Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 12
Arabescos




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Sam se acalmou na manhã seguinte. E não precisaram de muito esforço para perceber que tudo que a cidade necessitava era de calmaria. Como disse o Padre Ledger pecado provavelmente se combatia com virtude. E em cada casa visitaram naquela semana foi preciso ser forte e ser paciente, ser justo e ser prudente.

O Padre fazia um ótimo trabalho. O plano era simples, iam até uma casa para uma conversa, provocavam uma convulsão e faziam com que a própria família participasse do ritual de redenção. Logo a cidade soube o que era preciso e cuidou daqueles que faltavam sozinhos.

E graças a isso as últimas noites tinham sido todas mal dormidas. Não podiam se dar ao luxo de quebrar a corrente, foi uma casa após a outra, dia após dia.

Os corpos cansados por tantas descargas negativas de adrenalina começavam a cobrar o peso da determinação agora que podiam parar. Dos três Ellie era a mais cansada. Os Winchester tinham ficado surpresos com a maneira como ela se empenhava. Por fim ela já tinha chegado ao ponto em que apesar de ainda estar raciocinando não era capaz de produzir palavras em resposta.

Ela fechou os olhos quando sentiu Dean a colocar deitada no banco de trás do carro. E quando os abriu de novo ele estava sentado logo ao lado dela, sentado no chão para fora do carro, aproveitando a porta aberta para recostar a cabeça no banco.

– Que horas são? – sentando-se ela apertou os olhos. A cabeça girando sobre os ombros para estalar o pescoço.

– Já é segunda. Quatro da tarde de segunda – Dean respondeu virando o rosto para ela com um sorriso carinhoso. Ela nem percebeu, estava mais preocupada em cheirar a própria camisa.

– Eu dormi o domingo inteiro? – mesmo que o tom fosse de assustada sua expressão se resumiu a movimentos calmos o suficiente para dar um nó no cabelo – Cadê seu irmão?

– Foi comprar comida. Jornal de hoje. Ver como anda as coisas na cidade para saber se já podemos ir embora. – Dean tentou focar os olhos nela, mas a garota levantou e saiu de dentro do carro usando o ângulo entre o carro e os dois para se esconder.

Pelos movimentos que ele podia enxergar daquele canto ele entendeu que ela estava trocando de roupa.

– Tudo está bem na cidade. Relaxa – ela respondeu enquanto aparentemente vestia uma calça nova – É sempre ele que fica trazendo a sua comida? – ela se deixou cair no banco traseiro do carro. Mais uma vez estava toda vestida de preto, saia longa, camiseta e a mesma jaqueta de sempre.

– Eu preferi ficar te protegendo.

– Me protegendo? – ela riu cruzando as mãos sobre a barriga, como tinha sido durante toda aquela semana estava usando luvas. Pela primeira vez desde a pensão Dean tinha tempo de se incomodar com aquela roupa toda.

– É claro. Não ia deixar uma mocinha, mesmo uma mocinha casca grossa, dormindo sozinha na floresta. – ele virou o rosto, na posição que estavam bastou isso para que ficassem com o rosto lado a lado.

– Você realmente não me conhece – ela fugiu daquela posição, passando a ficar sentada o olhando de cima?

– Eu sei que você precisa de mim – Dean ficou de pé e antes de entrar no carro e se sentar ao lado dela a olhou da porta por alguns segundos.

Elle o olhou de volta, mas não disse nada, muito menos expressou algo no rosto. E quando ele sentou-se ao seu lado fechou os olhos outra vez. Dean a observou de cima abaixo. Depois de dias não tinha entendido nem metade da presença dela.

– Elle, você disse...

Ela não o deixou continuar. Ajeitou-se no banco para ficar de joelhos e depois se movimentou dessa maneira até o colo dele, deixando o corpo do caçador por entre seus joelhos e sentando-se nas cochas dele. E olhou em silêncio, com o mesmo rosto sério e apático de antes. As mãos soltas ao lado do corpo.

Dean entendeu que ela não queria falar. De modo carinhoso a segurou pelo pescoço com as duas mãos. As pontas dos dedos apoiando o fim do rosto da sua garota. Se ele não tivesse fechado os olhos perceberia que ela apesar de se deixar levar mantinha os seus abertos.

Ellie tomou a iniciativa do beijo e por isso Dean tomou a iniciativa do toque.

As mãos que estavam no pescoço da garota começaram a descer pelo ombro. Ainda tocavam camiseta conforme desciam por dentro da jaqueta de couro que ela insistia em usar.

Ali Ellie pareceu travar. Achando que era apenas uma reação normal de excitação, Dean continuou descendo as mãos. Dessa vez com mais pressão.

O caminho chegou até abaixo do ombro por dentro dos braços da jaqueta. Com uma estremecida a morena jogou o corpo para trás tirando as mãos dele de si.

–Desculpa. O tiro... – as palavras escaparam da boca dele antes que o cérebro tivesse tempo de terminar de pensar.

Quando tocou ali não sentiu uma ferida úmida e ainda aberta como deveria ser um tiro de dois dias atrás. Ele se lembrava muito bem de ter sangue nas mãos quando a sustentou depois do tiro.

– Nada. – respondeu Ellie movimento os joelhos o banco para sair da posição. Dean novamente a segurou pela cintura, dessa vez com mais cuidado para não invadir nenhum lugar indevido.

– Se quiser posso dar uma olhada na ferida. A gente não teve tempo de limpar, fazer um curativo... – ele começou com um tom protetor que lhe cabia muito bem normalmente e ainda mais quando era mirado em uma garota e não no irmão.

– Está tudo bem. Eu disse que não é nada. - apesar de continuar sentada no colo dele ela virava o rosto para olhar o lado de fora, mas não parecia ter nada de interessante por lá.

– Não é bom deixar um ferimento assim e com...

– Não é nada, Dean. Que inferno! – e para fazê-lo calar ela voltou a beijá-lo. E mesmo que a curiosidade sobre o corpo dela ainda o tomasse aquele parecia mesmo um jeito mais interessante de descobrir qualquer coisa.

Mais uma vez o sol se punha e também mais uma vez a chuva começava a cair. Os pingos grossos de uma nova tempestade que ainda estava se formando manchava o final de dia alaranjado.

Como a chuva que não se contentava em apenas molhar, logo as bocas não era mais capazes de sacia-los.

Os lábios percorriam as bochechas, o lado do rosto, pescoço e orelhas. Ela mordia a orelha dele e sugava a ponta. Voltava para os lábios e ali repetia a mesma série de ações e descia para a gola da camisa. Tentando invadir lhe o peito.

Dean queria manter as mãos ao lado das ancas da garota, mas a tentação era maior. Os dedos tentavam apertar a carne, mas o tecido da saia os fazia escorregar.

Sem perceber a mão dele começou a subir e ir mais a frente, inconscientemente para o lugar mais seguro e ainda sim satisfatório que conseguia escolher sem pensar.

Aparentemente ela também estava envolvida, pois quando os dedos de Dean a tocaram na barriga sem que tivesse a camisa pelo caminho ela não travou, apenas continuou sugando sua língua.

Foram só alguns segundos. Bastou um pequeno caminhar de dedos e logo depois ele percebeu que algo estava errado. Ou pelo menos fora do comum. Se lembrou da sensação que tinha tido ao tocar a pele do ombro dela e percebeu uma minúscula curva que só a ponta de seus dedos podia sentir, uma linha de pele mais fina e lisa, praticamente sem poros ou pelugem era com certeza uma cicatriz.

Ela tinha uma cicatriz no braço e pelo o que ele podia sentir dezenas na barriga. Sua primeira reação foi tentar não pensar pelo o que a menina tinha sido obrigada a passar para ganhar tantos desenhos. Caçadores tinham histórias ruins e cicatrizes eram, infelizmente, comuns.

E assim, antes que ela se irritasse ele fez questão de tirar as mãos de dentro da camisa dela. Como ela tinha feito com ele antes Dean a segurou pelos pulsos e direcionou as mãos dela para dentro da própria camisa. E quando sentiu os dedos finos e leves de Ellie subir pelo seu peito se apressou em tirar o próprio casaco.

No espaço que foi obrigado a dar do rosto dela, para poder tirar a camisa por cima da cabeça, ofereceu a garota um sorriso. Percebeu que ela não sorria, estava séria, com os olhos focados nos dele, mas decidida a não dividir o porquê.

Ele baixou os próprios olhos para as cicatrizes que levava no peito e na barriga. Segurando as mãos dela pelos dedos fez com que ela desenhasse as figuras disformes criadas por facas, garras, tiros e tudo o que era possível ao longo de anos de tortura física.

Ellie riu de leve parecendo se divertir. Isso o assustou.

Jogando os cabelos para trás dos ombros a garota deixou a jaqueta cair pelos braços armados para trás. A primeira coisa que Dean viu, ainda que a luz da tarde agora fosse menor foi à extensão dos braços dela.

Eram completamente tomados pelas finas cicatrizes que ele tinha sentido também barriga. Figuras finas e delicadas, como desenhos bem planejados que se encaixavam perfeitamente em cada curva que formavam. Agora ele entendia porque tanta intensidade. Ela era uma pintura viva de marcas antigas e profundas presas a própria pele.

Dean travou sem saber o que fazer, apenas corria os olhos pela pele dela. Ellie aproveitou o momento para tirar a própria camisa e assim ele teve certeza do que já lhe era certo. Era realmente o corpo todo.

Hesitante ele levantou uma das mãos e tocou o braço da garota. Acariciou cada pedaço de pele que ela antes escondia. Deixou suas mãos encontrarem as dela e tirou suas luvas delicadamente.

– Eu quero sentir isso. Quero sua pele na minha. – ele pensou que era a melhor coisa a se dizer naquele momento.

Ela tremeu demonstrando insegurança pela primeira vez. Ele soube pela maneira como seu corpo se reergueu, como um gato que estica a espinha.

– Calma... Na verdade é até bonito.

E realmente era. Ele pode perceber que os desenhos se encontravam, parte de um se enroscava nos próximos. Eram como arabescos antigos, uma estampa perfeitamente desenhada provavelmente com agulhas finas para formar um padrão tão perfeito. Quem sabe agulhas quentes, pela maneira como eram finas e em tom de porcelana, o único tom mais claro que a pele dela.

– Você não entende – ela deixou escapar por entre os dentes com um sorriso desacreditado.

– Ellie. Você não precisa me contar nada se não quiser. – Dean começou antes que ela pudesse continuar sua frase - Também não precisa se preocupar em esconder suas cicatrizes se não quiser. Você é uma garota legal e sinceramente... Muito gostosa. Eu quero ficar com você. Se for sentada aqui no meu colo melhor ainda. Se for com o mínimo de roupa melhor ainda melhor ainda. – ele sorriu e lhe deu um selinho antes de continuar - Mas se vai ficar dizendo que eu não entendo tenha pelo menos a decência de me explicar. – tom dele era sério e carinhoso em pontos iguais.

– Você realmente não entende – ela ia rir outra vez, mas quando percebeu que ele inflava o peito para começar a falar corrigiu a própria frase apressada – Eu também não entendo, Dean. É por isso que eu procurei por vocês.

Ele precisou levar o ombro mais para trás para tentar entender. Se jogando contra o banco e se afastando dela como podia.

– Você nos procurou? Diz que estava aqui de propósito? - o primeiro sentimento foi de traição.

– Eu não sei quem eu sou. Eu precisava de ajuda. – havia um certo tom de sarcasmo nos termos escolhidos – Achei que os Winchester poderiam me ajudar.


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