ver aquela cena... Horrenda e... Desumana... A sala estava quase que inteiramente suja de sangue e no meio dela... Havia uma cadeira com um corpo totalmente mutilado e desfigurado ao lado de um carrinho cheio de materiais de metal ensanguentados. Nossa chefe atual caiu de joelhos e James, que tentava se levantar, ficou parado naquela mesma posição. Todos estávamos chocados. Usei de todo meu esforço para conter meu vômito. Um dos Valentines que veio conosco não conseguiu realizar tal feito e despejou aquele líquido nojento perto da porta.

Ficamos daquele mesmo jeito. Na mesma posição. Como se fôssemos uma espécie de obra de arte bizarra congelada no tempo por cerca de cinco minutos. É claro que uma cena perturbadora dessas abalaria qualquer um a ponto de não dormir por alguns dias, mas o que nos deixou tão chocado não foi a cena em si. Quer dizer, não apenas ela. O corpo estava voltado para a entrada do quarto e na parede de trás, a maldita que estava bem à nossa frente quando abrimos a porta, os filhos da puta escreveram com sangue a seguinte frase: “Tarde demais, Bunny”.

Estava claro o que havia acontecido. Aquele corpo... Se é que poderíamos chamar aquele amontoado de carne e ossos disso... Pertencia à nossa amada líder... Jade Valentine. Todo o esforço de James para driblar o trânsito fora em vão. Ela provavelmente já estava morta quando ligaram para a Bunny... Fui tolo em acreditar que havia alguma esperança... Tantas coisas... Memórias... Começaram a passar pela minha cabeça e... Bem... Meu “sistema” deu pane, assim como o de todos os presentes. Ainda bem que a primeira a pifar já estava se recuperando, pois foi ela quem nos acordou arremessando a cadeira, na qual estava sentada, contra a parede. O barulho fez com que todos voltassem para nossos corpos e olhassem para ela.

– Chega! Eu... Ela... Droga! – gritava Jackie enquanto lágrimas escorriam por seu rosto.

– Garota!

Bunny gritou e correu até Jackie, segurando-a pelos ombros.

– Me diga... O que... Aconteceu?

– Eles... Aqueles... Malditos...

– Por favor... Me diga... Que aquela... Coisa... Não é...

– Eu... Sinto muito, mas... Aquele corpo... É da Jade.

– Mentira... Isso só pode ser mentira...

– Eu... Sinto muito!

As duas se abraçaram e começaram a chorar. James, agora recuperado e em pé, pediu algo a um dos homens que estava conosco e apenas ficou observando a cena. Fiz o mesmo enquanto os dois caras saíram do galpão. Eles logo voltaram com um saco preto, com a ajuda de James, colocaram os restos mortais da nossa representante no mesmo e o levaram do local. Elas permaneceram abraçadas até os dois sumirem de nossas vistas.

Depois disso, elas se separaram e enxugaram suas lágrimas. Tudo indicava que estávamos prontos para partir, mas Jackie veio em minha direção e levou um grande susto ao avistar James.

– V-você! – gritou aparentemente assustada. – O que está fazendo aqui?! Não... Não...

Fiquei sem entender nada, mas o alvo das palavras pareceu compreender. Ele, então, se aproximou lentamente dela com os braços levantados, como se quisesse demonstrar que estava indefeso. Minha confusão apenas aumentou e percebi que Bunny estava me acompanhando nisso.

– Quem diria... – disse James calmamente. – Você cresceu bastante.

– Não... Não... Por que justo você?

Estava claro que a garota queria correr para longe dali, mas seu medo deve tê-la paralisado, pois permaneceu no mesmo local. Suas pernas bambeavam e suas lágrimas estavam para aparecer de novo. Ele parou a uma pequena distância e a encarou com um sorriso:

– E pensar que por minha culpa você quase não teve a oportunidade de chegar a essa idade...

– Que caralho está rolando, James? – perguntou Bunny muito confusa.

– Ele... Ele... Ele...

– Deixe que eu explico. Há muito tempo atrás, na época em que eu trabalhava para os Harrisons, eu fui incumbido de eliminar uma família que devia dinheiro para eles. Junto a outros membros, espancamos e matamos os pais, ateamos fogo à casa e demos... Quer dizer, eu dei um tiro na criança.

– Mas que porra? – o interrompi. – Isso... É sério?

– Meu passado é mais obscuro do que você imagina. Não tenho orgulho disso, mas também não escondo. Voltando... Pouco tempo depois, descobri que a pequena garota... Jackie Richstone havia sobrevivido milagrosamente. Aquele foi o trabalho que me fez abandonar os Harrisons. Nunca pensei que me encontraria novamente com você. Eu sei que não vai fazer muita diferença agora, mas... Eu sinto muito. E entenderei caso me odeie para o resto de sua vida... Ou da minha. A que demorar mais a acabar.

Fiquei boquiaberto enquanto Bunny o encarava normalmente. Jackie parecia ter congelado enquanto ele falava e o ouviu até o final. Depois disso, ela apenas saiu da “defensiva”, virou as costas, saiu andando e parou alguns metros à frente.

– Suas desculpas não valem nada agora... Saiba que vou aceitar o “odiar para o resto da vida” por hora. Mas... Se você está com os Valentines agora... Então não tomarei nenhuma atitude... M-mas... Apenas saiba que minha vontade é de mata-lo agora mesmo.

– Tudo bem. – disse James sorrindo. – Entendo perfeitamente como se sente e estarei disposto a morrer quando estiver pronta.

– Hey! – exclamou Bunny. – Chega de mortes por enquanto... Vamos para casa... Eu quero dar um enterro digno à Jade...

Os dois ficaram em silêncio e todos nos dirigimos até o carro. Os dois caras haviam colocado o corpo no porta-malas. Entramos no carro e partimos.

No outro dia, todos os Valentines se retiraram de suas posições e foram prestar homenagens à nossa líder. O enterro aconteceu no mesmo cemitério onde Kimi fora enterrada. O dia estava nublado e extremamente frio. Havia nevado durante a madrugada, dificultando o trajeto dos que levavam o caixão até o túmulo. Várias pessoas compareceram à cerimônia, incluindo Lisa e aquele vendedor que devia dinheiro aos Harrisons. Foi um evento extremamente triste, principalmente quando começaram a cobrir o caixão de terra. Bunny desabou a chorar e... A ficha finalmente caiu para mim. Quase caí de joelhos, mas fui amparado por Lisa, que estava ao meu lado (e que também chorava). Olhamo-nos por um momento e... Abraçamo-nos e... Compartilhamos o choro. Jackie se manteve com a mesma expressão o tempo todo. Parecia que algo morrera dentro daquela garota.

Ao final da cerimônia, todos começaram a ir embora e pude ver Jackie se afastando rapidamente para longe de todos. Pensei em ir atrás dela, mas não tinha forças para nada. Sai do cemitério acompanhado por Lisa e estava prestes a me virar para o caminho de casa quando me lembrei de minha amiga:

– Ah... Quase me esqueci. É melhor eu leva-la para casa.

– Oh... Isso não será necessário.

– O quê? Não posso deixa-la sozinha.

– Não foi isso o que eu quis dizer.

– Tudo bem... Agora que eu não entendi mesmo.

– Eu já falei com a Bunny... Eu... Vou entrar para os Valentines!

– O quê!? Mas como... E... Seus pais?

– Eles sabem... Expliquei a situação para eles. Não posso deixar as coisas como estão. Sei que não serei útil na linha de frente devido ao meu pequeno probleminha, mas... Eu posso ajuda-lo a manter os outros vivos!

– Mas... Isso não é o que eu faço?

– Exatamente! Você reclamou para mim que deixou alguns morrerem e estava se sentindo culpado pelo mesmo. Isso me incomodou e pensei bastante a respeito. Até chegar a uma conclusão: se juntarmos nossas habilidades, teremos uma previsão 99% precisa. Eu vejo várias possibilidades ao mesmo tempo... Então sozinha seria complicado, mas se você me informar o tempo restante da pessoa... Posso separar as rotas mais prováveis.

– Isso... Você sabe que é perigoso, não?

– Sim... É que... Só de pensar que os Harrisons podem vencer essa guerra... Eu... Eu estaria perdida! E agora com a morte da Jade... As coisas ficarão meio desestabilizadas... Não posso ficar quieta em casa com tudo isso acontecendo ao meu redor. Tenho pessoas importantes para mim que preciso proteger.

– Heh... Entendi seu ponto de vista... Então... Parceiros?

– Não... Valentines!

– Sim... Valentines!


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Notas finais do capítulo

Heeeeh Eu cheguei a responder num review que postaria só terça. Então... Eu voltei a escrever semana passada e tinha me esquecido de que escrevo nas madrugas de domingo xDDD
Enfim, aqui está mais um capítulo~
Bem... Não tenho muito o que dizer sobre este aqui... Apenas... R.I.P. Jade T-T (eu adorava ela ;-;)... Então... Bem... É isso. As coisas ficarão bem mais agitadas agora.
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima ='D



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