Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 14
O Profeta




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– Foi assim que aprendeu a lutar? – Sam soltou a nova pergunta - A maneira como tentou se livrar de nós no primeiro dia na praça quando gritaram com você era tão técnica. Não parecia tipo de luta que se aprende na rua.

– Eu não sei sobre isso também. – Elle deu de ombros entristecida - Eu era boa nisso também desde sempre. Meu corpo faz essas coisas automaticamente. Reflexos primeiro, quase nunca penso sobre como tenho que agir. Simplesmente acontece e eu sei que parece certeiro de mais. Coloquei isso nas pistas sobre meu passado.

– E elas acabam ai? As pistas do passado? – Sam era quem levava a investigação mais a frente, já que Dean tinha decidido dirigir. Quando o carro começou a andar Elle, no banco de trás, e Sam, no carona, viraram os olhos para o motorista, mas ele continuava sério.

– Sim. Voltei ao lugar que acordei, mas não deu em nada. Não tem nada lá. Ele não significa nada. Nada nunca aconteceu naquela maldita floresta. Nem mesmo um caso de monstro, nem mesmo um serial killer. Nada. Apenas uma floresta.

– Mesmo o fato de ser só uma floresta é estranho.- ponderou Sam - Qualquer coisa de ruim deve ter acontecido ao menos uma vez em cada floresta do mundo. São florestas. É para isso que elas servem não é? Para que mais serviria?

– Não naquela. São três anos de pesquisas. Nada aconteceu lá. Como eu disse minhas pistas se resumem ao lugar que eu acordei, que não diz nada. Ao fato de eu saber lutar, do meu corpo se recuperar de qualquer enfermidade de forma fenomenalmente rápida, mas mesmo assim eu ter certeza que sou humana, DNA, corpo, órgãos, tudo em ordem. E claro... A minha pele.

– Os símbolos... – sussurrou Dean surgindo mais uma vez na conversa, mas sem tirar os olhos da estrada. Elle se perguntou onde estariam indo.

– Nada também. Ninguém nunca ouviu falar deles. Ninguém nunca os viu. Nem mesmo o tipo de desenho é existente. E eu nem sabia que era capaz de existir um tipo de desenho novo com tantos pseudo artistas e blogs no mundo. Mas de verdade, depois de um tempo, comecei a evitar mostrar.

– É realmente estranho que cicatrizes sejam as marcas de uma garota com poder de cura – Elle percebeu que Sam olhava para seus ombros, braços e mãos, quis esconder-se, mas apenas respirou fundo e permitiu a analise.

– Já arrancaram sua cabeça? – sério, perguntou o motorista.

– Dean! – Sam o olhou em reprovação.

– Quero saber até onde vai a recuperação dela. – o outro deu de ombros não parecendo estar de bom humor.

Elle engoliu seco antes de responder. Arregalou os olhos, apertou a boca e disse com mau humor.

– Ela volta se quer saber. De alguma maneira meu corpo sabe onde está e é só colocar em cima esperar e... Eu não acredito que estou descrevendo isso. Não é legal okay? Doi muito! Muito! O fato de eu não ficar doente ou feriada não significa que não haja dor.

– Eu sei. – soltou Dean vacilando no papel de bravo - É igual Wolverine.

– Wolverine? – Elle não entendeu a ligação.

– Você não sabe quem é o Wolverine? – Dean virou o rosto para ela parecendo muito surpreso.

– Algum tipo de lobisomem que eu não conheça? – ligações e sentido, eram tudo o que a cabeça de Elle procurava.

– Como você viveu tanto tempo sozinha, cara? – o tom de desdém de Dean indicava também um desejo por cuidar, como se estivesse tentando se recolocar no assunto em uma boa posição.

– É por isso que eu percebi que precisava de ajuda. Entendi rápido que as pessoas normais não sabem da existência do sobrenatural. Como minhas primeiras investidas fizeram com que as pessoas pensassem que eu era algum tipo de louca levei um tempo até entender o limite entre o que pode ser comentado e perguntado e não.

– Deve ter sido complicado entender tudo isso sozinha. – Sam torceu a boca em um tom amigável, por dentro, começava a sentir vontade de se desculpar com ela. Explicações, conversa e calma podiam realmente mudar uma relação mesmo que curta.

– O mundo estava em choque comigo. O mundo me encontrava com frequência. Eu não ia morrer, mas... Eu não queria que doesse então aprendi que eles também eram a minha melhor fonte de informação. Aprendi com meus monstros. Aprendi o suficiente para me virar, para encontrar uma maneira de vida agradável e para saber que os Winchesters eram os melhores. Foram os monstros que me contaram sobre vocês.

Outro flash veio a sua mente. A mesma mulher morena de cabelos longos. Uma adaga na mão, suja com algum liquido viscoso e negro. A coisa amarrada a sua frente assim como cenário mudando, mas o que ela perguntava fazia não. Enfiava a faca por dentro do ouvido e começava a empurra-la em direção ao cérebro com calma, a mesma frase cadenciando o ritmo do movimento. Onde eu acho respostas. Winchester era um nome que se repetia com uma frequência assustadora.

– E então você veio atrás de nós e não da cidade? – indagou Dean ultrapassando um carro. A estrada estava vazia àquela hora da noite.

– Touche. – Elle confirmou com a cabeça - O fato de ser algo que eu já tinha lidado e vocês não me deu coragem de interagir. De me mostrar.

– Pera... – começou Dean nada surpreso com mais uma novidade escondida por ela - Você já tinha tentado fazer isso antes?

– Eu os vigio há uns três meses. Fiquei na cola de vocês quando os encontrei em New Orleans. Não tão na cola, tipo 24h porque eu dependo de carona ou de ter dinheiro e coisas assim. Mas tento não me distanciar o máximo possível para ser mais fácil encontrar o próximo paradeiro.

– Se queria ajuda porque não pediu ao invés de agir como uma louca stalker? – berrou o Winchester mais velho virando em uma curva sem diminuir a velocidade.

– Eu tinha que ter certeza que vocês não eram monstros ou... Qualquer coisa do tipo. – se defendeu Elle apressada - Eu sei que é difícil entender, mas eu cometo erros. O tempo todo, disso eu tenho noção, eu não tenho noção é de como eu devo agir para evitar os erros. – ela torceu a boca incomodada com sua confissão - Eu só existo há alguns anos. A minha vida foi diferente de qualquer pessoa normal. Eu acordei velha, eu fui criada entre um hospital e uma casa de vampiros loucos... Monstros estão na minha cola e não eu nas dele. Não é tão fácil fazer as coisas que a sociedade espera que eu faça simplesmente porque eu não sei que coisas são essas.

– É uma desculpa aceitável... – ponderou Sam complacente.

– Então... Vocês vão me ajudar? – sua última frase se resumiu a um ponto de esperança. Ela soltou as pernas do corpo, sentia-se agora mais segura.

– Sim. – garantiu Sam - Só não fazemos ideia de como.

– Vamos levar ela para casa. – Dean olhou para Sam de maneira séria. E apesar do segundo ter acabado de confirmar que a ajudaria não conseguiu esconder que não gostava do plano do irmão

– Não podemos leva-la para o bunker. Poderia ser muito arriscado!

– Eu ainda estou na conversa... – disse Elle um pouco incomodada em ser o ponto da discussão, mas não poder opinar.

– Eu confio nela. – concluiu Dean. A placa que acabava de ultrapassar deixava claro que ele já tinha escolhido aquele caminho desde que tinha ligado o carro.

O lar dos homens das letras era ainda um lugar aconchegante. Ao tirar as malas do carro e descer as escadas até fortaleza sobrenatural Dean se perguntava se era sensato pensar em como podia ser divertido dividir o seu quarto com uma garota pela primeira vez.

Sam seguiu um pouco a frente, abrindo a porta para Elle entrar.

– Esse é o Kevin. – disse apontando com a cabeça para um garoto asiático que no fim da sala empilhava alguns livros para alcançar uma caixa repousada sobre a prateleira mais alta da estante.

– Ele mora aqui? – perguntou Elle sorrindo para o garoto que se deu ao trabalho de olhar por cima do ombro e só assim percebeu os novos visitantes.

– Sim. Ele mantém a casa invisível aos olhos de qualquer coisa. – Dean jogou as malas para dentro da casa e fechou a porta empurrando com o corpo - É um feitiço, mas ele só se mantém em uma pessoa e não em um lugar, então se Kevin está aqui, a fortaleza sobrenatural não existe

– Fortaleza Sobrenatural? – perguntou Elle com tom de desdém.

– Apenas o ignore. – concluiu Kevin descendo para cumprimenta-los.

– Kevin é muito bom os livros. Ele tem uma visão muito especial sobre tudo.... – Dean riu de uma piada interna muito ruim aparentemente – Ele passa os dias aqui lendo e escrevendo... Coisas de Kevin. As coisas de Kevin nos ajudam frequentemente.

– Então você é o informante dos caçadores – sugeriu Elle com um sorriso. Kevin já caminhava na direção deles. A garota estendeu a mão e o garoto fez o mesmo gesto depois de limpar as dele nas calças.

– É um prazer. Eu sou Kev... – ele não teve tempo de apertar a mão dela. Antes mesmo de terminar o gesto e dizer seu nome Kevin caiu duro para trás, em um desmaio fulminante.

– KEVIN! – Sam correu na direção dele. Elle agachada batia no rosto do garoto que não respondia aos estímulos leves. Dean surgiu de volta ao hall.

– Coloca ele no sofá, vou pegar amônia.

Quando Dean voltou Kevin já estava repousando sobre o sofá. Ainda desacordado, mas não por muito tempo. Dean molhou um lenço na amônia e o posicionou na frente do nariz do profeta.

Com espirros e tosse Kevin acordou alguns segundos depois. A voz agonizante não foi capaz de produzir alguma palavra entendível. Conforme ele tentava levantar o corpo ainda abalado pelo choque Elle estendeu a mão para o rapaz. Quando seu corpo ficou reto sobre a cama voltou para de onde tinha vindo. Mais uma vez Kevin desmaiou.

– Puta que pariu! – berrou Dean que antes de passar a amônia pelo rosto dele mais uma vez deu tempo para que o garoto respirasse.

A cena se repetiu. Cambaleante Kevin acordou e tentou se levantar. Elle já ia ajuda-lo a se colocar sentado quando Sam gritou a fazendo parar no meio do caminho.

– Não encosta nele!

Dean e Elle olharam para Sam assustados com a urgência. Kevin que tentava se recuperar apoiou a mão no braço ainda estendido de Elle. Dito e feito. Kevin apagou.

– É você que está fazendo ele apagar. – explicou Sam que já se posicionava para ajudar Kevin sem ele precisar encostar em Elle quando acordasse.

– Você causa efeitos diferentes em cada monstro. Está fazendo Kevin entrar em choque. – continuou segurando no pulso do garoto para que ele conseguisse encostar no sofá sentado.

– Então Kevin é algo... – começou Elle - O que é o Kevin?

– Ele é um profeta.

Quando Kevin estava bem, cinco minutos depois, os três explicaram para o garoto a história de Elle. Agora juntos os quatro tentavam mais uma vez descobrir o que podia se passar com ela.

– Ela é bloqueada. – começo Kevin ainda um pouco sem forças e por isso falando ofegante - Ela realmente tem algo. Mas não é meu tipo de informação.

– Você vê algo nela? Alguma mensagem? – perguntou Sam, sem acreditar que as respostas viriam tão rápido assim.

– Sim. – afirmou Kevin.

– E porque não é seu tipo de informação? Não consegue ler? - Dean estava de pé perto do sofá, na mão ainda segurava o pano e a amônia em prontidão.

– Não exatamente. Eu já disse... A palavra divina aparece mais como uma mensagem do que como uma língua. – Kevin precisou de alguns segundos para conseguir falar olhando nos olhos deles - O vento por exemplo é uma mensagem sobre a tempestade. É por isso que é tão difícil traduzir, porque eu preciso sentir... Mas com ela... Eu me sinto bloqueado.

– Bloqueado? – Elle queria segurar a mão dele, queria chegar mais perto. Pela primeira vez estava literalmente próxima de uma resposta e não podia sequer toca-la.

– Sim. – confirmou Kevin paciente – A energia que eu sinto é praticamente a mesma, eu acho. Mas não consigo chegar na mensagem, apago antes de dar esse passo. Me bloquearam.

– Te bloquearam? – perguntou Dean estranhando.

– Eu consigo ver meu nome. – explicou o profeta com um pesar maior - Como uma chave de acesso. Está bloqueada para mim. É como se fosse pessoal. Alguém pensou em bloquear o profeta.

Dean e Sam olharam para a garota que por sua vez estava olhando desesperada para Kevin, como se quisesse sacudi-lo, mas obviamente com medo de apagar o garoto mais uma vez.

– Então o problema dela é de ordem divina? – Sam concluiu o que todos pensavam.

– Eu venho do céu... Como os anjos e demônios e os profetas – e Elle repetiu tudo aquilo umas três vezes como se falar em voz alta fosse fazer surgir o sentido.


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