Contágio escrita por MrArt


Capítulo 114
Estação 6 - Capítulo 114 - Se/Então #2


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeey pessoal! Esse é o segundo e último capítulo de realidade alternativa. Finalmente teremos o desfecho dessa aventura de Robert com os outros personagens.

Boa leitura!



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Se/Então #2

 

O apartamento de Renata e Topher ficou muito pequeno com a presença de Louise, Sarah e minha. Passamos no mercado para comprar algumas coisas, já que não sairíamos dali tão cedo para continuarmos nosso trabalho... digamos que absurdo. Não havia tantas dúvidas naquele momento sobre o que estávamos fazendo era uma completa loucura, mas sentia como se milhões de vidas estivessem na minha mão.

Meu Dia era para ser um tão comum como qualquer outro, mas em menos de 12 horas eu havia conseguido voar para Los Angeles com quatro pessoas que eu nunca vi na minha vida anteriormente. Acho que estou desesperado por alguma coisa, mas eu ainda não sei o que ela é.

Sentado no tapete, passei boa parte do fim da tarde e do início da noite no laptop de Topher, pesquisando mais a fundo sobre essa tal Trioxina em sites proibidos na internet, com a ajuda de Sarah. Chegava a várias informações sobre a formação e componentes químicos desta substância. Ao meu ver, ela era uma espécie de formol usada realmente para conservar e reanimar membros de cadáveres, como braços e pernas, mas ela não era tão eficaz com radiação que haviam produzido. Logo, eles alteraram os agentes químicos e criaram uma versão brutal da Trioxina, a 2.0 Trioxina.

Conseguimos encontrar um vídeo graças a insistência de Topher. Ele era muito aterrorizante e desumano, não tive coragem de vê-lo até o final. Havia um rapaz com uma roupa azulada e acorrentado, ele havia sido trancado em uma sala repleta de câmaras e cientistas em uma câmara o observando, totalmente blindada com várias camadas de vidro para observação. O rapaz apenas gritava desesperado e confuso, ele não sabia o que ia acontecer, parecia um pouco alterado devido a medicação que haviam lhe dado após acordar ali.

Lançaram um gás amarelado igual Topher havia descrevido na sala por uma pequena entrada. O gás rapidamente desapareceu no ar, mas o rapaz em segundos começou a se sentir mal. A cobaia caiu no chão gemendo de dor e vomitando sangue sem parar e os cientistas apenas o observavam morrer. Quando aquilo aconteceu, ouvi Louise chorar em preocupação de sua prima.

O vídeo não acaba aí, o mesmo rapaz de repente começou a se levantar lentamente do chão como se estivesse tido uma ressaca pós bebedeira. Ele andava torto, sua pele estava tão pálida como uma folha de papel e havia sangue vomitado por todo o seu uniforme. Agressivamente, ele correu até os vidros da câmara dos cientistas, batendo sem parar. Ele não falava, fazia apenas urros como se fosse um animal tentando buscar sua presa, que no caso eram os homens que haviam causado a sua morte.

Ainda havia mais do vídeo, mas eu optei por não ver. Já estava com a cabeça perturbada o suficiente para saber o perigo em que estávamos nos metendo. O vídeo poderia ser manipulado, gravado por atores ou até mesmo uma montagem muito bem-feita, mas para ser postada em um site ilegal, ainda com acesso pago, tinha suas controvérsias. Eu realmente estava muito assustado com tudo aquilo que havia assistido, e ainda mais, que estava envolvido agora nessa com eles.

— Há um carro parado aqui em frente ao prédio desde que chegamos – Renata disse encostada na janela.

— Pode ser um vizinho – Argumentou Louise, fechando o vídeo que havíamos acabado de assistir. Ela ainda fungava depois de ter chorado.

— Não temos vizinhos com um carro luxuoso desse – Renata vociferou para Louise, que ficou em silêncio – Se formos fazer alguma coisa, tem que ser depressa.

— Acha que há alguém atrás de nós? – Perguntei, cruzando os braços. Todo mundo ficou em silêncio

— A essa altura do campeonato não podemos demorar com isso. Pode ser a única prova que temos – Sarah disse encarando as várias pastas que reunimos em cerca da uma hora, repleta de informações sobre aquele completo atentado contra a humanidade. A ruiva suspirou – Vamos nos encontrar com a repórter Beverly nos arredores da prisão em que está tendo a rebelião. Ela está nos esperando com as coisas de vocês.

— Ela é de confiança? – Topher perguntou, desconfiado.

— É a única jornalista investigativa que tem por aqui. Ela faz ótimos trabalhos – Sarah respondeu, vindo até mim – Pode ficar com isto? – Ela segurava um objeto minúsculo.

— Que droga é essa? – Perguntei um pouco encabulado.

— Vamos registrar tudo o que Beverly irá documentar. Como se fosse um segundo documentário – Sarah falou, colocando a câmera presa ao meu casaco – Está bem firme, não vai cair – Ela voltou até as suas coisas e retirou uma espécie de microfone e o colocou no meu cinto – Está incomodando? – Perguntou.

— Não – Respondi, apenas arrumando o microfone para que ficasse mais confortável – Isso é tudo mesmo necessário?

— Não vamos correr o risco de perder nossas coisas. Vamos sempre ter uma segunda via - Sarah afirmou – A câmera vai passar escondida por todos os lugares, mas sempre ficará gravando.

Depois de alguns minutos no apartamento dos irmãos, finalmente saímos dele com todas as nossas papeladas, pastas e um pen-drive que pertencia a Topher. Confesso que estava um pouco ansioso e com um frio na barriga em relação ao que estávamos fazendo, principalmente pelo fato do tamanho da periculosidade que isso apresentava.

Fomos para o carro de Renata e nos amontoamos com dificuldade, mas seguimos o trajeto para a região da prisão, onde Beverly nos aguardava.

Já era de noite e eu estava sentado no banco de trás e observando a todo o momento o mesmo carro luxuoso que havia ficado parado em frente ao prédio de Renata e Topher. Ele fazia o mesmo trajeto que nós e ficava cada vez mais claro que estávamos sendo seguidos. Não comentei nada a eles para não os apavorar, mas se ficasse evidente demais, certamente os avisaria.

Em meia hora chegamos nos arredores do complexo prisional, em um campo aberto onde tinha um carro de uma emissora de televisão e vários outros equipamentos de transmissão. Também era possível ver as iluminações na penitenciária e o barulho dos carros da polícia. Em relação ao carro que nos seguia, ele desapareceu antes de chegarmos ao nosso destino.

— Finalmente vocês chegaram! – Beverly saiu do carro segurando o seu microfone. Ela cumprimentou Sarah com um abraço – Como vão as coisas em Denver?

— Na medida do possível – Sarah afirmou – Estes são Topher e Renata, Louise e o Robert – Apontou o dedo para mim – Todos eles são os envolvidos em toda a matéria sobre a 2.0 Trioxina e os experimentos na prisão – Falou, enquanto Beverly prestava total atenção – Precisamos de uma pessoa para nos ajudar a publicar todos esses documentos sem que seja sensacionalista ou pareça mais uma teoria da conspiração.

— Entendo. Posso ver o que vocês têm? – Sarah perguntou e então Topher entregou todas as coisas que tinha para ela, exceto uma que não pude identificar – Vou ler tudo, rápido, mas lerei. Tenho o que analisar como vou publicar... uma matéria como essa.

— Por favor – Louise pediu – Minha prima está nesta prisão bem atrás da gente. Ela pode estar entre as pessoas envolvidas nisso tudo. Vamos fazer isso para salvar a vida dessas pessoas, mesmo elas sendo prisioneiras do estado.

— Vou fazer o possível – Beverly afirmou segurando os documentos e indo para o seu carro, lê-los – Deixarei meu microfone e câmera estão em abertos no carro, caso precise fazer uma transmissão ao vivo da cobertura do motim – Falou e em seguida se sentou no banco do passageiro, abrindo uma das pastas e começando a leitura.

Enquanto isso, nós cinco ficamos discutindo sobre várias outras coisas envolvendo a nossa teoria e a prisão bem atrás de nós. Renata como sempre estava achando que tudo era loucura, Sarah imaginava mil e uma capas de revistas com as nossas fotos após tudo ser publicado, Topher apenas queria que confirmassem a veracidade de todos os fatos e Louise esperava por notícias de sua prima, que até agora não tinha nenhuma informação dela.

Em questão a minha pessoa, eu estava ansioso como sempre, de vez em quando tendo a sensação de que alguma coisa viria a acontecer, mas não sabia qual ao certo. Aliás, eu podia ter perdido um dia inteiro de conseguir um trabalho, mas em parte estava valendo a pena fazer parte de toda aquela história que começava a progredir positivamente.

Se não fosse pelas próximas horas da noite.

— Ela está vindo – Renata ergueu a cabeça ao ver Beverly sair de seu veículo segurando todos os documentos. Pude reparar como Renata olhava para trás constantemente – Parece que tem alguém nos olhando. É estranho – Disse para mim e para Sarah, que engoliu a própria saliva.

— Tem alguma coisa de errado -  Sarah falou inerte, sem olhar para trás. Realmente, parecia que tinha alguma coisa em uma das árvores e arbustos bem atrás de nós.

De longe, parecia que Beverly estava chocada com tudo o que havia lido, ou até mesmo com outra coisa. Ela segurava o seu microfone em outra mão. Topher foi se aproximar dela para pegar as suas coisas de volta, mas parou no mesmo instante quando uma explosão nos pegou completamente de surpresa, acabando com Beverly e seu carro.

Caí para trás enquanto ouvia os gritos de Louise e Renata. Beverly havia sido consumida pelas chamas logo que a explosão aconteceu, não dando tempo nem dela reagir a qualquer coisa ou tentar escapar. Me levantei correndo para puxar um Topher caído de volta para nós, antes que uma nova explosão, originada no carro acontecesse.

— Voltem para o carro! – Sarah berrou enquanto corria, bem distante da gente. Renata veio até nós dois e puxou Topher para ela.

— Vamos, Louise! – Peguei Louise pelo braço, completamente paralisada enquanto assistia a cena do carro em chamas e Beverly completamente carbonizada.

Rapidamente chegamos no carro e nos trancamos nele. Renata tentava ligar o veículo a todo custo enquanto Louise e Sarah discutiam com Topher sobre o que havia acabado de acontecer. Eu apenas ficava observando o movimento lá fora, mas não podia se ver nada naquela escuridão assustadora, apenas as labaredas da explosão.

— Nós perdemos tudo o que tínhamos! – Topher gritou conosco enquanto tentava racionar o que havia acabado de acontecer.

— Uma pessoa acabou de ser assassinada na nossa frente e você está se preocupando com aquilo?! – Renata gritou nervosa, ainda tentando ligar o carro – Essa foi a gota d´’agua Topher! – Olhou o irmão pelo retrovisor do carro.

— Cala a boca Renata! – Topher disse nervoso demais. Sarah havia colocado as mãos na cabeça totalmente transtornada, enquanto Louise escrevia alguma coisa no seu celular.

— Ei, o que está fazendo?! – Sarah perguntou para Louise.

— Estou chamando a polícia, ora! – Louise falou segurando o seu telefone, pronta para fazer a chamada, mas Sarah a impediu – Ei, sua maluca! Precisamos avisar sobre o que aconteceu.

— Não percebeu que estamos sendo seguidos desde que chegamos em Los Angeles?! – Sarah perguntou totalmente incrédula – Provavelmente alguém nos grampeou e está atrás de nós! Não podem jamais descobrir que estamos com todas essas coisas ou estamos fodidos! FODIDOS! – Gritou, dando mais ênfase na sua última palavra.

— Se você sabe disso, por que nos trouxe para cá? – Me virei para Sarah enfurecido. Agora, estávamos numa zona de perigo – Podia ter evitado que aquela mulher fosse completamente tostada! Isso é inimaginável, cara! Estávamos sendo seguidos esse tempo todo!

— Tudo bem, Robert, se você sabia que estávamos sendo seguidos, por que não avisou? – Sarah cruzou os braços e me fitou. Fiquei na corda bamba – Não tem mais o que fazer, ela já morreu e temos que sair agora! Por que diabos não ligou esse carro?! – Gritou para Renata, uma vez que ainda não tínhamos saído do lugar até então.

— Não quer ligar, parece que o motor nem está pegando! – Renata disse nervosa e suando frio. Todos nós fizemos silêncio quando vimos a luz de um carro passar por perto de nós.

— Temos que sair daqui o carro foi sabotado! – Louise disse pronta para abrir a porta do veículo – Sei bem quando o motor para de funcionar de repente! E tenho certeza que foi alguém que o danificou.

— Aqui dentro é mais seguro! – Topher insistiu, mas todos nós já estávamos abandonado o carro – Droga!

— Por onde vamos? – Gritei enquanto corria um pouco atrás de todos eles.

— Não vamos nos enfiar entre aquelas árvores, é perigoso demais! – Renata afirmou – Vamos por ali! – Apontou para a descida da colina, enquanto todos usavam o celular com lanterna. Nós ficávamos em silêncio de hora em outra, para ouvir os pequenos ruídos vindos da mata. A essa altura eu já estava rezando para todos os Deuses que eu conhecia para que tivessem piedade da minha alma caso alguma coisa acontecesse.

— Há um atalho por aqui, vamos sair em uma estrada perto de um bairro chique – Topher disse enquanto descíamos a colina correndo, tendo uma boa visão da enorme Los Angeles. A noite a cidade ficava extremamente iluminada com todos os seus prédios e casas, era uma visão muito bonita e um contraste urbano em relação a área em que estávamos.

— Não é possível que ninguém tenha ouvido o barulho da explosão – Louise falou assustada – Isso é inacreditável – Ela quase tropeçou em um galho de árvore jogado no solo, mas eu a segurei – Valeu, Robert – Apenas sorri para ela.

— Isso é loucura! Se estamos sendo seguidos não podemos voltar para casa! – Renata disse – Já perdemos as nossas pesquisas e uma repórter foi morta. Não temos a que recorrer.

— O que é que esteja atrás de nós, precisamos escapar antes de chegar a outra alternativa – Topher retirou um pen-drive de seu bolso enquanto caminhávamos – Todas as nossas anotações estão aqui dentro. Não ia entregar tudo para Beverly, tendo o risco dela escapar com toda aquela matéria. E agora ela está morta... – Topher disse cabisbaixo.

Finalmente chegamos na estrada em que Topher havia falo e pelo menos tínhamos iluminação. Agora, ouvíamos apenas o barulho do vento e da poluição sonora da cidade abaixo de nós.

— Aonde que é esse bairro? – Sarah perguntou bem atrás de todos nós, enquanto Topher, Louise e Renata iam na frente.

— Precisamos virar à esquerda e descer mais um pouco a estrada – Renata se virou para nós enquanto andava de costas – Não é muito longe, mas vamos precisar andar um tanto – Afirmou, dando os ombros. No mesmo instante, Renata foi alvejada na cabeça, em uma bala que vinha da direção em que nós estávamos.

Me virei para trás enquanto Sarah saia correndo em meio ao fogo cruzado. Vários tiros que eram disparados contra nós. Havia diversos homens de uniformes pretos e completamente armados saindo do mesmo atalho em que havíamos passado na colina.

Assim que comecei a correr para a mureta da estrada, tirei Topher violentamente de cima do corpo de Renata estirado no asfalto e ensopado. Os soldados gritavam para que não nos perdessem de vista e não cessassem os tiros contra nós. Sentia meus pés arderem por ter pulado aquela mureta e ter caído em um barranco junto com Topher.

— Garotos! Venham! – Sarah voltou para nos ajudar. Louise me levantou e então continuamos a correr pelo matagal em que havíamos nos enfiado.

— Eles estão descendo o barranco! – Topher gritou desesperado ao ouvir o barulho da vegetação sendo destruída bem atrás de nós – Aqueles desgraçados mataram minha irmã! Renata está morta por minha causa, eu não acredito! – Ele começou a se descontrolar enquanto fugíamos para um lugar incerto.

— Tem um galpão ali! – Louise disse bem à frente de nós, continuando a correr – Vamos logo antes que nos achem!

Não demorou nem um minuto e avistamos o galpão que Louise havia falo. Ele estava aparentemente fechado e inativo, mas conseguimos entrar por uma portinhola entreaberta, que no mesmo instante a barramos com dois barris de metal. Provavelmente eles não desconfiaram tão cedo que entramos ali dentro, principalmente pelas portas principais estarem trancadas.

Nós quatro estávamos completamente ofegantes e em estado de choque, principalmente Topher, que não parava de se culpar pelo o que havia ocorrido. Sarah e Louise estavam novamente em seus celulares, sei lá fazendo o que. Mesmo com todo aquele terror que estávamos vivendo, consegui me agachar e ficar a altura de Topher, completamente escorado na parede.

— Escuta – Segurei nos dois pulsos de Topher, tão trêmulos como o meu – Entramos nessa juntos e vamos sair dessa, juntos. Não podemos fazer mais nada para voltar atrás e salvar a Renata, ela se foi. Iremos fazer justiça a ela, custe o que custar – Falei de forma firme e ríspida – Me entendeu Topher?! – Perguntei, esperando sua resposta.

— Entendi – Topher balançou a cabeça positivamente. Era visível que ele havia se arrependido de todo o seu plano, mas não tinha mais como evitar o que estava acontecendo. Me levantei e fui até Sarah, que desligou o seu celular.

— Informei para Polly aonde estamos – Sarah disse e então arqueei a sobrancelha.

— O que?! Disse que não queria ela envolvida nisso, está ficando doida? – Perguntei totalmente desacreditado da figura contraditória que Sarah era.

— A empresa dela tem um helicóptero jornalístico! Só assim para podermos sair daqui com vida! Acha mesmo que eu iria recorrer a ela se não fosse extremamente necessário?! – Sarah me encarou mortalmente – Agora são nós que estamos em jogo por tentar fazer essa loucura! Juro por Deus Robert, que se sairmos vivos dessa, nunca mais quero ver nenhum de vocês na minha frente. Isso já extrapolou demais, tem duas pessoas mortas e estamos sendo caçados.

— Aonde que esse helicóptero vai nos pegar? – Perguntei, colocando as mãos na cintura.

— Observatório Griffith – Sarah respondeu prontamente – Temos que chegar lá em uma hora. Polly tem uma empresa parceira que irá mandar o helicóptero para nos tirar daqui e nos enviar de volta para o Colorado. Ela quer todas as coisas que temos. Está com o pen-drive aí, não está? – Se virou e encarou Topher, que apenas assentiu em silêncio – Ótimo.

— Ela vai ficar com todos os créditos do sofrimento que passamos – Balancei a cabeça negativamente. Estava difícil engolir aquela ideia tão fácil.

— Quer que eu continue falando? – Sarah perguntou pronta para me bombardear de insultos.

— Não – Neguei com a cabeça – Apenas quero saber como fazer para sair daqui e chegar até o observatório sem sermos pegos no caminho.

— Deve ter algum carro aqui dentro – Sarah sugeriu.

— Como vamos usar um carro sem chaves? – Perguntei, avistando apenas uma caminhonete de transportes.

— Posso fazer isso sem problema alguma – Louise afirmou – Trabalhava na fazenda do meu tio e dirigia caminhões toda hora sem usar uma chave, apenas ligando os dois fiozinhos e fazendo o carro funcionar – Nós dois corremos até a caminhonete – Preciso de algo que...

— Use isto! – Topher jogou um canivete para Louise, que conseguiu pegá-lo sem se cortar. Rapidamente Louise abriu a porta do motorista e se jogou no banco, tendo acesso ao painel e começando a trabalhar com os pequenos fios.

Deixei Louise trabalhando no veículo enquanto voltava a atenção para Topher e Sarah. Começamos a ouvir novamente o barulho dos passos dos homens de preto vindo do lado de fora do galpão. Topher se levantou e ficou entre mim e Sarah.

— Louise! – Topher disse num tom elevado – Pode ir mais rápido?

— Estou quase lá! – Louise gritou. Porra.

— Eles vão entrar aqui! Vão para o carro! – Falei me afastando da portinhola.

No mesmo instante a portinhola veio abaixo junto com o resto da porta principal com a explosão que havia acontecido, Topher e eu nos esbarramos para correr até a caminhonete, que finalmente havia sido ligada por Louise. Ficamos perdidos no meio da fumaça que se originou, mas rapidamente encontrei a caminhonete e me joguei na caçamba, Topher veio logo em seguida.

— Sarah?! – Perguntei desesperado ao perceber que a ruiva havia se perdido no meio da fumaça da explosão – SARAH!

— Robert, me ajude! – Sarah gritou ao esbarrar em uma estante do galpão, sem ter visão alguma em meio a fumaça. Cogitei em sair da caminhonete para ajudá-la, mas Topher me segurou no mesmo instante em que ela foi puxada por dois homens de preto.

Logo em seguida, ouvimos dois tiros serem disparados e Sarah começar a gritar.

— Acelere Louise! – Topher gritou enquanto mais tiros eram disparados, provavelmente contra Sarah. Me recolhei na caçamba e me segurei, uma vez que Louise tentava sair bruscamente de dentro do galpão numa velocidade absurda.

— Se segurem, rapazes! – Louise gritou e então finalmente escapamos do galpão quando ela arrebentou um dos portões do galpão com a força do carro. Rapidamente o local foi ficando para trás e já pudia sentir o ar fresco das árvores, que modo algum me acalmaram.

O grande problema, é que os caras não desistiam de nos seguir.

— Mais rápido, Louise! – Falei aos berros enquanto batia na lataria do carro. Eles vinham bem atrás de nós em um enorme carro blindado, que se aproximava progressivamente de nós. Podia sentir meus fios de cabelos colados na minha testa, e tamanha adrenalina passando por TODO o meu corpo numa velocidade inimaginável. Ser perseguido por pessoas armadas não era a melhor coisa para se presenciar e correr o risco de morrer.

Salvar a vida das pessoas, estava custando a minha própria.

Louise fez uma curva de forma tão brusca que Topher precisou me segurar para que eu não caísse da caçamba.  No processo, achei brevemente que estava sendo segurado por um peso morto, e esse fato apenas confirmou quando virei para trás e vi Topher com um tiro bem no seu olho esquerdo. Suas mãos ainda estavam agarradas na minha roupa quando ele havia morrido.

Ele me salvou e morreu ao mesmo tempo.

— Topher... – Fiquei inerte e apenas me deitei na caçamba, me protegendo de qualquer bala perdida ou certeira. Louise continuava dirigindo, sem saber o que havia acontecido aqui trás. Observei o corpo de Topher o tempo inteiro enquanto agora, somente eu e Louise seguíamos vivos. Era horrível sentir o sangue de Topher começar a molhar minha roupa, mas não podia me levantar de forma alguma.

Percebi que a caminhonete parou em uma subida e podia ver o Observatório Griffith de longe. Me levantei brevemente e vi Louise sair do banco do motorista e vir até mim.

— Robert, precisamos.... – Ela colocou as mãos na boca ao ver Topher morto na caçamba – Droga! – Ela chutou o pneu do carro, como se isso fosse mudar alguma coisa.

— Eles vão nos alcançar Louise, precisamos chegar até o observatório agora! – Gritei e ela assentiu prontamente. Fui até Topher e remexi nos bolsos de sua roupa até encontrar o seu pen-drive, o guardei no meu casaco e pulei da caminhonete. Já podia ver as luzes do carro preto no começo da subida – Louise, nós vamos correr agora, e correr muito!

— Robert! Eu estou tão cansada! – Louise fez um olhar demonstrando a sua fadiga.

— Louise, vamos agora! – Gritei começando a correr o mais rápido que podia com ela ao meu lado.

Minhas pernas já haviam endurecido de tanto que eu havia corrido por todas aquelas elevações. Eu apenas estava pensando em todos que morreram brutalmente, enquanto eu e a Louise continuávamos vivos, ainda tentando nos salvar da ameaça bem na nossa cola. Era como um filme de terror psicológico, não havia escapatória para na nenhum lugar.

Me aproximando do Observatório Griffith pude notar o helicóptero se aproximar de nós. Estava torcendo para que ele não fosse atingido por nenhuma bomba e acabasse de vez com a nossa fuga. A aeronave já estava pousando no estacionamento e pronto para nos buscar. Senti um resquício de esperança naquele momento, quando mais um imprevisto aconteceu.

— Louise! Vamos! – Gritei para Louise bem atrás de mim, mas ela estava cansada demais. O piloto do helicóptero já estava abrindo a porta para nós entrarmos, não havia como parar naquele momento, principalmente quando aquele maldito carro já estava bem atrás de nós.

— Vá na frente Robert, eu vou distrair eles para você escapar! – Louise parou de repente no meio do caminho e suspirou cansada, enquanto derramava várias lágrimas de seus olhos. Cogitei em ir atrás dela, mas o piloto gritou para que eu entrasse no helicóptero imediatamente, em meio àquela barulheira toda.

— Louise... – Fiquei com os olhos esbugalhados.

— Faça justiça pela minha prima, Renata, Topher, Sarah, Beverly e a mim também! Você está com a nossa honra nas mãos! Mostre para o mundo as atrocidades que fizeram! – Ela gritou antes de voltar o caminho que fizemos em direção ao carro preto onde estava os nossos caçadores.

Embarquei no helicóptero que rapidamente levantou voo enquanto Louise era pega por eles e colocada dentro do carro, não haviam matado ela. Coloquei minhas mãos nas janelas do aero veículo, me distanciando cada vez mais do Observatório Griffith. Me encostei no banco enquanto ouvia várias perguntas do piloto e de outro copiloto, mas não respondi nenhuma, isso até chegarmos em Denver novamente e as notícias dos assassinatos em Los Angeles começassem a aparecer na televisão no dia seguinte.

Bati a minha mão no meu peito, sentindo uma pequena pecinha presa na minha roupa e percebi que era a câmera de Sarah esteve lá o tempo inteiro. Tudo o que havíamos vivido durante aquela madrugada foi filmado. As provas não haviam sido destruídas completamente, muito pelo contrário, as filmagens apenas comprovariam os fatos.

De tudo o que eu passei, não podia acreditar que ainda estava vivo.

 

 

 

 

 

 

Os dias se passaram desde os acontecimentos em Los Angeles. Tive que abandonar o meu apartamento em Denver para minha própria segurança e me alojar na sede de jornalismo de Polly durante um intervalo de dias para apresentar toda a teoria de Topher no seu pen-drive e as filmagens feitas por mim, gravando toda a fuga que fazíamos dos membros de uma polícia secreta contratada pelo governo americano, descobertos durante as pesquisas de Kei, que analisava várias vezes a filmagem e chegando a conclusão que tudo era real. Polly fez um documentário de quase 11 horas que envolvia tudo o que havíamos trabalhado: A 2.0 Trioxina, Experimentos Químicos em Prisioneiros, Ameaça de Bioterrorismo Global, Eliminação de Testemunhas e Assassinato em Massa. Com tantas polêmicas envolvendo o governo americano, a indústria farmacêutica e a relação entre EUA e Irã, nos dias seguintes fui deportado para um país que infelizmente não posso falar onde está localizado, mas a única informação que posso dar, é que estou seguro.

O documentário ‘’2.0 Trioxina: A Química Assassina’’ estava estampado em capas de revistas e jornais, falado em rádios e sendo discutido e transmitido por quase todas as redes televisas não só dos Estados Unidos, mas de todo o mundo, criticando e condenando severamente aqueles atos considerados medievais. Em semanas, a indústria farmacêutica americana estagnou e começou a entrar em colapso, principalmente quando o FBI abriu uma investigação em massa que envolveu toda a cúpula do governo, onde vários membros investigados começaram a aparecer mortos em vários estados nos meses que passaram. O presidente sofreu um impeachment quase 9 meses depois e a relação com Irã foi desfeita.

Com a minha segurança em risco, não tive mais contato com ninguém daqui, nem mesmo Lia e Bel, que agora eram dadas como desaparecidas pelo FBI, somente pelo fato de serem minhas vizinhas. Não só pessoas ligadas a mim, mas também das outras vítimas começaram a desaparecer ou morrerem, como os pais de Topher e Renata, o marido de Sarah Possey, toda a equipe jornalística de Beverly e a família de Louise, que havia sido morta em um misterioso incêndio em sua fazenda. Polly e Kei também estavam em perigo, mas não tinha nenhuma notícia delas. Louise foi procurada durante meses, mas foi dada como morta pelo Departamento de Defesa Americano, assim como vários outros prisioneiros, felizmente, Veridiana havia sobrevivido e também relatou a sua versão, apenas confirmando os fatos e fortalecendo as investigações.

Antes de Polly publicar o documentário, ela me pediu que eu gravasse um final em cima de tudo o que aconteceu, e eu vou contar para vocês tudo o que eu falei:

 

‘’Estou gravando esse áudio em algum momento de Julho de 2014. Como vocês viram nesse documentário, a voz de fundo é a minha e eu estive gravando tudo o que aconteceu em Los Angeles, numa desesperadora fuga para não ser assassinado pela polícia secreta americana, que de modo algum queria que essas imagens sobre a tal 2.0 Trioxina viesse ao reconhecimento mundial. Mesmo assim, eles não me impediram de continuar vivo e mostrar e verdade.

Topher e Renata Williams, Louise de Bush, Sarah Possey e Beverly Prestton foram brutalmente e covardemente assassinados sem razão alguma pelos mesmos envolvidos com a indústria farmacêutica responsável pelos experimentos em humanos. Eles nos localizaram assim que pousamos em Los Angeles e tivemos acesso a um site que mostrava todas essas monstruosidades.

As investigações sobre esse caso demorarão anos para serem encerradas e acredito que descobrirão muitas coisas além do que o responsável disso tudo, Topher Williams, descobriu. Se não fosse por eles, poderíamos estar em um apocalipse biológico inimaginável, perdendo se não, bilhões de vidas. Todos que estão ouvindo e assistindo isso, devem suas vidas exclusivamente a ele.

Minhas poucas palavras são o necessário para vocês conhecerem quem são as pessoas que construíram tudo isso, que no começo, não passava de mais uma teoria fajuta. Eu, Robert, sou apenas o cara que sobreviveu apenas para colocar isso à tona e derrotar essa relação entre países que só destruiu milhares de vidas, e destruiria ainda mais se não fosse combatida.

Essa é a minha última transmissão para o mundo, e encerro aqui, em memória a todos os falecidos e desaparecidos, principalmente os familiares e amigos das vítimas que tinham sede por justiça e também acabaram sofrendo. Obrigado por acreditarem’’

 

Sei que não havia mais o que fazer da minha vida se não esperar o que iria acontecer. A única coisa que eu havia levado comigo para fora do país foi a carta que Lia havia me dado sobre Las Vegas e eu nunca tinha aberto, quer dizer, não tinha ainda a oportunidade de fazer isso por motivos extremamente óbvios e plausíveis.

Assim que abri a carta, o primeiro nome que eu vi escrito, era de um tal Vasili Romanov.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo, foi muito legal escrevê-lo. A história da fanfic voltará ao normal no próximo capítulo e aguardo vocês lá, até mais!



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