Contágio escrita por MrArt
Notas iniciais do capítulo
Esse capítulo está curto, porém ele foi muito elaborado para um personagem em si!
Boa leitura!
Algumas horas depois de se instalarem no shopping, o clima de tensão havia amenizado e o grupo se sentia mais ‘’seguro’’. Robert, Kei e Polly mantinham um debate pacífico com Barbara e Vernon em relação à confiança, suprimentos e o grande número de zumbis que rodeavam o edifício e tentavam entrar. Por outro lado, o restante do grupo não parecia preocupado, apenas queriam descanso após aquela longa e dolorida jornada.
Em uma das praças de alimentação estavam Merle, Amber, Tuppence e Fani. Haviam acabado de conhecer Natalia, uma moça morena que havia se interessado em Merle descaradamente. Ela fazia parte do grupo de Barbara e Vernon e fazia o controle de suprimentos.
— Hunter era nosso melhor amigo. Passamos todo o início do apocalipse presos no hospital onde trabalhávamos – Amber dizia se recordando do amigo falecido – Depois de encontrarmos o grupo de Robert, nos juntamos a eles e então paramos em El Distrito.
— El Distrito? – Natalia perguntou.
— Era aonde morávamos – Amber respondeu com um ar de lamentação.
— Tínhamos tanta comida aonde morávamos. Não pudemos trazer metade durante a fuga – Tuppence disse sentada em uma das várias mesas que ali tinha – Perdemos não só coisas materiais, mas muitos amigos.
— Amber me falou sobre as pessoas que viraram zumbis no trem – Natalia estava encostada em um dos balcões, ouvindo horrorizada a conversa – Vocês passaram por cada coisa ruim que chega a ser controverso estarem vivos – Tuppence arqueou a sobrancelha – Me desculpe, mas estou falando a verdade.
— Sorte a sua não estar lá fora para passar por toda essa loucura – Tuppence disse de forma grosseira, recebendo um cutucão de Amber na cintura – Amber!
— Eu não quis... – Natalia percebeu o clima tenso que havia sido causado.
— Nós vamos caminhar agora. Vem comigo – Amber puxou Tuppence pelo braço e a retirou dali, antes que as moças começassem a brigar por motivos fúteis. As duas enfermeiras saíram do lugar, deixando apenas Merle e Fani junto com Natalia, que voltou aos seus afazeres, disfarçando o constrangimento.
— Estamos perdendo a noção de boas maneiras – Fani se encostou no balcão e observou as duas enfermeiras virarem um dos corredores.
— Acho que a humanidade perdeu a noção de boas maneiras a muito tempo – Merle disse, fazendo alguns rascunhos em um bloco de notas amarelado – As pessoas preferem matar uma as outras do que resolver os problemas numa conversa.
— Por que chegamos a esse ponto? – Fani perguntou, com ar de tristeza.
— É mais fácil tirarmos a vida de alguém do que tentar dialogar com ela, em qualquer situação – Merle respondeu e Fani lhe encarou. O rapaz pensou que ia receber uma feição negativa, mas ocorreu o contrário.
— Você está certo – Fani balançou a cabeça positivamente. No mesmo instante, pode observar Lauren passar por um dos corredores rapidamente, quase que não a percebendo. Estava em dúvidas se era realmente a moça, Polly ou outra garota – Viu alguém ali? – Olhou para Merle novamente, que continuava os seus rascunhos.
— Quem? – Merle perguntou confuso, olhando para os lados.
— Ninguém – Fani se desencostou do balcão, desistindo rapidamente da sua curiosidade – Vou até o telhado ver como as coisas estão. Já estou agoniada de saber que estamos rodeados de zumbis – A loira então se despediu de Merle e seguiu seu caminho pelo átrio do shopping. Não era surpresa para Fani que o grupo estava enfrentando constantes crises, mas com certeza essa era a pior, ainda mais com o número de baixas que sofreram em tão pouco tempo. Seu desanimo continuo e a falta de disposição para fazer as coisas dominavam todo o seu ser.
Era extremamente triste.
— Está tudo bem? – Marilyn parou Fani enquanto passava por ali. A ruiva segurava dois livros que havia pego de uma loja de leitura. Podia notar o semblante arrasado de Fani.
— Acho que estou – Fani respondeu com uma bufada.
— Não. Não está – Marilyn disse, colocando seus livros debaixo do braço – Ter visto Hunter morrer foi horrível, eu sei. Mas ficar assim não vai adiantar, Fani – Tocou no ombro da moça, que apenas lhe lançou um olhar de cansaço – Tente relaxar a cabeça um pouco. Ainda temos coisas a fazer.
— Há vários zumbis lá fora tentando entrar no shopping. Estamos encurralados, não há para onde fugir – Fani disse desacreditada de qualquer esperança – Tantas pessoas mortas a nossa volta e nós conseguimos continuar como se elas não fossem nada para nós – Bufou e balançou a cabeça negativamente – Não tem como relaxar, Marilyn.
— Perdi essa vontade de continuar. Faço apenas o necessário para ficar viva – Marilyn se encostou em uma pilastra – Depois que fiquei presa naquela base em Corpus Christi, achei que nunca mais veria o sol novamente. Era um confinamento insuportável. Nossas necessidades básicas eram todas atendidas, mas tínhamos uma rotina muito sufocante – Continuou falando - Ter sido salva de lá teve suas vantagens, mas a vida aqui fora é muito mais perigosa.
— Nunca paramos em lugar nenhum, prefiro estar em um confinamento do que aguentar tudo isso – Fani resmungou – Estou cansada para caralho.
— Eu sei... – Marilyn disse e então pegou seus livros novamente – Até mais tarde, Fani.
— Até – Se despediu de Marilyn, que rapidamente sumiu do local.
Fani continuou seu trajeto até chegar no telhado do shopping. Observou Robert e Boone juntos em um canto enquanto Bel atirava em zumbis no outro. Foi até uma das muretas e se sentou nela. Podia ver amplamente o mar de criaturas que rodeavam o edifício, batendo nas paredes e painéis de vidro, tentando derrubá-los.
Suspirou levemente e se acalmou conforme os segundos se passavam. A madrugada não incomodava Fani em nenhum momento. O barulho dos zumbis e a brisa gélida eram o suficiente para que a loira refletisse o tanto tempo em que viveu num apocalipse zumbi. Salvou-se graças a Zain e passou por várias crises em El Distrito, para no final de tudo se sentir totalmente perdida e sem motivos para continuar viva.
Seus dedos deslizaram sorrateiramente pelos ladrilhos da mureta enquanto sua pensativa mente desenrolava diversos assuntos. Se estava a ponto de fazer uma besteira consigo mesma? Difícil, ainda mais com pessoas perto de si.
— Foda-se – Fani saiu de perto da mureta e voltou para os interiores do shopping. Ao invés de ir pelo átrio principal, resolveu vasculhar o departamento de administração, um dos lugares mais afastados do edifício.
Os corredores do local eram mal iluminados e aparentemente Barbara e seu grupo não o utilizavam, devido à ausência de cuidados e visível decadência das paredes e dos pisos. Era até assustador ficar ali sozinha, mas Fani não parecia estar tão preocupada com isso no momento.
Até começar a ouvir ruídos por perto.
— Mas que porra?! – Indagou e foi até uma porta entreaberta. Se aproximou lentamente e a empurrou. Ao olhar o cômodo, deu um passo para trás devido a visão pavorosa na sua frente – Não! Socorro! Alguém venha me ajudar! – Começou a berrar desesperadamente – Não pode ser real... – Se encostou no canto da porta, perplexa com o derramamento de sangue.
Os corpos de Amber e Tuppence estavam estirados naquela sala. Uma grande quantidade de sangue era vista por toda a parte e marcas de agressões e cortes eram visíveis nas pernas e braços de ambas mulheres recém-assassinadas. E o pior de tudo aquilo: As duas haviam sido severamente decapitadas.
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