Novo Mundo escrita por Mi Freire


Capítulo 7
Conhecendo o outro lado.


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo onde o David e a Margo tentam dar uma animadinha na Alison.



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Há três dias Alison não saia da cama. Depois de presenciar Caleb com outra ela ficou completamente sem estimulo para fazer qualquer coisa. Preferia o aconchego do seu cobertor, dentro do seu quarto quentinho, com tudo trancado, só ela e Gael ouvindo música o dia todo. Ela mal levantava para ir ao banheiro ou para comer alguma coisa. Ela precisava daquele tempo só pra ela, para poder refletir sobre si mesma e repensar sobre determinadas coisas.

— Eu não vou deixar você nessa situação até o seu corpo entrar em decomposição. – David estava ao seu lado aquele momento, sentado sobre sua cama. — Soube que você não tem ido para a faculdade e nem ao trabalho. A Margo ligou assim que pôde, acreditando que eu era o único que poderia te ajudar. Eu fico feliz que ela tenha pensado assim, mas não sei não. Não quero desaponta-la, mas você nem parece que quer seja ajuda. Há quanto tempo mesmo você não toma um banho?

Ela não respondeu. Odiava que ele estivesse a vendo naquela situação. Ela estava horrível. Se sentia muito mal. Queria chorar e gritar de raiva por ter sido tão estupida por acreditar em Caleb.

— Ali, você nunca mata aula! Esqueceu-se de quem você é? Percebe o quão grave está a situação? – ele pausou, esperando que ela dissesse qualquer coisa. Mas ela continuou calada, imóvel, os olhos inchados de tanto chorar, o nariz vermelho como se tivesse pegado um belo refreado. Ainda assim, continua extremamente linda. — A escolha é sua. Você não pode deixar que aquele canalha tire isso de você. Sua essência. O errado nessa história é ele e não você. Você é maravilhosa, Alison! Quantas vezes eu vou ter que te dizer isso? Se eu pudesse, ia até lá e acabava com a raça dele. Mas tudo que eu posso fazer desse momento é te tirar daqui. Pois eu me preocupo com você o suficiente para pelo menos tentar fazer você se sentir melhor.

— Dave, obrigada. Mesmo. Mas por favor, vai embora.

— De jeito nenhum! Eu vou ficar aqui. E melhor, eu vou te tirar daqui agora. – ele sorriu de maneira travessa. — Margo! – Margo que estava na sala rezando para que ele conseguisse tirar Alison da cama correu até o quarto quando o ouviu gritar seu nome — Vem cá, me ajuda. Vamos dar um banho nela. Porque hoje nós três vamos sair.

Alison tentou de todo jeito se agarrar a cama, enquanto eles a puxavam, cada um por uma perna. Até Gael, o cão, parecia disposto a ajuda, animado, andando de um lado para o outro, olhando pra ela. Esperando por algo. Por fim, a força dos dois amigos foi mais forte e ela foi arrastada até o banheiro, onde mesmo contra todos seus protestos Margo a ajudava a tirar o pijama para tomar banho.

David era quem dava as ordens. E Margo estava se divertindo em poder ajudar.

Alison vestiu uma saia azul-escuro rodada, um suéter branco com listra pretas finas na horizontal e sapatilhas. Margo a ajudou com o cabelo, penteando-o como se ela ainda fosse uma criancinha, depois passaram o mínimo de maquiagem possível.

Enquanto isso, David tentava desinfetar o quarto de toda aquela tristeza: colocou os lençóis e cobertores para lavar, fez a cama com lençóis limpos que ele encontrou no armário, jogou fora os lenços de papel espalhados pelo chão, abriu as janelas e deixou o ar fresco entrar.

Era uma noite de sexta fresca, não fazia calor, nem frio.

Alison já estava pronta, sentada no sofá de braços cruzados, feito uma menininha emburrada. Margo foi para casa, precisava se arrumar também. David sentou-se ao lado de Alison, pegando sua mão para reconforta-la, queria que ela mudasse de humor, pois a noite seria longa, ele já tinha todos os planos dentro de sua mente.

David vestia uma bermuda jeans preta, uma camiseta lisa branca um pouco maior que seu manequim, um blusão xadrez vinho com preto e sapatênis sem meia.

— Eu não quero sair. – resmungou ela sem olhar diretamente pra ele.

— Não é como se você tivesse escolhas. – sorriu ele, presunçoso.

Margo não demorou muito para se arrumar, voltando ao apartamento de Alison. Ela usava um moletom do Mickey, um jeans surrado e um velho All Star. Os cabelos loiros esbranquiçados presos em uma trança lateral e os óculos cobrindo os olhos azuis.

— Vamos lá. Eu dirijo. – anunciou David.

David as levou a uma casa noturna bastante movimentada em Manhattan na qual ele já frequentou diversas vezes. Um lugar espaçoso, extenso, fechado, com dois pavimentos, com bar, jogo de luzes fluorescente, poucos lugares para sentar e musica alta.

— Eu não vou entrar nesse lugar. – protestou Alison que nunca, nenhuma vez, entrou em uma boate como aquela. — Fede a tabaco!

— Ah, você vai sim. – ele pegou a mão dela, eles entraram na fila, mostraram seus documentos e entraram. — Hoje vamos nos divertir!

Margo estava bastante animada, apesar de um lugar assim não ter muito a ver com ela. Nunca tinha frequentado lugares assim não por escolhas própria, mas sim por falta de oportunidade. E tudo era exatamente como ela imaginava: uma galera dançando na pista da dança, grupinhos nos cantos bebendo e conversando, gente bêbada tropeçando, alguns fumando e casais de todos os tipos se pegando.

Ali era um lugar onde tudo era permitido.

— Três doses de tequila, por favor. – pediu David ao encostarem no balcão do bar nos fundos, gritando para o jovem garçom para que ele pudesse ouvir através da música. — Hoje é por minha conta!

O garçom colocou as doses em frente de cada um dos três.

— Eu não bebo. – repetiu Alison pela milésima vez, dispensando a bebida, colocando-a para o lado.

— Hoje é exceção. – David empurrou o copinho de volta para ela que fez uma careta de impaciência.

Alison não estava se esforçando nenhum pouco para ser legal, pelo menos ela tinha motivos para estar por baixo, diferentemente de seus amigos, mas eles pareciam não entender.

— Vamos lá, eu vou contar a até três e a gente vira tudo ao mesmo tempo. – esse era o plano de David. — Um, dois... Três!

Ele e Margo viraram ao mesmo tempo, a bebida escorrendo pelas laterais da boca. Os dois fizeram uma careta, sentindo a bebida descer pela garganta e depois caíram na risada.

Alison estava horrorizada apenas observando.

— Bebe vai! Eu garanto que você vai gostar. – David pediu. Ainda tinha esperanças que ela se sentisse, pelo menos, um pouquinho melhor ao final daquela noite. E não pensou em um jeito melhor que aquele. — Caso você não goste, a gente volta pra casa agora mesmo.

Ele tinha a convencido com esse argumento. Era obvio que ela não ia gostar, detestava coisas assim, tinha ânsia só de olhar para aquele maldito copinho com cheiro de álcool puro.

O garçom que observava a cena, colocou diante da ruiva um limão e sal. Dizem que a mistura dos três elementos ajuda a digerir com mais facilidade. David ensinou a ela como faria, Alison ouviu tudo com atenção, em seguida Margo e David fizeram uma contagem repressiva e.... Pronto. Alison colocou tudo pra dentro.

Apesar da careta que fez de olhos fechados, sentindo o gosto de álcool na boca, admitiu a si mesma que não era de todo mal. Mas queria ter certeza de que aquilo não era uma pegadinha. Pediu outra tosse ao garçom que a atendeu com satisfação.

Alison bebeu mais uma dose, e David e Margo estavam certos, ela acabou gostando. Gostou mesmo. Não do sabor, mas sim do efeito que foi instantâneo. Sentiu que estava começando a ficar com mais calor, mais alegrinha, leve e solta, como se pudesse flutuar.

— Vamos dançar! – David muito satisfeito e orgulhoso de certa forma puxou as duas pelo braço até a pista de dança.

— Não! Eu não sei dançar. – disse Alison, gritando no seu ouvido. A música ali era tão alta que parecia tocar no ritmo das batidas do seu coração. Margo, por sua vez, maravilhada com tudo aquilo, já estava dançando sozinha, interagindo com os desconhecidos.

— E você acha que eu sei? – David disse de volta, com um sorriso de orelha a orelha. — Mas nós nunca vamos saber se não tentarmos.

Ele a pegou pela mão e a rodou, deixando-a um pouco zonza. Impulsionada, não demorou muito para Alison começar a balançar as pernas, depois os braços e depois o corpo todo, mesmo fora do ritmo, apenas mexendo-se, como boa parte da galera fazia.

Não era preciso saber dançar, ela entendeu. Apenas se divertir e se soltar, se permitir naquele momento.

Margo e Alison continuaram dançando em meio as luzes fluorescentes que refletidas no rosto delas deixavam-nas com a pele de cores diferentes, como se fossem seres de outro planeta. David foi buscar mais bebidas, trazendo consigo copos maiores com bebidas coloridas.

A bebida ajudou Alison a se soltar muito mais, logo ela que não tinha o habito de beber. Com isso, David já mais acostumado e experiente ficou o tempo todo de olho nelas, para que não abusassem do álcool e tivessem problemas mais tarde. Ele só queria que elas se divertissem como muitas vezes ele se divertiu com os amigos, não que fizessem alguma besteira e se arrependessem depois.

— Olha só! As garotas não param de babar em cima dele. – Margo comentou com Alison enquanto ainda dançavam cheias de energia.

Alison olhou na direção de David, sentado no balcão do bar e rodeado de lindas mulheres de todas as idades.

David já havia vivido aquela experiência, onde tudo era novidade, tudo era diferente, suas primeiras vezes, aquelas primeiras sensações de adrenalina, inconsequência, o álcool percorrendo em suas veias, a cabeça rodando, a vontade de pular e gritar, sentindo-se incrivelmente demais. Por isso, havia cansado rapidamente, deixando as meninas terem o momento só delas. Enquanto de longe, sentado, ficava observando-as como uma guarda-costas.

Margo apesar de linda, um tanto fofa com aqueles óculos, aquele moletom infantil e jeans que não valorizavam suas pernas curtas e grosas, era um tanto desengonçada. Já Alison, mesmo já levemente bêbada, continuava deslumbrante. Seus cabelos ruivos balançando no ar conforme ela ia mexendo o corpo em um ritmo único. De longe, ele percebeu que os homens que estavam perto dela sentiam-se atraídos, o que já era de se esperar. Ela é magnifica.

— Vamos até o banheiro. – Alison puxou a amiga pelo braço, em um gesto desesperado. — Eu estou apertada!

Alison tentou ignorar o fato de David ser incrivelmente irresistível e sexy com aquela barba por fazer e o cabelo sempre penteado em um topete mal feito. Pelo visto, ela não era a única a ver as coisas desse jeito, já que as mulheres no geral não saiam do pé dele. Ele muito galanteador, parecia não dar a mínima para elas. Alison sabia que aquilo só fazia parte do plano dele em ser charmoso.

Ela usou o banheiro e se olhou no espelho, quase não podia reconhecer a si mesma: o cabelo ruivo bagunçado e a maquiagem borrada. Mas gostava do que via. Como se pela primeira vez pudesse enxergar um lado dela que desconhecia.

Mamãe ficaria decepcionada comigo, pensou. Mas já sou uma mulher feita, tenho minha própria casa, meu carro e um emprego. Sou adulta.

As vezes ela acha que não deveria se importar tanto com a opinião dos outros. Assim como David, que fazia tudo que tinha vontade.

Ela e Margo voltaram ao bar e pediram mais bebida. Aquela era sua noite. Seus amigos estavam certos, ela estava um caco até chegar ali, como se estivesse hibernando por anos dentro do próprio quarto. Tudo porque deixou se enganar por um homem que acreditou que era diferente, como todos os outros que ela pensou o mesmo.

Mas tomou uma decisão: de agora em diante seria diferente. Nada de homens. Chegaria a onde queria sozinha, não precisava de ninguém. Tinha seus amigos e uma família e isso era tudo.

— Você deveria pegar leve, Ali. – alertou David ao ver que ela já nem sabia mais quantos copos bebera.

— Eu não me importo. – ela deu de ombros, depois riu sozinha. — Só quero aproveitar.

Virou todo o liquido de seu copo e voltou para a pista de dança sozinha. Margo estava descansando. Alison começou a dançar, pular e rir muito. Sozinha. Margo estava achando tudo aquilo uma graça, nunca vira a amiga assim. Tão solta. David já estava começando a repensar se trazer as duas até ali teria sido uma boa ideia.

Alison estava frágil e com o coração partido. Mas depois de algumas bebidas não era mais assim que ela se sentia. Pelo contrário, nunca sentiu-se tão bem. Sentiu-se melhor ainda quando um belo rapaz, com seus trinta e poucos anos se aproximou dela, tentando uma aproximação mais íntima. Ele tinha um sorriso maravilhoso. Ela não sabia quem ele era e nem como se chamava. Mas ele era bonito e naquele momento era tudo que importava. Queria simplesmente esquecer Caleb, tira-lo de sua vida de uma vez por todas.

Começou a dançar agarradinha com o tal rapaz, ele com as mãos firmes em sua cintura e a boca próxima ao seu pescoço. Ela ria muito, sentindo que tudo estava girando devagar. Completamente embriagada pelo álcool e pela sensação de êxtase.

O que aconteceu a seguir foram cenas vagas na mente de Alison: ela se agarrando com o tal rapaz que depois descobriu se chamar Sebastian, ela dançando no meio de uma rodinha de amigos fingindo levantar a saia enquanto eles não tiravam os olhos dela, David puxando-a pelo braço tentando evitar o pior, Margo se divertindo com a cena, Alison ficando irritada com o chato do David, Alison pedindo ajuda aos outros homens para se livrar de David, Alison tropeçando nas pessoas e roubando copos das mãos de outros bêbados, Alison vomitando no banheiro da boate enquanto Margo segurava seus cabelos, David impaciente e irritado, Alison subindo no balcão do bar para dançar enquanto os homens tentavam incentiva-la.

E finalmente, quando David a jogou nas costas e tirou ela dali. Levando as duas para casa as quatro da manhã.

— Eu preciso muito dormir. – Margo mal conseguia subir as escadas, estava tão mal quanto Alison.

— Não durma sem antes tomar muita água. Não esqueça de deixar aspirinas ao lado da cama para quando você acordar. – David a aconselhou, sabia bem o que aconteceria quando ela acordasse de ressaca, a cabeça doendo e o enjoo. — Eu cuido da Ali.

— Eu sei que sim. – Margo sorriu, antes de enfiar a chave na fechadura de seu apartamento. — Eu confio em você.

Ela piscou pra ele e entrou, trancando a porta e caindo no sofá completamente apagada.

≈≈≈

David estava com Alison adormecida nos braços e teve que abrir a porta com muita dificuldade. Colocou-a na cama, tirando suas sapatilhas imundas, tirou também seu suéter molhado com cheiro de cigarro e cerveja, deixando-a só de regata, afastou seus cabelos do rosto e ficou olhando para ela por um tempo.

Sentindo-se levemente culpado em como as coisas foram acabar.

— Você precisa dormir aqui comigo. – ela resmungou, meio sonolenta, puxando-o pelo pescoço. Pegando-o de surpresa. — Eu não quero ficar sozinha, Dave. Não quero!

Ele sorriu, ela estava muito bonitinha, parecendo uma criança.

— Eu vou dormir lá na sala, está bem? – ele tentou se livrar dela.

— Não! – ela berrou. — Na sala não. Aqui. Comigo.

Mesmo de olhos fechados ela fez beicinho.

— Tudo bem. Eu vou ficar aqui. Mas você tem que prometer que vai se comportar. Você precisa dormir, Ali.

— Eu prometo. – ela se afastou, dando espaço ele. — Agora deita aqui. Você vai ficar bem aqui.

David tirou os sapatos e o camisão xadrez, apagou as luzes, fechou as janelas e deitou-se com ela. Não muito perto. Mas não adiantou, Alison se aproximou mesmo assim, jogando os braços sobre ele, como se ele fosse seu ursinho de pelúcia, com sua respiração muito próxima ao pescoço dele. Aquilo lhe causava uma sensação estranha.

— Dave? – ela chamou por ele, vinte minutos depois.

— Você ainda não dormiu? O que foi?

Ele também não havia conseguido pregar os olhos, ficava pensando nela, no quão perto estava de seu corpo, na respiração dela contra a sua pele, os braços sobre ele, os cabelos pinicando sem braço.

Era tudo tão estranho e ao mesmo tempo tão bom. Diferente.

— Obrigada por hoje.

Depois disso: apenas o silêncio.

≈≈≈

David havia finalmente convencido Alison a voltar ao trabalho, de cabeça erguida, como se nada a abalasse. Mesmo que por dentro ela estivesse um caco. Ele a levou até o escritório e fez questão de subir ao lado dela no elevador. Com ele ao seu lado ela podia se sentir... Segura. E naquele momento era tudo que precisava antes de ter que encarar Caleb de uma vez por todas depois da... Traição.

— Qualquer coisa me liga e eu venho te buscar. – ele beijou a cabeça dela e Alison sorriu lisonjeada pelo grande amigo que conquistou tão facilmente. — E não esqueça: você está linda. Você é linda!

David se foi, tendo que deixa-la sozinha. Ele sabia que seria difícil pra ela lidar com aquela situação sozinha, mas era preciso. Ela já era uma mulher e precisava passar por certas coisas. Se tudo dependesse dele, seria bem diferente. Se possível teria quebrado a cara da Caleb por ter sido um completo estupido ao partir o coração de alguém como ela. Que tipo de monstro ele era?

Mas nada ele poderia fazer. Apenas torcer por ela de longe.

Alison entrou no escritório tentando ao máximo passar graciosidade, com sua calça preta de cintura alta, uma blusinha branca e um casaco também preto, nos pés ela usava saltos altos. Estava elegante, com sua bolsa vermelha de lado. Sentia-se grandiosa. David tinha o dom de faze-la se sentir melhor sem nem precisar dizer muito. Ele é adorável em todos os sentidos. Como um irmão, ou, pelo menos era naquilo que ela preferia acreditar. Apenas um irmão.

— Fico contente que tenha voltado a trabalhar conosco. – disse Caleb, todo sorridente. Indo ao encontro dela.

Fazia uma semana que Alison não comparecia ao trabalho, ela precisou daquele tempo para organizar os pensamentos. Ainda não estava preparada para voltar a sua rotina normal, muito menos ter que olhar para Caleb, mas David e Margo a convenceram de que não era uma questão de querer e sim aceitar os fatos como eles realmente são.

Por mais dolorosos que sejam.

— Eu estou pouco me lixando pra você, Caleb. – ela tentou dizer isso baixo, mas não conseguiu. Acabou que boa parte dos colegas estavam olhando para eles, parados no meio do escritório. — Depois daquilo, eu realmente pensei em me mandar daqui. Mas não daria esse gostinho a você. Faça da sua vida o que me entender, só não volte a se meter na minha. Eu só ainda estou aqui porque eu realmente preciso da grana, se não fosse por isso eu faria questão de nunca mais ter que olhar pra essa sua cara de inútil. – Alison cuspia as palavras com facilidade. Havia passado horas ensaiando aquele dialogo em sua cabeça. —E por favor, só volte a falar comigo se for algo relacionado ao trabalho.

Ela deu as costas pra ele, indo em direção a sua mesa. Os colegas, boquiabertos, ainda não acreditavam no que acabaram de ver: uma funcionaria batendo boca com o chefe. Eles não sabiam o que tinha de fato acontecido ali, mas Lucy sabia e estava triunfante. Já Caleb, ficou apenas em silencio e voltou para sua sala. Não havia nada que ele pudesse fazer, só ele sabia o quanto era errado nessa história.

Admitia: nunca se deve brincar com o coração de uma mulher. Ou as consequências podem ser bem mais árduas.

≈≈≈

— Podemos almoçar juntas? – Lucy correu até ela, alcançando-a na pausa para um intervalo. Haviam trabalhado muito aquela tarde.

— Claro! – Alison sorriu quando a viu se aproximar. Sentia-se bem melhor agora, após ter enfrentado o problema frente a frente. E também, Lucy parecia a única a querer sua amizade depois de tanto tempo trabalhando no mesmo lugar. — Obrigada Lucy.

As duas desceram o elevador, caminharam pelas calçadas movimentadas de Manhattan e procuraram um lugar para comer.

— Eu deveria ter acredito mais em você.

— Não tem problema, querida. Eu sei o quanto é difícil ter que ver algo que você não quer enxergar. – ela sorriu para Alison. As duas sentaram-se em uma mesa daquele deslumbroso restaurante no centro da cidade. — Mas foi bom você ter enxergado a verdade finalmente.

— É... E da pior forma.

As duas fizeram os pedidos e aguardaram.

— Você parece ser uma mulher muito experiente. – observou Alison, curiosa sobre a nova amizade. Havia algo em Lucy, no fundo de seus olhos castanhos-esverdeados, que fazia com ela sentisse intimidade suficiente para puxar conversa.

— Não que eu seja experiente. Mas tive problemas assim como caras desse tipo. Dos piores tipos, entende? – as duas riram. — Uma vez eu me envolvi com o meu chefe e, por um ano, ele me enganou. O cafajeste era casado! E nunca me contou e eu, burra e ingênua, nem se quer desconfiei até a mulher dele bater na porta da minha casa para tirar satisfações comigo. – ela riu, descontraída.

— Ah é? – Alison estava muito surpresa. — E o que você fez?

— Conversei com ela. – Lucy deu de ombros. — E juntas nós nos unimos: duas mulheres enganadas por um imbecil. E sabe o que mais fizemos? – Alison negou com a cabeça. — Nós demos uma boa lição nele. Nós duas! Sem ela eu realmente não teria conseguido. Aquele canalha era esperto. Por isso, quando percebo que alguma mulher está passando pelo mesmo que eu, eu tento alerta-la. Eu acho que em momentos assim, nós mulheres deveríamos nos unir mais e não nos odiar e brigarmos por homens como se eles fossem únicos e coitadinhos.

— Você tem razão. – Alison gostava da maneira de pensar dela e estava totalmente de acordo. Era completamente agradecida por Lucy ter a alertado, apesar de ela não ter dado tanta importância quanto deveria. — Mas como você percebeu? Como soube o Caleb e era um.... Idiota?

— Hum, bem, porque ele também deu em cima de mim. Eu poderia ter caído na conversa fiada dele, mas não caí, porque eu já conheço bem tipos assim. E quando percebi que ele não só fazia o mesmo comigo, com você e também com outras, resolvi te alertar. Porque entre todas as outras, você foi a que eu senti que mais sofreria. E você não me parece o tipo de mulher que deveria sofrer por homens assim. Você tem um bom coração, Alison. E é por isso que gostei de você.

Lucy nem precisou dizer mais nada, Alison já estava completamente encantada por aquela mulher. Sentia que podiam ser boas amigas. Lucy lembrava de sua querida avó, alguém que sempre tinha conselhos sábios nos melhores momentos, como se adivinhasse exatamente do que ela precisava sem ela nem precisar tocar no assunto.

≈≈≈

— Ir ao teatro? Não Ali. Eu não quero ir a um lugar chato desses. Eu nunca fui ao teatro na vida! E isso nem estava dentro dos meus planos. Porque não vamos a uma festa? Como qualquer pessoa normal da nossa idade. Teatro são para velhos!

— Não seja ridículo, Dave. – Alison soltou uma boa gargalhada. — Se você nunca foi antes, essa é sua chance. Vamos! Por favor? Eu preciso tanto ir ao teatro! Vai ter uma estreia de um dos meus livros preferidos de Shakespeare. – ele fez uma careta, como se não estivesse entendendo nada do que ela estava dizendo e isso tornava tudo tão mais divertido. — Se você não for comigo, eu vou ter que ir sozinha...

Ela estava começando a apelar.

— Isso é golpe baixo, Alison Harvey! – ele interveio, deixando um sorriso escapar. — Porque você não chama a Margo? Ou aquela sua nova amiga.... Como é mesmo o nome dela? Lucy! Isso, a Lucy. Ou então...

— Eu e a Lucy não somos tão amigas assim, Dave. Estamos nos tornando amigas. Faz só uma semana em que nos conhecemos! E a Margo, bom, ela saiu com o Tony. E só me resta você. Tem que ser você ou eu vou sozinha mesmo. Não tem problema...

Ela fez beicinho e ele quis apertar suas bochechas sardentas.

— O.K. – ele jogou os braços pra cima. — Você venceu!

— Não seja tão marrento! Alguns dias atrás eu saí com você, conheci um pouco mais do seu mundo. Agora é hora dos papeis inverterem e você conhecer um pouquinho melhor o meu mundo.

— Tudo bem então. – ele levantou-se, completamente rendido. Como poderia dizer não a ela? — A que horas eu passo para te buscar?

— As oito em ponto. E por favor, use trajes formais.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo?