Altharian: The Resistance escrita por C Blue


Capítulo 12
Capítulo 11 - Yukin




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Minha boca estava mais que seca. Forças? Não sabia de onde tirava. Andávamos pelo deserto desde quando chegamos a Altharian. Eu nunca havia ido a um deserto na terra, mas este não parecia muito diferente das fotos. Talvez só o céu que, no fim da tarde, não tomava uma cor alaranjada, mas sim, continuava azul, escurecendo aos poucos. Quando a noite veio, ele estava tão azul que parecia preto. Estrelas brilhavam tão forte que era possível distinguir uma lista imensa de constelações. Eu não as conhecia, não era das quais já tinha visto falar, mas Ruby me apresentou a elas. Ela parecia gostar de falar sobre isso, tanto que distanciou nossas mentes dos problemas.

Andamos mesmo á noite, até chegar a uma area onde as dunas de areia branca tornavam-se mais rígidas, e encontramos uma espécie trilha entre pequenas montanhas. Paramos e nos aconchegamos. Diferente do calor escaldante que fazia de dia, a noite era gélida, então ficamos tão próximos, que Ruby deitou-se sobre mim, de lado – provavelmente para nos manter quentes. Eu não consegui dormir de imediato, não só pelo frio.

Isso de repetiu umas três vezes. Caminhadas, dia e noite, e poucos descansos. Às vezes ela interrompia o descanso e passava-me uma série de golpes, chutes, socos, até saltos. O treinamento não fora deixado de lado até estarmos muito cansados para isso.

Em uma manhã, ela já estava acordada quando me levantei do chão – agora mais rígido e menos arenoso. Estava com mais dores pelo corpo, pela queda, por andar dias sem descansar direito.

– Vamos, – disse ela – talvez não estejamos muito longe de alguma vila.

Eu pensei que teria algo para comer durante esse tempo, mas era impossível. Não vimos nem animais – ou sei lá o que – durante toda caminhada no deserto.

Então, a afirmação de Ruby se provará verdadeira após o que me pareceu algumas –muitas – horas de mais caminhada. De longe vimos uma pequena vila. Ela me parou e tirou uma camisa que estava amarrada em minha cintura. Eu não havia percebido o quanto estávamos esfarrapados.

– Coloque isso no rosto, cubra o máximo que puder, não fale com ninguém na vila, deixe comigo – ele parou para me ajudar a cobrir a face. – Ninguém pode lhe reconhecer...

– Eles conheceriam meu rosto?

– Nem todos. E nem todos são aliados ou inimigos. Então vamos fazer o que precisamos e sair da vila.

Ao chegarmos à vila – era pequena, casas feitas de pedra e os habitantes pareciam decadentes, alguns com formas althariana, outros pareciam humanos. Entramos em um local, era de teto baixo e mal iluminado, com muitas mesas. Agora aquilo era estranho. Nem todos ali deviam ser deste planeta. Em uma mesa, machos altos e fortes, com quatro braços cada, jogavam um jogo gritando e rindo alto. O que parecia uma fêmea com a cabeça lisa e curvada para trás, estava no que parecia “amassos” com um ser de pele escamosa. O resto do grupo no local não era nem um pouco menos anormal. E por fim, via-se altharianos, servindo – alguns sendo servidos – os clientes. Tenho que admitir, não era o que esperava. Talvez um local mais tecnológico, mas era tudo muito simples e... Acabado.

Ruby andou até o balcão, eu a segui puxando mais a camisa que me cobria a face. Ela falou algo no ouvido de uma mulher atrás do balcão, que saiu logo em seguida.

– Que lugar é este? – sussurrei.

– Nunca foi a uma taberna?

A mulher voltou, eu me afastei de Ruby e virei o rosto. Nada sutil. E voltei quando senti a garota me puxar pela camisa. A mulher havia erguido uma passagem pelo balcão. Ruby andou pela passagem comigo atrás. Ela nos levou em um corredor subterrâneo quente e abafado, no fim abriu uma porta que dava em uma sala. Havia uma cama, uma mesa e um tapete grosso com almofadas. Também era escuro ali. A mulher fechou a porta atrás de nós. Fitei a mesa, com uma cesta com o que pareciam frutas, ovais e azuis escuro.

– podem comer.

Percebi a voz vinda de um canto escuro, quando parou a minha frente vi, o que poderia parecer de longe, um homem. Tinha pele escamosa, não como a criatura lá na taberna, mas suave e verde claro, o rosto tinha uma leve lembrança réptil, nada de pelos.

– Yukin – disse Ruby, e andou até uma cadeira da mesa – sabia que me ajudaria. – pegou de uma cesta na mesa, uma “fruta”.

– Claro – o homem riu com dentes pontudos e lábios finos. – pelos velhos tempos.

Não pude deixar de notar que, quando comia a fruta azul, parecia um desesperado, ela era suave e doce e a água que derramava era grossa. Não liguei quando vi que Ruby fazia o mesmo enquanto tinha uma conversa com o homem-réptil, Yukin, também sentado e comendo – mas nada desesperado.

– Então você estava dividida quando levava O Líder para a base da Resistência? Oh Ruby minha jovem, isso não me parece ter sido um erro seu.

– Mas foi.

– Claro – ele riu e uma língua, fina com a ponta cortada em duas, apareceu rápido entre os dentes, lambendo o lábio superior. – Então, jovem Líder, o que acha disso?

Eu não respondi. Porém ele me fitou, parando somente quando Ruby voltou a falar.

– Precisamos de água, comida e armas. Só o bastante para chegar à próxima cidade ou a Resistência. Ah, também seria útil algumas moedas, bem, pra o caso de não termos a quem recorrer na próxima parada...

– E como pagará este “favor”?

– Oh Yukin, pensei que os velhos tempos pagassem.

– Oh querida, nos velhos tempos você estava com o jovem Andrew, mas agora... Bem, está com O Líder – ele me olhou novamente e a língua fez mais uma aparição. – Ele é bonitinho.

– O que quer? Tem algum serviço?

– Sim – ele levantou-se e andou até um canto escuro, quando voltou tinha uma pequena adaga na mão – Só entregue isto aquele ser quando o ver – quando entregou a adaga a garota, limpou as mãos e fez uma cara de nojo – passado, é só do que isso me lembra.

– Okay. – respondeu ela, sorrindo, o que fazia pouco.

– Ah e, não tenho armas aqui para vocês, o que tenho é o pouco que me resta. Terá que pegar com Thoru, do outro lado da vila, mas tenho alguns trajes que cairiam melhor neste – ele acariciou minha face, sua mão era menos áspera que imaginei – rostinho. E o esconderia melhor também.

Depois nos vestir com mantas com capuzes, nos dar botas e bolsas com alguns mantimentos, Yukin nos levou até fora de seu estabelecimento.

– Isto será de boa ajuda também – me entregou um papel tão velho que tive medo de rasgar, piscou um olho, e entrou na taberna.

Um mapa mostrava territórios: deserto, pantanoso, montanhoso... E agora sim, algo tecnológico. Como se uma nave entrasse no chão.

– A área reconstruída depois da Guerra Imperial – disse Ruby, enquanto andávamos. – Foi o Império quem fez como se pudessem criar uma harmonia entre a vida de Altharian e suas naves negras. Enfim, este mapa não nos mostra nem metade do nosso planeta, principalmente agora, com o subterrâneo modificado.

– O que quer dizer?

– Quero dizer, que nosso planeta é oco. O subterrâneo é enorme e cheio de soldados e a maioria dos confrontos “Império versus Rebeldes” acontece lá.

Thoru era um velho althariano dono de uma venda de armas brancas, não nos parou para uma conversa como Yukin, mas não era menos simpático. Ruby falou com ele primeiro, talvez informando nossa ligação á Resistência. Ele nos deixou escolher as armas – Ruby ficou com duas lâminas finas e longas, logo de cara.

Como não sabia muito de prática em manuseio de lâmina, ele nos deixou também treinar rapidamente, em um local escondido. Todos que faziam parte da Resistência tinham um esconderijo, essa era um das maneiras de ajudar membros em missões. Então foi ai que descobri minha “vocação” com uma espada. A lâmina não era nem fina e longa demais, nem pequena ou larga demais. Encaixava-se em minha mão, como uma expansão do braço. E, vendo a importância daquilo para mim, Thoru fez uma marca nela. A espada agora carregava um “S” cravado nos dois lados da lâmina. Claro, eu escolhi.

Dando os cumprimentos finais ao velho, colocamos os capuzes e seguimos o mapa. Perto de uma porta da vila, vimos um grupo de soldados do Império. Ruby me levou rapidamente para um beco e me pressionou na o parece com o próprio corpo. Sua face era o alcance da minha e ela me fitou por um instante antes de dizer:

– Daremos a volta. – seu hálito era o da fruta que comemos mais cedo.

Ela retirou o corpo de perto do meu e virou o rosto, mas não antes de vê-la corar. Eu também estava vermelho, sentia. Ela andou pelo beco, no sentido contrário do que entramos.

Então saímos da vila e voltamos ao deserto. Não era uma boa entregar nosso disfarce e jogar para o alto a ajuda que acabará de nos ser dada. No momento certo iríamos lutar. Ganhar. Porém, era hora de caminhar para Resistência e me treinar para ser líder.


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Notas finais do capítulo

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"Gritei tentando avisá-la, mas era tarde, já a tinham atingido com algo. E eu estava caindo na escuridão."



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